quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

OS OTÁRIOS, A IDOLATRIA E A MARIOLATRIA

Recentemente um padre católico-romano chamou os protestantes de "otários" por afirmarem que podem achegar-se a Deus sem Maria. Como diz o velho ditado: "Roma, sempre a mesma!". Sempre a mesma imundície. Otários são os pobres coitados que deixam-se arrebatar pela grosseira idolatria romanista. Otários são os infelizes que depositam sua confiança e seu destino eterno em ídolos e imagens que "têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não podem ver; têm ouvidos, mas não podem ouvir, nariz, mas não podem sentir cheiro; têm mãos, mas nada podem apalpar; pés, mas não podem andar; e não emitem som algum com a garganta. Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles confiam" (Sl 115.5-8). Sim, os idólatras acabam ficando iguais a seus ídolos, tão inúteis quanto as imagens que tanto veneram. Otários são aqueles miseráveis que se encurvam diante de imagens de madeira; que se prostram diante de imagens de gesso; que acendem velas para estatuetas de barro. Otários são os reféns de uma falsa igreja, prisioneiros de um falso cristianismo, que na verdade não passa do antigo paganismo romano com um verniz pseudocristão. Roma, sempre a mesma imundície!


A estupidez é a característica marcante da idolatria. As Escrituras deixam bem claro que idolatria é coisa de tolos, ou, nas palavras do padre, de "otários". O profeta Isaías deixa isso bem claro: "Todos os que fazem imagens nada são, e as coisas que estimam são sem valor. As suas testemunhas nada veem e nada sabem, para que sejam envergonhados. Quem é que modela um deus e funde uma imagem, que de nada lhe serve? Todos os seus companheiros serão envergonhados; pois os artesãos não passam de homens. Que todos eles se ajuntem e declarem sua posição; eles serão lançados ao pavor e à vergonha. O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas; modela um ídolo com martelos, forja-o com a força do braço. Ele sente fome e perde a força; passa sede e desfalece. O carpinteiro mede a madeira com uma linha e faz um esboço com um traçador; ele o modela toscamente com formões e o marca com compassos. Ele o faz na forma de um homem, de um homem em toda a sua beleza, para que habite num santuário. Ele derruba cedros, talvez apanhe um cipreste, ou ainda um carvalho. Ele o deixou crescer entre as árvores da floresta, ou plantou um pinheiro, e a chuva o fez crescer. É combustível usado para queimar; um pouco disso ele apanha e se aquece, acende um fogo e assa um pão. Mas também modela um deus e o adora; faz uma imagem e se encurva diante dela. Metade da madeira ele queima no fogo; sobre ela ele prepara sua refeição, assa a carne e come a sua porção. Ele também se aquece e diz: 'Ah! Estou aquecido; estou vendo o fogo'. Do restante faz um deus, seu ídolo; inclina-se diante dele e o adora. Ora a ele e diz: 'Salva-me; tu és o meu deus'. Eles nada sabem, nada entendem; seus olhos estão tapados, não conseguem ver, e suas mentes estão fechadas, não conseguem entender. Ninguém pára para pensar, ninguém tem o entendimento para dizer: 'Metade dela usei como combustível; até mesmo assei pão sobre suas brasas, assei carne e comi. Faria eu algo repugnante com o que sobrou? Iria eu ajoelhar-me diante de um pedaço de madeira?'. Ele se alimenta de cinzas, um coração iludido o desvia; ele é incapaz de salvar a si mesmo ou de dizer: 'Esta coisa na minha mão direita não é uma mentira?'" (Is 44.9-20). Como é estúpida a idolatria! Como são tolos os idólatras! Como são sem entendimento todos aqueles que se prostram diante de imagens, que adoram - "veneram", segundo os padres - seres criados em vez do único Criador! Sim, a idolatria é coisa de otários.


Além de crassa estupidez, idolatria é pecado. Louvar, cultuar, adorar ou mesmo "venerar" qualquer ser que não seja o Criador, é abominável para Deus. E o Senhor deixa isso bem claro, inúmeras vezes, nas páginas da Bíblia. Eis somente algumas poucas passagens que os otários, digo, os romanistas, insistem em ignorar:


"Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o SENHOR, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus mandamentos" (Ex 20.4-6).


"Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor" (Is 42.8).


"Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos do seu coração, para a degradação do seu corpo entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém" (Rm 1.22-25).


Sim, trocaram a glória de Deus pelas imagens. Trocaram a verdade de Deus pela mentira. O louvor, a adoração e as ações de graças que somente devem ser prestados ao Deus vivo, os idólatras os entregam a seus ídolos de madeira, gesso e barro, seus "santos" e "santas", homens e mulheres mortos há muito tempo e que não podem ajudar ninguém. Somente o Senhor é o "Deus imortal" (Rm 1.23). Quão tola é a idolatria! Quem são os "otários" agora?


Certa vez, o povo da cidade de Listra tentou adorar a Paulo e Barnabé, pois os haviam confundido com os deuses Hermes e Zeus, respectivamente. Qual a resposta dos apóstolos de Cristo? "Homens, por que vocês estão fazendo isso? Nós também somos humanos como vocês. Estamos trazendo boas novas para vocês, dizendo-lhes que se afastem dessas coisas vãs e se voltem para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há" (At 14.15). A muito custo conseguiram impedir a multidão de adorá-los. De acordo com a mentalidade romanista, eles poderiam muito bem ter dito: "Homens, não nos adorem como deuses, mas podem venerar-nos como santos, acendendo velas e fazendo orações para nós, honrando-nos como homens de Deus". Ora, Paulo e Barnabé não fizeram nada disso. Ao contrário, chamaram a atenção da multidão para "o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há". Somente esse Deus é digno de receber adoração! Idolatria é loucura!


Quando João tem a "brilhante ideia" de prostrar-se diante de um anjo para adorá-lo, o anjo o repreendeu, dizendo: "Não faça isso! Sou servo como você e como os seus irmãos que se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus!" (Ap 19.10). Os romanistas prostram-se até mesmo diante de imagens de anjos, acendem velas para eles também. Adorem a Deus, queridos! Quão insensata é a idolatria! Diante da atitude de Paulo, Barnabé e do anjo que repreendeu a João, que são os "otários" agora???


Os católico-romanos insistem em afirmar que não "adoram", apenas "veneram" os santos. Pergunto: qual a diferença? Na prática, qual a diferença? Quando um devoto acende sua vela,  se ajoelha diante de uma imagem, e "reza" para aquela entidade, agradecendo, pedindo, suplicando, louvando e elogiando, por acaso - pergunto - isso não é o mesmo que adorar? Quando um católico-romano diz que confia em Jesus e em Maria para a sua salvação, não está trocando a verdade de Deus pela mentira, e glorificando um ser criado em lugar do Criador? Honestamente...


Sim, idolatria é estupidez. Tendo a Bíblia, insistem em suas práticas antibíblicas. A Palavra de Deus declara claramente que "há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus" (1Tm 2.5). Nada de outros mediadores, nada de "co-redentora", nada de "medianeira"! Há um só mediador, Jesus Cristo. A Bíblia é clara. Quão tola é a idolatria!


A idolatria, quando aplicada especificamente a Maria, é conhecida como mariolatria. É um dos pecados preferidos dos romanistas, sem dúvida. "Nada sem Maria", dizem, sentindo-se orgulhosos de sua afronta a Deus. Mas, o que a própria Maria disse?


Ao ser informada pelo anjo Gabriel de que seria a mãe do Messias, Maria respondeu com um maravilhoso cântico, conhecido como Magnificat. Veja como Maria começou o cântico:


"Minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Lc 1.46,47, ênfase acrescentada). "Meu Salvador!". Maria declara que Deus é o seu Salvador. Quem precisa de salvação? Por acaso não são os pecadores que precisam de salvação? Aqui cai por terra toda a estapafúrdia mitologia romanista sobre Maria. Aqui é desmascarada a insensatez da mariolatria. Quão tola é a idolatria! Quem são os otários agora???


Se Maria fosse tão importante como dizem os romanistas, será que a Bíblia não faria menção  disso? Se fosse correto adorar, digo, "venerar" Maria e os santos e as santas e os anjos, etc, será que a Bíblia não nos daria instruções para fazê-lo? Quão tola é a idolatria!


Os romanistas ainda acusam, tola e ingenuamente, os protestantes de "odiar" Maria. Como poderíamos odiar a mãe de nosso Senhor Jesus Cristo? Maria foi uma serva de Deus, uma mulher corajosa (ao aceitar tornar-se a mãe do Messias, sabia que sua vida estaria em perigo) e um exemplo de piedade cristã. Não odiamos Maria, pelo contrário: nós, protestantes, honramos a verdadeira Maria, a Maria da Bíblia e da História. Quem odeia Maria são aqueles que a substituíram por uma lenda antibíblica e que agora rendem a glória devida somente a Deus a uma fraude que leva o nome de Maria. Quão estúpida é a idolatria!


Quem são os "otários" agora?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

LIÇÕES DE UM VERDADEIRO APÓSTOLO

"Porque me parece que Deus nos colocou a nós, os apóstolos, em último lugar, como condenados à morte. Viemos a ser um espetáculo para o mundo, tanto diante de anjos como de homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, mas vocês são sensatos em Cristo! Nós somos fracos, mas vocês são fortes! Vocês são respeitados, mas nós somos desprezados! Até agora estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa e trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos. Quando somos amaldiçoados, abençoamos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, respondemos amavelmente. Até agora nos tornamos a escória da terra, o lixo do mundo" (1Co 4.9-13).

"De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal. De modo que em nós atua a morte; mas em vocês, a vida.

Está escrito: 'Cri, por isso falei' (Sl 116.10). Com esse mesmo espírito de fé nós também cremos e, por isso, falamos, porque sabemos que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos, também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará com vocês. Tudo isso é para o bem de vocês, para que a graça, que está alcançando um número cada vez maior de pessoas, faça que transbordem as ações de graças para a glória de Deus.

Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno" (2Co 4.8-18).

"Não damos motivo de escândalo a ninguém, em circunstância alguma, para que o nosso ministério não caia em descrédito. Ao contrário, como servos de Deus, recomendamo-nos de todas as formas: em muita perseverança; em sofrimentos, privações e tristezas; em açoites, prisões e tumultos; em trabalhos árduos, noites sem dormir e jejuns; em pureza, conhecimento, paciência e bondade; no Espírito Santo e no amor sincero; na palavra da verdade e no poder de Deus; com as armas da justiça, quer de ataque, quer de defesa; por honra e por desonra; por difamação e por boa fama; tidos por enganadores, sendo verdadeiros; como desconhecidos, apesar de bem conhecidos; como morrendo, mas eis que vivemos; espancados, mas não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo muitos outros; nada tendo, mas possuindo tudo" (2Co 6.3-10).

Que diferença dos verdadeiros Apóstolos do Novo Testamento para esse bando medonho de "superapóstolos" e falsos apóstolos de hoje! Quanta diferença entre Paulo e os mercenários de hoje, que constróem verdadeiros impérios financeiros para si, à custa da fé, da ignorância e da ganância de multidões fanatizadas! Quanta diferença entre os Apóstolos do Evangelho de Jesus Cristo, e os "apóstolos", "patriarcas" e "bispos" do evangelho da prosperidade, um falso e mentiroso evangelho, utilizado por mercenários da fé - homens que nem de longe lembram a honradez, honestidade e abnegação de um verdadeiro Apóstolo de Jesus Cristo.

Texto bíblico utilizado: NVI.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

CULTURALMENTE DEIXADOS PARA TRÁS

Por Gary North.
Traduzido e adaptado por Fábio Vaz.

"Deixados para Trás" é uma série de livros e filmes de sucesso estrondoso, gerando mais de um quarto de bilhão de dólares em somente cinco anos. Muito dinheiro, muitos leitores, grande audiência, grandes esperanças para um pequeno produtor de filmes.

Um dos co-autores dessa série é o Rev. Tim LaHaye, autor de vários livros, dentre os quais "Temperamentos Transformados", uma espécie de "horóscopo cristão" ("antes eu era de escorpião, agora sou colérico") pseudo-psicológico, e de várias obras de cunho dispensacionalista.

A série "Deixados para Trás" é baseada no fundamentalismo dispensacionalista e na premissa de que Mateus 13 não deve ser interpretado de modo literal. Essa é uma passagem que trata com o tema do Reino de Deus na história humana. Contém muitas das parábolas de Jesus, incluindo a que trata do joio e do trigo. Essa é a parábola na qual os trabalhadores dirigem-se ao dono do campo e dizem que um inimigo semeou joio em meio ao trigo. Eles devem arrancar o joio?

"Ele respondeu: Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderiam arrancar com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro" (Mt 13.29,30).

Os discípulos de Jesus aproximaram-se dele, depois que as multidões se haviam ido, e perguntaram-lhe acerca do significado dessa parábola.

"Ele respondeu: Aquele que semeou a boa semente é o Filho do homem. O campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno, e o inimigo que o semeia é o diabo. A colheita é o fim desta era, e os encarregados da colheita são anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim desta era. O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz cair no pecado e todos os que praticam o mal. Eles os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, ouça" (Mt 13.37-43).

Jesus foi absolutamente claro: não haverá separação coletiva entre pecadores e santos na história. Somente no fim dos tempos haverá uma separação corporativa: ovelhas e bodes, trigo e joio, salvos e perdidos, os que guardam o pacto e os que não guardam. Mas até então a separação é somente institucional e confessional, não física nem corporativa. 

Até 1830 a Igreja Cristã ensinou universalmente a doutrina da não-separação na história. Mas em 1830 uma pequena seita inglesa fundada por Edward Irving proclamou uma nova doutrina. A Igreja escapará da tribulação futura de sete anos ao ser retirada da história! A Igreja será levada ao céu num evento chamado de "arrebatamento"! (A palavra "arrebatamento" não aparece no texto grego do Novo Testamento, e muito menos a ideia de que uma futura tribulação durará exatos sete anos).

As ideias dos seguidores de Irving foram logo adotadas por John Nelson Darby, líder de uma pequena seita britânica conhecida como Os Irmãos de Plymouth. Darby levou essa doutrina aos Estados Unidos, e a partir de 1880 ela começou a ser difundida entre os fundamentalistas daquele país, em parte graças aos esforços de C. I. Scofield, autor das notas da "Bíblia de estudo" que leva seu nome. Os fundamentalistas, em sua luta contra o "Evangelho Social" e o liberalismo teológico, tornaram-se presas fáceis das concepções de Irving-Darby, aceitando a tese do arrebatamento pré-tribulacionista e pré-milenista. Tal arrebatamento acontecerá 1007 anos antes do Juízo Final, sete anos antes da volta de Cristo e do início do milênio.

Outra novidade desse esquema era que Cristo arrebataria a Igreja logo antes do início da tribulação, e três anos e meio antes do período conhecido como "grande tribulação" (que duraria, igualmente, três anos e meio, totalizando sete anos). No final da grande tribulação o Senhor retornará para estabelecer Seu reino de mil anos. O pré-milenismo tradicional ou histórico, ao contrário, sempre ensinou que Cristo retornará somente no fim da tribulação (um período indefinido de tempo, e não sete anos exatos) e que a Igreja passará por toda a tribulação, sem nenhum arrebatamento pré-tribulacionista. Segundo o pré-milenismo histórico, não haverá nenhum período da história humana em que a Igreja não esteja presente.

Mas para Irving e Darby, e seus seguidores, os dispensacionalistas, Jesus Cristo virá secretamente para arrebatar a Igreja e levá-la ao céu, "deixando para trás" o restante da humanidade, que enfrentará sozinha os horrores da grande tribulação. Logo o Anticristo estabelecerá um governo mundial e três anos e meio depois do arrebatamento os exércitos do Anticristo cercarão Jerusalém e matarão quase dois terços dos judeus de todo o mundo (alguém precisa avisar os dispensacionalistas que há muitos judeus em Nova York, Los Angeles, Miami, e muitos outros lugares do mundo...).

Uma razão psicológica importante pela qual os fundamentalistas norte-americanos apóiam com tanto afinco o Estado de Israel é a seguinte: a doutrina do arrebatamento pré-tribulacionista ensina que a futura perseguição aos santos será a perseguição aos judeus, não aos cristãos! Pois os cristãos já teriam sido "arrebatados".


"Deixados para Trás" é inteiramente baseado na doutrina do arrebatamento pré-tribulacionista de Darby, o que é um verdadeiro dogma para a maioria dos dispensacionalistas. A série identifica os bandidos (funcionários das Nações Unidas e dos Bancos Centrais internacionais) e os mocinhos (os cristãos irrelevantes, que desaparecem logo no início da história, deixando para trás suas roupas e pertences). Isso deixa aos não-cristãos o posto de protagonistas da história.


O filme e o livro começam com o desaparecimento instantâneo e misterioso de milhões de pessoas ao redor do mundo, todos os verdadeiros cristãos do planeta. Um desaparecimento silencioso, abrupto, inexplicável. O problema dos autores do livro é que - aparentemente - esqueceram-se de mencionar a trombeta.


Em 1Tessalonicenses 4.16,17 lemos: "Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre."


Em outra epístola Paulo escreveu: "num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados". A trombeta é mencionada nas duas passagens, sinalizando que o evento será tudo, menos secreto e silencioso. Ao contrário, será público e aberto. Ambas passagens referem-se ao mesmo evento, o retorno de Jesus Cristo, visível e manifesto a todos, jamais secreto.


Por que a voz do arcanjo e a trombeta de Deus não são mencionadas no livro e no filme? Porque a série "Deixados para Trás" fala de um arrebatamento secreto, bem ao estilo dispensacionalista. Segundo eles, todos os cristãos desaparecerão da Terra, mas ninguém ouvirá trombeta alguma, nem verá o Senhor, pois Ele virá secretamente.


Depois do arrebatamento secreto, segundo o enredo, a vida prossegue normalmente. Todos os cristãos do planeta desapareceram, mas as companhias aéreas continuam operando, os bancos continuam abertos, as redes de TV continuam transmitindo. Em suma, a sociedade continua funcionando muito bem, obrigado. A infraestrutura permanece intacta. Todos os cristãos sumiram, e a vida prossegue normalmente.


Gostaria que essa série fosse uma comédia ou uma paródia, mas o livro e o filme representam fielmente a crença dispensacionalista e fundamentalista de que o Cristianismo é socialmente irrelevante.


Os fundamentalistas veem os cristãos como não oferecendo nada socialmente relevante para o mundo, nada culturalmente importante para a civilização humana. O mundo pode se virar muito bem sem os cristãos. Nos campos da Educação, Ciência, Tecnologia, Profissões e Artes - sobretudo nas Artes - os fundamentalistas creem que os cristãos são necessariamente irrelevantes. Podemos perceber claramente essa crença em sua teoria do intervalo de sete anos entre o arrebatamento secreto da Igreja e a segunda vinda de Cristo para estabelecer o reino milenar. A mensagem é clara: a ausência dos cristãos depois do arrebatamento secreto mal será notada, porque eles mal são notados nos dias de hoje.


No filme, a única evidência da ausência dos cristãos é o número de automóveis abandonados subitamente e acidentados. Nenhum avião cai no filme - será que nenhum cristão, em todo o mundo, é capaz de pilotar um avião de passageiros?


A doutrina do arrebatamento secreto pré-tribulacionista deixou uma marca profunda no fundamentalismo norte-americano (e em seus imitadores tupiniquins). Que cristão iria desejar pagar o preço para mudar nossa sociedade, se está esperando um "arrebatamento secreto" a qualquer momento, que o livrará de todos os problemas do mundo? Depois disso, o Anticristo herdará a terra por sete anos. Por que, então, sacrificar-se para melhorar a sociedade, se ela cairá inevitavelmente nas mãos dos descrentes e do grande inimigo de Deus?


A Bíblia ensina justamente o contrário: "O homem bom deixa herança para os filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é armazenada para os justos" (Pv 13.22). Mas a doutrina dispensacionalista do arrebatamento secreto insiste em que a riqueza dos justos ficará para os ímpios. Então, para que trabalhar toda uma vida a fim de construir algo que ficará "para trás", nas mãos dos descrentes? Para que melhorar uma sociedade condenada à ruína?


O protestantismo fundamentalista é radicalmente orientado para o presente, para o aqui e agora, porque não vê esperança no futuro da nação. Por isso, na maioria dos casos, nos Estados Unidos o protestantismo fundamentalista é claramente identificado com as classes economicamente menos produtivas.


Alguém que não tem fé no futuro de seu legado a longo prazo provavelmente não se preocupará em economizar, nem trabalhará longas horas, arduamente, para fundar e desenvolver um negócio, nem dedicará longos anos para obter educação superior, nem fará qualquer outra coisa que envolva sacrifícios a longo prazo, exceto, talvez, missões no estrangeiro. Porque tal pessoa não espera nada de bom para o futuro.


Ludwig von Mises argumentou que as pessoas imediatistas não se importam em pagar juros altos e pouco interesse têm por economizar ou poupar. Disse ainda que as sociedades imediatistas, sem interesse pelo futuro, experimentam escassa formação de capital e baixo crescimento econômico. O resultado é que são "deixadas para trás".


Finalizo este texto com um versículo da Bíblia. Deve ser aplicado em mais de um sentido.


"Se a trombeta não emitir um som claro, quem se preparará para a batalha?" (1Co 14.8).


Cultural, intelectual e politicamente, os fundamentalistas norte-americanos adeptos do dispensacionalismo foram "deixados para trás". Eles têm feito seus melhores esforços para não deixar nada de valor para trás. Estão comprometidos teologicamente com a irrelevância cultural que o dogma dispensacionalista lhes impõe. Culturalmente ouviram o som incerto de uma trombeta errada.




Gary North é autor de uma série de onze volumes chamada "Um Comentário Econômico da Bíblia". A série pode ser baixada gratuitamente (em inglês) no site do autor: www.garynorth.com.


Fonte:


Hombre Reformado.
http://www.hombrereformado.org/culturalmente-dejado-atras