quinta-feira, 28 de julho de 2011

JOHN STOTT, CAMPEÃO DO EVANGELHO DE CRISTO

Faleceu nesta quarta-feira, dia 27 de julho de 2011, às 03:15 (horário local), em Londres, Inglaterra, o Pr. John Stott. Ele tinha 90 anos de idade e a causa da morte, segundo informações, relaciona-se com sua idade avançada.

John Stott foi um campeão do Cristianismo do século XX. Ele foi um daqueles poucos homens excepcionais, levantados por Deus, para liderar a Igreja em épocas complicadas e turbulentas. Por meio de seu prolífico ministério e de seus escritos, o Dr. Stott manteve acesa a chama da fé cristã em meio às trevas da pós-modernidade. Ele soube como poucos contextualizar o Cristianismo com a sua época, sem recuar um centímetro sequer em suas convicções bíblicas. Com inteligência, carisma e sensibilidade, ele conseguiu alcançar os corações de seus leitores e transmitir de modo vivo e eficaz a mensagem de Cristo.

É com muita tristeza que recebi a notícia de sua morte. Mas também com a alegria de sabê-lo feliz, bem-aventurado, louvando e glorificando a Deus na presença maravilhosa do Senhor Jesus Cristo.

Considerado uma das mais expressivas vozes da Igreja Evangélica contemporânea, o londrino John Stott nasceu em 27 de abril de 1921. Agnóstico até 1939, experimentou a conversão ao ouvir uma mensagem do Rev. Eric Nash. Estudou Línguas Modernas no Trinity College de Cambridge, onde destacou-se como primeiro aluno nas disciplinas de Francês e Teologia. Estudou para o ministério pastoral em Ridley Hall, Cambridge, onde obteve o Doutorado em Divindade. Mais tarde receberia vários títulos honoris causa em universidades britânicas, americanas e canadenses. Foi ordenado pela Igreja Anglicana em 1945, iniciando suas atividades na Igreja All Souls, em Langham Place, Londres (www.allsouls.org). Lá continuou em suas funções pastorais até 1975, quando tornou-se pastor emérito.

A partir do Congresso de Lausanne, em 1974, Stott começou a ganhar cada vez mais destaque no cenário internacional. Sua clara exposição das verdades bíblicas, bem como sua ênfase no “Evangelho Integral”, atraíram a atenção da Igreja em todo o mundo para uma dimensão maior da espiritualidade cristã, que implica na transformação da sociedade a partir da vivência dos princípios éticos ensinados na Bíblia.

Em 1982 fundou o London Institute for Contemporaty Christianity, do qual foi presidente e mais tarde presidente honorário. Escreveu cerca de 40 livros, dentre eles os imprescindíveis Ouça o Espírito, Ouça o Mundo; A Cruz de Cristo e Por que sou Cristão. Escreveu também um dos mais valiosos comentários sobre Romanos, que chegou a ser colocado lado a lado com os comentários de Lutero, Calvino e Karl Barth.

Timothy Dudley-Smith, autor de biografias, declara que “John Stott tem servido de modelo internacional para o ministério no centro de uma grande metrópole multicultural”. Cinco critérios foram fundamentais para estabelecer tal modelo: a prioridade da oração, a pregação expositiva, o evangelismo regular, o acompanhamento cuidadoso dos novos convertidos e dos discípulos e a formação sistemática de auxiliares e novos líderes.

Logo após sua nomeação ainda como Pastor auxiliar, o Dr. Stott começou a incentivar os membros da All Souls a frequentar um curso de treinamento semanal de evangelismo. Novos cultos foram iniciados, combinando evangelização paroquial regular com oração vespertina. Criou também cursos de discipulado para os novos convertidos e reuniões nas casas dos membros da igreja. All Souls passou a celebrar cultos também na hora do almoço durante a semana, uma reunião de oração semanal e cultos mensais de oração para os enfermos. Foram estabelecidos, igualmente, cultos para as crianças e para a família. Um capelão foi nomeado para atender as lojas da Oxford Street, e o All Souls Club foi fundado para ser um centro comunitário cristão de atendimento aos desabrigados. O próprio John Stott, certa vez, disfarçou-se de desabrigado e dormiu na rua, para conhecer por experiência própria a situação daquelas pessoas.

A igreja All Souls cresceu rapidamente durante as décadas de 1950 e 1960. O Dr. Stott recusou, em muitas oportunidades, convites para subir na hierarquia anglicana, e optou por permanecer como pastor na mesma igreja durante todo o seu longo e frutífero ministério. Seu papel como pastor sábio, a oração incessante e seu cuidado pastoral, aliados a uma capacidade incrível de se lembrar de nomes e circunstâncias, foi para muitos de seus paroquianos a sua contribuição mais significativa.

Ele contribuiu também para mudar muitos conceitos há muito arraigados na liderança anglicana. Quando iniciou seu ministério, os “evangelicais” tinham pouca influência na Igreja. Porém, através de iniciativas pessoais de Stott, como a Sociedade Eclética, ele ajudou jovens pastores da ala evangelical. De 23 pessoas em sua fundação, a Sociedade cresceu para mais de mil membros em meados dos anos 1960. Além desse movimento o Dr. Stott participou de muitas outras iniciativas, sobretudo nos dois Congressos Nacionais Evangélicos Anglicanos de 1967 e 1977, os quais foram presididos por ele. Foi também presidente do Conselho Evangélico da Igreja da Inglaterra (www.ceec.info) de 1967 a 1984 e presidente de duas influentes organizações cristãs, a União Escriturística Britânica (www.scriptureunion.org.uk) de 1965 a 1974 e da Aliança Evangélica Britânica (www.eauk.org) de 1973 a 1974. Stott combinou seu compromisso de evangelização e promoção de futuros líderes cristãos, envolvendo-se nas Universidades e Faculdades da Christian Fellowship (www.uccf.org.uk), onde foi presidente quatro vezes entre 1961 e 1982. Ele também atuou como Capelão da Rainha da Inglaterra de 1959 a 1991 e recebeu a rara honra de ser nomeado Capelão Extraordinário da Coroa Britânica em 1991.

John Stott lamentou muitas vezes a tendência ao anti-intelectualismo em muitos cristãos. Ele sempre salientou a necessidade, em suas palavras, de “relacionar a Palavra antiga com o mundo moderno”. Foi essa convicção que o levou à fundação do London Institute for Contemporary Christianity (www.licc.org.uk) em 1982, para “oferecer cursos nas inter-relações entre a fé, a vida e a missão do pensamento cristão”. Serviu como seu primeiro diretor e depois como presidente a partir de 1986.

“As palavras-chave em meu pensamento”, disse John Stott, “são integração e participação. Há uma tendência entre nós para excluir certas áreas de nossa vida do senhorio de Jesus, seja a vida empresarial, seja nosso trabalho, seja nossa persuasão política. Integrar todas as áreas da vida na cosmovisão cristã é fundamental na visão do Instituto. A segunda é a participação ativa no mundo ‘secular’ pelos cristãos integrados, cujo evangelho será um evangelho mais integrado”.

David Edwards declarou que John Stott, ao lado de William Temple, encontra-se entre “os mais influentes clérigos da Igreja da Inglaterra” durante o século XX. Alister McGrath tem sugerido que o crescimento do evangelicalismo inglês no pós-guerra pode ser atribuído mais a John Stott do que a qualquer outra pessoa.

Desde 1970 a nomeação de Michael Baughen como Pastor titular da All Souls permitiu que John Stott viajasse mais assiduamente. Desde então, ele foi capaz de gastar cerca de três meses por ano palestrando no exterior. Viajou regularmente aos Estados Unidos, e sua proeminência no evangelicalismo americano se refletiu em seu papel como expositor da Bíblia em convenções organizadas pela InterVarsity Christian Fellowship (www.intervarsity.org). O vínculo de Stott com estudantes do mundo inteiro foi reforçado por sua liderança em cerca de 50 missões universitárias, entre 1952 e 1977, na Grã-Bretanha, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, África e Ásia, e foi vice-presidente da Sociedade Internacional de Estudantes Evangélicos (www.ifesworld.org) de 1995 a 2003.

Uma das grandes contribuições de John Stott para a evangelização do mundo foi através do Congresso Internacional sobre Evangelização Mundial realizado em Lausanne, Suíça, em 1974. Lá ele atuou como presidente da comissão de elaboração do Pacto de Lausanne, um marco significativo no movimento evangélico. Como presidente do Grupo de Teologia e Educação de Lausanne, de 1974 a 1981, ele contribuiu para a crescente compreensão evangélica da relação entre evangelização e ação social. Ele foi novamente presidente da comissão de elaboração do Manifesto de Manila, um documento produzido pelo Segundo Congresso Internacional, em 1989.

O compromisso de John Stott com a renovação do evangelicalismo na Igreja Anglicana mundial levou à sua participação na Associação Evangélica da Comunhão Anglicana (EFAC). De 1960 a 1981 ele foi secretário-geral honorário, e de 1986 a 1990 atuou como seu presidente. Seu desejo de fortalecer os laços entre teólogos evangélicos na Europa foi uma força fundamental na fundação da Sociedade Europeia de Teólogos Evangélicos em 1977.

Stott teve um particular desejo de viajar aos países do “Terceiro Mundo”, assim chamado. Sua preocupação com os pobres o levou à participação na fundação da Sociedade Tearfund (www.tearfund.org), na qual serviu como presidente de 1983 a 1997, e também como patrono da instituição Armonia, no México. Por meio de seu contato com pastores dos países menos favorecidos, John Stott sentiu-se cada vez mais convencido da necessidade de ajudar no fornecimento de livros e bolsas de estudo. Fundou a Evangelical Literature Trust em 1971, financiada em grande parte pelos direitos autorais de seus livros, a fim de enviar livros teológicos a pastores, professores e estudantes de Teologia. Em 1974 foi estabelecido um fundo de bolsas de estudo como parte da então recém-formada Langham Trust a fim de oferecer bolsas de Doutorado em Teologia para estudantes de países menos favorecidos. Após os estudos, já Doutores em Teologia, eles retornam aos seus países para ensinar em seminários teológicos.

Talvez a maior contribuição internacional de John Stott seja a sua obra literária, caracterizada como clara, equilibrada, baseada na Bíblia e intelectualmente rigorosa. A carreira de escritor de John Stott começou em 1954 quando ele foi convidado a escrever um livro para o bispo de Londres. Mais de cinquenta anos se passaram, e Stott escreveu mais de 40 títulos e centenas de artigos, bem como inúmeras outras contribuições à literatura cristã. Sua obra mais conhecida, Cristianismo Básico, vendeu dois milhões de exemplares e foi traduzida para mais de 60 idiomas. Outros títulos incluem A Cruz de Cristo (simplesmente essencial para uma melhor compreensão da expiação), oito volumes da série A Bíblia Fala Hoje (incluindo o seu sublime comentário sobre Romanos), e, mais recentemente, Por que sou cristão. Em sua prodigiosa produção literária, foi ajudado por uma invulgar auto-disciplina e pelo apoio generoso de Frances Whitehead, sua fiel secretária, por quase 50 anos.

John Stott nunca se casou, embora tenha chegado perto do matrimônio em pelo menos duas ocasiões em sua vida. Posteriormente ele reconheceu que com a responsabilidade de uma família, provavelmente não teria conseguido escrever, viajar e ministrar da forma como fez.

Em todos os aspectos do ministério, John Stott manteve seu interesse vocacional com excepcional paixão. O Cristianismo, para ele, deve ser profundamente sério e engajado nas questões sociais de nossa época.

Foi-se um gigante. “O cisne silencia, somente resta aos grilos trilar”.

Que o Senhor levante mais homens como esse!

Fonte:

http://www.langhampartnership.org/john-stott/biography/