domingo, 31 de outubro de 2010

O DIA EM QUE O PAPA TREMEU


NO DIA 31 DE OUTUBRO DE 1517, HÁ 493 ANOS ATRÁS, UM MONGE AGOSTINIANO CHAMADO MARTINHO LUTERO AFIXA SUAS 95 TESES NA PORTA DA IGREJA DE WITTENBERG, ALEMANHA, PROTESTANDO CONTRA A VENDA DE INDULGÊNCIAS QUE OBJETIVAVA LEVANTAR FUNDOS PARA A CONSTRUÇÃO, EM ROMA, DA BASÍLICA DE SÃO PEDRO.

ESSA DATA TORNOU-SE UM MARCO NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO, SENDO COMEMORADA, A CADA ANO, COMO O DIA DA REFORMA.

MAS COMO TUDO ISSO COMEÇOU?

10 DE NOVEMBRO DE 1483 – NASCE MARTINHO LUTERO, NA PEQUENA CIDADE DE EISLEBEN, NUMA FAMÍLIA DE ORIGEM CAMPONESA MAS QUE VIVIA DO TRABALHO NAS MINAS DE COBRE. EDUCADO SOB A DURA DISCIPLINA DAQUELA ÉPOCA, CERTA VEZ APANHOU DE SUA MÃE ATÉ SANGRAR POR TER ROUBADO UMA NOZ. EM SUA ESCOLA, LEVOU 15 CHIBATADAS POR NÃO CONSEGUIR DECLINAR UM VERBO EM LATIM.

A ALEMANHA DAQUELE PERÍODO ENFRENTAVA DESOLAÇÕES E INÚMERAS DOENÇAS. A PESTE BUBÔNICA CEIFAVA INÚMERAS VIDAS, MATANDO CIDADES INTEIRAS. UM QUARTO DA POPULAÇÃO INFANTIL MORRIA ANTES DOS 05 ANOS DE IDADE.

SOMENTE HAVIA UM CONSOLO: A IGREJA E SUA PROMESSA DE UM PARAÍSO.

TAL PROMESSA HAVIA TRANSFORMADO A IGREJA NA INSTITUIÇÃO MAIS PODEROSA DO MUNDO. MAIS RICA DO QUE OS REIS, MAIS PODEROSA DO QUE OS IMPERADORES – MAS TAMBÉM TIRÂNICA E DESESPERADAMENTE CORRUPTA.

A GRANDE QUESTÃO PARA O HOMEM DAQUELES TEMPOS ERA: “COMO POSSO SER SALVO?”. LUTERO TAMBÉM VIVIA ANGUSTIADO COM ESSA QUESTÃO. JESUS CRISTO ERA APRESENTADO COMO UM JUIZ TERRÍVEL, PRONTO PARA ABATER COM SUA ESPADA OS PECADORES. O ÚNICO CAMINHO SEGURO ERA APROVEITAR TODOS OS RECURSOS QUE A IGREJA OFERECIA – SACRAMENTOS, PENITÊNCIAS, INDULGÊNCIAS, PEREGRINAÇÕES, A INTERCESSÃO DOS SANTOS, ETC – PARA TENTAR OBTER A SALVAÇÃO E A VIDA ETERNA. COMO MUITOS OUTROS EM SEU TEMPO, LUTERO EXPERIMENTAVA VIVIDAMENTE O “TERROR AO SAGRADO”.

ESTUDIOSO DEDICADO, EM 1502 ELE RECEBE O GRAU DE BACHAREL EM ARTES E EM 1505 O DE MESTRE EM ARTES. SEU PAI DETERMINARA QUE ELE DEVERIA ESTUDAR DIREITO, MAS EM JULHO DE 1505, DURANTE UMA VIAGEM, FOI SURPREENDIDO À NOITE POR UMA TERRÍVEL TEMPESTADE. RELÂMPAGOS RISCAVAM O AR. UM RAIO CAIU A POUCOS METROS DE LUTERO, LANÇANDO-O AO CHÃO. PROSTRADO DE JOELHOS, CLAMOU: “SANTA ANA, AJUDE-ME! SE ME SALVARES, TORNAR-ME-EI MONGE!”

O HOMEM QUE ASSIM INVOCAVA UMA SANTA MAIS TARDE REJEITARIA O CULTO AOS SANTOS. AQUELE QUE ACABAVA DE PROMETER TORNAR-SE MONGE MAIS TARDE RENUNCIARIA AO MONASTICISMO. LEAL FILHO DA IGREJA CATÓLICA, MAIS TARDE ABALARIA AS BASES DO CATOLICISMO. SERVO DEVOTO DO PAPA, MAIS TARDE IDENTIFICARIA OS PAPAS COM O PRÓPRIO ANTICRISTO.

TRÊS SEMANAS DEPOIS MARTINHO LUTERO ENTROU NO MOSTEIRO DA ORDEM DE SANTO AGOSTINHO EM ERFURT. EM 1507 FOI ORDENADO MONGE E NO MESMO ANO CELEBROU SUA PRIMEIRA MISSA. AQUELA MISSA FOI UMA EXPERIÊNCIA EXCRUCIANTE PARA LUTERO, ATERRORIZADO POR ESTAR DIANTE DA DIVINDADE – ELE, UM PECADOR, OUSAVA CONSAGRAR A HÓSTIA SAGRADA! NAQUELE TEMPO CRIA-SE QUE O HÁBITO DE MONGE ERA UM “SEGUNDO BATISMO” QUE PERDOAVA OS PECADOS; LUTERO, PORÉM, NÃO CONSEGUIA AQUIETAR SUA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA, QUE O ACUSAVA DIANTE DO DEUS TERRÍVEL DE SANTIDADE E JUSTIÇA. JEJUAVA POR VÁRIOS DIAS SEGUIDOS, SE AUTO-FLAGELAVA, PRATICAVA INÚMERAS PENITÊNCIAS, MAS SEMPRE E SEMPRE CONTINUAVA SENTINDO A MANCHA TERRÍVEL DO PECADO EM SUA CONSCIÊNCIA. “COMO POSSO SER SALVO?” ERA DEVOTO DE VÁRIOS SANTOS: CONFESSAVA-SE POR MAIS DE SEIS HORAS SEGUIDAS, REMOENDO CADA PEQUENO DETALHE DE SEUS ATOS E PENSAMENTOS, EM BUSCA DE PERDÃO. COMO UM HOMEM PODERIA SUPORTAR A PRESENÇA DE DEUS, A MENOS QUE FOSSE SANTO?

EM 1510-1511 SUA ORDEM O ENVIOU A ROMA A NEGÓCIOS. LÁ ELE TESTEMUNHOU A CORRUPÇÃO E A LUXÚRIA DA IGREJA ROMANA. FICOU CHOCADO COM A LEVIANDADE E IMORALIDADE DOS SACERDOTES ROMANOS. ELES PRÓPRIOS COSTUMAVAM DIZER QUE “SE EXISTE UM INFERNO, ROMA ESTÁ CONSTRUÍDA SOBRE ELE”.

EM 1511 LUTERO FOI TRANSFERIDO PARA A UNIVERSIDADE DE WITTENBERG. SEU LÍDER ESPIRITUAL, STAUPITZ, ACREDITAVA QUE LUTERO PODERIA VENCER SEUS MEDOS CASO ESTUDASSE A BÍBLIA, E EM WITTENBERG PRECISAVAM DE UM PROFESSOR. AO ENTRAR EM CONTATO COM AS ESCRITURAS, A FIM DE PREPARAR SUAS AULAS, LUTERO DEPAROU-SE COM A AFIRMAÇÃO DE PAULO EM ROMANOS 1.17: “O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ”. ISSO O CONVENCEU DE QUE SOMENTE PELA FÉ EM CRISTO ALGUÉM PODE TORNAR-SE JUSTO DIANTE DE DEUS. O ESTUDO DA BÍBLIA O LEVOU A CRER SOMENTE EM CRISTO PARA A SUA SALVAÇÃO.

EM 1517 O MONGE DOMINICANO TETZEL COMEÇA A VENDER INDULGÊNCIAS NA ALEMANHA, PARA SUPRIR O PAPA LEÃO X DE RECURSOS A FIM DE PAGAR A GIGANTESCA SOMA DE DINHEIRO QUE ELE HAVIA EMPRESTADO AOS BANQUEIROS ALEMÃES FUGGER. LEÃO X QUERIA CONSTRUIR A BASÍLICA DE SÃO PEDRO, E QUERIA QUE A MESMA FOSSE MAIOR E MAIS PORTENTOSA DO QUE O ANTIGO PARTENON GREGO. TETZEL AFIRMAVA QUE AS INDULGÊNCIAS PODERIAM PERDOAR QUAISQUER PECADOS E QUE A CRUZ ERGUIDA COM O BRASÃO DE LEÃO X TINHA O MESMO PODER QUE A PRÓPRIA CRUZ DE CRISTO. ELE AFIRMAVA: “NO INSTANTE EM QUE UMA MOEDA TILINTA NO FUNDO DO COFRE, UMA ALMA ESCAPA DO PURGATÓRIO!”

AQUILO FOI DEMAIS PARA O RECÉM-CONVERTIDO MARTINHO LUTERO. EM 31 DE OUTUBRO DE 1517 ELE AFIXA 95 TESES NA PORTA DA IGREJA DE WITTENBERG. NELAS, EM LATIM, CONDENA O SISTEMA DE INDULGÊNCIAS E DESAFIA A TODOS PARA UM DEBATE SOBRE O ASSUNTO. A TRADUÇÃO PARA O ALEMÃO E A PUBLICAÇÃO DAS 95 TESES ACABAM POR TIRAR A DISCUSSÃO DO AMBIENTE ACADÊMICO E PRECIPITAR OS ACONTECIMENTOS.

EM JULHO DE 1519 LUTERO É CONVOCADO PARA DEBATER COM O REPRESENTANTE PAPAL, JOHN ECK. SOBREVIVE GRAÇAS AO APOIO DA NOBREZA ALEMÃ, PARTICULARMENTE DO PRÍNCIPE FREDERICO, ELEITOR DA SAXÔNIA E RESPONSÁVEL PELA UNIVERSIDADE DE WITTENBERG.

EM 1520 PUBLICA SUAS OBRAS APELO À NOBREZA GERMÂNICA, O CATIVEIRO BABILÔNICO E SOBRE A LIBERDADE DO HOMEM CRISTÃO. EM JUNHO O PAPA LEÃO X PROMULGOU A BULA EXSURGE DOMINE, QUE RESULTOU NA EXCOMUNHÃO DE LUTERO. AS OBRAS DE LUTERO SÃO QUEIMADAS EM ROMA. LUTERO QUEIMA A BULA PAPAL NA ALEMANHA.

EM NOVO CONCÍLIO, EM 1521, LUTERO NOVAMENTE RECUSA A RETRATAR-SE. LEVADO POR SEUS AMIGOS, CONTRA A SUA VONTADE, PARA O CASTELO WARTBURG, ONDE PERMANECEU ESCONDIDO ATÉ 1522, LUTERO ESCAPOU DA FÚRIA ASSASSINA DA IGREJA ROMANA.

EM SEU EXÍLIO EM WARTBURG LUTERO TRADUZIU A BÍBLIA PARA O ALEMÃO, A FIM DE QUE O POVO FINALMENTE TIVESSE ACESSO ÀS ESCRITURAS. ENQUANTO ISSO, SEUS ALIADOS NÃO PERDIAM TEMPO, LEVANDO ADIANTE A OBRA DA REFORMA. EM 1521 SAI A PUBLICAÇÃO DA OBRA LOCI COMMUNES, DE PHILLIPPE MELANCHTON. NELA, MELANCHTON REJEITOU A AUTORIDADE DA IGREJA ROMANA E DOS CONCÍLIOS, ESTABELECENDO ACIMA DE TODOS A BÍBLIA COMO AUTORIDADE FINAL PARA OS CRISTÃOS.

A BÍBLIA ALEMÃ DE LUTERO FOI FINALMENTE PUBLICADA EM 1534. FOI A PRIMEIRA BÍBLIA NO VERNÁCULO DO POVO ALEMÃO, E SERVIU DE MARCO PARA A PADRONIZAÇÃO DA LÍNGUA.

NA ESTEIRA DE LUTERO VIRIAM OUTROS REFORMADORES, COMO ULRICH ZWINGLIO E JOÃO CALVINO (AMBOS NA SUÍÇA), JOHN KNOX (NA ESCÓCIA) E OUTROS. DEPOIS VIRIAM OS ANABATISTAS E SUA REFORMA RADICAL, CUJO LÍDER DE UM DOS PRINCIPAIS GRUPOS FOI MENNO SIMMONS (OS MENONITAS TÊM ESSE NOME EM HOMENAGEM A ELE).

LOGO A REFORMA ESPALHOU-SE POR OUTROS PAÍSES DA EUROPA, COMO HOLANDA E MESMO A INGLATERRA, ONDE POR QUESTÕES MERAMENTE PESSOAIS O REI HENRIQUE VIII ROMPEU COM O PAPA E TORNOU-SE O CHEFE DA IGREJA INGLESA, DANDO ORIGEM AO ANGLICANISMO.

E NA HOLANDA DO SÉCULO XVII, UM GRUPO DE REFUGIADOS INGLESES DEU INÍCIO A UM MOVIMENTO DE FÉ QUE DARIA ORIGEM, POSTERIORMENTE, À IGREJA BATISTA. OS PRIMEIROS BATISTAS A PRATICAR O BATISMO POR IMERSÃO FORAM OS BATISTAS REFORMADOS (CALVINISTAS) INGLESES, QUE SE CONGREGARAM A PARTIR DE 1633.

OS PRINCÍPIOS DA REFORMA (CINCO SOLAS):

SOLA FIDE – SOLA GRATIA – SOLA SCRIPTURA – SOLUS CHRISTUS

SOLI DEO GLORIA

(SOMENTE A FÉ – SOMENTE A GRAÇA – SOMENTE AS ESCRITURAS

SOMENTE CRISTO – GLÓRIA SOMENTE A DEUS)

A REFORMA SURGIU DA DESCOBERTA DE UM HOMEM, E POSTERIORMENTE DA DESCOBERTA DE MUITOS POVOS, DO PODER DA PALAVRA DE DEUS – A DESCOBERTA DA BÍBLIA. HOJE, 493 ANOS DEPOIS, PRECISAMOS REFLETIR SOBRE O NOSSO PAPEL NO CENÁRIO RELIGIOSO CONTEMPORÂNEO. PRECISAMOS DE UMA NOVA REFORMA, QUE NOS LIBERTE DA TIRANIA E DA OPRESSÃO DOS MERCENÁRIOS RELIGIOSOS E DA IGNORÂNCIA DE SEUS SEGUIDORES. UMA PARCELA SIGNIFICATIVA DA IGREJA EVANGÉLICA, NESTE ALVORECER DO SÉCULO XXI, DEMONSTRA ESTAR TÃO CORROMPIDA QUANTO O CATOLICISMO ROMANO DO SÉCULO XVI. PRECISAMOS DE NOVOS LUTEROS, NOVOS CALVINOS, NOVOS REFORMADORES QUE TENHAM A CORAGEM DE SE POSICIONAR E DE MOSTRAR AO MUNDO, MAIS UMA VEZ, O PODER E A AUTORIDADE DA PALAVRA DE DEUS, A BÍBLIA SAGRADA.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O QUE UM CONFESSOR TEM A NOS ENSINAR SOBRE A CORAGEM? RICHARD WURMBRAND E A IGREJA PERSEGUIDA, ONTEM E HOJE

O Rev. Richard Wurmbrand foi ministro do Evangelho e passou quatorze anos como prisioneiro dos comunistas, torturado em sua própria terra, a Romênia. Os guardas tentaram forçá-lo a confessar que pertencia a uma rede de espionagem imperialista, foi açoitado, torturado e obrigado a ingerir drogas. Apesar de tudo ele resistiu e ficou firme. Passou dois anos na “cela da morte” – assim chamada por não ter voltado ninguém dali com vida.
Este notável cristão tem muito a nos dizer hoje sobre fé e coragem; o interessante é que, no entanto, que muito pouco hoje se fala sobre ele. Alguns teólogos dogmáticos afirmam que a história não é cíclica, o que discordo, pois o próprio escritor de provérbios mui sabiamente informa sentenciando: “o que é já foi o que há de ser também já foi; Deus fará renovar-se o que já foi” (Ec 3.15); “4Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre. 5Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo. 6O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos. 7Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr. 8Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir. 9O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. 10Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós” (Ec 1.4-10).
Os rumores que têm inquietado os brasileiros hoje, inquietaram muitos cristãos sinceros no passado, pessoas que tiveram que lutar contra um autoritarismo e mordaça imposta pelo sistema dominante.
Já desde a aurora do Cristianismo havia essa tensão, basta dar uma pequena olhada nos escritos dos apologistas dos primeiros dois séculos, que tentavam dissuadir os imperadores e as autoridades de sua loucura contra a verdade do evangelho.
No obscuro período da Era das Trevas, igualmente poucas vozes se alçavam contra um descalabro de perversão intolerante de pensamentos diferentes e em pública manifestação de fé, podemos citar Savonarola na Itália, grande mártir poderoso na eloquência e invicto na fé; ou Huss, grande homem que foi traído por Sigismundo (retirou seu salvo conduto) ao que acabou sendo morto por ser fiel à sua consciência e a  seu amado Senhor, diz-se que morreu cantando.
Não poderia deixar de lado e estrela matutina na Reforma Protestante, seu nome: John Wycliffe que em 1380 traduz a Bíblia para a língua inglesa apesar da desaprovação da Igreja Romana. Poderia citar um sem número de outros heróis cristãos que merecem ser lembrados, mas isso seria trabalho para um livro, não para o que é proposto neste artigo sobre um mártir moderno.

Vou pular o período da Reforma, pois já escrevi sobre este tema, e o mesmo pode ser consultado neste mesmo blog, e faço um corte histórico e reporto para o período contemporâneo.
A República de Weimar foi sucateada pela política do Reich nazista, que ano após ano foi cerceando os direitos comuns e interferindo na vida do cidadão com uma ideologia de socialismo racial, tudo regado a muito dinheiro público e aparições hollywodianas, com discursos extemporâneos e inflamados, cheios de idealismo insano, profano, demagógico e preconceituoso.
Uma nação forte, precisa de um líder forte, e para isso o Reich tinha de que se orgulhar, Hitler – o salvador da pátria, o “messias” - resolveria tudo com seu plano bem descrito em “Mein Kampf” (“Minha Luta”, de 1924). Em 10 anos de guerra foram ceifadas mais de 70 milhões de vidas.
O Holocausto judeu, nos campos de concentração, é uma voz alçada aos quatro ventos do que a radicalidade de uma ideologia político-partidária é capaz de fazer, destarte todos os documentos, fotos e filmes da época, relatos de sobreviventes e todos os livros de história que foram escritos sobre o tema. Apesar de tudo isso, um sujeito da mesma estirpe de Hitler, muito menos carismático é claro, surge no paraíso dos aiatolás, o Irã, e peremptoriamente desdiz tudo o que está documentado sobre o genocídio judeu.
É de assustar que sujeitos como esse tenham relações com o Brasil, que, diga-se de passagem, está já há algum tempo flertando com totalitaristas. Por um lado estende o tapete vermelho a Mahmoud Ahmadinejad, por outro, morre de amores por Fidel Castro, ao mesmo tempo que tenta agradar Palestinos e Judeus, lê-se: gregos e troianos, tentando pacificar o mundo com uma ingenuidade forçosa e  discursos sofríveis.
Naquele período, negado por alguns que usam viseira de cavalo nos olhos, alguns vultos são dignos de nota. Karl Barth, fecundo teólogo dialético da escola neo-ortodoxa e Paul Tillich, adepto do liberalismo teológico e um de seus ícones, ambos tiveram que sair da Alemanha, pois estavam sendo perseguidos por não se encaixarem no enquadramento filosófico-ideológico do estado hitlerista, que à semelhança de um canto de sereia seduzia tanto católicos quanto evangélicos, sendo que uns e outros deveriam fazer frente à avalanche que se formava e serem os primeiros responsáveis por denunciar e sabotar aquele sistema iníquo. Todavia, capitularam. Com exceção de alguns que não dobraram seus joelhos àquele infame Baal nazista, dentre eles Dietrich Bonhoeffer, mártir, entre tantos dessa época.
Pelos idos de 1948, em outro país do Leste Europeu, mais precisamente na Romênia, residia o Rev. Richard Wurmbrand, que nos dá uma vívida imagem do que e como uma ideologia é capaz de agir. Diz ele: “a partir de 23 de agosto de 1944, um milhão de soldados russos entraram na Romênia, e logo após os comunistas assumiram o poder de nosso país. Então começou um pesadelo que fazia o sofrimento sob o nazismo parecer nada” (1). Prossegue Richard informando que a Romênia tinha uma população de dezoito milhões de pessoas e que o partido comunista tinha apenas dez mil membros, mas isso não impediu o ímpeto comunista, pois o secretário de exterior russo, chamado Vishinski, entrou no gabinete do Rei Miguel I da Romênia e esmurrando a mesa disse: “você tem que nomear comunistas para o governo!” (2).
Mas, qual é a semelhança do nazismo e do comunismo? São contrários! Não, os dois são socialismos, ao passo que o Nazismo é um socialismo de raça, o Comunismo é um socialismo de classe, mas ambos são socialismos, populistas e totalitários, será que a história não estaria se repetindo novamente de forma cíclica? Os homens não são somente responsáveis por seus pecados pessoais, mas também pecados cometidos no plano nacional (3).
Nosso Confessor prossegue: “desde que os comunistas assumiram o poder, cuidadosa e astutamente, para seus propósitos, têm seduzido a Igreja [...] quando os comunistas assumiram o poder, milhares de pastores, padres e ministros não sabiam como distinguir as duas vozes”. As vozes de que Richard se refere, são as vozes do amor e da sedução; o comunismo de seu tempo usava a voz da sedução, porém não amava, apenas usava o poder para seus sórdidos planos, exatamente como fez na Rússia, China, Coréia do Norte, Cuba e etc.
No congresso romeno, reunidas as autoridades religiosas, tanto católicas quanto protestantes, uma a uma começaram a exaltar Stalin (ateu) e declarar lealdade ao comunismo. Um padre chegou a colocar um emblema da foice e do martelo na batina e pediu para não mais o chamar de sua santidade, mas de camarada bispo (4). No lado protestante não era diferente, a foice e o martelo estavam em seus corações. A cegueira estava patente.
Wurmbrand então se levantou e discursou no Parlamento comunista, exaltando a Cristo, todo o país ouviu a proclamação do evangelho, ele pagou por isso, mas segundo o próprio Richard: valeu a pena.
O legado e as experiências desse confessor moderno devem nos fazer refletir, principalmente quanto ao maquiavelismo dos socialismos que presenciamos, que tudo fazem para chegar ao poder e depois de lá instalados, tudo fazem para se manter lá, basta dar uma olhadinha na Venezuela, Bolívia, Cuba e que Deus nos guarde de acontecer aqui no Brasil.
A sórdida dissimulação para alguns não é percebida, mas está diante de nossos olhos. Defensores do populismo vociferam contra o Cristianismo: “Calhordice, Calhordice”, e mais uma vez Maquiavél é confirmado. No entanto aqueles com uma mínima cultura podem perceber quem são os calhordas na história, bem como os covardes, que não merecem ser chamados de homens, pois ao primeiro sinal de censura capitulam.
Richard Wurmbrand, depois de sua declaração de fidelidade a Cristo, foi posto em uma cela por dois anos sem ver a ninguém, exceto seus torturadores, sua esposa foi levada para uma prisão e lá também foi torturada. Para este grande homem, que o mundo não foi digno de tê-lo, o viver era Cristo e o morrer, ganho. Sofreu, foi torturado por sua fé, que hoje alguns vendem por promessas, barganham em conchavos, esbravejam tachando-a de calhordice.
Se perguntássemos a Richard hoje, se foi difícil, certamente a resposta seria sim, muito difícil, mas ele arremataria dizendo: “Valeu apena”. Nas palavras de Billy Graham: “seu  desafio não será em vão”. Que Richard nos fale hoje.


NOTAS
(1)   WURMBRAND, Richard. Torturado por amor a Cristo. Ed. Voz dos mártires, p.14.
(2)     Ibidem.
(3)     Idem, p.15.
(4)     Idem, p. 16.