sábado, 18 de dezembro de 2010

LUGAR PARA CRISTO

Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano. Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galiléia para a Judéia, para Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se, com Maria, que lhe estava prometida em casamento e esperava um filho. Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2.1-7, NVI).

No conforto e na segurança de seu luxuoso palácio em Roma, a esplêndida e poderosíssima capital do mundo, o Imperador Otávio Augusto decidiu ordenar que, de tempos em tempos, um censo seria realizado a fim de conhecer o número de seus súditos – milhões e milhões de pessoas que viviam sob a égide da maior potência da História, debaixo da proteção de César. Um a um, os povos conquistados – egípcios, gregos, sírios e muitos outros – foram sendo recenseados. Chegou a vez, igualmente, do povo judeu. Todos viviam sob a Pax Romana, uma paz política e social forçada pelas legiões. Todos podiam contar com a mão protetora de César – desde que mantivessem o pagamento dos tributos em dia, é claro.

Longe, muito longe de Roma, numa aldeiazinha da Galiléia, de nome Nazaré, um casal preparou-se para a jornada rumo ao sul, rumo ao povoado de Belém, lar dos ancestrais de José. A jovem estava grávida, prestes a dar à luz – mas a ordem do César não podia esperar. Belém – “casa do pão” em hebraico – a cidade natal de Davi, a cidade onde Ruth passeara recolhendo espigas nos campos de Boaz. Como descendente da família de Davi (a “casa” de Davi, isto é, sua dinastia ou linhagem), José deveria alistar-se naquela cidade, juntamente com sua jovem esposa. Lucas utiliza uma expressão que a NVI traduz por “prometida em casamento”. O noivado judeu tinha o peso do compromisso de um casamento, porém, naquela época eles já estavam oficialmente casados, visto que Maria estava prestes a dar à luz. De qualquer modo, Mateus nos informa que José “não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho” (Mt 1.25). O nascimento virginal de Jesus é um dos pilares da fé cristã, e fartamente documentado nos escritos do Novo Testamento.

A viagem de Nazaré a Belém – uns 140 quilômetros - não deve ter sido fácil para eles, especialmente para Maria, em seu estado. Nem conforto nem segurança para eles, enquanto venciam quilômetro a quilômetro a distância que precisavam percorrer. Certamente foi com uma sensação de alívio que puseram os pés na cidade.

Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê. Lucas faz questão de mencionar o fato de que Jesus nasceu em Belém. Não poderia ser em qualquer lugar; mais de 750 anos antes, esse nascimento já havia sido profetizado pelo profeta Miquéias (Mq 5.2). O Messias nasceria na cidade de Davi. O Pão da Vida nasceria na casa do pão. E no tempo certo: o Deus eterno é o Senhor da História. Jesus nasceu no tempo determinado por Deus (Gl 4.4). Ele sempre age no tempo certo, inclusive em nossas vidas. O tempo é d’Ele, não nosso.

Nasceu, então, o primogênito de Maria. Nunca é demais ressaltar a importância dessa palavra. Jesus é o unigênito do Pai, mas o primogênito de Maria – seu primeiro filho. Ela teve outros filhos, com José, após o nascimento de Jesus, quando eles começaram a ter um relacionamento normal de marido e mulher. O Novo Testamento menciona várias vezes os irmãos de Jesus (Mt 12.46,47; Mc 3.31,32; Lc 8.19,20; Jo 2.12; 7.3,5,10; At 1.14), inclusive citando seus nomes (Tiago, José, Simão e Judas [Mt 13.55], sendo que o primeiro e o último são os autores das epístolas neotestamentárias que levam seus nomes). Suas irmãs também são mencionadas (Mt 13.56). José e Maria, como todo casal daquela época e cultura, tiveram muitos filhos! A “explicação” católica romana, de que os “irmãos” de Jesus na verdade eram seus primos, só pode ser mantida pela cegueira dos dogmas fabricados pelo Vaticano. Tanto a gramática quanto a hermenêutica e a exegese proclamam em alto e bom som que Maria teve outros filhos além de Jesus.

Mas onde, exatamente, Jesus nasceu? Maria o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Viajantes cansados, vindos de várias partes da Judéia e dos arredores, provavelmente lotavam as estalagens. Ou, talvez, a explicação seja um pouco mais cruel; afinal, a frase de Lucas é ambígua: não havia lugar para eles na hospedaria. Gente mais importante tinha a primazia; afinal, não somente judeus deveriam estar de passagem em Belém para o censo: soldados e funcionários romanos também. João observa que Jesus veio para o que era seu, mas os seus não o receberam (Jo 1.11). Nosso Senhor foi rejeitado desde o seu nascimento. O mundo não o queria. Ele veio para sofrer. Sofreu desde o seu nascimento. Nasceu num estábulo. Foi colocado numa manjedoura – o lugar onde os animais comiam. Porque não havia lugar para Ele. César Augusto, em seu luxuoso palácio, governava o vasto império romano, o mundo conhecido, civilizado, enquanto o Senhor – o verdadeiro Senhor do mundo – nascia num estábulo. Desde o nascimento, e por toda a sua vida, Ele foi desprezado, e rejeitado pelos homens, foi um homem de dores e experimentado no sofrimento (...) foi desprezado (cf. Is 53.3). O Rei do universo nasceu num estábulo, não num palácio.

Sua vida inteira foi assim – uma vida de sofrimento e rejeição. Ele declarou certa vez a um escriba impetuoso: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8.20). Paulo nos conta como Jesus “esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo”, e que Ele “humilhou-se a si mesmo” (Fp 2.7,8). O Apóstolo acrescenta: “Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos” (2Co 8.9). Sim, Cristo humilhou-se, esvaziou-se, se fez pobre, para que nós pudéssemos ser exaltados pelo Pai, e assim herdar as ricas bênçãos da salvação, na ressurreição.

Hoje o mundo continua rejeitando a Cristo, de várias formas. E não só o “mundo”! Atualmente está na moda um movimento ridículo, promovido por alguns “cristãos” desinformados e desalmados, que fomentam uma atitude “anti-Natal”, alegando, entre outras bobagens, que o Natal é uma festa pagã (na verdade, ele foi instituído para substituir uma festa pagã), e que ninguém sabe ao certo a data exata do nascimento de Cristo (e daí?). “Cristãos” contra o Natal! O que mais falta acontecer? No meio do carnaval de aberrações que grande parte da igreja “evangélica” atual tem se tornado, os “cristãos contra o Natal” são mais um carro alegórico, e dos mais bizarros.

Sim, o mundo rejeita a Cristo. Não há lugar para Ele no mundo dos negócios: o capitalismo é selvagem! Também não há lugar para Cristo no mundo socialista, ou comunista – que o diga a igreja perseguida na China, na Coreia do Norte e em outras republiquetas marxistas. Das escolas e universidades Cristo foi banido há muito tempo; inclusive de algumas faculdades teológicas! Mais uma “conquista” da teologia liberal. E até mesmo em algumas “igrejas” já não há sinal de Cristo – Ele foi substituído por evangelhos da prosperidade, toques de shofar, “encontros com Deus”, “apóstolos”, “patriarcas”, “bispas”, “profetas” e muitos outros showmen, mercenários, quinquilharias gospel e ensinos provenientes de mentes doentias.

Veio para o que era seu, mas os seus o rejeitaram. Como rejeitam hoje. Como até mesmo muitos dos que se dizem seus seguidores o rejeitam. Porque não há lugar para Cristo na vida dos homens e das mulheres do século XXI. Ou de qualquer outro século. Como no século I, naquela noite em Belém. Não importa. O ser humano não quer entregar sua vida ao senhorio de Cristo. Todo mundo quer ser “dono do seu próprio nariz”. Mesmo no meio eclesiástico. A fé reformada é hoje rejeitada pela maioria dos chamados “evangélicos” porque eles não aceitam, não suportam, a ideia da soberania de Deus – querem ser donos do próprio destino. Um Deus soberano não se encaixa em suas vidas, não faz parte de seus esquemas filosóficos travestidos de teologia. Querem que Deus seja simplesmente um “Papai Noel do céu”, de braços cruzados, que assiste complacentemente as “grandiosas façanhas” de seu povo, sempre disposto a atender seus pedidos fúteis e mesquinhos! A Bíblia, muito pelo contrário, revela claramente Deus como o Senhor da História, Aquele que decide, desde a eternidade, o destino de cada criatura, inclusive de cada ser humano. E a vontade que prevalece é sempre a d’Ele – não a nossa. Tiago, meio-irmão de Jesus, nos recorda: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15, ênfase acrescentada).

Mas nem todos rejeitaram o Rei dos Reis. Ao longo de toda a História, homens e mulheres deixaram tudo o que tinham para segui-lO, conforme as suas palavras: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Muitos no passado puderam, e no presente podem, repetir as palavras do Apóstolo Pedro: “Nós deixamos tudo para seguir-te” (Mc 10.28). Porque Cristo encontrou, finalmente, o Seu lugar em suas mentes, em seus corações, em suas vidas.

Que Ele encontre o lugar principal em nossas vidas, ocupando o trono de nosso coração, onde possa reinar absoluto. Entreguemos totalmente o controle de nossas vidas a Ele, e sigamos Seus passos, para o lugar onde Ele nos enviar. Que nossa oração diária seja: “Senhor, reina em mim!”. Que se cumpra em nós a instrução paulina: “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Ofereçamos a Ele nossas vidas com o mesmo entusiasmo do Apóstolo: “...Considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas (...) esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.8,13,14).

Que neste Natal, e em todos os tempos e épocas, Cristo encontre Seu lugar em nossas vidas, o lugar que lhe pertence por direito, como Salvador - e Senhor.

Feliz Natal a todos!

domingo, 12 de dezembro de 2010

AMOR VERDADEIRO


Por John MacArthur

"Tudo o que você precisa é amor", cantavam os Beatles. Se tivessem cantado sobre o amor de Deus, a declaração teria uma parcela de verdade. Mas o que a cultura popular costuma chamar de "amor" não é absolutamente o amor verdadeiro; antes, é uma fraude total. Longe de ser "tudo o que você precisa", na verdade é algo que você precisa evitar a todo custo.
O Apóstolo Paulo tratou do mesmo assunto em Ef 5.1-3: "Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus. Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça; pois essas coisas não são próprias para os santos".
A singela ordem do versículo 2 ("Vivam em amor, como também Cristo nos amou") resume toda a obrigação moral cristã. O amor de Deus é o princípio único e primordial que define completamente o dever cristão. "Tudo o que você precisa" é esse tipo de amor. Lemos em Rm 13.8-10: "Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei. Pois estes mandamentos: 'Não adulterarás', 'Não matarás', 'Não furtarás', 'Não cobiçarás', e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'. O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da Lei". Encontramos um eco desse ensino em Gl 5.14: "Toda a Lei se resume num só mandamento: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'". Igualmente, Jesus ensinou que toda a Lei e os Profetas dependem de dois princípios básicos sobre o amor, revelados no primeiro e no segundo principais mandamentos (Mt 22.38-40). O amor é "o elo perfeito" (Cl 3.14).
Quando o Apóstolo Paulo ordena que vivamos em amor, o contexto revela este conceito em termos positivos, como quando diz que devemos ser "bondosos e compassivos uns para com os outros", perdoando-nos "mutuamente, assim como Deus" nos "perdoou em Cristo" (Ef 4.32). O modelo e padrão desse amor desinteressado é Cristo, que deu a sua própria vida para salvar seu povo do pecado. "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos" (Jo 15.13). E se "Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros" (1Jo 4.11).
Em outras palavras, o amor verdadeiro é sempre um sacrifício, uma entrega, é misericordioso, compassivo, compreensivo, amável, generoso e paciente. Estas e muitas outras qualidades positivas e benévolas são as que as Escrituras associam com o amor divino (1Co 13.4-8).
Agora veremos o aspecto negativo, também demonstrado em Efésios 5. A pessoa que verdadeiramente ama o seu próximo assim como Cristo nos ama, deve rechaçar todo tipo de falso amor. O Apóstolo Paulo cita algumas dessas falsificações satãnicas. Estas incluem a imoralidade sexual, a impureza e a cobiça. A passagem continua: "Não haja obscenidade, nem conversas tolas, nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ações de graças. Porque vocês podem estar certos disto: nenhum imoral, ou impuro, ou ganancioso, que é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência. Portanto, não participem com eles dessas coisas" (vv. 4-7).
Em nossa geração a imoralidade sexual é o substituto preferido para o amor. O Apóstolo Paulo utiliza o termo grego porneia, que inclui todo tipo de pecado sexual. A cultura popular tenta desesperadamente apagar a linha que divide o amor verdadeiro da paixão imoral. Tal imoralidade é uma perversão total do amor verdadeiro, pois busca a auto-gratificação, no lugar do bem dos outros. A impureza é outra perversão diabólica do amor. Aqui Paulo emprega o termo grego akatharsia, o qual se refere a todo tipo de coisas imundas e impuras. Especificamente, Paulo tem em mente a "obscenidade", as "conversas tolas" e os "gracejos imorais" que são as características peculiares das más companhias. Esse tipo de companhia nada tem a ver com o amor verdadeiro, e o Apóstolo afirma claramente que não há lugar para essas coisas na vida cristã.
A cobiça é outra corrupção do amor que se origina no desejo narcisista de auto-gratificação. É exatamente o contrário do exemplo de Cristo quando Ele "se entregou por nós" (Ef 5.2). No versículo 5 Paulo iguala a condição de cobiça ("ganância", NVI) com a idolatria. Novamente não há lugar para essas coisas na vida cristã, e de acordo com o versículo 5, a pessoa que vive na prática desses pecados não terá "herança no Reino de Cristo e de Deus".
Tais pecados, afirma Paulo, nem mesmo devem ser mencionados entre nós, pois "essas coisas não são próprias para os santos" (Ef 5.3). Não devemos participar com eles dessas coisas (v. 7).
Ou seja, não demonstraremos o amor verdadeiro a menos que sejamos intolerantes com todas as perversões populares do amor. Em nossos dias a maioria dos ensinamentos sobre o amor ignoram esse princípio. O "amor" é definido como uma ampla tolerância a respeito do pecado, abraçando tanto o bem quanto o mal. Isso não é amor, é apatia. O amor de Deus não é assim. A manifestação suprema do amor de Deus é a cruz, na qual "Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus" (Ef 5.2). As Escrituras explicam o amor de Deus em termos de sacrifício, expiação dos pecados e propiciação: "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1Jo 4.10). Cristo ofereceu a si próprio em sacrifício para desviar a ira de um Deus ofendido. Longe de perdoar nossos pecados com uma tolerância complacente, Deus entregou seu Filho como oferta pelo pecado, para satisfazer sua própria justiça na salvação dos pecadores. Esse é o coração do evangelho. Deus manifesta seu amor de um modo coerente com a sua santidade, justiça e misericórdia graciosa. O amor verdadeiro "não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade" (1Co 13.6). Este é o tipo de amor no qual devemos viver. É um amor que é primeiramente puro, e depois pacífico.

Traduzido do Espanhol por F.V.S.
Gentileza da Igreja Presbiteriana Ortodoxa dos Estados Unidos - Site:

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

AOS PREGADORES DA PROSPERIDADE (E AOS SEUS SEGUIDORES)

O que está acontecendo com a igreja evangélica contemporânea? De onde vêm tantos escândalos, tantos episódios lamentáveis, tanta hipocrisia, tanta ganância e iniquidade? Estamos testemunhando a falência da igreja?

Para alguns – e com toda a razão - tais perguntas podem soar exageradas, até mesmo absurdas. Ora, a igreja vai muito bem, obrigado. Não há motivo para alarme. O evangelho está sendo pregado, muitas vidas estão se prostrando aos pés do Salvador, dia a dia.

No entanto, é inegável que boa parte da igreja evangélica – e aqui tratarei especificamente da igreja brasileira – está nas mãos de enganadores, mercenários, falsos pastores, que muitas vezes assumem títulos pomposos como “apóstolos” e “bispos”, entre outros, sempre com o mesmo objetivo: enriquecer à custa da religiosidade e da ingenuidade do povo. Mas não apenas isso. Muitas vezes, igualmente, o povo que lota as “igrejas” fundadas por esses falsos mestres não é nem um pouco ingênuo. O fato é que as pessoas buscam a prosperidade material, a vida boa, as posses e as bênçãos terrenas, e certos tipos de líderes e de “igrejas” são especialmente apropriados para esse tipo de gente. Junta-se a fome com a vontade de comer: os que enganam por amor ao dinheiro e os que gostosamente se deixam enganar – por amor ao dinheiro. Estou me referindo a uma grande parcela da igreja evangélica brasileira, que já nasceu torta, que nunca foi séria, e que leva o nome “evangélica” por uma aberração cultural, não por merecimento. Esse tipo de “igreja” não é igreja, e muito menos evangélica.

Há dois mil anos atrás o Apóstolo Paulo já advertia Timóteo a respeito de falsos líderes religiosos que “têm a mente corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5). É inegável que muitos deles estão atuando hoje no Brasil! Pensam, de fato, que a vida cristã é fonte de lucro, e descaradamente apregoam suas mentiras a respeito de Deus, a respeito da Bíblia, blasfemando, corrompendo e poluindo tudo o que tocam e todos aqueles que caem em suas teias de aranha – todos os que, cativados pelas falsas promessas de saúde e prosperidade, ajudam a encher cada vez mais os seus cofres e contas bancárias. Judas, meio-irmão do Senhor, também já advertia a verdadeira Igreja a respeito desses mercenários: “Esses homens são rochas submersas (...) pastores que só cuidam de si mesmos. Nuvens sem água (...) árvores de outono, sem frutos, duas vezes mortas (...) ondas bravias do mar, espumando seus próprios atos vergonhosos; estrelas errantes, para as quais estão reservadas para sempre as mais densas trevas” (Jd 12, 13). Sim, rochas submersas, que fazem naufragar os incautos. Sim, pastores que só cuidam de si mesmos, para os quais o rebanho não passa de fonte de comida e vestimenta. Sim, estrelas errantes, que induzem os outros ao erro, a uma vida completamente errada diante de Deus e diante dos homens. O Apóstolo Pedro também advertiu a Igreja a respeito deles: “Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade” (2Pe 2.2). Sim, por causa deles, a verdadeira Igreja é difamada dia a dia, o evangelho e o próprio Nome do Senhor são blasfemados pelos homens. Pedro prossegue: “Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda”. Sempre a cobiça! “Tendo os olhos cheios de adultério, nunca param de pecar, iludem os instáveis e têm o coração exercitado na ganância. Malditos!” (2Pe 2.14). Judas concorda quanto ao destino desses falsos mestres: “Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim, buscando o lucro caíram no erro de Balaão, e foram destruídos na rebelião de Corá” (Jd 11). Afirmando ser ministros de Cristo, não passam de ministros de Mamom. Se conhecessem um pouco a Bíblia que tanto utilizam como pretexto para suas asseverações loucas e seus desvarios, saberiam que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.10) e que “Ninguém pode servir a dois senhores (...) vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6.24). Se conhecessem a Palavra de Deus, que arrogantemente ostentam em seus púlpitos mentirosos, não ensinariam seus seguidores a amar o mundo (1Jo 2.15-17). A esses falsos mestres, preletores da prosperidade, enganadores do povo, lobos vorazes, que tomem vergonha na cara enquanto ainda é tempo, e que se convertam ao verdadeiro evangelho, ao verdadeiro Cristianismo. Às pessoas que os seguem, que também criem vergonha, que também se arrependam, e que parem de correr atrás de ilusões, de promessas vazias, e que busquem ao Senhor, o Deus vivo e verdadeiro, o Deus da Bíblia, enquanto ainda é possível achá-lO.

Povo brasileiro, leia a Bíblia! Povo brasileiro, pare de buscar na religião a solução para seus problemas financeiros, e comece a buscar, incansavelmente, em Jesus Cristo a solução para o maior de todos os seus problemas – a condenação eterna devido ao pecado. Somente em Jesus Cristo estamos livres dessa condenação! (Rm 8.1). Povo brasileiro, abandone esses falsos mestres, essas falsas “igrejas”, e procure por pastores sérios, busque igrejas sérias, verdadeiras! Povo brasileiro, abandone a falsa religião, a superstição “evangélica”, e busque o verdadeiro Cristianismo, conheça a verdadeira Igreja! Povo brasileiro, pare de acreditar nos charlatães da religião e comece a ler a Bíblia!

“Busquem o SENHOR enquanto é possível achá-lo” (Is 55.6).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A PALAVRA DE DEUS: O HÁLITO DE VIDA DO TODO-PODEROSO

Jesus Cristo é a revelação maior de Deus para a humanidade. Ele é chamado, com toda a propriedade, de “Palavra de Deus”, em passagens como João 1.1,14 e Apocalipse 19.13. O autor de Hebreus chama a atenção para o fato de que Deus, “nestes últimos dias, falou-nos por meio do Filho” (1.2). Jesus é o Logos, o Verbo, a Palavra viva do Deus vivo, a revelação última e definitiva de Deus para os homens (João 14.8-10). Por isso, conhecer a Cristo é fundamental, é a vida eterna (João 17.3). Durante o tempo em que Ele andou com os Apóstolos, transmitiu a eles as grandes verdades de Deus, e Sua mensagem transformou suas vidas para sempre.

Atualmente não podemos andar com Jesus do mesmo modo que seus discípulos originais. No entanto, temos os escritos desses discípulos, que juntamente com os escritos dos Profetas do Antigo Testamento, constituem a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus para nós. Deus operou nesses homens, dirigindo-os por meio do Espírito Santo, para que registrassem as palavras de Deus para as gerações seguintes – para nós.

Paulo escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2 Timóteo 3.16). A palavra inspirada, aqui, é a tradução da expressão grega theopneustos, que significa, literalmente, “soprada por Deus”. A Bíblia é o sopro de Deus! É o fôlego de vida do Todo-Poderoso, que gera vida espiritual naqueles que a recebem. Assim como Adão tornou-se “um ser vivente” ao receber o sopro divino, assim também nós recebemos o “fôlego de vida” proveniente das Sagradas Escrituras.

Nossa tremenda responsabilidade, como Igreja, é estudar diligentemente essa Palavra, pôr em prática seus preceitos em nossas vidas e transmiti-la aos nossos semelhantes. Nas palavras de Hermann Bavinck, o grande teólogo reformado holandês do século XIX: “A Igreja não recebeu essa Escritura de Deus para simplesmente repousar sobre ela, muito menos para enterrar esse tesouro na terra. Pelo contrário, a Igreja é chamada para preservar essa Palavra de Deus, explaná-la, pregá-la, aplicá-la, traduzi-la, difundi-la no estrangeiro, recomendá-la e defendê-la – em uma palavra, fazer com que os pensamentos de Deus, revelados na Escritura, triunfem em todos os lugares e em todas as épocas sobre os pensamentos do homem. Toda a obra que a Igreja é chamada a fazer é a de ministrar a Palavra de Deus” (1). E na sua vida... a Palavra de Deus também triunfou?

NOTA

(1). BAVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2001, p. 129.

domingo, 28 de novembro de 2010

A NECESSIDADE DA IGREJA COMO INSTITUIÇÃO


Artigo original escrito por Ronald W. Kirk

Algumas coisas parecem ser tão axiomáticas que temos a tendência de aceitá-las sem reservas. Por exemplo, as Escrituras assumem claramente uma instituição chamada "igreja" como normativa. Nestes tempos em que muitos cristãos, de modo cada vez mais insistente, questionam as tradições eclesiásticas e procuram uma ortodoxia bíblica dinâmica para governar e corrigir as atividades as atividades ordinárias e extraordinárias da vida, a igreja como instituição encontra-se sob análises cada vez mais críticas. O movimento informal de "igrejas nos lares" cresce cada vez mais em popularidade. Aqui gostaríamos de analisar uma perspectiva normativa da igreja como instituição a partir de sua necessidade. A igreja institucional possui uma importância crucial, visto que governa a vida congregacional por meio de sua estrutura e de sua disciplina. A igreja, como instituição, existe para promover entre os santos uma vida centralizada no Evangelho.
Os Dois Mandamentos de Cristo estabelecem um fundamento. O amor piedoso manifesta-se em várias expressões.
Glorificar a Deus é o propósito global da Igreja. Glorificar a Deus significa colocar o enfoque apropriado n'Ele, "pois nele nos movemos, existimos e vivemos". Uma criança olha para seu pai. Quem tem sede olha para o manancial de águas. Enfocar nossas vidas em Deus, de modo agradável a Ele, é a essência do verdadeiro amor. Todo relacionamento com Deus envolve ética, nosso posicionamento diante do bem e do mal. Portanto, amar a Deus significa obedecer a Deus. E para obedecer a Deus, precisamos saber o que Ele requer de nós. Para saber o que Ele requer de nós, precisamos conhecer e entender a Sua Palavra. Para tanto, é necessária a perícia na aplicação da Palavra. Desse modo os cristãos aprendem a viver de acordo com a pureza do Conselho Revelado de Deus. Nesse sentido, a educação cristã é, antes de tudo, um estilo de vida devocional.
Deus criou o homem à Sua imagem para estabelecer um companheirismo eterno. Porém, devido à natureza humana pecaminosa, é muito difícil formar uma atitude devocional completa e prática de adoração em todas as esferas da vida. Por isso precisamos de disciplina espiritual. Em todas as coisas os cristãos devem viver, conscientemente, pela fé, além da razão ou das preferências humanas, pois nenhum outro caminho agrada a Deus. Deus requer uma vida dada como morta, completamente dedicada a Ele, sem reservas de espécie alguma.
Não obstante, o Cristianismo é mais do que uma devoção pessoal. Deus ordena a Seu povo que domine a terra, que encha a terra por meio do fruto de seu trabalho fiel. Aprendemos habilidades específicas que nos capacitam a alcançar grandes realizações, de modo que obtemos um certo domínio de nossos dons e talentos. Da mesma forma, separamos tempo para oferecer nossas vidas por meio de nossos dons e talentos, a fim de servir ao Senhor. A utilização sadia dos recursos naturais que Deus nos concedeu como expressão de amor ao próximo faz com que a coletividade se beneficie do fruto do trabalho individual. Isso também é amor. Tal é a natureza dos dons que Deus distribui aos homens, de maneira individual, segundo a Sua vontade, de modo a contribuir para a edificação de toda a comunidade. Desse modo, a produtividade econômica expressará o amor a Deus e ao próximo.
Amar ao próximo é uma prova da obra efetiva de Deus no Cristianismo. O lar é essencial como a primeira esfera de vida no Evangelho. Como todas as relações com Deus são pactuais, e como o lar é a primeira esfera de vida no Evangelho, a responsabilidade pela preparação de nossos filhos para a eternidade repousa sobre os nossos ombros. A educação cristã é essencial. Se podemos amar seriamente aqueles que convivem conosco na intimidade de nossos lares, devemos ser capazes de amar outras pessoas também. Se vencermos o egoísmo na esfera de nossos lares, poderemos vencê-lo para que possamos amar em esferas maiores. De modo inverso, se não podemos amar nossa família, qualquer tipo de "amor" que manifestemos para outras pessoas, não passará de fingimento hipócrita.
Esses são elementos mínimos que descrevem uma comunidade eclesiástica que se esforça para viver de modo agradável a Deus. Então, qual a importância da Igreja como instituição?
Consideremos primeiro o que não é a Igreja como instituição. A igreja não é um substituto para o lar e para a família. Não existe para usurpar o lugar que cabe por direito à família. Não existe para controlar as pessoas por meio de regras humanas. Não representa um sacerdócio especial ou intermediário entre Deus e os santos. A igreja não existe para vender serviços (ou ministérios). Os cristãos não existem para servir à instituição igreja, antes, a igreja, como instituição, existe para servir aos cristãos.
A igreja funciona de formas que nenhuma outra instituição ou associação humana poderá funcionar. Existe, é claro, uma distinção entre a "assembleia dos santos" e a igreja formal com suas várias autoridades e funções específicas. Aqui, o princípio bíblico de "liberdade sob a lei do Evangelho" servirá para ajudar-nos a entender a necessidade tanto da igreja como comunidade dos santos quanto da igreja como instituição. Assim como o governo civil exerce autoridade com o propósito de servir aos cidadãos, a igreja como instituição exerce autoridade sobre os santos, a fim de ajudá-los a praticar os Dois Mandamentos em todas as suas diversas expressões. Portanto, a igreja como instituição deve possuir certo poder para cumprir suas funções.
De modo que a igreja como instituição desempenha uma função governamental. Assim como o indivíduo é importante, também é importante a união pactual dos fiéis. Deus quer que Sua glória repouse sobre a humanidade até as partes mais remotas do mundo. Portanto, a igreja provê uma identidade federal para vincular o indivíduo e sua família à comunidade mais ampla dos santos. Igualmente, a igreja como instituição provê uma representação visível e federal dos santos para o resto do mundo.
Além disso, a missão do Cristianismo é imensa, e o indivíduo é intrinsecamente fraco. Deus provê instituições maiores para gerar ordem quando as instituições locais são fracas ou defeituosas. Ainda que a virtude individual seja uma meta do fundamental do Cristianismo, nossa maior força encontra-se na união cristã. A igreja oferece um apoio essencial ao indivíduo e à família em suas responsabilidades cristãs. Os homens são frágeis na luta contra o pecado. Precisamos de toda a ajuda possível na luta contra nossa natureza pecaminosa. Por exemplo, Deus nos deu primeiro o Sabbath e depois o Domingo - o Dia do Senhor - para nos ajudar a fazer duas coisas que achamos difíceis de concretizar: o descanso e a adoração coletiva. Devido à sua importância e comodidade natural, o lar pode oferecer uma formidável resistência contra o mero fato de reunir-se com outros companheiros crentes. Dessa forma, a igreja formal provê aquela estrutura e disciplina necessárias para nos ajudar a praticar as coisas de Deus dentro e fora de nosso lar. A disciplina baseada na fé batalha pelo amor perfeito.
A igreja formal existe para manter e propagar a pureza do Evangelho. Os pastores (ou presbíteros) são homens com um chamado, com dons e preparação especiais para servir ao povo de Deus. A Igreja, por muito tempo, tem ostentado corretamente a posição de detentora dos oráculos de Deus. Os presbíteros governam e são capacitados para o ensino. Não que retenham sacerdotalmente a Palavra ou a dispensem "ex cathedra". O mestre cristão pratica o cuidado constante para ser achado fiel em seu tratamento e distribuição da verdade. Isso não quer dizer que a congregação não pode aprender de modo independente. De fato, parte do trabalho pastoral é educar no uso das Escrituras, de modo que a igreja não seja independente de seus oficiais. A tarefa do pastor é equipar os santos para toda boa obra, a obra do ministério cristão.
Da mesma forma existem outras funções e ministérios governamentais que pertencem à igreja como instituição. Assim como os levitas coletavam o dízimo, ministravam educação, ajudavam os necessitados e apoiavam a adoração centralizada do sacerdócio, a igreja local, igualmente, representa um armazém apropriado segundo o Novo Testamento. A igreja possui autoridade para a orientação apropriada das atividades cristãs. Isso é liderança moral. O presbitério ajuda a estabelecer uma visão local e guia a congregação para dar seu fruto apropriado. Estimula o companheirismo, o evangelismo, e vários ministérios apropriados para a comunidade local e segundo os dons da congregação. O pastor articula um apropriado modelo de vida para a congregação de acordo com a Palavra de Deus. A liderança da igreja supervisiona a ordem da adoração, estabelece os horários de reuniões, entre outras funções. Tudo isso pertence claramente aos líderes da igreja formal. Jay Adams disse que o pastor biblicamente orientado e a congregação corretamente ensinada são aptos para o aconselhamento. Em último lugar, pela necessidade de manter a pureza do Evangelho e sua paz, Deus outorgou a disciplina jurídica à igreja.
Em conjunto, a igreja como instituição provê visão, preparação e estímulo - de maneira correta - para a congregação no cumprimento de seu chamado. O ministério voluntário mútuo edifica as associações da igreja. O ministério externo serve à causa da Grande Comissão. A igreja institucional, com a sua perícia e a sua função de disciplinar e governar, é indispensável. Portanto, não abandonemos a prática da reunião e da edificação na igreja local.

Traduzido do Espanhol por F.V.S.


domingo, 21 de novembro de 2010

UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadasanti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

domingo, 31 de outubro de 2010

O DIA EM QUE O PAPA TREMEU


NO DIA 31 DE OUTUBRO DE 1517, HÁ 493 ANOS ATRÁS, UM MONGE AGOSTINIANO CHAMADO MARTINHO LUTERO AFIXA SUAS 95 TESES NA PORTA DA IGREJA DE WITTENBERG, ALEMANHA, PROTESTANDO CONTRA A VENDA DE INDULGÊNCIAS QUE OBJETIVAVA LEVANTAR FUNDOS PARA A CONSTRUÇÃO, EM ROMA, DA BASÍLICA DE SÃO PEDRO.

ESSA DATA TORNOU-SE UM MARCO NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO, SENDO COMEMORADA, A CADA ANO, COMO O DIA DA REFORMA.

MAS COMO TUDO ISSO COMEÇOU?

10 DE NOVEMBRO DE 1483 – NASCE MARTINHO LUTERO, NA PEQUENA CIDADE DE EISLEBEN, NUMA FAMÍLIA DE ORIGEM CAMPONESA MAS QUE VIVIA DO TRABALHO NAS MINAS DE COBRE. EDUCADO SOB A DURA DISCIPLINA DAQUELA ÉPOCA, CERTA VEZ APANHOU DE SUA MÃE ATÉ SANGRAR POR TER ROUBADO UMA NOZ. EM SUA ESCOLA, LEVOU 15 CHIBATADAS POR NÃO CONSEGUIR DECLINAR UM VERBO EM LATIM.

A ALEMANHA DAQUELE PERÍODO ENFRENTAVA DESOLAÇÕES E INÚMERAS DOENÇAS. A PESTE BUBÔNICA CEIFAVA INÚMERAS VIDAS, MATANDO CIDADES INTEIRAS. UM QUARTO DA POPULAÇÃO INFANTIL MORRIA ANTES DOS 05 ANOS DE IDADE.

SOMENTE HAVIA UM CONSOLO: A IGREJA E SUA PROMESSA DE UM PARAÍSO.

TAL PROMESSA HAVIA TRANSFORMADO A IGREJA NA INSTITUIÇÃO MAIS PODEROSA DO MUNDO. MAIS RICA DO QUE OS REIS, MAIS PODEROSA DO QUE OS IMPERADORES – MAS TAMBÉM TIRÂNICA E DESESPERADAMENTE CORRUPTA.

A GRANDE QUESTÃO PARA O HOMEM DAQUELES TEMPOS ERA: “COMO POSSO SER SALVO?”. LUTERO TAMBÉM VIVIA ANGUSTIADO COM ESSA QUESTÃO. JESUS CRISTO ERA APRESENTADO COMO UM JUIZ TERRÍVEL, PRONTO PARA ABATER COM SUA ESPADA OS PECADORES. O ÚNICO CAMINHO SEGURO ERA APROVEITAR TODOS OS RECURSOS QUE A IGREJA OFERECIA – SACRAMENTOS, PENITÊNCIAS, INDULGÊNCIAS, PEREGRINAÇÕES, A INTERCESSÃO DOS SANTOS, ETC – PARA TENTAR OBTER A SALVAÇÃO E A VIDA ETERNA. COMO MUITOS OUTROS EM SEU TEMPO, LUTERO EXPERIMENTAVA VIVIDAMENTE O “TERROR AO SAGRADO”.

ESTUDIOSO DEDICADO, EM 1502 ELE RECEBE O GRAU DE BACHAREL EM ARTES E EM 1505 O DE MESTRE EM ARTES. SEU PAI DETERMINARA QUE ELE DEVERIA ESTUDAR DIREITO, MAS EM JULHO DE 1505, DURANTE UMA VIAGEM, FOI SURPREENDIDO À NOITE POR UMA TERRÍVEL TEMPESTADE. RELÂMPAGOS RISCAVAM O AR. UM RAIO CAIU A POUCOS METROS DE LUTERO, LANÇANDO-O AO CHÃO. PROSTRADO DE JOELHOS, CLAMOU: “SANTA ANA, AJUDE-ME! SE ME SALVARES, TORNAR-ME-EI MONGE!”

O HOMEM QUE ASSIM INVOCAVA UMA SANTA MAIS TARDE REJEITARIA O CULTO AOS SANTOS. AQUELE QUE ACABAVA DE PROMETER TORNAR-SE MONGE MAIS TARDE RENUNCIARIA AO MONASTICISMO. LEAL FILHO DA IGREJA CATÓLICA, MAIS TARDE ABALARIA AS BASES DO CATOLICISMO. SERVO DEVOTO DO PAPA, MAIS TARDE IDENTIFICARIA OS PAPAS COM O PRÓPRIO ANTICRISTO.

TRÊS SEMANAS DEPOIS MARTINHO LUTERO ENTROU NO MOSTEIRO DA ORDEM DE SANTO AGOSTINHO EM ERFURT. EM 1507 FOI ORDENADO MONGE E NO MESMO ANO CELEBROU SUA PRIMEIRA MISSA. AQUELA MISSA FOI UMA EXPERIÊNCIA EXCRUCIANTE PARA LUTERO, ATERRORIZADO POR ESTAR DIANTE DA DIVINDADE – ELE, UM PECADOR, OUSAVA CONSAGRAR A HÓSTIA SAGRADA! NAQUELE TEMPO CRIA-SE QUE O HÁBITO DE MONGE ERA UM “SEGUNDO BATISMO” QUE PERDOAVA OS PECADOS; LUTERO, PORÉM, NÃO CONSEGUIA AQUIETAR SUA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA, QUE O ACUSAVA DIANTE DO DEUS TERRÍVEL DE SANTIDADE E JUSTIÇA. JEJUAVA POR VÁRIOS DIAS SEGUIDOS, SE AUTO-FLAGELAVA, PRATICAVA INÚMERAS PENITÊNCIAS, MAS SEMPRE E SEMPRE CONTINUAVA SENTINDO A MANCHA TERRÍVEL DO PECADO EM SUA CONSCIÊNCIA. “COMO POSSO SER SALVO?” ERA DEVOTO DE VÁRIOS SANTOS: CONFESSAVA-SE POR MAIS DE SEIS HORAS SEGUIDAS, REMOENDO CADA PEQUENO DETALHE DE SEUS ATOS E PENSAMENTOS, EM BUSCA DE PERDÃO. COMO UM HOMEM PODERIA SUPORTAR A PRESENÇA DE DEUS, A MENOS QUE FOSSE SANTO?

EM 1510-1511 SUA ORDEM O ENVIOU A ROMA A NEGÓCIOS. LÁ ELE TESTEMUNHOU A CORRUPÇÃO E A LUXÚRIA DA IGREJA ROMANA. FICOU CHOCADO COM A LEVIANDADE E IMORALIDADE DOS SACERDOTES ROMANOS. ELES PRÓPRIOS COSTUMAVAM DIZER QUE “SE EXISTE UM INFERNO, ROMA ESTÁ CONSTRUÍDA SOBRE ELE”.

EM 1511 LUTERO FOI TRANSFERIDO PARA A UNIVERSIDADE DE WITTENBERG. SEU LÍDER ESPIRITUAL, STAUPITZ, ACREDITAVA QUE LUTERO PODERIA VENCER SEUS MEDOS CASO ESTUDASSE A BÍBLIA, E EM WITTENBERG PRECISAVAM DE UM PROFESSOR. AO ENTRAR EM CONTATO COM AS ESCRITURAS, A FIM DE PREPARAR SUAS AULAS, LUTERO DEPAROU-SE COM A AFIRMAÇÃO DE PAULO EM ROMANOS 1.17: “O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ”. ISSO O CONVENCEU DE QUE SOMENTE PELA FÉ EM CRISTO ALGUÉM PODE TORNAR-SE JUSTO DIANTE DE DEUS. O ESTUDO DA BÍBLIA O LEVOU A CRER SOMENTE EM CRISTO PARA A SUA SALVAÇÃO.

EM 1517 O MONGE DOMINICANO TETZEL COMEÇA A VENDER INDULGÊNCIAS NA ALEMANHA, PARA SUPRIR O PAPA LEÃO X DE RECURSOS A FIM DE PAGAR A GIGANTESCA SOMA DE DINHEIRO QUE ELE HAVIA EMPRESTADO AOS BANQUEIROS ALEMÃES FUGGER. LEÃO X QUERIA CONSTRUIR A BASÍLICA DE SÃO PEDRO, E QUERIA QUE A MESMA FOSSE MAIOR E MAIS PORTENTOSA DO QUE O ANTIGO PARTENON GREGO. TETZEL AFIRMAVA QUE AS INDULGÊNCIAS PODERIAM PERDOAR QUAISQUER PECADOS E QUE A CRUZ ERGUIDA COM O BRASÃO DE LEÃO X TINHA O MESMO PODER QUE A PRÓPRIA CRUZ DE CRISTO. ELE AFIRMAVA: “NO INSTANTE EM QUE UMA MOEDA TILINTA NO FUNDO DO COFRE, UMA ALMA ESCAPA DO PURGATÓRIO!”

AQUILO FOI DEMAIS PARA O RECÉM-CONVERTIDO MARTINHO LUTERO. EM 31 DE OUTUBRO DE 1517 ELE AFIXA 95 TESES NA PORTA DA IGREJA DE WITTENBERG. NELAS, EM LATIM, CONDENA O SISTEMA DE INDULGÊNCIAS E DESAFIA A TODOS PARA UM DEBATE SOBRE O ASSUNTO. A TRADUÇÃO PARA O ALEMÃO E A PUBLICAÇÃO DAS 95 TESES ACABAM POR TIRAR A DISCUSSÃO DO AMBIENTE ACADÊMICO E PRECIPITAR OS ACONTECIMENTOS.

EM JULHO DE 1519 LUTERO É CONVOCADO PARA DEBATER COM O REPRESENTANTE PAPAL, JOHN ECK. SOBREVIVE GRAÇAS AO APOIO DA NOBREZA ALEMÃ, PARTICULARMENTE DO PRÍNCIPE FREDERICO, ELEITOR DA SAXÔNIA E RESPONSÁVEL PELA UNIVERSIDADE DE WITTENBERG.

EM 1520 PUBLICA SUAS OBRAS APELO À NOBREZA GERMÂNICA, O CATIVEIRO BABILÔNICO E SOBRE A LIBERDADE DO HOMEM CRISTÃO. EM JUNHO O PAPA LEÃO X PROMULGOU A BULA EXSURGE DOMINE, QUE RESULTOU NA EXCOMUNHÃO DE LUTERO. AS OBRAS DE LUTERO SÃO QUEIMADAS EM ROMA. LUTERO QUEIMA A BULA PAPAL NA ALEMANHA.

EM NOVO CONCÍLIO, EM 1521, LUTERO NOVAMENTE RECUSA A RETRATAR-SE. LEVADO POR SEUS AMIGOS, CONTRA A SUA VONTADE, PARA O CASTELO WARTBURG, ONDE PERMANECEU ESCONDIDO ATÉ 1522, LUTERO ESCAPOU DA FÚRIA ASSASSINA DA IGREJA ROMANA.

EM SEU EXÍLIO EM WARTBURG LUTERO TRADUZIU A BÍBLIA PARA O ALEMÃO, A FIM DE QUE O POVO FINALMENTE TIVESSE ACESSO ÀS ESCRITURAS. ENQUANTO ISSO, SEUS ALIADOS NÃO PERDIAM TEMPO, LEVANDO ADIANTE A OBRA DA REFORMA. EM 1521 SAI A PUBLICAÇÃO DA OBRA LOCI COMMUNES, DE PHILLIPPE MELANCHTON. NELA, MELANCHTON REJEITOU A AUTORIDADE DA IGREJA ROMANA E DOS CONCÍLIOS, ESTABELECENDO ACIMA DE TODOS A BÍBLIA COMO AUTORIDADE FINAL PARA OS CRISTÃOS.

A BÍBLIA ALEMÃ DE LUTERO FOI FINALMENTE PUBLICADA EM 1534. FOI A PRIMEIRA BÍBLIA NO VERNÁCULO DO POVO ALEMÃO, E SERVIU DE MARCO PARA A PADRONIZAÇÃO DA LÍNGUA.

NA ESTEIRA DE LUTERO VIRIAM OUTROS REFORMADORES, COMO ULRICH ZWINGLIO E JOÃO CALVINO (AMBOS NA SUÍÇA), JOHN KNOX (NA ESCÓCIA) E OUTROS. DEPOIS VIRIAM OS ANABATISTAS E SUA REFORMA RADICAL, CUJO LÍDER DE UM DOS PRINCIPAIS GRUPOS FOI MENNO SIMMONS (OS MENONITAS TÊM ESSE NOME EM HOMENAGEM A ELE).

LOGO A REFORMA ESPALHOU-SE POR OUTROS PAÍSES DA EUROPA, COMO HOLANDA E MESMO A INGLATERRA, ONDE POR QUESTÕES MERAMENTE PESSOAIS O REI HENRIQUE VIII ROMPEU COM O PAPA E TORNOU-SE O CHEFE DA IGREJA INGLESA, DANDO ORIGEM AO ANGLICANISMO.

E NA HOLANDA DO SÉCULO XVII, UM GRUPO DE REFUGIADOS INGLESES DEU INÍCIO A UM MOVIMENTO DE FÉ QUE DARIA ORIGEM, POSTERIORMENTE, À IGREJA BATISTA. OS PRIMEIROS BATISTAS A PRATICAR O BATISMO POR IMERSÃO FORAM OS BATISTAS REFORMADOS (CALVINISTAS) INGLESES, QUE SE CONGREGARAM A PARTIR DE 1633.

OS PRINCÍPIOS DA REFORMA (CINCO SOLAS):

SOLA FIDE – SOLA GRATIA – SOLA SCRIPTURA – SOLUS CHRISTUS

SOLI DEO GLORIA

(SOMENTE A FÉ – SOMENTE A GRAÇA – SOMENTE AS ESCRITURAS

SOMENTE CRISTO – GLÓRIA SOMENTE A DEUS)

A REFORMA SURGIU DA DESCOBERTA DE UM HOMEM, E POSTERIORMENTE DA DESCOBERTA DE MUITOS POVOS, DO PODER DA PALAVRA DE DEUS – A DESCOBERTA DA BÍBLIA. HOJE, 493 ANOS DEPOIS, PRECISAMOS REFLETIR SOBRE O NOSSO PAPEL NO CENÁRIO RELIGIOSO CONTEMPORÂNEO. PRECISAMOS DE UMA NOVA REFORMA, QUE NOS LIBERTE DA TIRANIA E DA OPRESSÃO DOS MERCENÁRIOS RELIGIOSOS E DA IGNORÂNCIA DE SEUS SEGUIDORES. UMA PARCELA SIGNIFICATIVA DA IGREJA EVANGÉLICA, NESTE ALVORECER DO SÉCULO XXI, DEMONSTRA ESTAR TÃO CORROMPIDA QUANTO O CATOLICISMO ROMANO DO SÉCULO XVI. PRECISAMOS DE NOVOS LUTEROS, NOVOS CALVINOS, NOVOS REFORMADORES QUE TENHAM A CORAGEM DE SE POSICIONAR E DE MOSTRAR AO MUNDO, MAIS UMA VEZ, O PODER E A AUTORIDADE DA PALAVRA DE DEUS, A BÍBLIA SAGRADA.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O QUE UM CONFESSOR TEM A NOS ENSINAR SOBRE A CORAGEM? RICHARD WURMBRAND E A IGREJA PERSEGUIDA, ONTEM E HOJE

O Rev. Richard Wurmbrand foi ministro do Evangelho e passou quatorze anos como prisioneiro dos comunistas, torturado em sua própria terra, a Romênia. Os guardas tentaram forçá-lo a confessar que pertencia a uma rede de espionagem imperialista, foi açoitado, torturado e obrigado a ingerir drogas. Apesar de tudo ele resistiu e ficou firme. Passou dois anos na “cela da morte” – assim chamada por não ter voltado ninguém dali com vida.
Este notável cristão tem muito a nos dizer hoje sobre fé e coragem; o interessante é que, no entanto, que muito pouco hoje se fala sobre ele. Alguns teólogos dogmáticos afirmam que a história não é cíclica, o que discordo, pois o próprio escritor de provérbios mui sabiamente informa sentenciando: “o que é já foi o que há de ser também já foi; Deus fará renovar-se o que já foi” (Ec 3.15); “4Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre. 5Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo. 6O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos. 7Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr. 8Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir. 9O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. 10Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós” (Ec 1.4-10).
Os rumores que têm inquietado os brasileiros hoje, inquietaram muitos cristãos sinceros no passado, pessoas que tiveram que lutar contra um autoritarismo e mordaça imposta pelo sistema dominante.
Já desde a aurora do Cristianismo havia essa tensão, basta dar uma pequena olhada nos escritos dos apologistas dos primeiros dois séculos, que tentavam dissuadir os imperadores e as autoridades de sua loucura contra a verdade do evangelho.
No obscuro período da Era das Trevas, igualmente poucas vozes se alçavam contra um descalabro de perversão intolerante de pensamentos diferentes e em pública manifestação de fé, podemos citar Savonarola na Itália, grande mártir poderoso na eloquência e invicto na fé; ou Huss, grande homem que foi traído por Sigismundo (retirou seu salvo conduto) ao que acabou sendo morto por ser fiel à sua consciência e a  seu amado Senhor, diz-se que morreu cantando.
Não poderia deixar de lado e estrela matutina na Reforma Protestante, seu nome: John Wycliffe que em 1380 traduz a Bíblia para a língua inglesa apesar da desaprovação da Igreja Romana. Poderia citar um sem número de outros heróis cristãos que merecem ser lembrados, mas isso seria trabalho para um livro, não para o que é proposto neste artigo sobre um mártir moderno.

Vou pular o período da Reforma, pois já escrevi sobre este tema, e o mesmo pode ser consultado neste mesmo blog, e faço um corte histórico e reporto para o período contemporâneo.
A República de Weimar foi sucateada pela política do Reich nazista, que ano após ano foi cerceando os direitos comuns e interferindo na vida do cidadão com uma ideologia de socialismo racial, tudo regado a muito dinheiro público e aparições hollywodianas, com discursos extemporâneos e inflamados, cheios de idealismo insano, profano, demagógico e preconceituoso.
Uma nação forte, precisa de um líder forte, e para isso o Reich tinha de que se orgulhar, Hitler – o salvador da pátria, o “messias” - resolveria tudo com seu plano bem descrito em “Mein Kampf” (“Minha Luta”, de 1924). Em 10 anos de guerra foram ceifadas mais de 70 milhões de vidas.
O Holocausto judeu, nos campos de concentração, é uma voz alçada aos quatro ventos do que a radicalidade de uma ideologia político-partidária é capaz de fazer, destarte todos os documentos, fotos e filmes da época, relatos de sobreviventes e todos os livros de história que foram escritos sobre o tema. Apesar de tudo isso, um sujeito da mesma estirpe de Hitler, muito menos carismático é claro, surge no paraíso dos aiatolás, o Irã, e peremptoriamente desdiz tudo o que está documentado sobre o genocídio judeu.
É de assustar que sujeitos como esse tenham relações com o Brasil, que, diga-se de passagem, está já há algum tempo flertando com totalitaristas. Por um lado estende o tapete vermelho a Mahmoud Ahmadinejad, por outro, morre de amores por Fidel Castro, ao mesmo tempo que tenta agradar Palestinos e Judeus, lê-se: gregos e troianos, tentando pacificar o mundo com uma ingenuidade forçosa e  discursos sofríveis.
Naquele período, negado por alguns que usam viseira de cavalo nos olhos, alguns vultos são dignos de nota. Karl Barth, fecundo teólogo dialético da escola neo-ortodoxa e Paul Tillich, adepto do liberalismo teológico e um de seus ícones, ambos tiveram que sair da Alemanha, pois estavam sendo perseguidos por não se encaixarem no enquadramento filosófico-ideológico do estado hitlerista, que à semelhança de um canto de sereia seduzia tanto católicos quanto evangélicos, sendo que uns e outros deveriam fazer frente à avalanche que se formava e serem os primeiros responsáveis por denunciar e sabotar aquele sistema iníquo. Todavia, capitularam. Com exceção de alguns que não dobraram seus joelhos àquele infame Baal nazista, dentre eles Dietrich Bonhoeffer, mártir, entre tantos dessa época.
Pelos idos de 1948, em outro país do Leste Europeu, mais precisamente na Romênia, residia o Rev. Richard Wurmbrand, que nos dá uma vívida imagem do que e como uma ideologia é capaz de agir. Diz ele: “a partir de 23 de agosto de 1944, um milhão de soldados russos entraram na Romênia, e logo após os comunistas assumiram o poder de nosso país. Então começou um pesadelo que fazia o sofrimento sob o nazismo parecer nada” (1). Prossegue Richard informando que a Romênia tinha uma população de dezoito milhões de pessoas e que o partido comunista tinha apenas dez mil membros, mas isso não impediu o ímpeto comunista, pois o secretário de exterior russo, chamado Vishinski, entrou no gabinete do Rei Miguel I da Romênia e esmurrando a mesa disse: “você tem que nomear comunistas para o governo!” (2).
Mas, qual é a semelhança do nazismo e do comunismo? São contrários! Não, os dois são socialismos, ao passo que o Nazismo é um socialismo de raça, o Comunismo é um socialismo de classe, mas ambos são socialismos, populistas e totalitários, será que a história não estaria se repetindo novamente de forma cíclica? Os homens não são somente responsáveis por seus pecados pessoais, mas também pecados cometidos no plano nacional (3).
Nosso Confessor prossegue: “desde que os comunistas assumiram o poder, cuidadosa e astutamente, para seus propósitos, têm seduzido a Igreja [...] quando os comunistas assumiram o poder, milhares de pastores, padres e ministros não sabiam como distinguir as duas vozes”. As vozes de que Richard se refere, são as vozes do amor e da sedução; o comunismo de seu tempo usava a voz da sedução, porém não amava, apenas usava o poder para seus sórdidos planos, exatamente como fez na Rússia, China, Coréia do Norte, Cuba e etc.
No congresso romeno, reunidas as autoridades religiosas, tanto católicas quanto protestantes, uma a uma começaram a exaltar Stalin (ateu) e declarar lealdade ao comunismo. Um padre chegou a colocar um emblema da foice e do martelo na batina e pediu para não mais o chamar de sua santidade, mas de camarada bispo (4). No lado protestante não era diferente, a foice e o martelo estavam em seus corações. A cegueira estava patente.
Wurmbrand então se levantou e discursou no Parlamento comunista, exaltando a Cristo, todo o país ouviu a proclamação do evangelho, ele pagou por isso, mas segundo o próprio Richard: valeu a pena.
O legado e as experiências desse confessor moderno devem nos fazer refletir, principalmente quanto ao maquiavelismo dos socialismos que presenciamos, que tudo fazem para chegar ao poder e depois de lá instalados, tudo fazem para se manter lá, basta dar uma olhadinha na Venezuela, Bolívia, Cuba e que Deus nos guarde de acontecer aqui no Brasil.
A sórdida dissimulação para alguns não é percebida, mas está diante de nossos olhos. Defensores do populismo vociferam contra o Cristianismo: “Calhordice, Calhordice”, e mais uma vez Maquiavél é confirmado. No entanto aqueles com uma mínima cultura podem perceber quem são os calhordas na história, bem como os covardes, que não merecem ser chamados de homens, pois ao primeiro sinal de censura capitulam.
Richard Wurmbrand, depois de sua declaração de fidelidade a Cristo, foi posto em uma cela por dois anos sem ver a ninguém, exceto seus torturadores, sua esposa foi levada para uma prisão e lá também foi torturada. Para este grande homem, que o mundo não foi digno de tê-lo, o viver era Cristo e o morrer, ganho. Sofreu, foi torturado por sua fé, que hoje alguns vendem por promessas, barganham em conchavos, esbravejam tachando-a de calhordice.
Se perguntássemos a Richard hoje, se foi difícil, certamente a resposta seria sim, muito difícil, mas ele arremataria dizendo: “Valeu apena”. Nas palavras de Billy Graham: “seu  desafio não será em vão”. Que Richard nos fale hoje.


NOTAS
(1)   WURMBRAND, Richard. Torturado por amor a Cristo. Ed. Voz dos mártires, p.14.
(2)     Ibidem.
(3)     Idem, p.15.
(4)     Idem, p. 16.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

MISSÃO URGENTE - VÁ E PREGUE

 “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”
Mt 28.18, 20


“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”.
Mc 16.15,16


A grande comissão de Jesus Nosso Senhor foi determinada de forma clara, pois a loucura da pregação é o modo usado por Deus para a Salvação do ser humano. Tendo sempre isso em mente, devemos usar de todos os meios para proclamar o Evangelho a todos os povos.
Missões é o grande empreendimento legado de Jesus à sua Igreja triunfante e militante. Todo cristão tem o dever de ser uma testemunha de Jesus Cristo onde quer que se encontre - deveras, cada vez que o cristão se comporta de forma condigna do Evangelho, ele se torna sal e luz no mundo. Isso não significa aceitação social, mas impacto social. Foi assim que os cristãos primitivos cumpriram seu papel na grande comissão.
Em meu pequeno opúsculo, não tenho a empáfia de resolver o assunto, muito menos de fechá-lo, todavia, escrevo conforme creio, pois creio e confesso e isso me leva à ação. Nesses poucos anos de ministério pastoral, os quais, na maior parte dos mesmos, passados no campo missionário, ouvi vários argumentos e questionamentos (pelo menos uma dezena) sobre Missões e os povos não alcançados bem como missões dentro do plano soteriológico.
Um dos questionamentos mais freqüentes quanto à salvação e missões se dá por conta da questão dos que não ouviram e morreram; entre eles o caso dos índios, visto que só uma parte deles tem o testemunho do Evangelho, enquanto a outra parte jaz em densas trevas. Gostaria de desenvolver o assunto em forma de perguntas e respostas, creio que assim será mais elucidativo.
A primeira pergunta é quanto à bondade de Deus: Não seria injustiça Deus condenar quem ainda nada ouviu? Não. Todo ser humano já nasce merecedor da justiça de Deus, o grande problema das pessoas é a falta de entendimento do que é justiça e injustiça.
Quando o Senhor condena um ser humano, a culpa não é de Deus, mas do homem, que já foi concebido em iniquidade e nascido em pecado (Sl 51.5); condenado por um crime que cometeu em Adão, pois este era seu representante, e a queda dele foi a de toda a raça humana (Rm 3.23): “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”; bem como o salário do pecado é a morte (Rm 6.23).
Mas como temos ligação com o pecado de Adão? Simples, estávamos nele, assim como Levi estava em Abraão, dando o dízimo a Melquisedeque: “Pois Levi não tinha nascido, e, por assim dizer, ainda estava no corpo do seu antepassado Abraão quando este se encontrou com Melquisedeque” (Hb 7.10, NTLH).
Sendo Assim, já foi visto como morremos em Adão, como o pecado dele foi o nosso. Daí recorre a questão da Justiça X Injustiça. Ninguém quer ter um Deus injusto, mas todos querem um Deus Justo, mas como argumenta belamente Paul Archer, visto que Deus é justo, você está em grande problema, pois Deus é justo, no entanto você é injusto. Visto ser esse um fato, pois a Escritura está repleta dessa doutrina da depravação total do ser humano em textos como Gn 6.5: todo o pensamento humano é mau; Sl 143.2: “ À vista do Senhor não há ser vivente justo”; Rm 3.10: “como está escrito: Não há justo, nem um sequer”, ainda pode ser dito que o ser humano naturalmente não entende nada das coisas referentes a Deus (Rm 3.11): “não há quem entenda, não há quem busque a Deus”. O mesmo verso informa ainda que não há quem busque a Deus, nisso pensando, fica evidente que isso é impossível ao homem, seja ele silvícola ou urbano. Categoricamente o homem não tem livre arbítrio, pois nem pode achegar-se a Cristo (Jo 6.64).
Posto que Deus seja Justo e como foi visto, o homem é injusto, pode-se definir justiça por “receber o que se merece” e o que merecemos, senão o inferno?   A salvação é pela graça e graça é favor não merecido, você não conquista, você ganha de presente (Ef 2.8,9). Deus não usa justiça com alguns, usa de misericórdia, não aplicando neles a justa pena que seus pecados merecem e os salva segundo o propósito de sua vontade (Rm 8; Rm 9; Ef 1.4-11). Quanto aos outros, recebem justiça de Deus, tenham eles ouvido e rejeitado o Evangelho, ou tenham eles nunca ouvido uma pregação da Palavra de Deus.
Por esse motivo deve-se empenhar todo e qualquer esforço na obra missionária, tanto nacional quanto transcultural, pois todo o ser humano está andando para a perdição eterna. Portanto devemos pregar, pois a ordem foi dada, e todos os eleitos ouvirão e crerão no Evangelho. Mas alguns poderiam dizer: “então pregue somente aos eleitos”, ao que pode ser respondido – mostra-nos os eleitos que iremos a eles! Como não se sabe quem são os escolhidos de Deus, deve-se pregar a todos os homens.
E a pregação é o meio usado por Deus para a salvação do ser humano (1Co 1.18, 21-25): “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus [...]Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”
Poderia ainda trazer a discussão Romanos 10.8-15: “Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.  Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!”
Aquele que invoca é o que ouviu a mensagem da fé em Cristo pregada pelos cristãos e tornada irresistível pelo Espírito Santo – como invocarão aquele em quem não creram? Outra questão deve ser tratada. Como se dá a fé? Não seria ouvindo e crendo no Evangelho, por meio da ação irresistível do Espírito Santo? Sim, veja novamente; “O meu ensinamento e a minha mensagem não foram dados com a linguagem da sabedoria humana, mas com provas firmes do poder do Espírito de Deus. Portanto, a fé que vocês têm não se baseia na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1Co 2.4,5); “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.” (Hb 10.17).
Como fica a situação dos índios e dos que ainda não ouviram? Eles como qualquer outro ser humano, precisam ouvir o Evangelho e receber o novo nascimento dado por Deus.
Mas, o Evangelho não está em sua consciência? Não, o que há em suas consciências é a Lei, e a Lei não pode salvar ninguém, ninguém é absolvido por obedecer a Lei, seja ela escrita em tábuas de pedra, preceitos humanos ou na consciência. Uma primeira leitura parece amparar quem defende uma salvação pela consciência, no entanto, não é isso que Paulo tem em mente ao referendar a consciência indesculpável dos seres humanos: “Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2.15).
Veja que os pensamentos, tendo a Lei como base, processam uma reprovação ou uma aprovação (acusação X defesa) em todo o coração humano, no entanto nunca uma absolvição, esta palavra absolvição não se encontra no texto acima, pois se uma absolvição com base no julgamento da consciência de algum pecador morto em pecados pudesse absolvê-lo de suas transgressões com base naquilo que ele já tem de conhecimento rudimentar da natureza, sem a pregação do Evangelho, seria isso um início de auto-salvação e sendo a mesma pelas obras.
Longe disso, a Escritura é taxativa ao informar que a Salvação vem de Deus (Jn 2.9): “Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que votei pagarei. Ao Senhor pertence a salvação!”; “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9).
Pode-se ainda colocar outra barreira intransponível ao argumento da salvação pela consciência. A que Paulo em 1Co 4.4 diz: “Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor”. Quem é o juiz? Paulo se dá por satisfeito tendo como base somente a consciência?
O Apóstolo dos Gentios dá outro golpe na “salvação por consciência” – ao dizer que alguns tinham uma consciência fraca (1Co 8.7), sem contar aqueles que pela insistência em sua iniquidade contumaz cauterizaram a própria consciência (1Tm 4.2). Encerrando o assunto tomo o texto sagrado e, novamente Paulo fala que os descrentes têm a consciência corrompida (Tt 1.15). Segue-se as perguntas: quem é descrente? E, como encontra-se o estado de suas consciências? Mesmo este testemunho da lei Escrita na consciência não salva, assim como Rm 1.18-23, diz que pode-se conhecer algo de Deus, e de seus atributos invisíveis por meio daquilo que Ele fez, isto é, a criação e a própria consciência, mas isso, ao invés de salvar, serve para que o homem seja indesculpável, veja: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.”  
Resumindo, como é a consciência dos incrédulos?
1. Fraca (1Co 8.7)
2. Cauterizada (1Tm 4.2)
3. Corrompida (Tt 1.15)
4. Raciocínio Nulos (Rm 1.21)
5. Corações insensatos e obscuros (Rm 1.21).

Qual é a condição de todos os homens? Mortos.
Qual é a condição das consciências humanas? Depravadas, corrompidas, cauterizadas, nulas, insensatas, obscuras – isso é; sem ação salvífica.
Qual a condição dos pecadores sem a graça? Mortos em delitos e pecados
Qual é o meio de graça usado por Deus para a Salvação dos pecadores? A  pregação do Evangelho escrito.
Há diferença quanto à natureza do índio e daquele que mora no grande centro urbano? Não, os dois são igualmente perdidos e carentes da graça salvadora.
Se alguém morre sem ouvir a pregação? Morre na sua maldade (impiedade, Ez 3.18,19). Por isso é imprescindível usar de todos os recursos e depreender todos os esforços para a pregação do Evangelho e que o mesmo chegue a todos os recantos do mundo, pois é isso que a Escritura nos ensina em suas páginas – Quem crer (Mc 16.16). Como crerão? Crerão em quem?
Que Cristo Jesus nos dê a capacidade de pregar o Evangelho da Salvação a todos os homens que estiverem ao nosso alcance; e aos que estão longe, possamos usar de todos os meios para levar a eles o Evangelho, se possível até mesmo indo até eles, pois só serão salvos por meio da pregação.
Não sejamos relapsos em nosso supremo dever de evangelizar, usando uma boa teologia de forma errada, nem tampouco heterodoxos usando má teologia por mera preferência pessoal, nem ainda sejamos obstinadamente ignorantes, rejeitando o testemunho das Escrituras.
Soli Deo Gloria