domingo, 28 de novembro de 2010

A NECESSIDADE DA IGREJA COMO INSTITUIÇÃO


Artigo original escrito por Ronald W. Kirk

Algumas coisas parecem ser tão axiomáticas que temos a tendência de aceitá-las sem reservas. Por exemplo, as Escrituras assumem claramente uma instituição chamada "igreja" como normativa. Nestes tempos em que muitos cristãos, de modo cada vez mais insistente, questionam as tradições eclesiásticas e procuram uma ortodoxia bíblica dinâmica para governar e corrigir as atividades as atividades ordinárias e extraordinárias da vida, a igreja como instituição encontra-se sob análises cada vez mais críticas. O movimento informal de "igrejas nos lares" cresce cada vez mais em popularidade. Aqui gostaríamos de analisar uma perspectiva normativa da igreja como instituição a partir de sua necessidade. A igreja institucional possui uma importância crucial, visto que governa a vida congregacional por meio de sua estrutura e de sua disciplina. A igreja, como instituição, existe para promover entre os santos uma vida centralizada no Evangelho.
Os Dois Mandamentos de Cristo estabelecem um fundamento. O amor piedoso manifesta-se em várias expressões.
Glorificar a Deus é o propósito global da Igreja. Glorificar a Deus significa colocar o enfoque apropriado n'Ele, "pois nele nos movemos, existimos e vivemos". Uma criança olha para seu pai. Quem tem sede olha para o manancial de águas. Enfocar nossas vidas em Deus, de modo agradável a Ele, é a essência do verdadeiro amor. Todo relacionamento com Deus envolve ética, nosso posicionamento diante do bem e do mal. Portanto, amar a Deus significa obedecer a Deus. E para obedecer a Deus, precisamos saber o que Ele requer de nós. Para saber o que Ele requer de nós, precisamos conhecer e entender a Sua Palavra. Para tanto, é necessária a perícia na aplicação da Palavra. Desse modo os cristãos aprendem a viver de acordo com a pureza do Conselho Revelado de Deus. Nesse sentido, a educação cristã é, antes de tudo, um estilo de vida devocional.
Deus criou o homem à Sua imagem para estabelecer um companheirismo eterno. Porém, devido à natureza humana pecaminosa, é muito difícil formar uma atitude devocional completa e prática de adoração em todas as esferas da vida. Por isso precisamos de disciplina espiritual. Em todas as coisas os cristãos devem viver, conscientemente, pela fé, além da razão ou das preferências humanas, pois nenhum outro caminho agrada a Deus. Deus requer uma vida dada como morta, completamente dedicada a Ele, sem reservas de espécie alguma.
Não obstante, o Cristianismo é mais do que uma devoção pessoal. Deus ordena a Seu povo que domine a terra, que encha a terra por meio do fruto de seu trabalho fiel. Aprendemos habilidades específicas que nos capacitam a alcançar grandes realizações, de modo que obtemos um certo domínio de nossos dons e talentos. Da mesma forma, separamos tempo para oferecer nossas vidas por meio de nossos dons e talentos, a fim de servir ao Senhor. A utilização sadia dos recursos naturais que Deus nos concedeu como expressão de amor ao próximo faz com que a coletividade se beneficie do fruto do trabalho individual. Isso também é amor. Tal é a natureza dos dons que Deus distribui aos homens, de maneira individual, segundo a Sua vontade, de modo a contribuir para a edificação de toda a comunidade. Desse modo, a produtividade econômica expressará o amor a Deus e ao próximo.
Amar ao próximo é uma prova da obra efetiva de Deus no Cristianismo. O lar é essencial como a primeira esfera de vida no Evangelho. Como todas as relações com Deus são pactuais, e como o lar é a primeira esfera de vida no Evangelho, a responsabilidade pela preparação de nossos filhos para a eternidade repousa sobre os nossos ombros. A educação cristã é essencial. Se podemos amar seriamente aqueles que convivem conosco na intimidade de nossos lares, devemos ser capazes de amar outras pessoas também. Se vencermos o egoísmo na esfera de nossos lares, poderemos vencê-lo para que possamos amar em esferas maiores. De modo inverso, se não podemos amar nossa família, qualquer tipo de "amor" que manifestemos para outras pessoas, não passará de fingimento hipócrita.
Esses são elementos mínimos que descrevem uma comunidade eclesiástica que se esforça para viver de modo agradável a Deus. Então, qual a importância da Igreja como instituição?
Consideremos primeiro o que não é a Igreja como instituição. A igreja não é um substituto para o lar e para a família. Não existe para usurpar o lugar que cabe por direito à família. Não existe para controlar as pessoas por meio de regras humanas. Não representa um sacerdócio especial ou intermediário entre Deus e os santos. A igreja não existe para vender serviços (ou ministérios). Os cristãos não existem para servir à instituição igreja, antes, a igreja, como instituição, existe para servir aos cristãos.
A igreja funciona de formas que nenhuma outra instituição ou associação humana poderá funcionar. Existe, é claro, uma distinção entre a "assembleia dos santos" e a igreja formal com suas várias autoridades e funções específicas. Aqui, o princípio bíblico de "liberdade sob a lei do Evangelho" servirá para ajudar-nos a entender a necessidade tanto da igreja como comunidade dos santos quanto da igreja como instituição. Assim como o governo civil exerce autoridade com o propósito de servir aos cidadãos, a igreja como instituição exerce autoridade sobre os santos, a fim de ajudá-los a praticar os Dois Mandamentos em todas as suas diversas expressões. Portanto, a igreja como instituição deve possuir certo poder para cumprir suas funções.
De modo que a igreja como instituição desempenha uma função governamental. Assim como o indivíduo é importante, também é importante a união pactual dos fiéis. Deus quer que Sua glória repouse sobre a humanidade até as partes mais remotas do mundo. Portanto, a igreja provê uma identidade federal para vincular o indivíduo e sua família à comunidade mais ampla dos santos. Igualmente, a igreja como instituição provê uma representação visível e federal dos santos para o resto do mundo.
Além disso, a missão do Cristianismo é imensa, e o indivíduo é intrinsecamente fraco. Deus provê instituições maiores para gerar ordem quando as instituições locais são fracas ou defeituosas. Ainda que a virtude individual seja uma meta do fundamental do Cristianismo, nossa maior força encontra-se na união cristã. A igreja oferece um apoio essencial ao indivíduo e à família em suas responsabilidades cristãs. Os homens são frágeis na luta contra o pecado. Precisamos de toda a ajuda possível na luta contra nossa natureza pecaminosa. Por exemplo, Deus nos deu primeiro o Sabbath e depois o Domingo - o Dia do Senhor - para nos ajudar a fazer duas coisas que achamos difíceis de concretizar: o descanso e a adoração coletiva. Devido à sua importância e comodidade natural, o lar pode oferecer uma formidável resistência contra o mero fato de reunir-se com outros companheiros crentes. Dessa forma, a igreja formal provê aquela estrutura e disciplina necessárias para nos ajudar a praticar as coisas de Deus dentro e fora de nosso lar. A disciplina baseada na fé batalha pelo amor perfeito.
A igreja formal existe para manter e propagar a pureza do Evangelho. Os pastores (ou presbíteros) são homens com um chamado, com dons e preparação especiais para servir ao povo de Deus. A Igreja, por muito tempo, tem ostentado corretamente a posição de detentora dos oráculos de Deus. Os presbíteros governam e são capacitados para o ensino. Não que retenham sacerdotalmente a Palavra ou a dispensem "ex cathedra". O mestre cristão pratica o cuidado constante para ser achado fiel em seu tratamento e distribuição da verdade. Isso não quer dizer que a congregação não pode aprender de modo independente. De fato, parte do trabalho pastoral é educar no uso das Escrituras, de modo que a igreja não seja independente de seus oficiais. A tarefa do pastor é equipar os santos para toda boa obra, a obra do ministério cristão.
Da mesma forma existem outras funções e ministérios governamentais que pertencem à igreja como instituição. Assim como os levitas coletavam o dízimo, ministravam educação, ajudavam os necessitados e apoiavam a adoração centralizada do sacerdócio, a igreja local, igualmente, representa um armazém apropriado segundo o Novo Testamento. A igreja possui autoridade para a orientação apropriada das atividades cristãs. Isso é liderança moral. O presbitério ajuda a estabelecer uma visão local e guia a congregação para dar seu fruto apropriado. Estimula o companheirismo, o evangelismo, e vários ministérios apropriados para a comunidade local e segundo os dons da congregação. O pastor articula um apropriado modelo de vida para a congregação de acordo com a Palavra de Deus. A liderança da igreja supervisiona a ordem da adoração, estabelece os horários de reuniões, entre outras funções. Tudo isso pertence claramente aos líderes da igreja formal. Jay Adams disse que o pastor biblicamente orientado e a congregação corretamente ensinada são aptos para o aconselhamento. Em último lugar, pela necessidade de manter a pureza do Evangelho e sua paz, Deus outorgou a disciplina jurídica à igreja.
Em conjunto, a igreja como instituição provê visão, preparação e estímulo - de maneira correta - para a congregação no cumprimento de seu chamado. O ministério voluntário mútuo edifica as associações da igreja. O ministério externo serve à causa da Grande Comissão. A igreja institucional, com a sua perícia e a sua função de disciplinar e governar, é indispensável. Portanto, não abandonemos a prática da reunião e da edificação na igreja local.

Traduzido do Espanhol por F.V.S.


domingo, 21 de novembro de 2010

UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadasanti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.