segunda-feira, 11 de maio de 2009

TRIUNIDADE: A DIVERSIDADE NA UNIDADE

INTRODUÇÃO

Em contraste com outros aspectos da doutrina de Deus, o desenvolvimento histórico da doutrina da Triunidade foi tratado muito cuidadosamente, e também com toda a certeza trata-se de um assunto estimado na história do dogma. Não pretendo suplantar tudo o que já foi descoberto, analisado e posto em prática sobre a doutrina da Triunidade. Grandes vultos eclesiásticos já se ocuparam desta Santíssima doutrina, dentre eles cita de passagem, Tertuliano, Agostinho e recentemente Karl Barth, que, todos hão de admitir, prestou um grande serviço à Teologia por dar nova ênfase à decisiva importância da doutrina da Triunidade dentro do evangelicalismo.
O Deus “Trino” é o Deus da revelação, não o Deus dos filósofos, e está no topo da revelação de Deus em si mesmo como um “principium cognoscendi”. Pois trata da revelação dada pelo Criador e sustentador de todas as coisas. Passando à Teologia como um “principium essendi”, por se tratar em uma das mais discutidas e importantes da dogmática.
A doutrina bíblica é apenas um lado da questão da formulação da triunidade, que também teve a contribuição da especulação filosófica. E foi exatamente aqui que se deram as maiores aberrações sobre a doutrina.
Ao considerar esta parte da dogmática, é necessário que um tom de reverência santa e temor caracterizem toda a abordagem. Que haja a mesma atitude que Moisés teve ao aproximar-se da montanha onde a sarça ardia sem se queimar, com reverencia e temor, trato deste assunto “triunidade”, pois, estou pisando em solo sagrado. Que Deus me ajude.


A TRIUNIDADE

“III. Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade - Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, O Pai não é de ninguém - não é nem gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho”. (1)


A TRI-UNIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO

Conceituando

O termo Trindade vem sendo usado há dezesseis séculos, para tentar explicar a natureza de Deus. A unidade de Deus é fundamental na religião cristã, e nenhuma doutrina pode ser verdadeira sendo inconsistente com este princípio. Entendo pelas Escrituras que o Pai é Deus, o Filho é Deus e que o Espírito Santo é Deus. Conciliar a Deidade com cada uma dessas três pessoas com a estrita unidade de Deus é tarefa de grande dificuldade. Usualmente os teólogos afirmam que os três são um em essência.
Quando um cristão usa a palavra trindade (que significa, simplesmente, três), inconscientemente comunica aos ouvintes não cristãos um conceito de politeísmo, por isso acredito que a escolha do termo trindade é infeliz e não comunica o que se propõe.
A palavra trindade “trinitas” foi cunhada a fim de referir-se à pluralidade que há em Deus, ao mesmo tempo em que manteria o pensamento da unidade divina, concordo que a intenção foi boa, mas não atingiu o alvo desejado.
Muitos não cristãos supõem que o cristianismo acredita e adora a três deuses, e não a um só Deus. E não somente os não cristãos, mas muitos da própria cristandade não aceitam o conceito trinitariano entre estes se destacam as “Testemunhas de Jeová” e os “unitaristas”.
Por esses e outros motivos acredito que o termo mais apropriado para descrever corretamente o verdadeiro conceito bíblico da natureza de Deus, o vocábulo “tri-unidade”, transmite melhor a idéia de que Deus é um só, e ao mesmo tempo em que consiste em três pessoas.


A UNIDADE

A Unidade de Deus
Para melhor compreendermos o assunto, devemos fazer uma distinção entre “unitas singularitatis” e “unitas simplicitatis”.

Unidade Singular (unitas singularitatis)
Esse atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus, o fato de que Ele é numericamente um e que, pela natureza do caso, só pode existir apenas um, e que todos os outros tem sua existência dele, por meio dele e para Ele. (2) Em várias passagens a Bíblia nos ensina que existe somente um Deus verdadeiro, Salomão ensinou isso ao pedir que Deus os ajudasse: “para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus e que não há outro” (1Rs 8.60). E Paulo escrevendo aos Coríntios: “todavia, para nós há um só Deus, o Pai, para quem são todas as coisas, e nós também, por Ele”. (1Co 8.6). Há, no entanto muitas outras passagens que salientam não uma unidade numérica, mas uma unicidade composta como é o caso da bem conhecida declaração da unicidade Divina em Dt 6.4 “ouve [shema] Israel, o Senhor [Yahweh/Iavé] nosso Deus [Elohim] é o único [echad] Senhor [Yahweh/Iavé] (3). Também vemos que em (Êxodo 15.11), que o Senhor é o único que faz Jus ao nome Iavé. E exclui completamente o politeísmo.

Unidade Simples (unitas simplicitatis)
Embora a unidade discutida no item anterior distinga Deus dos demais seres, a perfeição agora em foco revela a unidade interior e qualitativa do ser Divino. Quando falamos de simplicidade de Deus, empregamos o termo para descrever o estado ou a qualidade que consiste em ser simples, a condição de estar livre de divisão em partes e, portanto, de composição. Quer dizer que Deus não é composto e não é suscetível de divisão em nenhum sentido da palavra. Isso implica que as três pessoas da Triunidade não são outras tantas partes das quais se compõe à essência Divina, que não há distinção entre a essência e as perfeições de Deus, e que os atributos não são adicionados a sua essência. A Bíblia fala de Deus como amor e justiça, luz e vida, identificando-o como assim com suas perfeições.

Pluralidade e unidade
Em Números 13, Moisés registrou o relato sobre doze espias hebreus que tinham sido enviados para espiar a terra de Canaã. Quando retornaram daquela missão (v. 23), eles pararam em Escol, onde cortaram um ramo de videira com um cacho de uvas. A palavra que aparece como “um“ em “um cacho”, é novamente “Echad”, pelo próprio texto fica claro que esse único cacho de uvas consistia de muitas uvas.
De igual modo, em Esdras 2.64, está registrado: “Toda esta congregação junta foi de quarenta e dois mil trezentos e sessenta”. A palavra traduzida por “toda”, na expressão “toda esta congregação”, é a palavra hebraica “echad”, logicamente toda a congregação de Israel era composta de muitos indivíduos, nada menos do que 42.360 israelitas, que compunham uma única congregação.
Em Jeremias 32.38,39. A mesma palavra “echad” está inserida, trazendo-nos uma vez mais a idéia de unidade composta, veja: “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho...” A referencia a “um só coração” e “um só caminho” envolve a nação de Israel na sua completude. Assim, muitos, coletivamente, são considerados como “somente um”.
É importante salientar, que uma palavra hebraica que comunica a idéia de “unidade absoluta” existe. O termo é “yachid”. E é encontrada em Gênesis 22.2: “Toma teu filho, teu único (yachid), Isaque, a quem amas, e vai-te a terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto”.
Provérbios 4.3, Salomão assevera: “... Eu era filho em companhia de meu pai, tenro, e único diante de minha mãe”. O termo usado para “único” é “yachid”. Davi escreve no Salmo 22.20: “Livra a minha alma da espada, e das presas do cão a minha vida”, onde tem “minha vida”, no hebraico é “minha única”, sendo usada a palavra hebraica “yachid”.
Também encontra escrito em Juízes 11.34: “Vindo, pois Jafté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro, com adufes e com danças: e era ela filha única; não tinha ele outro filho nem filha”. Jeremias declara, em 6.26 de seu livro: “Ó filha de meu povo, cinge-te de cilício, e revolve-te na cinza. Pranteia como por um filho único...”
Percebe-se, portanto, que os escritores sagrados, inspirados pelo Espírito Santo, dispunham de duas palavras que podiam escolher para usar para referir-se a unidade como demonstrei acima. Deus usou os escritores para selecionar o termo “echad” para comunicar algo de sua natureza, que o identifica com a idéia de pluralidade. Esse substantivo coletivo sempre foi escolhido, e não o singular absoluto “yachid”, para não deixar dúvidas do que Deus queria nos transmitir.

A PLURALIDADE NO NOME DE DEUS

Nas nossas traduções da língua portuguesa, ao traduzirem as palavras hebraicas “El” e “Elohim”, os tradutores usaram letra maiúscula “D”, “Deus”, no hebraico, essas palavras significam ambas, “Todo-poderoso”.
Ambos esses nomes, na verdade, são uma só palavra. De particular importância se dá ao fato que dentre as 2.750 vezes em que essas palavras são empregadas no Antigo Testamento, Elohim, a forma plural, é empregada nada menos do que 2.500 vezes.
Êxodo 20.2,3. É-me um belo aliado para demonstrar este fato. Nesta passagem, Moisés estava transmitindo os dez mandamentos de Deus ao povo de Israel. Yahweh, pois, declara ali: “Eu sou o Senhor teu Deus... Não terás outros deuses diante de mim”. Nesta declaração, “Deus” e “deuses” são idênticas no original hebraico, isto é, Elohim. A variação que se vê nas traduções bíblicas em língua portuguesa deve-se ao fato que os tradutores, apesar de traduzirem a segunda ocorrência da palavra por “deuses”, no primeiro caso, no entanto preferiu traduzir Elohim no singular, “Deus”.
Não sou especialista em tradução, mas acredito que se poderia traduzir esta passagem mais naturalmente, usando o próprio princípio de tradução de equivalência verbal. “Eu sou o Senhor teus Deuses... Não terás outros deuses diante de mim”. Seria aceitável.
Deus decidiu comunicar o conceito de pluralidade na unidade através dos escritos de Moisés, para demonstrar mesmo que de maneira velada no Antigo Testamento a sua Tri-unidade, pois Deus poderia simplesmente ter usado um termo singular para a sua pessoa, para a sua unidade, mas não o quis, pois os termos singulares não transmitiriam o ensinamento correto do que Ele estava ensinando através de Moisés.
Que a pluralidade existente na Deidade é Triúna, é algo que se tem demonstrado acima, mas posso ir mais adiante ao tema e tomar como base a tripla declaração da santidade de Deus (Is 6.3). E na tripla benção do sumo sacerdote (Nm 6.24-26). Entretanto, um argumento mais satisfatório é derivado da passagem em que as três pessoas divinas são distintamente trazidas à cena (Is 48.16. 61.1; 63.7-10).

A TRINDADE NA TRADIÇÃO CRISTÃ
A regra de fé de Irineu assegura que:
“A igreja embora tenha aparecido em todo o universo, desde os confins da terra, recebeu dos apóstolos e dos seus discípulos, a fé em um só Deus, Pai Onipotente, que fez os céus e a terra e os mares e tudo o que neles se encontra; e um só Jesus Cristo, Filho de Deus, que se encarnou pela nossa salvação; e um só Espírito Santo; que por meio dos profetas anunciou as economias divinas, os acontecimentos, o nascimento virginal, a Paixão, a Ressurreição dos mortos e a ascensão corporal ao céu do dileto Jesus Cristo, nosso Senhor e a sua parousia, quando dos céus ele comparecerá à direita do Pai, para restaurar todas as coisas e ressuscitar a carne de toda humanidade.”(4)
A segunda confissão Helvética.
Deus é uno. Cremos e ensinamos que Deus é um em essência ou natureza, subsistindo por si mesmo, todo suficiente em si mesmo, invisível, incorpóreo, imenso, eterno, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis, o supremo-bem, vivo, vivificador e preservador de todas as coisas, onipotente e supremamente sábio, clemente ou misericordioso, justo e verdadeiro. Abominamos a pluralidade de deuses, porque está claramente escrito: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6.4). “Eu sou o Senhor teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.2-3). “Eu sou o Senhor, e não há outro; além de mim não há Deus. Deus justo e Salvador não há além de mim” (Is 45.5.21). “Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade” (Êx 34.6).
Deus é trino. Entretanto, cremos e ensinamos que o mesmo Deus imenso, uno e indiviso é inseparavelmente e sem confusão, distinto em pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e, assim como o Pai gerou o Filho desde a eternidade, o Filho foi gerado por inefável geração, e o Espírito Santo verdadeiramente procede de um e outro, desde a eternidade e deve ser com ambos adorado.
Assim, não há três deuses, mas três pessoas, consubstanciais, co-eternas e co-iguais, distintas quanto às hipóstases e quanto à ordem, tendo uma precedência sobre a outra, mas sem qualquer desigualdade. Segundo a natureza ou essência, acham-se tão unidas que são um Deus, e a essência divina é comum ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
A Escritura ensina-nos manifesta distinção de pessoas, quando o anjo diz, entre outras coisas, à bem-aventurada Virgem; “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). E, igualmente, no batismo de Cristo, ouve-se uma voz do céu a seu respeito, dizendo: “Este é o meu Filho amado” (Mt 3.17). O Espírito Santo também apareceu em forma de pomba (Jo 1.32). E, quando o Senhor mesmo mandou os apóstolos batizarem, mandou-os batizar “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Em outra parte do Evangelho, diz ele: “O Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome” (Jo 14.26). E noutro lugar: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim”, etc. (Jo 15.26). Em resumo, recebemos o Credo dos Apóstolos, porque ele nos comunica a verdadeira fé. (5)

A TERMINOLOGIA “TRINITÁRIA” HISTÓRICA
Desde o princípio os latinos foram mais felizes que os gregos na uso da terminologia trinitária. Tertuliano fornecera-lhes os termos: natureza, substância, para significar o que é comum às três pessoas, isto é, a essência igualmente introduzirá a Palavra Pessoa para significar o que é particular, enquanto a essência deve ser considerada como individual subsistente em si, usara deste termo em relação ao Pai e ao Filho, originando-se daí o hábito de falar de: “Tres Personae e de Una Natura, ou substantia, ou essentia” – (Três pessoas e de uma natureza ou essência).
Aos gregos faltou tanta precisão na sua terminologia para significar o que é comum, usavam fisis “physis” foi também usado para designar pessoa, portanto no mesmo sentido de upostasis “hipostasys”.
Os termos essência, substância e natureza, a igreja usou-as no IV Concílio Lateranense, como sinônimos, mas podem ser distinguidos com maior precisão como se vê a seguir:

A) Essência; indica a razão íntima do ser, aquilo pelo qual é propriamente o que é. Aplica-se ao termo a tudo quanto é, de algum modo, um entre “ens” real ou possível, existente em si ou num outro.

B) Substância: É a essência enquanto está em algo subsistente em si ou por si, opõe-se ao acidente, que não existe em si, mas no sujeito. Distingue Aristóteles a substância primeira e ser individual existente realmente, substância por excelência; e a substância Segunda. Conceito individual, conceito universal. Exemplo: Sócrates na sua existência concreta é uma substância primeira; a humanidade, isto é, aquilo pelo que Sócrates é homem, é uma substância segunda.

C) Natureza: É na maioria das vezes sinônimo de essência, porém em termos mais precisos serve para indicar a essência enquanto é princípio de modificação e de atividade (Natureza, de nasci, eu nasço).

TRI-UNIDADE NO NOVO TESTAMENTO
Se no Antigo Testamento a Tri-unidade de Deus é revelada de modo velado, no Novo Testamento, porém, ela está claramente exibida nas palavras ordenança do batismo em Mateus 28.19: “Portanto, ide e fazei com que todos os povos da terra se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Somos batizados em um único nome, porque Deus é um só, mas esse nome é o do Pai, do Filho e do Espírito Santo, pois pertence igualmente a cada uma das pessoas divinas.
Encontro com essa doutrina logo no início da minha profissão de fé no cristianismo. No batismo como já me referi acima e também temos esta crença logo na primeira declaração do credo apostólico:
“Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu filho unigênito, nosso Senhor; concebido pelo Espírito Santo...” (6).

Jesus o Cristo – numa perspectiva Tri-unitária
No Novo Testamento, em centenas de versículo explícitos que chamam Jesus de “Deus” e “Senhor” e empregam alguns outros título de divindade em referência a Ele, e em muitas passagens que lhes atribuem ações ou palavras aplicáveis somente a Deus, declara repetidas vezes a divindade plena de Jesus. “...aprouve a Deus que, Nele, residisse toda Plenitude” (Colossenses l.19), e: “Nele , habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2.0), Jesus é corretamente chamado “Emanuel”, “Deus Conosco” (Mateus 1.23).

A natureza de Cristo
Teólogos evangélicos de gerações anteriores não hesitaram em fazer distinção entre coisas feitas pela natureza humana de Cristo, mas não pela natureza divina, ou pela natureza divina e não pela humana. Parece que em tempos como os nossos temos que ressaltar a Confissão de Calcedônia de que: “é preservada a propriedade de cada natureza”.
Quando nos referimos à natureza humana de Jesus, podemos dizer que Ele subiu ao céu e não está no mundo (João 16.28; 17.11; Atos 1.9-11), mas concernente à sua natureza divina, podemos dizer que Jesus está presente em toda a parte: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mateus 18.20); “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século (Mateus 28.20); “se alguém me ama, guardará a minha Palavra e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (João 14,23); podemos, portanto afirmar que Jesus voltou para o céu e que também está presente conosco, do mesmo modo, podemos dizer quanto à humanidade de Jesus que Ele tinha trinta anos, mas concernente à sua natureza divina ele sempre existiu, porquanto é eterno (João 1.1-2-8.58). Em sua natureza humana Jesus cansava e experimentava a fraqueza (Mateus 4.2-8.24; Marcos 15:21; João 4.6), enquanto que sua natureza divina era Onipotente (Mateus 8.26-27; Colossenses 1.17; Hebreus 1.3).


Argumentos gerais em favor da tri-unidade
1. Na visão de Daniel. Ao profeta Daniel foi concedido à visão do Filho do Homem o que se dirigiu ao Ancião de Dias (Dn. 7.9, 13-14). O ‘Filho do Homem’ só pode ser Cristo Jesus, o Filho de Deus. O Ancião de Dias, revelado no v. 9 é claramente Deus, o Pai, e não algum anjo ou querubim.
2. Na visão do Apóstolo João cerca de 600 anos depois do tempo de Daniel. João o Apóstolo, recebeu uma visão semelhante na ilha de Patmos cerca do ano 96 d.C., ele também viu o trono de Deus, e Deus o Pai, nele sentado. Diante do trono em pé estava o cordeiro de Deus que é Jesus que morreu por nós. A terceira pessoa da Tri-unidade também figura como os Sete Espíritos de Deus, expressão esta que significa o Espírito Santo na sua Plenitude de operação (Apocalipse 4.2-3; 5.1, 6-10), vemos, igualmente, que os vinte e quatro anciãos que adoram Deus o Pai, e ao cordeiro (Apocalipse 4; 10; 5.8-10, 13; e 7.9-10).
3. Na visão de Estêvão (Atos 7.55) que registra o martírio de Estevão o primeiro mártir da Igreja. Mas Estevão cheio do Espírito Santo fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus (o Pai), e Jesus que estava a sua direita. Aqui nota-se claramente o testemunho (martírio).
4. No texto de (I João 5.6-11, 13, 20), o tríplice testemunho sobre Cristo, sobre Cristo o Filho de Deus, é o testemunho das três pessoas da Triunidade, mencionadas no v.7 e v.8. Segundo a Bíblia, era necessário que houvesse duas ou três testemunhas para provar alguma coisa.

O ESPÍRITO SANTO NA TRI-UNIDADE
Por incrível que pareça, há líderes cristãos que não sabem que o Espírito Santo é uma Pessoa. Pelo fato de o Espírito Santo não se manifestar em carne, não significa que não seja uma pessoa. Tal idéia confunde corpo com personalidade. Deus o Pai é uma pessoa, Deus o Filho também é uma pessoa, e já o era antes de sua encarnação, e Deus o Espírito Santo também é uma pessoa.
O que é uma pessoa? É qualquer ser que tenha a capacidade de pensar, sentir, exercer vontade e agir. Os homens, os anjos e até os demônios são pessoas, e não é necessário ter um corpo físico para ser uma pessoa. O rico nas chamas do inferno podia fazer tudo isso (pensar, exercer vontade, agir), embora seu corpo estivesse numa sepultura na superfície da terra (Lucas 16).
1. O Espírito Santo tem sabedoria. I Coríntios 2.10-11;
2. O Espírito Santo exerce volição. I Coríntios 12.11.
O Espírito Santo tem mente – Romanos 8.27. A palavra mente no original grego significa pensamento próprio, sentimento.
O Espírito Santo pode agir, ele perscruta (I Coríntios 2.10), fala (Atos 2.4), testifica (João 15.26; Gálatas 4.6), intercede (Romanos 8.26), ensina (João 14.26, 16.12-14), guia (Romanos 8.14), ordena (Atos 16.6-7, 13.2), separa (Atos 20.28), revela (2 Pedro 1.21). Devemos ter muito cuidado ao tratar o Espírito Santo. É possível entristecê-lo (Isaías 63.10; Efésios 4.30), rebelar-se contra ele (Isaías 63.10), fazer agravo a ele (Hebreus 10.29), mentir a ele (Atos 5.3), blasfemar contra ele (Mateus 12.31-32), resistir a ele (Gênesis 6.3), e até apagá-lo (I Tessalonicenses 5.19). As escrituras afirmam categoricamente que o Espírito Santo é Deus. E os quatro atributos naturais da divindade encontram-se nele também:

1. ETERNIDADE – Hebreus 4.14.
2. ONIPOTÊNCIA – Gênesis 1.2; Lucas 1.35; Romanos 8.11.
3. ONIPRESENÇA – Salmo 139.7-10.
4. ONISCIÊNCIA - I Coríntios 2.10-11.
E também são atribuídas ao Espírito Santo obras que somente Deus pode fazer como:
1. CRIAÇÃO – Gênesis 1.2; Jó 33.4; Salmo 104.30.
2. IMPLANTAÇÃO DA VIDA – Gênesis 2.7; Romanos 8.6.
3. INSPIRAÇÃO – 2 Samuel 23.2-3; 2 Pedro 1.21.


Devemos crer na Tri-unidade?
Uma pergunta emerge das páginas das Escrituras: “Devemos Crer em um Deus que consiste em mais de uma pessoa, ou devemos aceitar o politeísmo?” Tenho certeza que a Bíblia não ensina o politeísmo. É intransponível o abismo entre o ensina da tri-unidade de Deus e o conceito de muitas divindades. Acusar os cristãos de “triteísmo” é sem fundamento. O politeísmo ensina que os deuses são entidades independentes umas das outras, deuses que sempre entram em choque com outros deuses por seus próprios interesses, mas dentro da Tri-unidade, sempre há harmonia e unidade perfeitas.

Conclusão

O ponto de vista que tenho apresentado é importante para fortalecer a fé na doutrina da Triunidade. Enquanto imagino que é necessária uma plena compreensão da natureza de Deus para o exercício da fé, aí então, a verdade será abraçada com decisão, ao examinar as proposições em que a doutrina se expressa, fica inteligível a triunidade, e então a doutrina é recebida com alegria e fé inabalável.
Os vocábulo “trindade” e “tri-unidade”, não aparecem na Bíblia, e, por isso, existe uma certa objeção contra o seu uso. Outro fator de resistência é a forma filosófica com que a doutrina é apresentada, e essas explicações nem sempre têm dirimido as dúvidas, pelo contrário, muitas vezes as tem aumentado.
Na Patrística há muitos elementos sobre a “trinitas”, termo este, usado e inventado por um advogado líbio chamado Tertuliano, que em seus ensaios beirava perigosamente o “triteísmo”. Por isso, não vejo muita ajuda na patrologia para este assunto em particular, exceto claro, o tratado de Agostinho sobre a Trindade.
O ponto crucial do problema inteiro repousa, em última análise, sobre o impacto exercido pela vida e ministério de Jesus o Cristo, por mais de dois milênios. Ele tem cativado os corações humanos, e trem dominado a história a ponto de dividi-la em antes e depois de sua vida terrena.
A doutrina da Tri-unidade é um daqueles preciosos mistérios que desafiam a Teologia, e justamente por ser um mistério é que repousa no ser inescrutável de Deus, que não pode ser totalmente dissecado. E nem plenamente entendido.

NOTAS

1. Confissão de Westminster. Cap. 2, § 3, de Deus e Santíssima Trindade.
2. Teologia Sistemática, Louis Berkhof, São Paulo 2004: ed. Cultura Cristã, p.61.

3 . Jerusalém um cálice de tontear, Dave Hunt, Porto Alegre 1999: ed. Chamada da Meia Noite, p.234.

4 . apud. BARTMANN, Bernardo. Teologia dogmática. São Paulo: Paulinas, 1962, p. 271

5. Segunda confissão Helvética capítulo 3 – A Trindade.

6 .GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.996.

BIBLIOGRAFIA

Confissão de Westminster. Cap. 2, § 3,

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática, São Paulo, Cultura
Cristã: 2004, p.61.

HUNT, Dave. Jerusalém um cálice de tontear. Porto Alegre:
Chamada da Meia Noite, 1999, p.234.

BARTMANN, Bernardo. Teologia Dogmática, São Paulo:
Paulinas, 1962, p. 271.

Segunda Confissão Helvética – A Trindade.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova,
1999, p. 996.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A DOUTRINA DA ELEIÇÃO: DEUS REINA

INTRODUÇÃO

Parece haver na mente humana um arraigado preconceito contra a doutrina da eleição; entre todas as doutrinas bíblicas, algumas são simplesmente aceitas, outras são aceitas alegremente. Há, entretanto aquelas que são alvo de grande desconsideração e repúdio. Esse é o caso da doutrina da eleição.
Vejo em nosso solo pátrio uma perda de identidade, o início de um entorpecimento quanto à palavra de Deus e suas doutrinas sacrossantas. E, com relação ao pecado, quase tudo tem sido relativizado, e a imoralidade e a autojustificação inundam não somente a sociedade, isto é, o meio secular, mas também o seio da igreja brasileira. Embora tenhamos experimentado um crescimento avultado desde o início da década de 80, a qualidade dos crentes não tem mudado muito. A igreja “protestante” no ocidente parece que está vivendo o seu período medieval, onde as superstições, a imoralidade e a ignorância sobre a Bíblia andam de mãos dadas. Algumas doutrinas têm sido obscurecidas. Substituídas por “doutrinas enlatadas diet”, o cerne de toda a doutrina bíblica da salvação tem perdido o foco.
O crente aprende hoje que ele salva-se a si mesmo. Isso leva o homem a viver como bem entende, não adora mais a Deus; afinal, o que Deus faz, o faz por mera obrigação; caso contrário Ele é taxado de injusto.
O objetivo desta postagem é levar ao conhecimento da doutrina bíblica da eleição, em um momento crucial da atual história protestante, pois a Bíblia deve ocupar o lugar de primazia, e um ministro deve submeter-se a ela. Não nos compete usar a Bíblia como uma plataforma para apresentar um conjunto de ideias, mas como a autoridade que está acima de todo o nosso pensamento, considerando o fato de que a Bíblia se encontra em um plano mais elevado e algumas verdades contidas nela ultrapassam o nosso limitado entendimento.
Sabe-se que não se está sendo ensinado nada novo, mas sim as antigas e vigorosas verdades da Bíblia que, parece, foram esquecidas, daí o resultado que temos diante dos nossos olhos. Propõe-se uma volta às Escrituras Sagradas, e uma análise bíblica da questão. Não se tem a pretensão de esgotar o assunto, o presente trabalho é, na verdade, apenas um ensaio, pois muitos dos tópicos aqui apresentados dariam muitos volumes, se estudados minuciosamente, mesmo em separado.
Procuro usar a Bíblia para fundamentar aquilo que defendo, pois sei que a Bíblia é o juiz em toda e qualquer discussão teológica.
A Deus toda a glória!

ELEIÇÃO (DEFINIÇÃO)
“Eleição é o ato de Deus, pelo qual, em seu soberano agrado e não por mérito algum previsto nos homens, Ele escolhe alguns dos numerosos pecadores para serem os receptores da graça especial do seu Espírito e assim serem participantes voluntários da salvação de Cristo”. (1)
O PLANO DA SALVAÇÃO
O plano da salvação foi feito por Deus antes da fundação do mundo: “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, parta sermos santos e irrepreensíveis perante ele; em amor” (Ef 1.4).
Visto que Deus, desde a eternidade passada, determina a redenção humana, ele determinou um plano para levar a cabo a salvação de seus eleitos. E, em Cristo, foram reunidos todos os objetos da redenção, quer no céu, quer na terra “de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.10). Mesmo sendo um mistério oculto em Deus (Ef 3.9), foi manifestada na plenitude dos tempos para que pela igreja seja revelada a multiforme sabedoria de Deus, aos principados e potestades nos lugares celestiais (Ef 3.10).
UM DECRETO REAL
Uma discussão teológica sobre a eleição, como uma obra de Deus, deve ter seu ponto de partida em Deus, tanto na obra de criação como na redenção. Gostaria de lembrar também que Deus, como o Deus da ordem, não faz coisas vagas, caóticas, desordenadas, não é pego de surpresa por nada, nem tampouco fica ansioso esperando um desenrolar de acontecimentos sobre os quais não tem poder para agir. Deus é Onipotente (detém todo o poder), é Onisciente (detém todo o saber) e Onipresente (enche toda a criação com a sua presença).
A teologia reformada dá ênfase à soberania de Deus. Desde toda a eternidade, o Senhor determinou tudo o que há de suceder, e executa a sua soberana vontade. “Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Segundo o texto já citado, Deus faz todas as coisas segundo o conselho de sua vontade, ou seja, o que Deus decreta realmente acontecerá. Por isso devemos começar a análise pelos decretos de Deus.
Sem dúvida, a doutrina dos decretos é uma doutrina controvertida, isto porque não tem sido estudada devidamente, somente depois de que “a alma do cristão tem por coisa certíssima de que nada acontece ao acaso, nem a felicidade, senão que tudo acontece pela providência e ordenação de Deus, porá sempre seus olhos nEle como causa principal de todas as coisas” (2); então pode-se entender o plano de Deus, incluindo os seus decretos.
Segundo Hodge “Um plano pressupõe: 1 - A seleção de algum fim ou objetivo concreto a ser levado a bom termo. 2 - A escolha de meios apropriados. 3 - Ao menos no caso de Deus, a aplicação eficaz desses meios para atingir o fim proposto” (3)
Concernente aos decretos de Deus para a eleição, a Confissão de Westminster, Capítulo III, define:
“§I. Desde toda a eternidade, Deus, pelo mui sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas... §II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições... §III. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna” (4).

A BASE DO DECRETO
ANTIGO TESTAMENTO
No antigo Testamento temos algumas palavras que denotam bem a idéia de um decreto, como a palavra: ’etsah, ‘aconselhar’, ‘dar aviso’: “Este é o desígnio que se formou concernente a toda a terra; esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Isaías 14.26,27).
“O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações" (Salmo 33.11). “Que chamo a ave de rapina desde o oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei esse propósito, também o executarei (Isaías 46.11)”. Mezimmah (5), ‘ter em mente’, ‘propor-se a’: “Por isso, a terra pranteará, e os céus acima se enegrecerão; porque falei, resolvi e não me arrependo, nem me retrato (Jeremias 4.28)”. Também o termo chaphets (6), ‘inclinação’, ‘vontade, ‘beneplácito’: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos (Isaías 53.10)”.

NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento, à semelhança do Antigo (Testamento), também tem termos que designam a idéia de decreto. A primeira, tendo também suas variantes, é: boule (7): que denota ‘conselho’, ‘desígnio’, ‘propósito’; uma variante de boule é boulenomai (8): ‘delibero consulto, proponho, quero fortemente; e a última variante é boulomai (9): ‘quero’, ‘desejo’, ‘tenciono’, ‘resolvo’: “Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos (Atos 2.23)”. “Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram (Atos 4.28)”. “Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento (Hebreus 6.17)”.
Outro vocábulo é thelema (10), que dá ênfase à vontade de Deus: “Nele, digo, no qual também fomos feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade (Efésios 1.11)”. Temos finalmente o termo eudokia (11), ‘agrado’, ‘prazer’ que atenua a liberdade do propósito de Deus: “Sim, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado” (Mateus 11.26). “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem (Lucas 2.14)”. “Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (Efésios 1.5)”. “Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo (Efésios 1.9)”.

A NATUREZA DO DECRETO
O nosso conhecimento das ordens das coisas é sucessivo; aprendemos uma coisa, depois outra. Com Deus não é assim, Ele não aprendeu de ninguém: “quem é o seu conselheiro?” (Isaías 40.14,15). O conhecimento de Deus é de todo imediato e simultâneo, e sua compreensão é sempre completa. Assim como Deus é imutável, o seu decreto também o é, e abrange tudo o que se passa, tanto as coisas diminutas quanto as grandes.

QUANTO A SUA NATUREZA, O DECRETO DE DEUS É:
A. ETERNO
“E manifestar qual seja a manifestação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas” (Efésios 3.9).
O decreto de Deus esteve oculto durante eras na mente do Senhor, e foi revelado no tempo. Nesse decreto, estava incluída a salvação de todos os eleitos: “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; em amor” (Efésios 1.4).

B. IMUTÁVEL
O decreto de Deus está firmado na base da imutabilidade de Deus, e essa é a nossa confiança, que tudo o que Ele decidiu Ele consumará “Mas, se Ele resolveu alguma coisa, quem o pode dissuadir? O que Ele deseja, isso fará (Jó 23.13)”. Jó estava bem ciente da imutabilidade dos projetos de Deus em sua vida “Pois Ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo (Jó 23.14)”.
O que seria de nós se dependesse de nós mesmos a firmeza de nossa própria salvação? Seria sem dúvida alguma um caos e uma desesperança total. No entanto, a nossa santíssima salvação está além de nossas forças; ela depende não de criaturas falíveis e suscetíveis à sua própria natureza corrupta e enganadora, como os homens (Jeremias 17.9), mas é uma obra realizada unicamente por Deus, que não muda: “O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações (Salmo 33.11)”.
O maior gozo do cristão reformado é dar glória a Quem ela pertence, a Deus. Pois mesmo que passem os séculos e as gerações, o conselho do Senhor permanecerá de pé (Isaias 46.10). A sua vontade se cumprirá, total e plenamente (Lucas 22.22; Atos 2.23).
“Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria culpa de sua integridade original para o pecado e perdição[...] como Deus é supremamente sábio, imutável, onisciente, e todo poderoso, assim sua eleição não pode ser cancelada e depois renovada, nem alterada, revogada ou anulada; nem mesmo podem os eleitos ser rejeitados, ou o número deles ser diminuído”.(12)
C. EFICAZ
Aquilo que Deus decretou certamente irá se cumprir “Muitos desígnios há no coração do homem, mas o conselho do Senhor permanecerá (Provérbios 19.21)”. “Por isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim (Colossenses 1.29)”.
“De acordo com A.A. Hodge, o decreto providencia em cada caso que o evento será efetuado por causas que agirão de maneira perfeitamente coerente com a natureza do evento em questão. Assim, no caso de todo o ato livre de um agente moral, o decreto prevê ao mesmo tempo – (a) Que o agente seria um agente livre. (b) Que os seus antecedentes e todos os antecedentes do ato em questão seriam o que são. (c) Que todas as presentes condições do ato seriam o que são. (d) Que o ato seria perfeitamente espontâneo e livre, da parte do agente. (e) Que certamente seria um ato futuro. (Salmo 33.11; Provérbios 19.21; Isaías 46.10) (13)”.
D. UNIVERSAL
O decreto de Deus é universal, porque ele inclui tudo o que se passa no mundo “Para sempre, ó Senhor a tua palavra está firmada no céu. A tua fidelidade estende-se de geração em geração; fundaste a terra, e ela permanece. Conforme os teus juízos, assim tudo se mantém até hoje; porque ao teu dispor estão todas as coisas (Salmo 119.89-91)”.
E. CONCERNENTE AO PECADO, PERMISSIVO.
O decreto de Deus, concernente ao pecado, é permissivo, isto é, Deus sabia que o homem iria pecar, mesmo assim Deus determinou não impedir a autodeterminação pecaminosa do homem. “Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma (Salmo 106.15)”. “Então comeram e se fartaram a valer; pois lhes fez o que desejavam. Porém não reprimiram o apetite. Tinham ainda na boca o alimento, quando se elevou contra eles a ira de Deus e entre os seus mais robustos semeou a morte. E prostrou os jovens de Israel, sem embargo disso continuaram a pecar e não creram nas suas maravilhas (Salmo 78.29-32)”.
“Podemos concluir que a decisão de Deus de permitir que o pecado entrasse no mundo foi uma boa decisão. Isso não quer dizer que o nosso pecado seja uma boa coisa, mas meramente que a permissão de Deus para que pequemos, o que é mau, é uma boa coisa. Que Deus permita o mal é bom, mas o mal que ele permite ainda é mau. O envolvimento de Deus em tudo isso é perfeitamente justo. Nosso envolvimento nisso é mau. O fato de ter Deus decidido permitir que pecássemos não nos absolve de nossa responsabilidade pelo pecado (14)”.

ELEIÇÃO PROPRIAMENTE DITA:
DEUS É O AUTOR DA ELEIÇÃO
Acabamos de estudar os decretos de Deus, e indubitavelmente temos em Deus o Pai o autor da eleição: “Manifestei o teu nome aos homens que me deste no mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus (João 17.6,9)”.
A eleição tem unicamente em Deus, e aqui me refiro ao Deus Trino, o seu efeito salvífico levado a cabo. A doutrina da eleição tem sido rejeitada por não admitir ajuda humana, contribuição externa, isto é, fora da Deidade; por esse motivo, ela tem sido tão desprezada e vilipendiada. Calvino já dizia:
“Jamais nos convenceremos como se deve de que nossa salvação procede e mana da fonte da gratuita misericórdia de Deus, no entanto não havemos compreendido sua eterna eleição, pois ela por comparação nos ilustra a graça de Deus, enquanto que não adota indiferentemente a todos os homens a esperança da salvação, senão que a uns dá o que a outros nega” (15).
Deus, como autor da eleição, merece toda a glória e honra, pois o homem é salvo, não por alguma coisa boa em si, pois não a tem, mas unicamente pela vontade Divina. Não por alguma coisa prevista nele, pois seria o princípio de uma salvação por obras e não por favor imerecido. Se alguém perguntasse: Por que Deus escolhe uns e deixa os demais mortos em seus pecados? Qual é o motivo da escolha Divina? Então responder-se-ia simplesmente: não se sabe. Pois isso não é revelado e, portanto pertence unicamente a Deus (Deuteronômio 29.29).
Sabe-se, no entanto que Deus escolhe alguns, e esses escolhidos, sem sombra de dúvida, estão seguros nas mãos de Deus, o autor da eleição. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; e eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar (João 10.27-29)”.

HOMEM, O OBJETO DA ELEIÇÃO.
O ser humano é o objeto da eleição, como já se disse anteriormente. A razão pela qual Deus escolhe a uns e deixa a outros, não se sabe, mas cabe dizer que ele não o faz com base em uma fé prevista, pois aí a salvação se inverteria, não seria uma salvação de cima para baixo (de Deus ao homem), mas de baixo para cima (começando no homem), o que logicamente seria um absurdo. A eleição pode ser bem ilustrada na história de Ezequiel que diz:
“Quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste, não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água para te limpar, nem esfregada com sal, nem envolta em faixas. Não se apiedou de ti olho algum, para te fazer alguma destas coisas, compadecido de ti; antes, foste lançada em pleno campo, no dia em que nasceste, porque tiveram nojo de ti. Passando eu por junte de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue e te disse: ainda que estás no teu sangue, vive[...] Então te lavei com água, e te enxuguei do teu sangue, e te ungi com óleo. Também te vesti com roupas bordadas, e te calcei com couro da melhor qualidade, e te cingi de linho fino, e te cobri de seda. Também te adornei com enfeites e te pus braceletes nas mãos e colar a roda de teu pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas e linda coroa na cabeça (Ezequiel 16.4-6, 9-12)”.
Este relato de Ezequiel é a manifestação da graça de Deus e um tipo da eleição. Essa descrição do filho, rejeitado, em Ezequiel, é uma descrição de Israel, mas que também revela a graça eletiva de Deus. Israel não foi escolhido pelo Senhor por causa do grande número, pois era um povo pequeno, também não foi por sua força, pois era um povo fraco, por que então Deus o escolheu? Apenas uma resposta satisfaz, Deus escolheu por que ele quis, “segundo o beneplácito da sua vontade”.
Mas vamos mais adiante, pela formosura? Não. A descrição diz:
A criança estava suja (envolta em teu próprio Sangue).
Era repugnante ao olhar (não se apiedou de ti olho algum, para te fazer alguma dessas coisas).
Estava à sua própria sorte.
Deus a encontra e muda a sua sorte (olhou, cuidou, criou).
À semelhança desta criança de Ezequiel, nós também estávamos sujos pelos nossos pecados “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Mas afinal de contas como o homem ficou sujo? A Bíblia diz: “Portanto, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5.12). “A morte veio por um homem” (1 Coríntios 15.21), e em Adão todos morrem (1Coríntios 15.22).
Romanos, diz que por um homem entrou a morte, o pecado e a condenação ao mundo, isto é, a todos os seres humanos. Em Gênesis 2.17 está escrito “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia que dela comeres, certamente morrerás”. Esta ordem foi dada a Adão (16).
Adão foi o nosso representante legal diante de Deus, e, com isso, no pecado de Adão todos foram constituídos pecadores por sua transgressão. Esta é a idéia que está na mente do Apóstolo Paulo quando ele argumenta sobre Cristo ser nosso único representante perfeito, e ele apresenta Jesus Cristo, o segundo Adão (Romanos 5.12-19).
Adão, com a queda, morre espiritualmente e essa morte espiritual passa a toda a sua descendência. “Como está escrito: não há um justo, nem um sequer” (Rm 3.10). “Depois de havendo a concupiscência concebida, dá à luz o pecado; e o pecado sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15). “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” (Ef 2.1). “E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas” (Cl 2.13). “Jesus, porém disse-lhe: segue-me e deixa aos mortos sepultar os seus mortos” (Mt 8.22). “... Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto” (Ap 3.1).
Comentando sobre Romanos 3.10, R.C. Sproul diz:
“No jardim do Éden, quando o pecado entrou no mundo, quem se escondeu? Jesus veio ao mundo para buscar e para salvar os perdidos. Não era Jesus quem se escondia. Deus não é um fugitivo”.
Nós somos daqueles que estão fugindo. A Escritura declara que o ímpio foge sem que nenhum homem o persiga. Como mencionou Lutero: ‘o pagão treme ao barulho de uma folha’. O ensino uniforme da Escritura é que os homens decaídos estão fugindo de Deus. "Não há nenhum que busque a Deus" (17).
O homem está morto espiritualmente, e totalmente depravado, por natureza o ser humano não busca a Deus, mas os seus próprios interesses (Romanos 3.11; Filipenses 2.21).
Por natureza, o homem está separado de Deus, pois o pecado de Adão, que era o representante legal da humanidade, assim o fez: o homem seria capaz de conhecer o bem e o mal, mas incapaz de fazer o bem e seria dominado pelo mal, assim sua natureza o arrasta para o pecado. “Pois são os pecados de vocês que os separam do seu Deus, são as suas maldades que fazem com que Ele se esconda de vocês e não atenda as suas orações” (Isaías 59.2, NTLH).
A Bíblia diz: “Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus” (Romanos 3.23).
Frequentemente, os líderes religiosos não gostam de falar sobre o pecado, porque o assunto é impopular. Mas João disse: “Toda maldade é pecado” e “Quem peca é culpado de quebrar a lei de Deus, porque o pecado é a quebra da lei” (1João 5.17; 3.4, NTLH).
A Bíblia define claramente os pecados que violam o tipo de vida que Deus quer, trazendo condenação àqueles que vivem na prática do pecado.
Jesus disse: “Porque é de dentro, do coração, que vêm os maus pensamentos, a imoralidade sexual, os roubos, os crimes de morte, os adultérios, a avareza, as maldades, as mentiras, as imoralidades, a inveja, a calúnia, o orgulho e o falar e agir sem pensar nas conseqüências. Tudo isso vem de dentro e faz com que as pessoas fiquem impuras” (Marcos 7.21-23).
Segue abaixo outra lista que caracteriza as ações do homem, o objeto da eleição Divina.
“Estão cheios de todo o tipo de perversidade, maldade, ganância, vícios, ciúmes, crimes de morte, brigas mentiras e malícia. Caluniam e fazem mal uns dos outros, tem ódio de Deus e são atrevidos, vaidosos. Inventam maneiras de fazer o mal, desobedecem aos pais, são imorais, não cumprem a palavra, não tem amor por ninguém e não tem pena dos outros. Eles sabem o mandamento de Deus que aqueles que fazem essas coisas merecem a morte. Mas mesmo assim continuam a fazê-las e, pior ainda, aprovam os que fazem as mesmas coisas que eles fazem” (Romanos 1.29-32).
Paulo nos oferece ainda outra lista:
“Vocês sabem que os maus não terão parte no Reino de Deus. Não se enganem, pois os imorais, os que adoram ídolos, os adúlteros, os homossexuais, os ladrões, os avarentos, os bêbados, os caluniadores e os assaltantes não terão parte no Reino de Deus” (1Coríntios 6.9-10)
Há, ainda, esta definição feia da natureza humana:
“As coisas que a natureza humana produz são bem conhecidas. Elas são: a imoralidade sexual, a impureza, as ações indecentes, a adoração de ídolos, as feitiçarias, as inimizades, as brigas, as ciumeiras, os acessos de raiva, a ambição egoísta, a desunião, as divisões, as invejas, as bebedeiras, as farras e outras coisas parecidas com essas. Repito o que já disse: os que fazem essas coisas não receberão o Reino de Deus” (Gálatas 5.19-21).
Deus promulgou os dez mandamentos, e então estabeleceu sua lei de que “a alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18.4) e “Porque quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos” (Tiago 2.10).
Por isso a Escritura encerrou tudo sob o pecado (Gálatas 3.22) e “se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1João 1.8). “Pois quem pode dizer: purifiquei o meu coração, limpo estou do pecado?” (Provérbios 20.9).
“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu próprio caminho” (Isaías 53.6) e “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo de imundícia” (Isaías 64.6).
Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há um que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se corromperam. Não há quem faça o bem, não há um sequer (Salmo 14.2-3).
Seja, portanto, honesto diante de Deus. Conforme disse Davi: “Se tu tivesses feito uma lista dos nossos pecados, quem escaparia da condenação?” (Salmo 130.3). “Quem continua pecando pertence ao Diabo porque o Diabo peca desde a criação do mundo...” “O Senhor conhece os pensamentos do homem, que são pensamentos vãos” (Salmo 94.11). “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9). “Pois antigamente nós mesmos não tínhamos juízo e éramos escravos das paixões e dos prazeres de todo o tipo e passávamos a nossa vida no meio da malícia e da inveja. Os outros tinham ódio de nós, e nós tínhamos ódio deles”. (Tito 3.3). “Por isso as pessoas que tem a mente controlada pela natureza humana se tornam inimigas de Deus, pois não obedecem as leis de Deus e, de fato não podem obedecer a ela. As pessoas que vivem de acordo com a sua natureza humana não podem agradar a Deus” (Romanos 8.7-8).
Vê-se, portanto, que a natureza inconversa dos homens e das mulheres não é muito atraente, e precisamos compreender totalmente esse fato. Esses textos mostram a natureza hedionda e repulsiva da natureza humana caída. O Catecismo de Heidelberg na pergunta 6 faz a indagação que muitos devem estar se fazendo ainda: “Criou, pois, Deus o homem tão mau e perverso?”. A resposta define-se da seguinte maneira: “Não, ao contrário, Deus criou o homem bom fazendo-o à sua imagem e semelhança, é dizer, em verdadeira justiça e santidade, para que retamente conhecesse a Deus seu criador, lhe amasse de todo o coração, e bem aventurado vivesse com Ele eternamente, para louvá-lo e glorificá-lo” (18). Na pergunta 7, indaga-se: “De onde procede esta corrupção da natureza humana?” e a resposta do Catecismo define: “Da queda e desobediência de nossos primeiros pais Adão, e Eva, no paraíso, por isso, nossa natureza há caído de tal maneira corrompida, que todos somos concebidos e nascidos em pecado” (19).
“Somos tão corrompidos que somos totalmente incapazes de fazer o bem e inclinados a todo o mal? Certamente, se não temos sido regenerados pelo Espírito Santo” (20).
O câncer do pecado já corroeu todas as fibras da sociedade. O homem e a mulher, sem o conhecimento de Jesus Cristo, estão perdidos – totalmente perdidos – vivem sujeitos à justa pena final da perdição.
“Porque o salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23). “A alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18.4). “Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate” (Salmo 49.7). “Nem a sua prata nem o seu ouro os poderão livrar no dia da indignação do Senhor” (Sofonias 1.18). O ser humano está tão corrompido que é totalmente incapaz de fazer o bem e inclinado a todo o mal? Certamente, se não é regenerados pelo Espírito de Deus.
Quando alguém resolve por conta própria que sua própria justiça e sua própria honestidade bastam – que é capaz de ficar em pé diante de Deus, baseado nos méritos da sua própria bondade e honra, está repudiando a misericórdia e a graça de Deus, chamando-O de mentiroso de modo direto e dizendo: "tudo bem, eu posso me salvar, afinal de contas eu não sou tão mau assim, tenho livre-arbítrio, sou deus e tudo depende de mim, até mesmo Deus, pois ele está sujeito à minha vontade, que é soberana."
Por mais absurda que seja esta declaração, ela tem sido lançada aos quatro ventos pelos arminianos, veja-se as obras comuns que eles usam. Norman Geisler, por exemplo, coloca adjetivos em Spurgeon chamando-o de “Calvinista radical”, em R.C. Sproul de “Calvinista extremado” (21). A isso deixo a Antiguidade responder a Geisler: “...O Senhor está presente onde é anunciada a soberania do Senhor” (22).
O maior reforço que a religião poderia ter na atualidade seria a volta à crença antiga na soberania de Deus; isto porque há grande falta de convicção de pecado e de culpa, e ainda permanecem o orgulho e a falta de vontade em submeter-se a Deus. Em tudo isso, pode-se ver a mão sinistra do arminianismo, que não é teologia, mas antropologia, pois o início e o fim da salvação está no homem. Todo o ser humano é pecador por natureza, assim também todo o ser humano é arminiano naturalmente, até que Deus lhe abra os olhos.

O QUE DEUS FEZ PARA NOS LIVRAR DA NOSSA JUSTA CONDENAÇÃO?
ELE NOS ESCOLHEU.
Como já vimos o homem não tem nada a oferecer a Deus pela sua salvação, aliás, o homem é incapaz de fazer o bem e está morto espiritualmente, incapaz de buscar a Deus, então o que fez Deus? Determinou de antemão quem seria salvo.
Enviou seu filho (João 3.16) .
O Filho veio ao mundo para salvar pecadores (1Timóteo 1.15).
Jesus foi entregue pelas nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação (Romanos 4.25).
Quando o Apóstolo Paulo e também Barnabé começaram a pregar o Evangelho aos gentios, todos se alegraram: “E os gentios ouvindo isto, alegraram-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (Atos 13.48). Somos levados a perguntar, quantos creram? A resposta é do texto bíblico: “todos quantos estavam destinados para a vida eterna”.
Em Romanos 8.28-30, está escrito: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daquele que são chamados pelo seu decreto. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou, a esses também justificou, e aos que justificou, a esses também glorificou”.
Quando Deus escolheu Jacó, e aborreceu a Esaú, a Bíblia declara que não foi por alguma coisa que eles tivessem feito, pois ainda não tinham nascido, mas para que o propósito da eleição prevalecesse, Deus escolheu a Jacó (uma pessoa) e rejeitou a Esaú (outra pessoa). Passemos ao texto: “Porque, não tendo ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus segundo a eleição ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: o maior servirá o menor. Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú” (Romanos 9.11-13).
Outro fato importante de ser notado é que em Romanos 11.7, falando-nos sobre a eleição assim declara a Sagrada Escritura: “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos”. Neste texto o Apóstolo Paulo mostra dois tipos de pessoas: (a) os eleitos e (b) os endurecidos. Os primeiros foram salvos porque a eleição os alcançou, e obtiveram a salvação tão almejada. Enquanto os demais não foram salvos porque não foram eleitos, mas endurecidos.

A ESCOLHA FOI FEITA NA ETERNIDADE PASSADA
A Bíblia declara que Deus nos escolheu antes da fundação do mundo (Efésios 1.4-6). E essa escolha foi feita a fim de sermos para o louvor de sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo (Efésios 1.12).
Cristo é declarado em Apocalipse: “Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13.8).
“Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação...” (2Tessalonisensses 2.13). “Que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos” (2Timóteo 1.9). Neste texto a ARA traduz “antes dos tempos eternos”
“John Newton costumava contar uma parábola sobre uma boa mulher que, de modo a provar a doutrina da eleição, dizia: "Ah! meu caro, o Senhor deve ter me amado antes de eu nascer, ou caso contrário Ele não teria visto nada em mim para amar depois” (23).

A ELEIÇÃO É MOTIVO DE ALEGRIA
“Porque, se eu cresse no que alguns pregam sobre uma salvação temporária, e sem importância, que somente dura por um tempo, eu raramente seria grato por ela, se é que seria; mas quando sei que aqueles que Deus salva, Ele os salva com uma salvação eterna, quando sei que Ele lhes dá uma justiça eterna, quando eu sei que Ele os assenta em uma fundação eterna de amor eterno, e que Ele os trará ao Seu reino eterno, oh, então me admiro, e me surpreendo pelo fato de uma bênção tal como esta tenha, em algum momento, sido dada a mim!” (24).

“A doutrina da eleição confere-nos humildade diante de Deus para pensar dessa forma. Faz-nos perceber que não temos direito algum à graça de Deus. Nossa salvação deve-se tão somente à graça. Nossa única resposta apropriada é dar eterno louvor a Deus” (25).

CONCLUSÃO

A eleição trata, não somente de criaturas, mas de pecadores culpados e condenados. Que qualquer um deve ser salvo é matéria de pura graça e aqueles que não estão incluídos neste propósito da salvação sofrem apenas a recompensa devida aos seus atos. Não há, portanto, nenhuma injustiça na eleição de Deus. Podemos melhor louvar o Deus que salva alguns do que acusá-lo de injustiça porque ele salva tão poucos. A todos os homens, salvos ou não, Deus pode dizer: “Amigo não te faço injustiça [...] ou não me é licito fazer o que eu quero com que é meu?” (Mateus 20.13,15).

NOTAS:
1 – STRONG, A.H. Teologia Sistemática: eleição. São Paulo: HAGNOS, 2003. Vol. II, p. 472.
2 – CALVINO, João. Institución de la religión cristiana. Barcelona: FELiRE, 5ª edicion 1999. vol I, p 140.
3 – HODGE, Charles. Teologia Sistemática: soteriologia. São Paulo: HAGNOS. 2001 p. 717.
4 – Confissão de Westminster, Os decretos de Deus.
5 – BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 96.
6 – Ibidem.
7 – Ibidem.
8 – TAYLOR, W.C. Dicionário do Novo Testamento Grego. Rio de Janeiro: JUERP, 1991. p. 46.
9 – VINE, W. E., UNGER, Merril. F., JR, William White. Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p. 920.
10 – TAYLOR, W.C. Dicionário do Novo Testamento Grego. Rio de Janeiro: JUERP, 1991. p. 46.
11 – Ibidem
12 – Os Cânones de Dort. Eleição e reprovação. Cap 1.§7 e §11, (www. Confissões reformadas.com.br).
13 – A.A. HODGE apud BERKHOF, Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã 2001. p. 99.
14 – SPROUL, R.C, Eleitos de Deus. São Paulo: Cultura Cristã 2002. p. 22.
15 – CALVINO, João. Institución de la religión cristiana. Barcelona – Espanha: FELiRE 5ª edição 1999. Tomo II. p. 724. (tradução do autor).
16 - As palavras homem e Adão tem o mesmo sentido em hebraico ‘Adam’, que assemelha-se a palavra ‘adamah’ (nota sobre Gênesis 2.7 da Bíblia Shedd).
17 – SPROUL, R. C. Eleitos de Deus. São Paulo: Cultura Cristã 2002. p. 80.
18 – JANSE, J. C. Catecismo de Heidelberg, la confesión de la iglesia según las Sagradas Escrituras. Barcelona, Espanha: FELiRE 2000. p. 16
19 – Ibidem.
20 – Ibidem.
21 – GEISLER, Norman. Eleitos, mas livres. São Paulo: Vida 2005. p. 100.
22 – DIDAKÉ. O catecismo dos primeiros cristãos para as comunidades de hoje. São Paulo: Paulus 9ª edição 1989. p. 13.
23 – JOHN NEWTON Apud SPURGEON, C.H. Uma defesa do calvinismo, tradução de Walter Andrade Campelo http://www.cbb.org.br/
24 – Op. Cit.
25 – GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova 1999. p. 575.

BIBLIOGRAFIA

1 – STRONG, A.H. Teologia Sistemática: eleição. São Paulo: HAGNOS, 2003.
2 - CALVINO, João. Institución de la religión cristiana. Barcelona: FELiRE, 5ª edicion 1999.
3 – HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: HAGNOS. 2001.
4 – Confissão de Westminster. Os decretos de Deus.
5 – BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
6 – TAYLOR, W.C. Dicionário do Novo Testamento Grego. Rio de Janeiro: JUERP, 1991.
7 – VINE, W. E., UNGER, Merril. F., JR, William White. Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
8 – Os Cânones de Dort. (www.confissoesreformadas.com.br).
9 – SPROUL, R.C. Eleitos de Deus. São Paulo: Cultura Cristã 2002.
10 – BÍBLIA SHEDD. São Paulo: Vida Nova 1998.
11 – JANSE, J. C. Catecismo de Heidelberg, la confesión de la iglesia según las Sagradas Escrituras. Barcelona, Espanha: FELiRE 2000.
12 – GEISLER, Norman. Eleitos, mas livres. São Paulo: Vida, 2005.
13 – DIDAKÉ. O catecismo dos primeiros cristãos para as comunidades de hoje. São Paulo: Paulus 9ª edição 1989.
14 – SPURGEON, C.H. Uma defesa do calvinismo, tradução de Walter Andrade Campelo http://www.cbb.org.br/.