sábado, 1 de maio de 2010

A HERESIA DA PREDESTINAÇÃO (Parte 2)

Confissão de Westminster
CAPÍTULO 9: DO LIVRE-ARBÍTRIO
1. Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza.
2. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus; mas era passível de mudança, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder.
3. O homem, ao cair no estado de pecado, perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; de sorte que um homem natural, inteiramente contrário a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso.
4. Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado e, somente por sua graça, o habilita a querer e a fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção ainda existente nele, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau.
5. É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só. (1)

Quando escrevi a primeira parte deste artigo, achei que receberia muitos protestos, principalmente pela forma com que escrevi, mas não foi o caso. No entanto, creio piamente que a verdade de Deus é intocável, enquanto a Bíblia existir, ninguém em sã consciência poderá colocar a predestinação em dúvida, do mesmo modo, somente um bruto irracional poderia negar aquilo que é evidente na criação, razão e na própria Bíblia – isto é, que Deus é o Senhor da História e controla tudo quanto existe e exerce domínio sobre tudo que há, seja visível ou invisível, racionais e irracionais etc...

O ensino do pasmado livre arbítrio ecoa como uma blasfêmia velada e sutil, pois quando se diz que Deus não força ninguém e que este faz o que quer Deus não interfere no livre arbítrio, somente quem Não crê na Bíblia para aceitar isso, aliás, não conhece nada nem mesmo sobre o pensamento judaico-cristão.

Um escritor chamado Clark Pinnock rompeu com o pensamento cristão indo pelo caminho “lógico” chamado livre arbítrio e então acabou negando os pressupostos peculiares à Divindade, como onisciência e onipotência. Pois se Deus sabe tudo, logicamente que isto já está firme e não mudará; como então conciliar isso com o livre arbítrio? Pinnock então resolveu anular a onisciência de Deus, passando a ensinar que Deus não sabe todas as coisas. Concernente ao homem, Deus não sabe o que o homem fará, pois se Deus soubesse, nossas ações não seriam livres.
Aqui temos também a versão tupiniquim do Teísmo Aberto ou “teologia relacional”. O seu maior proponente é o Pr. Ricardo Gondim, que chegou ao absurdo de afirmar que Deus não conhece o futuro. Essas heresias, que são férteis em solo arminiano, pois daí surgiram como conseqüência lógica do postulado arminiano, são ensinadas de forma clara, pois é dito que os eventos estão em aberto diante de Deus e dos homens, e que Deus quer ser parceiro, não é um Déspota dominador, quer que sejamos livres, como ele é livre. Tão monstruosa é esta imbecilidade que vai frontalmente contra os atributos divinos, apenas para tentar defender uma teoria estúpida como a do livre arbítrio.

Alguns católicos chamam a doutrina da predestinação de heresia, muito bem, para estes, não é a Bíblia o Juiz nos embates teológicos, mas o magistrado eclesiástico, isto é, a Igreja clériga; os menos instruídos dizem que isso (a doutrina da predestinação) é heresia de Lutero e Calvino. Falam isso, porque desconhecem o texto e o contexto bíblico, desconhecem até mesmo a história da Teologia, que teve grandes luminares como defensores da doutrina da predestinação, entre eles, o escolástico Tomás de Aquino, (Roccasecca, 1225 — Fossanova, 7 de março 1274). Tomás de Aquino foi um padre dominicano, teólogo, distinto expoente da escolástica, proclamado santo e cognominado Doctor Communis ou Doctor Angelicus pela Igreja Católica. Seu maior mérito foi a síntese do Cristianismo com a visão aristotélica do mundo, introduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto na Idade Média, na Escolástica anterior, compaginou um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas Summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: são elas a Summa Theologiae, e a Summa Contra Gentiles.

A partir dele, a Igreja medieval teve uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundiam numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão. Sobre a predestinação diz ele:

A predestinação não é uma realidade nos predestinados, mas somente no predestinador. Pois, como dissemos, faz parte da providência, ora, a providência não está nas coisas que constituem o seu objetivo, mas é uma razão existente no intelecto do provisor, segundo ficou estabelecido. Mas a execução da providência, a que se chama Governo, passivamente está nos governados e ativamente, no governador. Por isso, é manifesto que a predestinação é uma certa razão da ordem de determinados seres para a salvação eterna, existente na Mente Divina. Porém, a execução dessa ordem incumbe aos predestinados passivamente, e a Deus ativamente. Pois a execução da predestinação chama-se vocação e glorificação, conforme a Escritura (Rm 8.30): E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também glorificou. (3)
S. Tomás de Áquino.

Tomás de Aquino está absolutamente correto ao colocar a realidade da predestinação em Deus, pois toda a boa dádiva desce dos céus, Tg 1.17, do Senhor vem a nossa salvação, Jn 2.8. Não está a realidade da predestinação no homem, pois a salvação não vem de nós, se Deus esperasse para ver se creríamos nele, para então aí predestinar, a graça seria uma falácia e a salvação seria por obras, pois partiria do homem, que seria o agente ativo e Deus que espera para ver e depois reagir seria o agente passivo na salvação. Na realidade acontece o contrário, pois a salvação não vem de nós, é dom (presente) de Deus, não é por obras para que ninguém se glorie. (Ef 2.8,9).

O Apóstolo João (Jo 15.16) declara que não fomos nós que escolhemos o Senhor, mas Ele nos escolheu para darmos frutos. Se Ele nos escolheu, onde está o meu livre arbítrio aí, onde está a minha resistência diante do Todo-Poderoso que vence a minha maldade e me cativa com Sua graça irresistível?

Graça irresistível dada aos escolhidos, que dá por certa a sua salvação diante da pregação do evangelho: “Creram todos os que estavam ordenados para a vida eterna (At 13.48). A palavra grega traduzida por "ordenados", aqui, realmente significa ordenar ou destinar. Se perguntássemos a Pedro ou a algum outro cristão daqueles dias, quantos creram na pregação de hoje? A resposta seria tácita: “todos os que haviam sido destinados creram”, se fomos escolhidos para crer, e não cremos para ser escolhidos, logo, por onde está passeando o livre arbítrio?

Romanos 3.9 – 18 – Todos estão debaixo do pecado. “9Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; 10como está escrito: Não há justo, nem um sequer, 11não há quem entenda, não há quem busque a Deus; 12todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. 13A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, 14a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; 15são os seus pés velozes para derramar sangue, 16nos seus caminhos, há destruição e miséria; 17desconheceram o caminho da paz. 18Não há temor de Deus diante de seus olhos”
Paulo, com muita convicção diz-nos que todos, sem qualquer exceção estão debaixo do domínio do Pecado, visto que todos nascem pecadores, posto que o castigo pelo pecado é a morte, todos nascem mortos, no sentido bíblico mortos para tudo o que é de Deus (Rm 6.23), mas de que maneira, alguém pode ser pecador se ainda nada fez e nada compreende? Em primeiro lugar tem que ficar entendido que o pecado é por encabeçamento de Adão como o representante de toda a raça humana, e de forma mediata (2), isto é: 1. Que está em relação com outra(s) pessoa(s) ou coisa(s) por meio de uma terceira; indireto: 2 [Opõe-se a imediato (4).] 3. Filosoficamente diz-se do que é condicionado, dependente de outro (1).

Posto que Paulo diz não haver nenhum justo, nenhum sequer, onde está o nosso livre arbítrio, pois a vontade de homens injustos está acorrentada à sua própria injustiça e somente lhe satisfaz? A isso dá-se o nome de “velho homem”, ou “carne”. Então, quem sendo injusto pode amar a justiça e tornar-se justo? Há alguns que dizem que nunca mataram, nem roubaram e nem fizeram mal a ninguém, por isso se acham justos, outros ainda dizem que guardam o sábado como selo de Deus e nisso colocam suas forças como se fosse um complemento, mas deixe-me questionar tais pontos de vista agora.

Se alguém se acha justo por sua moralidade exterior ser razoável e aplica a bondade inata do homem em somente no “não fiz” então logo, as obras salvam? Já foi demonstrado que não podem ser salvos por obras e que sua “justiça” apartada de Cristo, na verdade é um trapo de imundícia (Isaías 64.6). Aqueles que pensam em ser salvos pela balança das boas obras, sem Jesus Cristo, estão irremediavelmente perdidos.

Quanto aos que colocam as suas esperanças na guarda da lei, estes nunca leram Paulo, e se o leram, foi com lentes defeituosas e míopes, pois Paulo diz que se alguém quer ser salvo pela lei, da graça caiu e está divorciado de Cristo (Gl 5.4). No pensamento de Paulo, todos estes “escapes”, isto é: a bondade inata ao homem e seu livre arbítrio, tanto quanto a sua “bondade”, são inúteis, pois o caminho da graça é para aqueles que o Pai destinou (Ef 1.5-8), posto que todos sejam pecadores e estão destituídos da graça (Rm 3.23) e que seu pagamento pelo pecado é a morte (Rm 6.23). O Evangelho afirma que por Adão entrou o pecado no mundo, e nós estávamos nele, isto é, somos seus descendentes, e ele era o nosso representante legal, logo o pecado passou a todos os seus descendentes juntamente com a morte (Rm 5.12). Onde está o livre arbítrio, pelo que foi estabelecido na Escritura?

Alguns talvez por entender errado a Bíblia, dizem que não podem crer em um Deus que destina um filho ao céu e o outro ao inferno. O erro é evidente pelos textos que estão acima, e foi exposta uma mínima fração daquilo que é dito sobre a pecaminosidade do homem. Podemos entender que Deus escolhe alguns daqueles que são contrários a Ele, estes homens como os outros são maus e seus pensamentos são maus (Gn 6), seu coração é enganoso (Jr 17.9). E não podemos mudar a nossa própria natureza, assim como o animal não pode mudar a sua (Jr 13.23).

A inclinação da carne é inimizade contra Deus (Rm 8.7,8), e o que comete pecado é servo do pecado, todos já nascem em iniquidade (Sl 51), e este nascer em iniquidade significa que o homem nasce morto espiritualmente (Ef 2.1). Somos mortos por natureza e por prática, o homem peca por que é um pecador. Então de todos estes pecadores, maus; perversos; iníquos; ímpios; imundos; é dentre estes que Deus escolhe alguns, e vence sua maldade, muda a disposição de seu coração, chamando-o com vocação eficaz. Portanto, o Senhor não escolhe dentre homens bons, mas dentre os mortos, dentre os perversos, dentre os inimigos; e os ama, e com Graça os salva, pois assim já havia determinado segundo o conselho da Sua vontade (Ef, 1.4,9,11; Cl 3.12; 2Ts 2.13).
Se estes que crêem no livre arbítrio levam seu conceito a sério, não deveriam orar a Deus implorando a Ele que salve alguém, pois segundo eles, o Senhor não viola o livre arbítrio de ninguém. Então, deveriam ajoelhar-se diante dos homens e implorar aos homens que usem seu “livre arbítrio” para crer em Deus.

O Pai deu algumas pessoas ao Filho: “todo aquele que o Pai me dá virá a mim” (Jo 6.37). Quem irá ao Senhor? Aqueles que exercem seu superpoderoso livre arbítrio? Não, irão aqueles que foram dados por Deus – então, quem é que escolhe? Até mesmo a oração de Jesus não foi por todos, mas pelos escolhidos apenas “Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste”, Jo 17.9.
Então dizem os sem posicionamento, obviamente, que o “espírito” anti-dogmático deste século contaminou alguns com incertezas até sobre aquilo que está escrito na Bíblia.

Mas a culpa é dos pastores que não instruíram suas ovelhas no reto caminho da doutrina da eleição. Alguns por medo de serem mal entendidos, outros por não verem necessidade nisso, há ainda àqueles que acham errado o conceito da predestinação. Não duvido que este seja um assunto novo para muitos, por isso insisto, deve-se ensinar todo o conselho de Deus, e em nossos dias de “evangelho” barato, de pregadores show, de mega eventos gospel, de muita música e nenhuma Palavra de Deus, é mister voltar ao Antigo Evangelho, como ele é descrito no livreto de mesmo nome de John Piper, prefaciando ele uma obra de Owen.

Não tenho a petulância de estar esgotando o assunto, nem mesmo dando uma introdução à Doutrina, deixo isso para os mais instruídos, consultem Charles Hodge e deleitem-se no que ele ensina, apaixonem-se por Dagg em sua simplicidade humilde e reverente, alegrem-se com Wayne Grudem e seus argumentos, agarrem-se a Teologia sadia com Franklin Ferreira e Allan Myatt, não desprezem a erudição de Augustos Hopkins Strong e Louis Berkhof.

Poderia ainda citar um número ainda mais ampliado, mas detenho-me neste por ora. Acima de tudo, amem a Bíblia, sejam guiados por ela, creiam nela, pois ela indica o caminho certo. Sejam bereanos: quando lhes disserem algo, vão à Bíblia para conferir se é verdade e procurem entender o texto em seu devido contexto.

Louvem a Deus por Ele ter escolhido alguns e mostrar seu amor neles, adorem-no por Ele castigar a impiedade devido ao Seu caráter santo e puro em Seu justo julgamento. Agradeçam a Ele pela salvação ser pela graça, pois de outra maneira estaríamos todos irremediavelmente perdidos, posto que todos sejam pecadores. Unamos-nos, portanto, ao coro celestial que declara glórias inefáveis ao Cordeiro (Ap 19.1-6): “1Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, 2porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. 3Segunda vez disseram: Aleluia! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos. 4Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que se acha sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia! 5Saiu uma voz do trono, exclamando: Dai louvores ao nosso Deus, todos os seus servos, os que o temeis, os pequenos e os grandes. 6Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso.”

Soli Deo Gloria

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NOTAS:
(1) Confissão de Westminster Cap.9 – Do Livre arbítrio
(2) AQUINO, Tomas de. Suma Teológica - Predestinação
(3) Dicionário Eletrônico Aurélio – verbete “mediato”.
(4) Novo Testamento Trilíngue – Grego, Português, Inglês, Ed Vida Nova