quarta-feira, 27 de abril de 2011

A PÁSCOA BANIDA

A Páscoa é a festa dos Judeus, onde comemoram sua libertação do cativeiro egípcio. O que se pode conferir lendo o livro de Êxodo no Antigo Testamento.

O Antigo Testamento é como um professor que conduz o aluno pela mão até que este esteja pronto a discernir as coisas com exatidão, outra alegoria que poderia ser usada é a que compara o Antigo Testamento a um Aio que acompanha a noiva até o marido. Assim o Antigo testamento nos incentiva a olhar suas histórias verdadeiras, como de fato são, mas também com um sentido pedagógico, que nos ensinam verdades reveladas plenamente em Cristo.

Sendo assim, a páscoa dos judeus prefigurava a obra de Jesus Cristo. Sua pureza e perfeição, o ritual era uma sombra da realidade vibrante presente na vida e obra de Jesus Nazareno. Porém tanto Cristo quanto sua mensagem pascal tem sido banida do ocidente, por ideologias diversas, cada uma pensando ser o que não é e oferecendo o que não tem, pois são poços que não podem reter água alguma, só lama se encontra ali.

Na páscoa Judaica um cordeiro sem defeito algum deveria ser sacrificado e sua carne comida, por todos os integrantes de uma família, seus ossos, porém não deveriam ser quebrados. Era uma refeição familiar e de comunhão.

Da mesma forma Cristo sem ter pecado foi sacrificado na cruz, nos alimentamos dele, ele é a vida para o crente, e isso se vê novamente na ceia — onde o Senhor Jesus abençoa o pão e o vinho dizendo que assim como o pão e o vinho alimentam o corpo, temos nele próprio a alimentação para nossa alma.

Todavia, a páscoa tem sido usurpada ao simples comércio e superstição, desprovida de sentido para outros. Muitos só lembram de pensar em fé nesta época, mesmo assim preferem banquetear-se com peixes ao invés de entregar-se ao Cordeiro Santo que tira o pecado do mundo, e este é Jesus Cristo.

A Páscoa para o fiel do Novo Testamento é como a páscoa do antigo Testamento, porém os elementos são diferentes, não mais as ervas amargas e nem mais o cordeiro, agora o vinho e o pão são os elementos deste sacramento do povo de Deus, o sacramento em memória agora, porém remete a um evento histórico com data e local geográfico certo e estabelecido, tendo o Cristo Jesus como seu centro e coluna, o sacramento da comunhão que comemorava a libertação da igreja do Antigo Testamento também estava baseado em um fato histórico, isto é; o Êxodo, mas mais do que isso, a páscoa judaica apontava para uma promessa da libertação por meio do sangue e da força por meio do alimentar-se do cordeiro.

A páscoa consumista todavia, esta despida de qualquer elemento religioso, e visa o materialismo fomentando o consumo exacerbado de uma sociedade acostumada com propaganda, que lhe empurra todo tipo de quinquilharias de que não precisa.

Ovos de chocolate, coelhos e tantas coisas mais, enchem os olhos dos consumidores e engordam os bolsos dos vendedores, tornando um hemisfério inteiro sacrílego por desprezar o dia mais importante para o cristianismo – o dia da ressurreição do Senhor do universo.

Ainda que a figueira não floreça e os animais sejam arrebatados dos campos, ainda que as nações derramem suas sujidades contra o cordeiro e seu povo, que ímpios governem e joguem ao chão a santa lei, que pérfidos dominem e sejam exaltados e os valores sejam invertidos, tendo os cristãos como escória e desprezados por sua conduta fiel, mesmo assim, eu louvarei ao Senhor, pois bem aventurados aqueles que são perseguidos pela justiça e por sua fé em Cristo. Páscoa é amor fé e esperança – tendo o cordeiro de Deus como a oferta pelos nossos pecados e como o maior presente a humanidade.

Páscoa é incentivo à perseverança, pois antes da exaltação vem a humilhação, antes da vida vem a morte, porém esta não tem a palavra final, pois já foi vencida. Páscoa é libertação da escravidão do pecado, libertação do cativeiro de um sistema de coisas dominado por pessoas sem Deus. Páscoa é ressurreição. Páscoa é Jesus Cristo.

sábado, 16 de abril de 2011

AGOSTINHO DE HIPONA, DOUTOR DA GRAÇA

Aurélio Agostinho, também conhecido como Agostinho de Hipona, Santo Agostinho ou simplesmente Agostinho, nasceu em 13 de novembro de 354 na África do Norte, na província romana da Numídia, numa cidade chamada Tagaste. Primogênito de Patrício, pagão, conselheiro municipal, homem desejoso de dar ao filho a melhor educação e assim garantir-lhe o melhor futuro possível, e de Mônica, cristã sincera e devota, que jamais cessou de orar pela salvação de seu filho, Agostinho fez seus primeiros estudos em Tagaste e na vizinha Madaura. Os idiomas que dominava eram o púnico e o latim, mas nunca conseguiu aprender completamente o grego, em parte devido aos severos castigos que sofrera nas mãos dos professores, que acabaram causando-lhe uma certa aversão ao idioma dos antigos helenos. Isso fez-lhe falta anos depois, em seus estudos exegéticos, e ele próprio reconheceu o fato, tentando reaproximar-se da língua do Novo Testamento. Aos 17 anos de idade o pai conseguiu, à custa de muito sacrifício e com a ajuda de um amigo da família chamado Romaniano, enviar Agostinho para Cartago, onde o jovem poderia estudar Retórica e Artes, objetivando uma carreira na magistratura. O futuro parecia assegurado para Agostinho.

Em Cartago, Agostinho viu-se diante do ócio e da sedução da cidade grande. Tal combinação veio a ser fatal para seu espírito. A vida desregrada dos outros estudantes, os teatros e espetáculos pagãos, a fama e o sucesso que já começara a granjear – tudo isso lançou Agostinho numa busca frenética pelo prazer, que ele empreendeu com avidez, aproveitando ao máximo as oportunidades – inclusive sexuais – que a metrópole lhe oferecia.

Seu pai, já convertido ao Cristianismo e batizado, morreu no ano seguinte de sua chegada a Cartago, e Agostinho passou a viver com uma mulher (a qual ele não mencionou pelo nome em suas obras, provavelmente para não expor sua amada publicamente) em regime de concubinato. Com ela teve um filho, Adeodato, que faleceu na adolescência. Agostinho amou verdadeiramente sua companheira, mas jamais pôde casar-se com ela, devido às convenções sociais da época. Ambos pertenciam a distintas camadas sociais, sendo a de Agostinho mais elevada; de modo que ele não poderia contrair matrimônio com alguém socialmente inferior. Nessa época ele começou também a interessar-se por filosofia, e a leitura de uma obra de Cícero, hoje perdida, chamada Hortensius, impeliu seu espírito inquiridor à busca pela verdade. Sua mãe insistentemente oferecia-lhe a Bíblia para ler, mas Agostinho considerava as Escrituras como indignas de um erudito. Da filosofia ele logo enveredou pelo maniqueísmo, seita que misturava a antiga religião persa com elementos do Cristianismo, budismo e gnosticismo, tendo como fundador um pregador chamado Mani. Em parte, sentiu-se atraído ao maniqueísmo pela sua simples – na verdade, simplória – explicação para o mal: o Bem e o Mal, como princípios universais e igualmente poderosos, existem desde a eternidade, combatendo-se e ao mesmo tempo complementando-se mutuamente.

Em 374 Agostinho retornou a Tagaste, como professor de retórica, visto que, com a morte do pai, agora tinha duas famílias para cuidar. Sua mãe continuava a orar pela salvação de sua alma, inconformada com o rumo que a vida de Agostinho havia tomado.

A alma de Agostinho ansiava, de fato, pelo conhecimento da verdade. Insatisfeito com a cosmovisão maniqueísta, após uma breve entrevista com Fausto, um famoso bispo daquela seita, Agostinho começou a perder o gosto pelos ensinos maniqueus. Foi então que decidiu retornar à Itália, para lecionar em Roma. Lá abriu uma escola de retórica, mas, cansado de ser enganado pelos seus alunos – muitos dos quais não pagavam pelas aulas a quantia que havia sido acertada – Agostinho ruma para Milão. Lá, sua vida iria mudar para sempre.

Inquieto, Agostinho continuou sua busca pela verdade, enquanto permanecia escravo dos prazeres carnais. Descobriu o neoplatonismo, por meio dos escritos de Plotino, e começou a sonhar com uma vida diferente da que levava: uma vida de contemplação de verdades transcendentais, uma vida livre de toda e qualquer aspiração por honrarias, fama, dinheiro e prazer. Porém isso era somente um sonho: cada vez mais ele mergulhava no hedonismo e na devassidão. Sua mãe, que lhe seguira até Milão, acertou seu casamento com uma jovem donzela, e com muita tristeza ele mandou embora sua concubina. Adeodato permaneceu ao lado do pai. A companheira foi-se para a África, prometendo jamais pertencer a outro homem. Agostinho também lhe disse que jamais se envolveria com outra mulher, mas não conseguiu cumprir a promessa. Ainda deveria esperar dois anos para casar-se com a jovem que sua mãe escolhera, mas isso era muito tempo para ele. Em pouco tempo encontrou uma outra concubina para si, malgrado os conselhos de sua mãe.

Em Milão, Agostinho ouviu falar dos sermões do bispo Ambrósio, profundo conhecedor do Antigo Testamento e dos escritos de Paulo, e grande pregador. Desejoso de ouvi-lo, a fim de ampliar seus estudos de retórica, Agostinho começou a frequentar as reuniões da igreja da cidade. Aos poucos, porém, as grandes verdades proferidas por Ambrósio, acerca de Jesus Cristo, da salvação, da vida em santidade e do juízo final começaram a calar profundamente no coração de Agostinho. O neoplatonismo fornecera-lhe uma base filosófica apropriada para receber e compreender os ensinos cristãos, e assim Agostinho foi, pouco a pouco, erigindo uma fantástica catedral teológica em sua mente prodigiosa. Mas não conseguia desvencilhar-se, ainda, de suas paixões mundanas. Orava deste modo: “Senhor, dá-me a castidade, mas não agora!”.

No entanto, movido pelo ensino de Ambrósio e sentindo-se cada vez mais atraído pelo Cristianismo, Agostinho decidiu alugar uma propriedade na área rural de Milão, juntamente com sua mãe e alguns de seus amigos. Lá ele dedicou-se à leitura das Escrituras, bem como a longos diálogos e debates acerca das verdades cristãs. Mas não conseguia, de fato, entregar sua vida a Jesus Cristo.

Até que, num certo dia de agosto de 386, após ler um trecho das epístolas de Paulo, Agostinho decidiu retirar-se a sós para um jardim, a fim de orar. Sentia-se frustrado e decepcionado consigo mesmo, e temeroso de não ter forças suficientes para abandonar a vida que levava a fim de dedicar-se à fé cristã.

Então de repente ele ouviu, vinda do pátio de uma casa vizinha, a voz de uma criança que cantarolava: “Toma e lê, toma e lê”. Agostinho sabia que era a voz de um menino ou de uma menina, mas mesmo assim, para ele aquilo soou como uma Voz vinda do Céu, que lhe dizia para ler as Escrituras, o que ele decidiu fazer imediatamente. Ao abrir a esmo a epístola de Paulo aos Romanos, leu as seguintes palavras: “Não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.13,14).

Aquilo foi o bastante. A Palavra impactou indelevelmente o coração de Agostinho. Mostrou o trecho a seu amigo Alípio e comunicou a todos sua conversão. Abandonou sua carreira, mandou embora sua atual concubina e transformou sua casa num mosteiro, abraçando a vida cristã. Nem é preciso mencionar a alegria que tomou conta de sua mãe, Mônica, e de seus amigos, dentre os quais o fiel Alípio, que mais tarde também se tornaria bispo. No ano seguinte, Agostinho, Adeodato e Alípio foram batizados pelo bispo Ambrósio. Prepararam-se para voltar à África, mas no porto de Roma, Óstia Tiberina, Mônica veio a falecer. Uma das páginas mais comoventes da história da literatura universal é a descrição que Agostinho faz da morte de sua mãe e de seu sofrimento, nas Confissões. Após a morte de sua mãe, Agostinho permaneceu em Roma alguns meses, dedicando-se a refutar, com sucesso, os ensinos dos maniqueístas. Mas logo navegou para Cartago e rumou para Tagaste, sua cidade natal, onde vendeu todos os seus bens e os distribuiu aos pobres, recolhendo-se para a vida em comunidade, juntamente com um grupo de amigos. Ali Agostinho planejava passar o resto de sua vida, dedicando-se aos estudos e à vida contemplativa. Tomou o cuidado de não ir a cidade alguma cujos cargos de bispo ou presbítero estivessem vagos, pois não desejava assumir uma paróquia.

Mas não foi isso que aconteceu. Em 391 foi chamado a Hipona, por um amigo que estava muito enfermo. Ao entrar na igreja da cidade, para orar, os fiéis o reconheceram e clamaram ao bispo Valério: “Agostinho, presbítero!”. A contragosto, Agostinho viu-se obrigado a aceitar a ordenação, a qual considerou, com lágrimas, como um chamado divino. Suplicou a Valério para retornar à sua comunidade, e obteve do bispo de Hipona bem mais do que isso: terras para a fundação de um mosteiro. De qualquer modo, quatro anos mais tarde, Agostinho foi chamado novamente para Hipona e ordenado bispo auxiliar de Valério. Em 396, aos 42 anos, sucedeu ao bispo Valério, após a morte deste, como bispo de Hipona. Em pouco tempo aquela igreja tornou-se a matriz de vários mosteiros e igrejas espalhados por todo o norte da África.

E a partir daí Agostinho deu adeus, definitivamente, ao otium intelectualis que tanto desejara. Nunca mais parou de trabalhar, dia após dia, pela causa do evangelho. Como bispo, era responsável pelos ofícios religiosos, celebrações litúrgicas, administração dos sacramentos, e cuidado pastoral. Pregou inúmeros sermões, dos quais cerca de 500 foram preservados até hoje. Instruía os novos convertidos, preparando-os para o batismo, cuidava do patrimônio da igreja e dedicava-se à ação social. Suas responsabilidades como bispo, porém, iam muito além dos limites da igreja: atuava também como juiz nos tribunais civis de Hipona (anos antes, Constantino concedera essa atribuição aos bispos cristãos).

Envolveu-se em várias controvérsias contra os hereges, na defesa da fé cristã: primeiro contra os maniqueus, declarando que o mal é a negação do bem e o resultado do livre arbítrio humano, no estado de pecado. Depois viu-se enfrentando os donatistas, que rejeitavam a ordenação ao episcopado de homens que, durante a perseguição movida pelos Imperadores Décio e Diocleciano, haviam entregado exemplares das Escrituras para serem queimados. Eram chamados de traditores e não deveriam retornar ao seio da Igreja, segundo o líder do movimento, o bispo Donato de Cartago. Agostinho os acusou de cismáticos, elaborando uma eclesiologia sacramentalista: para ele, os sacramentos são meios de graça ex opere operato (em virtude da própria obra), independente de quem os administra. Tal ideia serviria muito bem aos interesses do catolicismo romano, que sucederia a Igreja Imperial dos dias de Agostinho. Mas ele também desenvolveu uma eclesiologia eminentemente bíblica, ao afirmar que há uma igreja invisível, formada pelos eleitos, conhecida unicamente por Deus, dentro da igreja visível conhecida pelos homens, na Terra. Agostinho desenvolveu tão profundamente sua eclesiologia que ele tem sido chamado, por muitos pensadores ao longo da história, de “Doutor da Igreja”, além de Doutor da Graça. Discorreu com muita propriedade sobre a instituição divina da Igreja, sua autoridade, sua missão na distribuição da graça e dos sacramentos.

Outra controvérsia da qual Agostinho foi protagonista teve como pano de fundo as doutrinas da graça. O antagonista de Agostinho foi o monge britânico chamado Pelágio, que ensinava que a salvação consiste no contínuo esforço humano para o auto-aperfeiçoamento; que não há pecado original, mas todos os homens nascem essencialmente bons; que não há necessidade de uma graça especial de Deus para a salvação dos homens. Agostinho demonstrou, utilizando as Escrituras, que devido ao pecado de Adão, todos os homens já nascem em pecado e condenados; que não pode haver salvação sem a graça de Deus operando nas vidas dos eleitos (isto é, daqueles que foram escolhidos desde a eternidade, com base unicamente na vontade soberana e graciosa de Deus); que os eleitos são atraídos irresistivelmente pela graça de Deus para a salvação em Cristo Jesus. Em suma, para Agostinho, a salvação é um dom (uma graça) concedido por Deus, desde toda a eternidade, para aqueles que foram eleitos por Deus igualmente por Sua graça. Essa mesma graça confirma e preserva os eleitos em Cristo, de modo que nenhum deles jamais se perderá. Do início ao fim a salvação é pela graça de Deus, objetivando a Sua glória. Não há nem pode haver mérito humano diante da salvação. Por enfatizar a graça divina e denunciar a corrupção e a incapacidade humanas, Agostinho ficou conhecido, no decorrer da História, como Doutor da Graça. Argumentando a partir das Escrituras, ele demonstrou que mesmo nossos desejos iniciais por salvação são operados em nossos corações pela graça de Deus, que controla desde a eternidade a nossa predestinação. Enquanto Pelágio e seus seguidores tentavam estabelecer o livre arbítrio humano como causa e fonte da salvação, Agostinho argumentou vigorosamente a favor da graça de Deus como princípio, meio e fim da salvação. As doutrinas da graça e da predestinação formam o núcleo da teologia agostiniana. Desse fértil terreno brotaria, séculos mais tarde, um dos lemas reformados: sola gratia (somente a graça). Isso faria João Calvino declarar aos adversários católico-romanos: “Agostinho é totalmente nosso”.

As ideias de Pelágio foram declaradas oficialmente como heréticas pelo bispo de Roma (417 e 418), e pelos Concílios de Cartago (418), Éfeso (431) e Orange (529). Infelizmente, por toda a história da Igreja Pelágio continuou tendo seus seguidores, e suas ideias foram retomadas e adaptadas pelo catolicismo romano que substituiu a antiga Igreja Imperial. No protestantismo, Jacó Armínio reviveu e reorganizou as antigas heresias pelagianas na Holanda do século XVII. O que hoje conhecemos como arminianismo, semipelagianismo, teísmo aberto e teísmo relacional, bem como liberalismo teológico e muitas outras aberrações teológicas semelhantes a essas, têm tudo a ver com os ensinos de Pelágio.

Além de refutar os erros dos maniqueus, donatistas e pelagianos, Agostinho também enfrentou pagãos, astrólogos, arianos e apolinaristas, bem como judeus que desferiam ataques contra o Cristianismo. Sua vida foi uma luta contínua pela verdade do evangelho, enfrentando os mais diversos adversários, refutando os mais elaborados argumentos, ficando conhecido pela sua vasta erudição, seu conhecimento enciclopédico de filosofia e teologia, sua devoção total à Palavra de Deus, e sua confiança absoluta na graça divina que lhe sustentava.

Em 430 os vândalos liderados por Genserico já haviam devastado a Espanha e agora aproximavam-se de Hipona, para sitiar a cidade. Agostinho, acamado devido a uma enfermidade, morreu no terceiro mês do cerco, no dia 28 de agosto, aos 76 anos de idade.

Falar da produção literária de Agostinho é como falar sobre uma grande Biblioteca, repleta de volumes raros e valiosíssimos. Dois livros indispensáveis são suas Confissões e as Retratações, obras autobiográficas; dentre suas obras filosóficas, podemos citar Contra os Acadêmicos; A vida feliz; Sobre a ordem; Solilóquios; A imortalidade da alma; O livre arbítrio; O mestre. Obras apologéticas de destaque são A verdadeira religião; A utilidade da fé; Sobre a fé que não se vê; e A Cidade de Deus, considerada sua opus magna. Seu livro teológico Sobre a Trindade é simplesmente essencial. Escreveu também diversos comentários aos livros do Antigo e Novo Testamento, bem como obras polêmicas, contra as diversas heresias que seus adversários apregoavam. Seus sermões também formam uma vasta coleção de livros.

Agostinho deixou um riquíssimo legado para toda a humanidade. Foi bispo de uma pequena cidade de pouca importância do norte da África e jamais teve grande influência política. Sua vasta influência, porém, vai muito além do campo da teologia. Agostinho é o pensador que dirigiu o curso da civilização num período de transição histórica. No crepúsculo da Antiguidade, quando o Império Romano cai e juntamente com ele toda uma sociedade, com seus valores, sua cultura, sua tradição; era necessário alguém para apontar o caminho, para indicar os novos rumos do pensamento, da cultura e da sociedade naquele novo e estranho mundo que estava nascendo. Agostinho foi esse homem. O pensamento ocidental deve a ele mais do que a qualquer outro nome da História. Protestantes e católico-romanos o colocam, juntamente, acima de todos os outros Doutores da Igreja. Martinho Lutero e João Calvino certamente beberam da fonte do pensamento agostiniano, e utilizaram fartamente as obras de Agostinho em seus próprios escritos. Ler Agostinho, aliás, é uma mescla de instrução e prazer, de introspecção e alegria, é um mergulho nas mais profundas águas da teologia, porém águas cristalinas, transparentes, nas quais é impossível perder-se ou errar o caminho. Entre os Apóstolos de Cristo e os reformadores Lutero e Calvino, nenhuma mente elevou-se a alturas semelhantes às alcançadas pelo Doutor da Graça.

Isso tudo porque na mente, na filosofia e na teologia de Agostinho, Deus é o centro de absolutamente tudo. Toda a sua vida girou em torno de Deus. Em seus escritos ele nos apresenta o Deus Todo-Poderoso que nos concede a Sua graça à parte de qualquer mérito nosso - uma verdade que muitos "evangélicos" precisam urgentemente reaprender!