sábado, 13 de fevereiro de 2010

CRISTO, NOSSA RECOMPENSA (MARCOS 10.17-31)




"Nós deixamos tudo para seguir-Te" (Mc 10.28).


1) Mc 10.17-22: O Jovem Rico e o apego às coisas desta vida

O rapaz corre até Cristo e ajoelha-se diante dele, chamando-o de "Bom Mestre". Jesus responde dizendo que somente Deus é bom (indicando a divindade de Cristo: se somente Deus é bom, e Cristo é bom, logo Cristo é Deus). À pergunta do jovem, Cristo responde mencionando alguns dos principais preceitos da Lei. O jovem afirma tê-los guardado desde cedo. Ele realmente interessava-se em agradar a Deus. Era sincero nesse desejo. Muitas vezes também queremos agradar a Deus, mas do nosso jeito, à nossa maneira, enquanto vamos levando a nossa vida. A seguir, Jesus vai aprofundar o teste, indicando claramente ao jovem rico (e a nós) que tipo de espiritualidade o mesmo estava vivendo.
"Falta-lhe uma coisa. Vá, venda tudo... dê... e siga-me" (vv. 21,22). A proposta de Jesus é chocante. O jovem tinha "muitas riquezas", certamente estava habituado a uma vida de luxo e conforto. Provavelmente jamais passara por dificuldades financeiras, jamais sentira falta de qualquer bem material. Nunca precisara confiar somente em Deus para a sua subsistência. Nunca precisara depender de Deus para a sua sobrevivência. Vender tudo o que possuía e dar o dinheiro aos pobres?! Era mais do que ele poderia suportar. Não conseguia sequer imaginar o que faria sem seus bens. Como seria sua vida sem seu dinheiro? De que viveria? Como faria para vestir-se, para alimentar-se? Não, o "Bom Mestre" estava pedindo demais! Infelizmente ele não percebeu, ou ao menos nem levou em consideração, as palavras de Jesus: "e você terá um tesouro no Céu". Palavras enigmáticas. Um tesouro no Céu? O que vem a ser isso? Seriam riquezas a serem recebidas após a morte? Mas, e aqui e agora? Nesta vida, quais as vantagens de se possuir um "tesouro no Céu"? Pode-se comprar comida e roupas com um tesouro no Céu? Durante toda a sua vida o rapaz estivera submerso no conforto material. Agora não conseguia nem mesmo imaginar o conforto celestial. Os bens materiais cegaram-no para os bens espirituais.
2) Mc 10.23-27: Tudo é possível para Deus.

Jesus exclama: "Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!". Na cultura de então, a riqueza era um sinal da bênção divina. Certamente as pessoas mais aptas para o Céu seriam as mais ricas! Por causa disso, as palavras de Jesus deixaram os discípulos "admirados". Se para os ricos era difícil - e segundo a figura de linguagem da agulha e do camelo utilizada por Cristo, verdadeiramente impossível - entrar no Reino dos Céus, o que dizer das demais pessoas, os não-ricos - ou seja, a maioria absoluta da população, da qual os discípulos faziam parte integrante? Daí a pergunta inevitável, cheia de ansiedade: "Neste caso, quem pode ser salvo?".
"Para o homem é impossível". A salvação não pode ser alcançada pelo mérito humano. "Não há nenhum justo", Rm 3.10. "Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus", Rm 3.23. "O salário do pecado é a morte", Rm 6.23. Nenhum ser humano pode salvar-se a si mesmo, porque todos estão debaixo de condenação ("uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens", Rm 5.18). Mas graças a Deus por Jesus Cristo (Rm 7.25)! Como "todas as coisas são possíveis para Deus", Ele "deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões - pela graça vocês são salvos", Ef 2.5. "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus", Ef 2.8. Somos salvos única e exclusivamente pela graça de Deus em Cristo Jesus. O que é impossível para os homens (a obtenção da salvação), foi realizado por Deus.

3) Mc 10.28-31: A verdadeira riqueza.

"Nós deixamos tudo para seguir-Te!" (v.28). Pedro lembra seu Mestre das renúncias que os discípulos fizeram para segui-lO. É evidente que houve aqui um certo tom de autocomiseração. Pedro está com pena de si mesmo e de seus companheiros. Se para os ricos é impossível salvar-se, o que será deles, que deixaram tudo o que tinham para seguir Jesus? A resposta de Cristo é um sopro de ar puro, um refrigério, um impulso e uma motivação para miríades de cristãos em todos os tempos, que deixaram tudo para seguir a Cristo, e um incentivo para todos os crentes da atualidade.
Jesus nunca enganou ninguém. Ele foi muito claro quando afirmou a seus discípulos e a uma multidão que queria segui-lO: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará" (Mc 8.34,35). Se alguém crê que se tornará rico ao decidir servir a Deus, não prestou atenção às palavras de Cristo: "As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça", Lc 9.58. O que Ele está dizendo em Mc 10.30 tem a ver não com riquezas terrenas (como as do jovem rico), mas com riquezas celestiais, o "tesouro no Céu" (Mc 10.21). Quem renuncia a tudo o que tem, a tudo o que é, por amor a Cristo e ao evangelho, receberá uma recompensa em troca. Essa recompensa manifesta-se já nesta vida através do cuidado especial de Deus na vida de Seus servos. Quem deixa o seu lar paterno por amor a Cristo, receberá cem vezes mais na família de Cristo, a Igreja. E se Ele nos enviar a um lugar onde nem ao menos tenhamos a companhia de outros crentes, Ele mesmo será a nossa companhia, o nosso pai, a nossa mãe, o nosso irmão, o nosso tesouro, o nosso recurso. Receberemos cem vezes mais na forma de Sua presença conosco, de Seu amor, de Seu cuidado, de Seu carinho. Quando abandonamos nosso conforto, nossas posses, nossos planos, nossos sonhos - nossa vida inteira - por causa de Cristo e do evangelho, recebemos em troca nada menos do que o próprio Cristo, a promessa do evangelho! Efetivamente, Ele será para nós Emanuel, "Deus conosco". Haverá sofrimento, haverá dor, porque renúncia implica tudo isso. Haverá dificuldades. Mas assim como Moisés, que "preferiu ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado", porque "contemplava a sua recompensa" (Hb 11.25,26), também nós devemos erguer nosso olhar além das coisas materiais deste mundo e contemplar a Cristo, nossa riqueza, nosso tesouro, nossa recompensa. "Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento", Cl 2.3.
A beleza de nosso Deus é nosso tesouro maior, nossa recompensa definitiva, e vale infinitamente mais do que qualquer coisa que este mundo decadente e perverso possa oferecer.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI), publicada no Brasil pela Sociedade Bíblica Internacional e pela Editora Vida.