quinta-feira, 28 de julho de 2011

JOHN STOTT, CAMPEÃO DO EVANGELHO DE CRISTO

Faleceu nesta quarta-feira, dia 27 de julho de 2011, às 03:15 (horário local), em Londres, Inglaterra, o Pr. John Stott. Ele tinha 90 anos de idade e a causa da morte, segundo informações, relaciona-se com sua idade avançada.

John Stott foi um campeão do Cristianismo do século XX. Ele foi um daqueles poucos homens excepcionais, levantados por Deus, para liderar a Igreja em épocas complicadas e turbulentas. Por meio de seu prolífico ministério e de seus escritos, o Dr. Stott manteve acesa a chama da fé cristã em meio às trevas da pós-modernidade. Ele soube como poucos contextualizar o Cristianismo com a sua época, sem recuar um centímetro sequer em suas convicções bíblicas. Com inteligência, carisma e sensibilidade, ele conseguiu alcançar os corações de seus leitores e transmitir de modo vivo e eficaz a mensagem de Cristo.

É com muita tristeza que recebi a notícia de sua morte. Mas também com a alegria de sabê-lo feliz, bem-aventurado, louvando e glorificando a Deus na presença maravilhosa do Senhor Jesus Cristo.

Considerado uma das mais expressivas vozes da Igreja Evangélica contemporânea, o londrino John Stott nasceu em 27 de abril de 1921. Agnóstico até 1939, experimentou a conversão ao ouvir uma mensagem do Rev. Eric Nash. Estudou Línguas Modernas no Trinity College de Cambridge, onde destacou-se como primeiro aluno nas disciplinas de Francês e Teologia. Estudou para o ministério pastoral em Ridley Hall, Cambridge, onde obteve o Doutorado em Divindade. Mais tarde receberia vários títulos honoris causa em universidades britânicas, americanas e canadenses. Foi ordenado pela Igreja Anglicana em 1945, iniciando suas atividades na Igreja All Souls, em Langham Place, Londres (www.allsouls.org). Lá continuou em suas funções pastorais até 1975, quando tornou-se pastor emérito.

A partir do Congresso de Lausanne, em 1974, Stott começou a ganhar cada vez mais destaque no cenário internacional. Sua clara exposição das verdades bíblicas, bem como sua ênfase no “Evangelho Integral”, atraíram a atenção da Igreja em todo o mundo para uma dimensão maior da espiritualidade cristã, que implica na transformação da sociedade a partir da vivência dos princípios éticos ensinados na Bíblia.

Em 1982 fundou o London Institute for Contemporaty Christianity, do qual foi presidente e mais tarde presidente honorário. Escreveu cerca de 40 livros, dentre eles os imprescindíveis Ouça o Espírito, Ouça o Mundo; A Cruz de Cristo e Por que sou Cristão. Escreveu também um dos mais valiosos comentários sobre Romanos, que chegou a ser colocado lado a lado com os comentários de Lutero, Calvino e Karl Barth.

Timothy Dudley-Smith, autor de biografias, declara que “John Stott tem servido de modelo internacional para o ministério no centro de uma grande metrópole multicultural”. Cinco critérios foram fundamentais para estabelecer tal modelo: a prioridade da oração, a pregação expositiva, o evangelismo regular, o acompanhamento cuidadoso dos novos convertidos e dos discípulos e a formação sistemática de auxiliares e novos líderes.

Logo após sua nomeação ainda como Pastor auxiliar, o Dr. Stott começou a incentivar os membros da All Souls a frequentar um curso de treinamento semanal de evangelismo. Novos cultos foram iniciados, combinando evangelização paroquial regular com oração vespertina. Criou também cursos de discipulado para os novos convertidos e reuniões nas casas dos membros da igreja. All Souls passou a celebrar cultos também na hora do almoço durante a semana, uma reunião de oração semanal e cultos mensais de oração para os enfermos. Foram estabelecidos, igualmente, cultos para as crianças e para a família. Um capelão foi nomeado para atender as lojas da Oxford Street, e o All Souls Club foi fundado para ser um centro comunitário cristão de atendimento aos desabrigados. O próprio John Stott, certa vez, disfarçou-se de desabrigado e dormiu na rua, para conhecer por experiência própria a situação daquelas pessoas.

A igreja All Souls cresceu rapidamente durante as décadas de 1950 e 1960. O Dr. Stott recusou, em muitas oportunidades, convites para subir na hierarquia anglicana, e optou por permanecer como pastor na mesma igreja durante todo o seu longo e frutífero ministério. Seu papel como pastor sábio, a oração incessante e seu cuidado pastoral, aliados a uma capacidade incrível de se lembrar de nomes e circunstâncias, foi para muitos de seus paroquianos a sua contribuição mais significativa.

Ele contribuiu também para mudar muitos conceitos há muito arraigados na liderança anglicana. Quando iniciou seu ministério, os “evangelicais” tinham pouca influência na Igreja. Porém, através de iniciativas pessoais de Stott, como a Sociedade Eclética, ele ajudou jovens pastores da ala evangelical. De 23 pessoas em sua fundação, a Sociedade cresceu para mais de mil membros em meados dos anos 1960. Além desse movimento o Dr. Stott participou de muitas outras iniciativas, sobretudo nos dois Congressos Nacionais Evangélicos Anglicanos de 1967 e 1977, os quais foram presididos por ele. Foi também presidente do Conselho Evangélico da Igreja da Inglaterra (www.ceec.info) de 1967 a 1984 e presidente de duas influentes organizações cristãs, a União Escriturística Britânica (www.scriptureunion.org.uk) de 1965 a 1974 e da Aliança Evangélica Britânica (www.eauk.org) de 1973 a 1974. Stott combinou seu compromisso de evangelização e promoção de futuros líderes cristãos, envolvendo-se nas Universidades e Faculdades da Christian Fellowship (www.uccf.org.uk), onde foi presidente quatro vezes entre 1961 e 1982. Ele também atuou como Capelão da Rainha da Inglaterra de 1959 a 1991 e recebeu a rara honra de ser nomeado Capelão Extraordinário da Coroa Britânica em 1991.

John Stott lamentou muitas vezes a tendência ao anti-intelectualismo em muitos cristãos. Ele sempre salientou a necessidade, em suas palavras, de “relacionar a Palavra antiga com o mundo moderno”. Foi essa convicção que o levou à fundação do London Institute for Contemporary Christianity (www.licc.org.uk) em 1982, para “oferecer cursos nas inter-relações entre a fé, a vida e a missão do pensamento cristão”. Serviu como seu primeiro diretor e depois como presidente a partir de 1986.

“As palavras-chave em meu pensamento”, disse John Stott, “são integração e participação. Há uma tendência entre nós para excluir certas áreas de nossa vida do senhorio de Jesus, seja a vida empresarial, seja nosso trabalho, seja nossa persuasão política. Integrar todas as áreas da vida na cosmovisão cristã é fundamental na visão do Instituto. A segunda é a participação ativa no mundo ‘secular’ pelos cristãos integrados, cujo evangelho será um evangelho mais integrado”.

David Edwards declarou que John Stott, ao lado de William Temple, encontra-se entre “os mais influentes clérigos da Igreja da Inglaterra” durante o século XX. Alister McGrath tem sugerido que o crescimento do evangelicalismo inglês no pós-guerra pode ser atribuído mais a John Stott do que a qualquer outra pessoa.

Desde 1970 a nomeação de Michael Baughen como Pastor titular da All Souls permitiu que John Stott viajasse mais assiduamente. Desde então, ele foi capaz de gastar cerca de três meses por ano palestrando no exterior. Viajou regularmente aos Estados Unidos, e sua proeminência no evangelicalismo americano se refletiu em seu papel como expositor da Bíblia em convenções organizadas pela InterVarsity Christian Fellowship (www.intervarsity.org). O vínculo de Stott com estudantes do mundo inteiro foi reforçado por sua liderança em cerca de 50 missões universitárias, entre 1952 e 1977, na Grã-Bretanha, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, África e Ásia, e foi vice-presidente da Sociedade Internacional de Estudantes Evangélicos (www.ifesworld.org) de 1995 a 2003.

Uma das grandes contribuições de John Stott para a evangelização do mundo foi através do Congresso Internacional sobre Evangelização Mundial realizado em Lausanne, Suíça, em 1974. Lá ele atuou como presidente da comissão de elaboração do Pacto de Lausanne, um marco significativo no movimento evangélico. Como presidente do Grupo de Teologia e Educação de Lausanne, de 1974 a 1981, ele contribuiu para a crescente compreensão evangélica da relação entre evangelização e ação social. Ele foi novamente presidente da comissão de elaboração do Manifesto de Manila, um documento produzido pelo Segundo Congresso Internacional, em 1989.

O compromisso de John Stott com a renovação do evangelicalismo na Igreja Anglicana mundial levou à sua participação na Associação Evangélica da Comunhão Anglicana (EFAC). De 1960 a 1981 ele foi secretário-geral honorário, e de 1986 a 1990 atuou como seu presidente. Seu desejo de fortalecer os laços entre teólogos evangélicos na Europa foi uma força fundamental na fundação da Sociedade Europeia de Teólogos Evangélicos em 1977.

Stott teve um particular desejo de viajar aos países do “Terceiro Mundo”, assim chamado. Sua preocupação com os pobres o levou à participação na fundação da Sociedade Tearfund (www.tearfund.org), na qual serviu como presidente de 1983 a 1997, e também como patrono da instituição Armonia, no México. Por meio de seu contato com pastores dos países menos favorecidos, John Stott sentiu-se cada vez mais convencido da necessidade de ajudar no fornecimento de livros e bolsas de estudo. Fundou a Evangelical Literature Trust em 1971, financiada em grande parte pelos direitos autorais de seus livros, a fim de enviar livros teológicos a pastores, professores e estudantes de Teologia. Em 1974 foi estabelecido um fundo de bolsas de estudo como parte da então recém-formada Langham Trust a fim de oferecer bolsas de Doutorado em Teologia para estudantes de países menos favorecidos. Após os estudos, já Doutores em Teologia, eles retornam aos seus países para ensinar em seminários teológicos.

Talvez a maior contribuição internacional de John Stott seja a sua obra literária, caracterizada como clara, equilibrada, baseada na Bíblia e intelectualmente rigorosa. A carreira de escritor de John Stott começou em 1954 quando ele foi convidado a escrever um livro para o bispo de Londres. Mais de cinquenta anos se passaram, e Stott escreveu mais de 40 títulos e centenas de artigos, bem como inúmeras outras contribuições à literatura cristã. Sua obra mais conhecida, Cristianismo Básico, vendeu dois milhões de exemplares e foi traduzida para mais de 60 idiomas. Outros títulos incluem A Cruz de Cristo (simplesmente essencial para uma melhor compreensão da expiação), oito volumes da série A Bíblia Fala Hoje (incluindo o seu sublime comentário sobre Romanos), e, mais recentemente, Por que sou cristão. Em sua prodigiosa produção literária, foi ajudado por uma invulgar auto-disciplina e pelo apoio generoso de Frances Whitehead, sua fiel secretária, por quase 50 anos.

John Stott nunca se casou, embora tenha chegado perto do matrimônio em pelo menos duas ocasiões em sua vida. Posteriormente ele reconheceu que com a responsabilidade de uma família, provavelmente não teria conseguido escrever, viajar e ministrar da forma como fez.

Em todos os aspectos do ministério, John Stott manteve seu interesse vocacional com excepcional paixão. O Cristianismo, para ele, deve ser profundamente sério e engajado nas questões sociais de nossa época.

Foi-se um gigante. “O cisne silencia, somente resta aos grilos trilar”.

Que o Senhor levante mais homens como esse!

Fonte:

http://www.langhampartnership.org/john-stott/biography/

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O QUE ACONTECE DEPOIS DA MORTE?

"Lembre-se do seu Criador (...) Sim, lembre-se dele, antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro; antes que o cântaro se despedace junto à fonte, a roda se quebre junto ao poço, o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu" (Ec 12.1,6,7).

Por PATRICK ZUKERAN.

Diferentes perspectivas sobre a morte

Desde o princípio da humanidade, o homem convive com a pergunta: “O que acontece depois da morte?”. Nossa resposta a essa pergunta tem enorme relevância para a nossa vida aqui na terra. Ainda que muitos passem a maior parte de suas vidas tentando fugir do assunto, mais cedo ou mais tarde terão de enfrentá-lo! Há muitas respostas para essa pergunta, todas diferentes umas das outras.

Os ateus creem que ao morrer deixamos de existir. Não há vida depois da morte nem alma eterna que continua a viver. A única coisa que podemos esperar é nossa morte inevitável, e a futura morte (extinção) da humanidade, e a morte (o fim) do universo. E é diante desse futuro que o ateu busca encontrar sentido e propósito para a vida, inclusive a sua própria.

As religiões orientais, o espiritismo e a Nova Era, que sustentam uma visão panteísta do mundo, ensinam que cada ser percorre um ciclo quase infindável de reencarnações até que consiga romper o ciclo e tornar-se um com o Divino. A forma que uma pessoa tome na vida seguinte dependerá do modo como ela viveu em sua vida anterior (a lei do karma). Ao finalmente unir-se com o Divino, deixa de existir como indivíduo, tornando-se parte da força cósmica, como uma gota de água que cai no oceano. Desaparece no oceano cósmico divino, deixa de existir como indivíduo, sua personalidade desaparece para sempre.

Os que praticam religiões animistas ou tribais creem que depois da morte a alma permanece na terra ou viaja para reunir-se com os espíritos dos antepassados, no submundo, também chamado de reino das sombras. Durante toda a eternidade essas almas vagam na escuridão, sem experimentar alegria ou sofrimento. É possível invocar alguns desses espíritos para atormentar os que vivem sobre a terra.

O islamismo ensina que no final dos tempos Alá julgará as obras de todos os homens. Aqueles cujas boas obras sobrepujarem suas más obras poderão entrar no Paraíso. Os demais serão sentenciados ao inferno. O Corão ensina que no Paraíso os homens beberão vinho e serão servidos por muitas virgens, as quais poderão tomar para si como suas esposas.

A maioria das perspectivas sobre a vida além da morte afirma-se sobre uma fé não comprovada, mas a esperança cristã tem uma particular certeza por dois motivos: a ressurreição de Cristo e o testemunho da Palavra de Deus. A Bíblia oferece a perspectiva real daquilo que acontece após a morte. No entanto, muitos cristãos estão enganados em sua interpretação da vida após a morte. Alguns creem que serão transformados em anjos, outros acreditam que entrarão num estado de “sono da alma”, outros pensam que passarão a eternidade cantando e tocando harpa...mas o que a Bíblia realmente ensina?

Os cristãos devem ter a certeza de que a morte é algo que não devem temer. Muito pelo contrário: ao morrer chegamos ao nosso lar no Céu. A vida se passa num país estrangeiro. A morte já não tem aguilhão e, pela ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, hoje a morte é vitória.

Experiências de Quase Morte

Nos últimos trinta anos ou mais, milhares de pessoas afirmaram ter experimentado experiências de quase morte (EQM, em inglês NDE, near death experiencies). As EQM são acontecimentos nos quais uma pessoa, em pleno estado de consciência, abandona seu corpo e ingressa num outro mundo. As experiências desse tipo levaram a uma transformação total na vida de muitas pessoas. Que interpretação podemos dar a esses relatos?

É importante saber que as EQM ocorrem com pessoas que estiveram clinicamente, e não biologicamente, mortas. No caso de morte clínica, desaparecem todos os sinais externos de vida, tais como a consciência, a pulsação e a respiração. Nesses casos a morte biológica acontecerá caso não sejam tomadas as devidas providências. A morte biológica, no entanto, não é possível de ser revertida por nenhum tratamento ou cuidado, sendo fisicamente irreversível [1].

As EQM ocorrem em várias etapas da morte clínica. Algumas acontecem quando o paciente encontra-se em estado de coma, muito próximo à morte, ou já clinicamente morto. Outras vezes surgem quando o coração do paciente deixa de bater, ou quando o monitor de eletroencefalograma deixa de registrar atividade cerebral do paciente.

O que intriga muitos cientistas – e teólogos! – nos relatos de EQM é que muitos pacientes descrevem experiências similares, entre as quais a de abandonar o corpo e observar o que os médicos estão fazendo, entrar num túnel escuro, ver luz, ver outras pessoas, encontrar-se com seres espirituais, uma sensação de imensa paz, e logo o retorno ao corpo.

Muitos cientistas e médicos com diferentes cosmovisões tentam encontrar uma explicação para esse fenômeno. Os que abraçam uma postura ateísta buscam explicações naturalistas, que vão desde alucinações induzidas pela medicação, reações químicas que ocorrem no cérebro durante uma crise próxima à morte, recuperação parcial de memórias da infância, etc. Mas não conseguem chegar a uma conclusão final sobre tais relatos.

Além disso, muitas EQM ocorrem sem medicação, como no caso de pessoas resgatadas de afogamentos, clinicamente mortas. Outro ponto a considerar é que milhares de pessoas que tiveram uma EQM foram capazes de descrever com riqueza de detalhes lugares e pessoas que viram enquanto estavam no estado de morte clínica. Uma moça, que se encontrava à beira da morte, pôde descrever o que a sua família fez em casa à noite, o que serviram no jantar, onde cada um sentou-se para comer e até as conversas que tiveram! Outros puderam descrever em detalhes objetos que se encontravam em quartos próximos ou distantes do seu próprio. Um paciente disse que havia um sapato no telhado do hospital. As enfermeiras foram ver e descobriram o sapato no exato local em que o paciente havia descrito. Um menino que sofreu um acidente juntamente com sua mãe e seu irmão disse aos que o rodeavam, instantes antes de morrer: “Estão me esperando”. O médico descobriu que exatamente naquele instante, em outro hospital, a mãe e o irmão do menino também haviam morrido. Gary Habermas e J. P. Moreland consideram as EQM desde várias perspectivas em seu livro Beyond Death (“Além da Morte”), no qual argumentam que as explicações naturalistas não esclarecem de modo satisfatório o que ocorre durante as EQM.

Ainda que as EQM não oferecem uma prova conclusiva da existência do Céu ou do inferno, pelo menos indicam que no momento da morte a alma se separa do corpo, permanecendo consciente e lúcida.

No entanto, as EQM não esclarecem exatamente o que se encontra no além túmulo. São relatos que oferecem apenas um vislumbre do que existe do outro lado da cortina da morte, e o panorama que fornecem é incompleto. Colossenses 1.18 diz que Jesus é “o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia”. Cristo superou a morte biológica e vive para sempre, com autoridade absoluta sobre a Criação. Sua supremacia sobre todas as coisas foi estabelecida através de Sua ressurreição. Sabemos, também, que Satanás se disfarça de anjo de luz e pode aparecer sob diversos aspectos. Devemos, portanto, avaliar todos os relatos de EQM à luz das Escrituras.

Podemos nos comunicar com os mortos?

Os espíritos dos mortos podem se comunicar com os vivos? Um dos programas mais populares da TV [nos Estados Unidos] é Crossing Over, conduzido pelo “vidente” John Edward. Assim como outros, Edwards afirma que pode comunicar-se com os mortos. Deixa seus telespectadores boquiabertos ao revelar detalhes que somente seus parentes mortos poderiam saber. As pessoas o procuram buscando consolo, conselhos e alento. A Bíblia, no entanto, afirma que a comunicação com os mortos não é possível. Várias vezes Deus ordena a Seu povo a não praticar a necromancia [ou mediunidade], a arte de comunicar-se com os mortos. “Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou que se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos. O SENHOR tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa dessas abominações que o SENHOR, o seu Deus, vai expulsar essas nações da presença de vocês. Permaneçam inculpáveis perante o SENHOR, o seu Deus.” (Dt 18.10-13).

Os cananeus consultavam os espíritos e os mortos na esperança de obter poderes especiais e de predizer o futuro. Essa prática é uma abominação para Deus e é a razão pela qual Ele os expulsou da terra. Israel recebeu a advertência de não imitar os cananeus, pois do contrário também os israelitas sofreriam uma penalidade similar.

A comunicação com os mortos está proibida pela simples razão de que os mortos não podem comunicar-se com os vivos. Em Lucas 16.19-31, o homem rico que sofria no inferno buscava um modo de comunicar-se com sua família que ainda estava viva para adverti-la do destino que a esperava. No entanto, não houve maneira de comunicar-se com os seus, e os vivos também não podiam comunicar-se com ele.

Com quem estão se comunicando, então, os médiuns e os espíritas? Se efetivamente estão se comunicando com seres espirituais, o mais provável é que sejam impostores demoníacos. E ainda que um espírito demoníaco possa transmitir algumas coisas verdadeiras, a real intenção desse espírito é enganar os familiares do morto e levá-los para longe do Senhor. A prática do espiritismo pode levar à possessão demoníaca, causando inúmeros tormentos às pessoas.

Em Atos 16.16-18, Paulo deparou-se com uma jovem que podia predizer o futuro porque estava possuída por um espírito. Sabendo isso, Paulo finalmente expulsou o espírito. A Bíblia sempre proíbe a prática do espiritismo.

Alguns, no entanto, certamente tentarão defender o espiritismo utilizando a passagem de 1 Samuel 28. Aqui Saul pede à médium de En-Dor que convoque o espírito de Samuel. O espírito se levanta e entrega uma mensagem profética a Saul. As opiniões dos teólogos estão divididas a respeito desse relato. Alguns creem que foi um impostor demoníaco fazendo-se passar por Samuel. Outros creem que esse era realmente o profeta Samuel e que Deus abriu uma exceção neste caso, devido à desobediência de Saul.

Qualquer que seja o ponto de vista defendido, é óbvio que esse trecho das Escrituras não nos encoraja a consultar os médiuns. Saul, nesse momento de sua vida, estava fora da vontade de Deus e não podia receber a palavra de Deus, porque o Espírito lhe havia abandonado. Desesperado, e seguindo uma constante em sua vida, desobedeceu a Deus e sofreu as consequências. Esse relato de Saul nos ensina uma lição a ser aprendida, não um exemplo a ser seguido.

Um minuto depois da morte

O que acontece após nosso último alento? A Bíblia nos ensina o que acontecerá. Em primeiro lugar, nossa alma se separa de nosso corpo físico. Logo, receberemos imediatamente a sentença no juízo que determinará nosso destino eterno. Aqueles que confiaram na obra de Cristo na cruz para pagar nossos pecados entrarão na vida eterna na presença de Deus. 2 Coríntios 5.8 diz: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor”. Não haverá demora num estado de inconsciência que alguns chamam de “sono da alma” [2]. Estaremos de imediato na presença de Deus. Em segundo lugar, a alma será aperfeiçoada em santidade, e nossa antiga natureza pecaminosa desaparecerá por completo. Hebreus 12.23 menciona os “espíritos dos justos aperfeiçoados”. Os espíritos dos santos que estão no Reino dos Céus chegaram à perfeição. A luta contra o pecado, da qual participam todos os cristãos, finalizará para sempre quando, depois da morte, entraremos em nossa nova condição na presença de Deus.

Aqueles que rejeitam esse dom receberão o que escolheram, a eternidade separados de Deus no inferno. Hebreus 9.27 diz que “o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo”. Não há uma segunda oportunidade, nem ciclo de reencarnação.

Além disso, muitos cristãos assumem que depois da salvação tudo o que nos espera é a entrada alegre no Céu. As Escrituras nos ensinam que Jesus nos recompensará de acordo com o modo como vivemos na terra. Cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus. Isso não é o mesmo que o juízo a respeito da salvação. A morte de Cristo garante a salvação de todo aquele que crê. Seremos julgados pelas obras que fizemos a partir do momento da nossa salvação, para fins de recompensa. Esse juízo dos crentes é chamado de Tribunal de Cristo, acontecimento descrito em 1 Coríntios 3.11-15: “Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo. Se alguém constrói sobre esse alicerce usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um. Se o que alguém construiu permanecer, esse receberá recompensa. Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo”.

Paulo declara que Cristo é o nosso fundamento. Nossas obras são a edificação sobre esse fundamento. Os materiais de ouro, prata e pedras preciosas referem-se a obras realizadas com motivos puros, para a glória de Deus. As obras de madeira, feno e palha são as feitas com motivos equivocados e fúteis, somente para a nossa própria glória.

No Tribunal de Cristo nossas obras serão provadas pelo fogo divino. Aquelas obras para a glória de Deus resistirão às chamas e serão nossa recompensa. Alguns verão com tristeza como as chamas consomem todas as obras que realizaram na terra e entrarão no Céu com pouca recompensa ou sem nenhuma.

Os descrentes serão julgados e sentenciados ao inferno. E no final dos tempos enfrentarão o juízo diante do Grande Trono Branco. Aí serão julgados todos os ímpios mortos de acordo com a sua rejeição ao Salvador. Logo serão lançados no lago de fogo onde permanecerão por toda a eternidade. Apocalipse 20.11-15 diz: “Depois vi um grande trono branco e aquele que nele estava assentado. A terra e o céu fugiram da sua presença, e não se encontrou lugar para eles. Vi também os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono, e livros foram abertos. Outro livro foi aberto, o livro da vida. Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros. O mar entregou os mortos que nele havia; e cada um foi julgado de acordo com o que tinha feito. Então a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. O lago de fogo é a segunda morte. Aqueles cujos nomes não foram encontrados no livro da vida foram lançados no lago de fogo”.

Sabendo que como cristãos algum dia prestaremos contas de nossos atos a Deus, deveríamos viver como mordomos responsáveis por tudo o que Ele tem nos dado. E saber o destino dos não salvos deveria nos encher de coragem e ousadia para dar testemunho de Cristo com urgência a todos os que nos rodeiam. Saber o que acontecerá na vida além da morte deveria nos motivar a viver nossa vida na terra cumprindo cabalmente nossa missão como cristãos.

Como seremos no Céu?

No momento da morte física, a alma se separa do corpo e entra de imediato na presença do Senhor. Recordemos as palavras de Paulo em 2 Coríntios 5.8: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor”. A alma no Céu é aperfeiçoada em santidade, e a antiga natureza pecaminosa desaparece por completo.

Não permaneceremos por muito tempo no Reino dos Céus como almas sem corpos. No tempo estabelecido por Deus haverá uma ressurreição final, na qual o espírito se unirá a um corpo glorificado. Ainda que os cristãos tenham opiniões diferentes quanto ao tempo em que isso acontecerá, todos estamos de acordo quanto à ressurreição em si. Filipenses 3.20,21 diz: “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso”. 1 João 3.2 promete: “sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é”.

Sabemos que nossos corpos glorificados serão semelhantes ao de Cristo. Não seremos “deificados” – não nos tornaremos deuses! – mas nossos corpos terão as mesmas qualidades do corpo ressuscitado de Jesus. Nossos corpos celestiais serão nossos corpos terrenos glorificados. O corpo de Cristo que morreu na cruz foi o mesmo que ressuscitou. Seu corpo glorificado pôde passar através das paredes, aparecer repentinamente e subir aos céus. Pôde alimentar-se, andar e tocar nos objetos.

2 Coríntios 5.1 diz: “Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, não construída por mãos humanas”. As mãos de Deus nos darão corpos glorificados, como diz 1 Coríntios 15.39-44: “Nem toda carne é a mesma: os homens têm uma espécie de carne, os animais têm outra, as aves outra, e os peixes outra. Há corpos celestes e há também corpos terrestres; mas o esplendor dos corpos celestes é um, e o dos corpos terrestres é outro. Um é o esplendor do sol, outro o da lua, e outro o das estrelas; e as estrelas diferem em esplendor umas das outras. Assim será com a ressurreição dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual”. Ao responder àqueles que desprezam a ressurreição, Paulo explica que nossos corpos celestiais terão diferenças com respeito a nossos corpos terrenos. Serão corpos físicos, mas tão diferentes de nossos corpos mortais como são os nossos corpos dos corpos dos animais.

Como uma semente, o corpo será semeado na terra, e um dia voltará à vida. É semeado em morte, corrupção, fraqueza e desonra. Na ressurreição será transformado em todos os aspectos. Ressuscitará imortal, glorioso, poderoso e espiritual. Então teremos corpos eternos, definitivos e aperfeiçoados.

Também manteremos nossa identidade. Em Lucas 16.19-31, Lázaro, o homem rico e Abraão mantiveram todos a sua identidade. Chegará o dia em que já não teremos de enfrentar a corrupção do pecado, a enfermidade e a velhice. Há um grande e precioso futuro para todos aqueles que estão em Cristo!

O que faremos no Céu?

O que faremos no Céu por toda a eternidade? Alguns gostariam de jogar golfe eternamente, enquanto outros imaginam santos flutuando em nuvens etéreas, tocando harpas. No entanto, há um futuro infinitamente mais glorioso para aqueles que estão em Cristo. Sabemos relativamente pouco sobre as atividades que terão lugar no Céu, já que a Bíblia nos oferece somente um pequeno vislumbre de nossa vida futura. Em primeiro lugar, o momento mais esperado pelos santos de todos os tempos é o encontro face a face com o Senhor Jesus. Este será o primeiro e grandioso momento depois da morte física. A partir daí desfrutaremos da perfeita koinonia, a comunhão em Sua presença por toda a eternidade.

Em segundo lugar, nossa vida no Céu será uma vida de adoração. Temos uma clara descrição disso em Apocalipse 19.1-5: “Depois disso ouvi nos céus algo semelhante à voz de uma grande multidão, que exclamava: ‘Aleluia! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, pois verdadeiros e justos são os seus juízos. Ele condenou a grande prostituta que corrompia a terra com a sua prostituição. Ele cobrou dela o sangue dos seus servos’. E mais uma vez a multidão exclamou: ‘Aleluia! A fumaça que dela vem, sobe para todo o sempre’. Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que estava assentado no trono, e exclamaram: ‘Amém, Aleluia!’ Então veio do trono uma voz, conclamando: ‘Louvem o nosso Deus, todos vocês, seus servos, vocês que o temem, tanto pequenos como grandes!’”.

Como as vozes de uma grande multidão, chegam os louvores dos santos de todos os tempos. Certa vez alguns irmãos de nossa igreja descreveram a experiência de cantar um hino, “Grandioso és Tu”, num congresso cristão. Não tinham palavras para descrever com precisão tão sublime experiência. Imaginem então como será quando cantarmos “Santo, santo, santo” ao lado dos santos de todos os tempos na presença de Deus? Nossa adoração aqui na terra é a preparação para a grande adoração futura na eternidade.

Em terceiro lugar está o aspecto do descanso. O descanso celestial aqui não implica uma cessação de nossas atividades, mas sim a experiência de chegar a uma meta de crucial importância. O escritor de Hebreus 4.9,10 diz: “Assim, ainda resta um descanso sabático para o povo de Deus; pois todo aquele que entra no descanso de Deus, também descansa das suas obras, como Deus descansou das suas”. O Céu é a meta final que alcançamos depois da nossa peregrinação aqui na terra. Descansaremos de nossos sofrimentos e esforços contra as enfermidades, as lutas, a carne, o mundo e o diabo.

Em quarto lugar, serviremos ao Senhor. Lucas 19.11-27 ensina uma parábola sobre a mordomia. Os servos que multiplicaram os talentos do Mestre receberam autoridade sobre dez e cinco cidades respectivamente. Apocalipse 22.3 diz: “Já não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão”. Em 1Coríntios 6.3 Paulo repreende os cristãos que não conseguem resolver as diferenças entre eles, questionando: “Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos?”. Em Apocalipse 3.21 o Senhor promete: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono”. Aparentemente teremos alguma esfera de autoridade no Reino eterno de Deus. A abrangência de autoridade que recebamos dependerá de nossa fidelidade a Ele aqui na terra.

Em quinto lugar, experimentaremos comunhão perfeita com Deus e com aqueles que estiverem conosco. Uma das experiências humanas mais dolorosas é a despedida. Seja uma pessoa amada que viaja para outro país, seja uma pessoa amada que parte desta vida, é sempre doloroso dizer adeus. O cristão tem a esperança de saber que nossas despedidas não serão para sempre. Algum dia voltaremos a nos encontrar, e então nunca mais voltaremos a nos despedir. É impossível imaginar em todas as suas dimensões o glorioso futuro que nos espera depois da morte, em Cristo Jesus!

NOTA:

[1]. Gary Habermas e J. P. Moreland, Beyond Death (Wheaton, Illinois: Crossway Books, 1998), p. 156.

BIBLIOGRAFIA

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Lutzer, Erwin. One Minute After You Die. Chicago: Moody Press, 1997.

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FONTE: MINISTERIOS PROBE.

http://www.ministeriosprobe.org/docs/despues-muerte.html

segunda-feira, 4 de julho de 2011

SOBRE A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

Enquanto alguns, bêbados pelo liberalismo teológico (leia-se "ateísmo enrustido"), negam a segunda vinda literal de Cristo, como o "herege brasileiro" que há alguns dias atrás afirmou que a segunda vinda não passa de uma "utopia", e logo depois, covardemente, voltou atrás devido às críticas e afirmou crer, sim, numa segunda vinda literal, os verdadeiros cristãos jamais tiveram dúvidas a respeito e sempre reconheceram, coerentemente, que Jesus Cristo voltará pessoalmente, um dia, para estabelecer definitivamente o Reino de Deus. Maranata! Ora, vem, Senhor Jesus! Depois de Ulrich Zwinglio, agora é a vez de João Calvino "pregar um sermão" em nosso blog "Calvinismo Hoje".


Um sermão de JOÃO CALVINO.

“É justo da parte de Deus retribuir com tribulação aos que lhes causam tribulação, e dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também. Isso acontecerá quando o Senhor Jesus for revelado lá nos céus, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes. Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder. Isso acontecerá no dia em que ele vier para ser glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram, inclusive vocês que creram em nosso testemunho” (2Ts 1.6-10, NVI).

Nosso Senhor surgirá do céu. Esse é um dos principais artigos da nossa fé. Sua vinda é certa. Portanto, devemos esperar essa vinda enquanto esperamos nossa redenção e salvação. Não devemos duvidar disso. Porque duvidar seria rejeitar tudo aquilo que nosso Senhor Jesus fez e sofreu. Por que Ele veio a este mundo? Por que se vestiu de carne humana? Por que foi exposto à morte? Por que foi levantado da morte e levado ao Céu? A vinda de nosso Senhor selará e ratificará tudo o que Ele fez e sofreu pela nossa salvação. E isso deveria ser suficiente para resistir a todas as tentações deste mundo.

Mas, devido à nossa fragilidade, o Apóstolo Paulo utiliza outro argumento para nos confirmar essa esperança, à qual nos exorta por meio de sua epístola aos tessalonicenses. Deus não permitirá que aqueles que rejeitam o evangelho O desprezem, sem levar em consideração Sua majestade celestial. Ele não está disposto a permitir que Suas criaturas se levantem contra Ele. Por isso deveríamos estar plenamente firmados na esperança da nossa salvação, já que Deus está interessado pessoalmente nela.

Ainda que Deus nos assegure amplamente seu interesse em nossa salvação, nossa natureza está de tal modo cheia de desconfiança que muitas vezes duvidamos. Mas quando somos confrontados com o ensino de que Deus manterá Seu direito e não permitirá que Sua majestade seja pisoteada pelos homens, isso deveria dar-nos segurança. Deus nos concede essa graça de unir Sua glória com a nossa salvação, de modo que existe uma união inseparável entre ambas. Posto que Deus não pode deixar de defender Sua majestade contra o orgulho e a rebelião dos homens, não será infalivelmente certo que nosso Senhor Jesus voltará para dar-nos libertação e repouso? Portanto, percebemos que Jesus Cristo não pode enfatizar a glória de Seu Pai se não declarar-se a Si mesmo como nosso Redentor. Essas coisas não podem ser separadas. Vemos o infinito amor de Deus para com seus fiéis de tal modo que, assim como Ele não pode esquecer Sua própria glória, também não pode esquecer nossa salvação. Se Ele emprega Seu poder para vingar-Se daqueles que resistem a Ele, castigará tanto mais aqueles que têm afligido injustamente os que Lhe pertencem. Isso é o que o Apóstolo Paulo quer dizer quando afirma nessa passagem que Jesus Cristo virá inclusive para vingar-Se daqueles que não têm conhecido a Deus nem obedecido o Seu Evangelho. É como se dissesse: “Aqui estão os seus inimigos e perseguidores. Você ainda duvida que Deus considera suas aflições e tem piedade de você? Pensa que Deus não leva em consideração a Sua própria glória e que não está disposto a defendê-la? Mesmo que os adversários o ataquem porque você segue o Evangelho, Deus, ao defender a Sua própria causa, será o seu Defensor.”

No entanto, Paulo nos dá aqui outras exortações muito úteis. Porque quando fala da vingança preparada contra nossos inimigos, diz: “Jesus Cristo virá, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes”. E com que propósito? Para confirmar que os inimigos do Evangelho receberão seu castigo diante de Deus. É como se dissesse que jamais poderemos compreender o tormento dos ímpios, assim como também não compreendemos a glória de Deus, porque quando falamos da glória de Deus, sabemos que é infinita. Não podemos medi-la, mas somos surpreendidos por ela. Assim será o horrível castigo preparado para os descrentes, quando Deus liberar Seu poder contra eles. Porque assim como é inestimável a Sua majestade, também a Sua tempestade é incompreensível para nós.

Além disso, quando Paulo fala dos infiéis e dos inimigos de Deus, diz: “os que não conhecem a Deus” e não obedecem ao Evangelho, pois permanecem rebeldes. Esse modo de falar assinala uma doutrina mui útil. Porque se alguém pergunta aos homens se querem fazer guerra contra Deus, mesmo que sejam muito perversos, responderão que não. No entanto, fazem exatamente o contrário do que professam, posto que não estão dispostos a obedecer ao Evangelho. Como é possível? Está escrito que não podemos obedecer a Deus, exceto pela fé. Assim consta na epístola aos Romanos e no livro de Atos dos Apóstolos. Posto que a fé consiste em obediência autêntica, obediência como Deus demanda e aprova, deduzimos que todos os que não querem crer no Evangelho são rebeldes contra Ele. Se eles protestam afirmando não ter a intenção de rebelar-se contra Deus, os fatos falam mais alto do que suas palavras. Assim aprendemos que não podemos servir a Deus se, em primeiro lugar, não crermos no Evangelho, aceitando tudo aquilo que ele contém para nos humilhar. Em resumo, a fé é o principal serviço que Deus espera dos homens. Não obstante, devemos perceber que a fé não é simplesmente um mero assentimento da mente, mas também um profundo assentimento do coração e dos sentimentos. Porque não devemos aceitar somente com a boca e com a imaginação aquilo que o Evangelho nos ensina, mas tal ensino deve ser impresso no coração, para que saibamos que não devemos levantar oposição contra o nosso Deus. Ao contrário, devemos seguir a doutrina oferecida pelo Evangelho com autêntico desejo. A fé, portanto, provém do coração, e não consiste simplesmente em conhecimento. Porque se estivéssemos meramente convencidos de que o Evangelho é uma doutrina razoável, ainda que realmente não nos agradasse, e mesmo nos enojasse, por acaso isso seria obediência? Certamente que não!

Aprendamos, portanto, a fim de obedecer a Deus, a não somente considerar boa e santa a doutrina do Evangelho, mas também a amá-la, a unir a reverência com o amor, tal como Davi diz sobre a Lei, que a considera mais doce do que o mel e mais valiosa do que o ouro e a prata. Devemos ter como preciosa a doutrina do Evangelho, tê-la em grande estima, mais do que todas as coisas que possam parecer-nos doces e dignas de amor. Quando assim procedermos, Deus aprovará nossa obediência. Esse é o serviço peculiar que Ele espera de nós. Do contrário, será em vão que façamos isto ou aquilo; tudo o que fizermos será uma abominação para Deus, enquanto não crermos no Evangelho.

Nisto vemos quão miserável é a condição dos papistas. Eles mesmos se atormentam cada vez mais em suas assim chamadas “devoções”. Creem estar seguros em Deus. Quando vociferam suas ladainhas, quando recitam o Pai Nosso, quando assistem muitas missas e se esforçam em suas peregrinações e romarias, quando oferecem dinheiro para suas abominações, adquirindo com dinheiro os seus ídolos, quando fazem tudo isso, creem que Deus deve conceder-lhes bens equivalentes a seus méritos. E por quê? Porque lhes falta o princípio básico da fé. Porque mesmo que aquelas coisas não fossem más nem contra Deus nem contra os homens, no entanto tornam-se frívolas diante de Deus quando da parte dos homens são oferecidas sem a verdadeira fé. Vemos, então, que ainda que os papistas trabalhem diligentemente para servir a Deus, somente aumentam sua própria condenação, atraindo ainda mais a ira de Deus sobre as suas cabeças. Tanto é assim que nesta passagem da Escritura são chamados de rebeldes contra Deus, posto que não querem sujeitar-se à doutrina do Evangelho. Para se sentirem seguros dizem: “Nossa intenção é servir a Deus, e por isso fazemos isto ou aquilo”. Muito bem. Mas Deus tem demonstrado que o único bem que você tem está na pura graça e misericórdia d’Ele, e que somente em Jesus Cristo devemos buscar a nossa salvação. Ele declara que enviou Seu Filho para que você possa experimentar o resultado de Seu sofrimento, que no nome de Cristo e por meio d’Ele serão recebidas e canceladas todas as suas dívidas, que você não deve procurar nenhum outro advogado a fim de encontrar acesso à Sua majestade, que você deve pedir ser renovado por Seu Espírito Santo. Vocês, papistas, o que estão fazendo? Não há senão orgulho e presunção em vocês. Tal como um touro, atacam todas as promessas de Deus e pretendem obter por seus próprios meios aquilo que Deus somente concede em Cristo. Vocês depositam sua confiança em obras e méritos. Procuram padroeiros e intercessores segundo lhes pareça bem. Deixam Jesus Cristo de lado. Não há verdadeira fé em vocês. E o que é pior, vocês são inimigos de Deus, travam guerra contra Ele, em vez de servir-Lhe e honrar-Lhe, como vocês pensam que fazem.

De modo que certamente devemos glorificar o nosso Deus, pois nos resgatou de semelhantes profundezas e nos demonstrou qual é verdadeiramente o serviço que Lhe agrada, ou seja, Ele nos une ao ensino do Evangelho e às suas promessas. Além disso, se percebemos que os homens são humilhados diante de Deus, sabemos que essa é a autêntica preparação para levá-los ao serviço de Deus, inclusive à obediência plena e perfeita que Deus aprova. Toda incredulidade é rebelião contra Deus, posto que não há obediência verdadeira, a menos que comece pela fé. Paulo diz que aqueles que não obedecem ao Evangelho de modo nenhum conhecem a Deus. Portanto a ignorância não é desculpa para os homens, ainda que confiem nela como um escudo. Parece-lhes suficiente não estarem convencidos de seus próprios pecados. Afirmam que Deus tem obrigação de perdoar-lhes tudo. Será mesmo? O Apóstolo Paulo diz especificamente que Jesus Cristo virá para destruir aqueles que não conhecem a Deus. Devemos entender que estamos perdidos e aturdidos a menos que conheçamos Aquele que nos criou e nos redimiu. Deus nos deu espírito e inteligência para que possamos conhecê-Lo e adorá-Lo, e para que possamos render-Lhe a honra que pertence somente a Ele. Os homens desejam ser honrados e estimados, sem importar-se com seu Criador. Isso é correto, por acaso? Por acaso não é contrário à natureza?

No entanto, percebam que a ignorância dos ímpios não procede de sua simplicidade, mas sim da malícia, orgulho e hipocrisia, que os levam a não ter direção nem sentido na vida. De que modo? Porque se pudéssemos conhecer a Deus, certamente viríamos nos humilhar diante d’Ele. Porque para os homens é impossível pensar no que Deus é realmente, sem serem tocados pelo temor, de modo a inclinar-se perante Ele. Então, quando somos rebeldes contra Ele, isso é sinal de que nunca O conhecemos. Porque o conhecimento de Deus é algo vivo, sendo impossível conhecê-Lo e ser obstinado e rebelde como os ímpios.

Se alegam ignorância, isso é certo. Mas também são malfeitores e hipócritas. Pois não temos, todos, coisas suficientes para nos tornar indesculpáveis? Mesmo que somente existisse a semente que por natureza Deus colocou em nós, de modo que contemplando a terra e o céu deveríamos pensar que existe um Criador do qual tudo procede, não obstante Deus se revela a nós como por um espelho, mostrando a Sua majestade e glória. Até os mais perversos, vendo-se em desgraça, buscam refúgio em Deus, sem refletir sobre isso. Porque Deus os move a isso para deixá-los sem desculpa, de modo que os ímpios não são tão ignorantes a ponto de não haver hipocrisia neles. Eles querem usar a ignorância como desculpa, mas fecham seus olhos conscientemente. Nisso também há orgulho e malícia. Porque se quiséssemos honrar a Deus como Ele deve ser honrado, teríamos uma grande ansiedade para descobrir sobre Ele e sobre a Sua vontade. Então, se os homens são tão covardes e frios, é porque desprezam a Deus. Ou seja, tudo o que querem é ser deixados nas trevas. Como isso é possível? Porque se nos aproximamos de Deus e Ele nos adverte por causa das nossas faltas, deveríamos aprender a nos arrepender de nossos pecados e corrigi-los. Mas nos conformamos em dormir com nossos farrapos imundos. Assim é como os homens evitam os penetrantes olhos de Deus.

Percebam então que não é sem causa que os homens são castigados apesar de sua ignorância. Porque não poderão alegar que foi simples ignorância, mas também hipocrisia, orgulho e malícia. É por isso que o Apóstolo Paulo afirma que aqueles que pecaram sem Lei (isto é, aqueles que não tiveram o conhecimento da Palavra de Deus) também se perderão, e acrescenta que Deus gravou a Sua lei no coração de todos. Ainda que não tenhamos as Escrituras nem a pregação, ainda assim temos a nossa consciência que deveria nos servir como lei, e isso será suficiente para condenar os homens no dia final. Poderemos ter muitos subterfúgios para com os homens e pensarmos que devemos ser eximidos, mas nossa prestação de contas será muito deficiente diante do Juiz celestial. Lá veremos que todas as desculpas serão inúteis. Atentemos para essa passagem que afirma que nosso Senhor virá para executar Sua vingança sobre todos aqueles que não conheceram a Deus nem obedeceram ao Evangelho, isto é, os ímpios. Desse modo vemos que a fé é a única porta para a salvação e para a vida, posto que Jesus Cristo virá para a ruína daqueles que não creram. Além disso devemos notar que, até que Deus não ilumine os homens, estes permanecem cegos e ignorantes. Por quê? Porque podemos conhecer as coisas do céu e da terra, mas até que conheçamos a Deus, que importância isso tem? E não iremos conhecê-Lo até que Ele nos ilumine por meio do Espírito Santo. Vemos então que não seremos justificados pela nossa ignorância, de modo que ninguém engane a si mesmo. Por outro lado, saibamos também que quando tenhamos conhecido verdadeiramente a Deus, é razoável que nos sujeitemos a Ele, e que Ele nos governe, e que Sua vontade guie nossos pensamentos e sentimentos, e que nossa fé no Evangelho seja tal que possamos confessar, como Davi, que essa doutrina nos é mais doce do que o mel e mais preciosa do que o ouro e a prata.

Além disso, aqui vemos que Deus deseja nos dar segurança quanto à nossa salvação. Porque se Jesus Cristo virá para vingar-Se de todos aqueles que não creram no Evangelho, podemos e devemos deduzir que o mundo será julgado unicamente segundo o Evangelho. Nosso texto nos diz que quando em autêntica fé tenhamos recebido as promessas de Deus, não devemos duvidar de Sua bondade nem de Seu amor por nós, nem duvidar de que Jesus Cristo fará aquilo que tem oferecido para nossa redenção. Então todos aqueles que creem no Evangelho podem confiar plenamente na verdade de que Jesus Cristo virá como nosso Redentor. Deus nos dá essa certeza.

Quanto ao que o Apóstolo diz aqui sobre o poder e a glória de Jesus Cristo, é para indicar que a Sua vinda será terrível para os descrentes e rebeldes. Por acaso é pouca coisa dizer que Jesus Cristo virá acompanhado por anjos, em chamas flamejantes, que virá com uma majestade incompreensível, descendo com relâmpagos sobre todos os Seus inimigos? De modo que vimos que Paulo quis admoestar os descrentes, como se houvesse algum remédio para eles, a fim de que deixem de ser incorrigíveis. No entanto, quando vemos que todos os que são atraídos por Satanás e endurecidos pelo pecado nada fazem senão zombar de todas as advertências de Deus, tiramos daí uma lição. Quando ouvimos que Jesus Cristo voltará de modo tão terrível, permaneçamos de tal modo em temor e em domínio próprio, que quando Satanás venha nos atacar ou tentar nos seduzir para que deixemos de obedecer ao Evangelho, possamos dizer a nós mesmos: “Aonde estamos indo? À perdição! Por acaso estamos desafiando Aquele que possui toda a majestade, domínio e glória para lançar no abismo todos os que se Lhe opõem?”. Se pensássemos sempre assim, certamente seríamos contidos de tal modo que todos os desejos de nossa carne e todas as tentações do mundo nada poderiam fazer contra nós.

No entanto, o Apóstolo Paulo também quis comparar a primeira vinda do Senhor Jesus com a segunda. Por que os perversos e os que desprezam o Evangelho se levantam de maneira tão ousada, enfurecidos e descontrolados? É porque ouvem que Cristo, estando neste mundo, assumiu a forma de servo, despojando-Se a Si mesmo, como diz Paulo, a ponto de chegar àquela morte de cruz, tão vergonhosa e cheia de desgraça. Mesmo que os inimigos de Deus não conheçam Jesus Cristo senão somente nessa debilidade, eles a utilizam como oportunidade para blasfemar contra Ele com fúria pertinaz. Eles não consideram que assim como Ele sofreu segundo a debilidade da carne, assim também foi exaltado segundo o poder do Espírito. Revelou-se então numa glória sob a qual todos nós, grandes e pequenos, deveríamos estremecer. Mas, novamente, tolos descrentes que não conhecem o poder da ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, ouçam o que o Apóstolo diz aqui, ou seja, que Ele não virá para ser desprezado!

No passado Ele veio para ser obediente em nosso lugar, conforme era necessário para pagar pelos nossos pecados. Mas agora virá como Juiz! Ele foi julgado e condenado para nos livrar do trono do juízo de Deus, e para que pudéssemos ser absolvidos de todos os nossos pecados. Mas Ele não voltará em semelhante condição humilde. Ele virá com os anjos da Sua glória! Isso é o que o Apóstolo Paulo quis dizer afirmando que a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo será terrível.

Além disso, notemos que ele acrescenta: virá “para ser glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram”. Não é sem motivo que Paulo acrescenta essa afirmação, pois quem somos nós para resistir à presença do Filho de Deus quando vier em chamas flamejantes e no esplendor da Sua glória?! Quando Ele vier com poder além do entendimento humano, ai! Não nos derreteremos em Sua presença, como a neve se derrete ao sol? Por acaso não seremos reduzidos a nada? A mera menção da divina glória de Jesus Cristo deveria ser suficiente para mergulharmos nas profundezas. Mas o Apóstolo nos diz que, se somos do número dos fiéis, e se hoje cremos no Evangelho, não deveremos temer quando Jesus Cristo apareça, nem entrar em pânico diante da majestade que então resplandecerá n’Ele. Como isso é possível?

Porque Ele virá (diz o Apóstolo) “para ser glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram”. É como se dissesse que aquilo que mencionou acima, sobre chamas flamejantes, o que disse sobre punição e temor, não foi para desanimar os crentes. Pois Ele virá para a redenção dos que creem. O ensino de que nosso Senhor unirá essas duas coisas é encontrado em toda a Escritura. Ele virá para vingar-Se de Seus inimigos, e Ele virá para libertar os que creem. Virá para ser Salvador daqueles que Lhe têm honrado e servido, e virá para derrubar e arruinar aqueles que se endureceram contra Ele e contra a Sua Palavra. Então devemos ter em mente que essa terrível descrição aqui apresentada não tem o objetivo de nos atemorizar, mas sim de nos alegrar por tamanho amor e graça de Deus sobre nós. Certamente nosso Senhor virá com terrível poder. Mas será terrível para os inimigos do Evangelho: “É justo da parte de Deus retribuir com tribulação aos que lhes causam tribulação, e dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também”. Ele lançará todos os Seus inimigos no abismo, e vingará as feridas, insultos e aflições que suportamos.

Será que somos dignos de que o Filho de Deus resplandeça desse modo Sua majestade? Certamente não o somos, mas Ele deseja fazê-lo porque nos ama. Devemos ser consolados quando o Apóstolo fala da vinda do Senhor com semelhante terror e com uma majestade tão terrível. Porque assim declara eficazmente o infinito amor que Ele tem e demonstra por nós, posto que coloca Seu poder e majestade para vingar todas as tribulações que temos suportado. Mas não poderíamos nos alegrar nisso antes de observar o que o Apóstolo Paulo diz aqui, isto é, que nosso Senhor Jesus Cristo não somente virá para vingar-Se de Seus inimigos e daqueles que se revoltam contra o Evangelho, mas também para ser glorificado e admirado em Seus santos e naqueles que têm crido. Quando Paulo acrescenta isso é como se estivesse dizendo: “Ele virá para nos tornar participantes da Sua glória”. Em suma, Paulo diz que nosso Senhor não virá para guardar Sua glória somente para Si mesmo, mas para derramá-la sobre todos os que creem. Por isso diz aos colossenses: “Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória” (Cl 3.4). Então, Ele não virá para obter algo somente para Si mesmo, do qual seremos privados, mas sim para que a Sua glória nos seja comunicada, não para reduzir ou eclipsar a Sua própria, mas para nos transformar, como Paulo ensina aos filipenses: “Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso” (Fp 3.21). Em vez da fraqueza e debilidade que nos caracteriza agora, seremos adaptados à vida celestial de nosso Senhor Jesus Cristo.

De modo que Paulo, ao falar desse modo, prestou atenção especial à condição dos crentes, nesta vida. Porque somos homens marcados; apontam-nos o dedo, fazem gracejos a nosso respeito, vemos que os malfeitores zombam dos filhos de Deus. Somos desprezíveis neste mundo, como um lembrete de que não devemos buscar a nossa própria glória. Certamente Deus poderia fazer com que fôssemos tidos em alta estima por todos, se Ele quisesse. Mas Ele prefere que suportemos essas infâmias para que levantemos nossos olhos e busquemos nosso triunfo lá no alto. Além disso, seria adequado que fôssemos aplaudidos e glorificados neste mundo, enquanto o próprio Deus é desonrado? Os perversos zombam abertamente de Deus, e se lhes fosse possível, até mesmo cuspiriam na própria face do Criador! Se quiséssemos ser honrados por eles, não deveríamos ser chamados de covardes? Portanto, mesmo que agora os fiéis sejam desprezados, oprimidos, despojados de seus bens e de suas casas, pisoteados e maltratados, o Apóstolo nos lembra que no dia final seremos admirados juntamente com o Filho de Deus. Aqui Paulo mostra especialmente quem deve ter a esperança de compartilhar a glória de Deus, ao descrever o caráter daqueles que creem, chamando-os de “santos”. Porque demonstra que 1) os que se entregam à corrupção deste mundo não devem esperar receber parte alguma dessa porção ou herança, nem esperar ter nada em comum com o Filho de Deus. No entanto, ao acrescentar “em todos os que creram”, mostra que 2) a fé é a genuína fonte e origem da santidade. E, em terceiro lugar, mostra 3) que se temos uma fé pura e reta seremos mais e mais santificados. Devemos enfatizar essas três verdades.

A primeira nos adverte que se vamos nos contaminar e chafurdar em nossa poluição e imundície, não devemos esperar que a vinda do Filho de Deus seja proveitosa para nós, como diz o Profeta: “Ai de vocês que anseiam pelo dia do Senhor! O que pensam vocês do dia do Senhor? Será dia de trevas, não de luz. O dia do Senhor será de trevas e não de luz. Uma escuridão total, sem um raio de claridade” (Am 5.18,20). Posto que naquele tempo havia muitos que justificavam seus pecados apelando para o nome do Senhor, o Profeta os advertiu que isso lhes custaria muito caro. Da mesma forma, vemos que atualmente as pessoas mais perversas professam ter fé. Mas são pessoas corrompidas e cheias de impiedade que têm tanta religião quanto os cães e os porcos. Finalmente, quando são examinados em suas vidas, percebe-se que estão cheios de impiedade, não são mais leais do que as raposas, estão cheios de crueldade e amargura contra seus semelhantes; são cheios de toda indecência e ultraje; todo aquele que lhes ofereça mais ganhará seus votos; abrem um negócio para fraudar e enganar; de modo que vendem não somente a sua fé, mas também a sua honra aos homens; entregam-se a toda espécie de mal. Em resumo, são abertamente vis, ainda que jamais deixem de orgulhar-se de pertencer à igreja de Deus; afirmando que Deus os ajudará. Creem que na vinda do Senhor obterão algum lucro? De jeito nenhum! Ao contrário, será para os tais um dia de assombro, terrível e aterrador. Neste texto do Apóstolo Paulo aprendemos que se queremos que a vinda do nosso Senhor Jesus nos seja benéfica, e que Ele apareça como nosso Redentor para a nossa salvação, devemos dedicar-nos à santidade e nos separar das contaminações deste mundo e da carne.

Mas para triunfar nisto devemos perceber que devemos começar pela fé. Com efeito, a fé é a fonte de toda santidade, como está escrito em Atos 15, onde o Apóstolo Pedro afirma que pela fé Deus purifica o coração dos homens [cf. At 15.9]. Isso é dito para esclarecer que, ainda que aparentem beleza interior, os corações humanos sempre estão contaminados e enfermos diante de Deus, até que Ele os purifique por meio da fé.

Portanto, se temos uma fé autêntica, seremos mais e mais santificados. Isto é, somos renovados unicamente para o serviço a Deus, e somos dedicados unicamente para honrar a Deus. Assim que pela fé agradamos a Jesus Cristo, Ele vem habitar em nós, assim como diz a Escritura. O Apóstolo Paulo diz que pela fé Cristo habita nos corações dos crentes. E eu pergunto: por acaso não seria incompatível Cristo habitar em nós, enquanto ainda permanecemos em vilezas e coisas imundas? Por acaso alguém pensa que Ele quer viver num chiqueiro? Então é preciso que nos consagremos a Ele.

Além disso Ele não pode estar conosco a não ser pelo Espírito Santo. E não é por acaso o Espírito de santidade, justiça e retidão? Então, não seria uma mistura estranha se os homens professassem fé em Jesus ao mesmo tempo em que vivessem de modo dissoluto e perverso, contaminados por todas as corrupções do mundo? Seria a mesma coisa que dizer: “Aceito o sol, mas não seu brilho”. Ora, é mais fácil que o sol venha sem seu brilho do que Jesus Cristo sem a Sua justiça. Portanto, não tomemos esse manto de hipocrisia dizendo que temos fé no Evangelho, a menos que nossa vida corresponda à fé que professamos, demonstrando que de fato recebemos Jesus Cristo, e que pela graça do Espírito Santo nos dedica e santifica para obedecer a Deus Pai.

De modo que não devemos nos apoiar em falsidades para usurpar essa afirmação de fé, posto que é algo tão sagrado. Cuidemos então de não profaná-la. Mas se cremos no Filho de Deus, mostremos pelo resultado em nossas vidas que de fato cremos n’Ele. Também é certo que Ele nos fará experimentar o Seu poder. Nos dará graça para esperar com paciência a Sua vinda. Ainda que neste mundo venhamos a sofrer muito pelo Seu nome, no final seremos revestidos com Sua glória e Sua retidão. Ele nos deu Sua promessa, bem como a força que Ele nos fará sentir sempre para que não duvidemos.

Prostremos-nos em humilde reverência diante do nosso Deus!

Fonte: Biblioteca de la Iglesia Reformada.

http://www.iglesiareformada.com/Calvino_Advenimiento.html