sábado, 18 de dezembro de 2010

LUGAR PARA CRISTO

Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano. Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galiléia para a Judéia, para Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se, com Maria, que lhe estava prometida em casamento e esperava um filho. Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2.1-7, NVI).

No conforto e na segurança de seu luxuoso palácio em Roma, a esplêndida e poderosíssima capital do mundo, o Imperador Otávio Augusto decidiu ordenar que, de tempos em tempos, um censo seria realizado a fim de conhecer o número de seus súditos – milhões e milhões de pessoas que viviam sob a égide da maior potência da História, debaixo da proteção de César. Um a um, os povos conquistados – egípcios, gregos, sírios e muitos outros – foram sendo recenseados. Chegou a vez, igualmente, do povo judeu. Todos viviam sob a Pax Romana, uma paz política e social forçada pelas legiões. Todos podiam contar com a mão protetora de César – desde que mantivessem o pagamento dos tributos em dia, é claro.

Longe, muito longe de Roma, numa aldeiazinha da Galiléia, de nome Nazaré, um casal preparou-se para a jornada rumo ao sul, rumo ao povoado de Belém, lar dos ancestrais de José. A jovem estava grávida, prestes a dar à luz – mas a ordem do César não podia esperar. Belém – “casa do pão” em hebraico – a cidade natal de Davi, a cidade onde Ruth passeara recolhendo espigas nos campos de Boaz. Como descendente da família de Davi (a “casa” de Davi, isto é, sua dinastia ou linhagem), José deveria alistar-se naquela cidade, juntamente com sua jovem esposa. Lucas utiliza uma expressão que a NVI traduz por “prometida em casamento”. O noivado judeu tinha o peso do compromisso de um casamento, porém, naquela época eles já estavam oficialmente casados, visto que Maria estava prestes a dar à luz. De qualquer modo, Mateus nos informa que José “não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho” (Mt 1.25). O nascimento virginal de Jesus é um dos pilares da fé cristã, e fartamente documentado nos escritos do Novo Testamento.

A viagem de Nazaré a Belém – uns 140 quilômetros - não deve ter sido fácil para eles, especialmente para Maria, em seu estado. Nem conforto nem segurança para eles, enquanto venciam quilômetro a quilômetro a distância que precisavam percorrer. Certamente foi com uma sensação de alívio que puseram os pés na cidade.

Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê. Lucas faz questão de mencionar o fato de que Jesus nasceu em Belém. Não poderia ser em qualquer lugar; mais de 750 anos antes, esse nascimento já havia sido profetizado pelo profeta Miquéias (Mq 5.2). O Messias nasceria na cidade de Davi. O Pão da Vida nasceria na casa do pão. E no tempo certo: o Deus eterno é o Senhor da História. Jesus nasceu no tempo determinado por Deus (Gl 4.4). Ele sempre age no tempo certo, inclusive em nossas vidas. O tempo é d’Ele, não nosso.

Nasceu, então, o primogênito de Maria. Nunca é demais ressaltar a importância dessa palavra. Jesus é o unigênito do Pai, mas o primogênito de Maria – seu primeiro filho. Ela teve outros filhos, com José, após o nascimento de Jesus, quando eles começaram a ter um relacionamento normal de marido e mulher. O Novo Testamento menciona várias vezes os irmãos de Jesus (Mt 12.46,47; Mc 3.31,32; Lc 8.19,20; Jo 2.12; 7.3,5,10; At 1.14), inclusive citando seus nomes (Tiago, José, Simão e Judas [Mt 13.55], sendo que o primeiro e o último são os autores das epístolas neotestamentárias que levam seus nomes). Suas irmãs também são mencionadas (Mt 13.56). José e Maria, como todo casal daquela época e cultura, tiveram muitos filhos! A “explicação” católica romana, de que os “irmãos” de Jesus na verdade eram seus primos, só pode ser mantida pela cegueira dos dogmas fabricados pelo Vaticano. Tanto a gramática quanto a hermenêutica e a exegese proclamam em alto e bom som que Maria teve outros filhos além de Jesus.

Mas onde, exatamente, Jesus nasceu? Maria o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Viajantes cansados, vindos de várias partes da Judéia e dos arredores, provavelmente lotavam as estalagens. Ou, talvez, a explicação seja um pouco mais cruel; afinal, a frase de Lucas é ambígua: não havia lugar para eles na hospedaria. Gente mais importante tinha a primazia; afinal, não somente judeus deveriam estar de passagem em Belém para o censo: soldados e funcionários romanos também. João observa que Jesus veio para o que era seu, mas os seus não o receberam (Jo 1.11). Nosso Senhor foi rejeitado desde o seu nascimento. O mundo não o queria. Ele veio para sofrer. Sofreu desde o seu nascimento. Nasceu num estábulo. Foi colocado numa manjedoura – o lugar onde os animais comiam. Porque não havia lugar para Ele. César Augusto, em seu luxuoso palácio, governava o vasto império romano, o mundo conhecido, civilizado, enquanto o Senhor – o verdadeiro Senhor do mundo – nascia num estábulo. Desde o nascimento, e por toda a sua vida, Ele foi desprezado, e rejeitado pelos homens, foi um homem de dores e experimentado no sofrimento (...) foi desprezado (cf. Is 53.3). O Rei do universo nasceu num estábulo, não num palácio.

Sua vida inteira foi assim – uma vida de sofrimento e rejeição. Ele declarou certa vez a um escriba impetuoso: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8.20). Paulo nos conta como Jesus “esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo”, e que Ele “humilhou-se a si mesmo” (Fp 2.7,8). O Apóstolo acrescenta: “Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos” (2Co 8.9). Sim, Cristo humilhou-se, esvaziou-se, se fez pobre, para que nós pudéssemos ser exaltados pelo Pai, e assim herdar as ricas bênçãos da salvação, na ressurreição.

Hoje o mundo continua rejeitando a Cristo, de várias formas. E não só o “mundo”! Atualmente está na moda um movimento ridículo, promovido por alguns “cristãos” desinformados e desalmados, que fomentam uma atitude “anti-Natal”, alegando, entre outras bobagens, que o Natal é uma festa pagã (na verdade, ele foi instituído para substituir uma festa pagã), e que ninguém sabe ao certo a data exata do nascimento de Cristo (e daí?). “Cristãos” contra o Natal! O que mais falta acontecer? No meio do carnaval de aberrações que grande parte da igreja “evangélica” atual tem se tornado, os “cristãos contra o Natal” são mais um carro alegórico, e dos mais bizarros.

Sim, o mundo rejeita a Cristo. Não há lugar para Ele no mundo dos negócios: o capitalismo é selvagem! Também não há lugar para Cristo no mundo socialista, ou comunista – que o diga a igreja perseguida na China, na Coreia do Norte e em outras republiquetas marxistas. Das escolas e universidades Cristo foi banido há muito tempo; inclusive de algumas faculdades teológicas! Mais uma “conquista” da teologia liberal. E até mesmo em algumas “igrejas” já não há sinal de Cristo – Ele foi substituído por evangelhos da prosperidade, toques de shofar, “encontros com Deus”, “apóstolos”, “patriarcas”, “bispas”, “profetas” e muitos outros showmen, mercenários, quinquilharias gospel e ensinos provenientes de mentes doentias.

Veio para o que era seu, mas os seus o rejeitaram. Como rejeitam hoje. Como até mesmo muitos dos que se dizem seus seguidores o rejeitam. Porque não há lugar para Cristo na vida dos homens e das mulheres do século XXI. Ou de qualquer outro século. Como no século I, naquela noite em Belém. Não importa. O ser humano não quer entregar sua vida ao senhorio de Cristo. Todo mundo quer ser “dono do seu próprio nariz”. Mesmo no meio eclesiástico. A fé reformada é hoje rejeitada pela maioria dos chamados “evangélicos” porque eles não aceitam, não suportam, a ideia da soberania de Deus – querem ser donos do próprio destino. Um Deus soberano não se encaixa em suas vidas, não faz parte de seus esquemas filosóficos travestidos de teologia. Querem que Deus seja simplesmente um “Papai Noel do céu”, de braços cruzados, que assiste complacentemente as “grandiosas façanhas” de seu povo, sempre disposto a atender seus pedidos fúteis e mesquinhos! A Bíblia, muito pelo contrário, revela claramente Deus como o Senhor da História, Aquele que decide, desde a eternidade, o destino de cada criatura, inclusive de cada ser humano. E a vontade que prevalece é sempre a d’Ele – não a nossa. Tiago, meio-irmão de Jesus, nos recorda: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15, ênfase acrescentada).

Mas nem todos rejeitaram o Rei dos Reis. Ao longo de toda a História, homens e mulheres deixaram tudo o que tinham para segui-lO, conforme as suas palavras: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Muitos no passado puderam, e no presente podem, repetir as palavras do Apóstolo Pedro: “Nós deixamos tudo para seguir-te” (Mc 10.28). Porque Cristo encontrou, finalmente, o Seu lugar em suas mentes, em seus corações, em suas vidas.

Que Ele encontre o lugar principal em nossas vidas, ocupando o trono de nosso coração, onde possa reinar absoluto. Entreguemos totalmente o controle de nossas vidas a Ele, e sigamos Seus passos, para o lugar onde Ele nos enviar. Que nossa oração diária seja: “Senhor, reina em mim!”. Que se cumpra em nós a instrução paulina: “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Ofereçamos a Ele nossas vidas com o mesmo entusiasmo do Apóstolo: “...Considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas (...) esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.8,13,14).

Que neste Natal, e em todos os tempos e épocas, Cristo encontre Seu lugar em nossas vidas, o lugar que lhe pertence por direito, como Salvador - e Senhor.

Feliz Natal a todos!

domingo, 12 de dezembro de 2010

AMOR VERDADEIRO


Por John MacArthur

"Tudo o que você precisa é amor", cantavam os Beatles. Se tivessem cantado sobre o amor de Deus, a declaração teria uma parcela de verdade. Mas o que a cultura popular costuma chamar de "amor" não é absolutamente o amor verdadeiro; antes, é uma fraude total. Longe de ser "tudo o que você precisa", na verdade é algo que você precisa evitar a todo custo.
O Apóstolo Paulo tratou do mesmo assunto em Ef 5.1-3: "Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus. Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça; pois essas coisas não são próprias para os santos".
A singela ordem do versículo 2 ("Vivam em amor, como também Cristo nos amou") resume toda a obrigação moral cristã. O amor de Deus é o princípio único e primordial que define completamente o dever cristão. "Tudo o que você precisa" é esse tipo de amor. Lemos em Rm 13.8-10: "Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei. Pois estes mandamentos: 'Não adulterarás', 'Não matarás', 'Não furtarás', 'Não cobiçarás', e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'. O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da Lei". Encontramos um eco desse ensino em Gl 5.14: "Toda a Lei se resume num só mandamento: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'". Igualmente, Jesus ensinou que toda a Lei e os Profetas dependem de dois princípios básicos sobre o amor, revelados no primeiro e no segundo principais mandamentos (Mt 22.38-40). O amor é "o elo perfeito" (Cl 3.14).
Quando o Apóstolo Paulo ordena que vivamos em amor, o contexto revela este conceito em termos positivos, como quando diz que devemos ser "bondosos e compassivos uns para com os outros", perdoando-nos "mutuamente, assim como Deus" nos "perdoou em Cristo" (Ef 4.32). O modelo e padrão desse amor desinteressado é Cristo, que deu a sua própria vida para salvar seu povo do pecado. "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos" (Jo 15.13). E se "Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros" (1Jo 4.11).
Em outras palavras, o amor verdadeiro é sempre um sacrifício, uma entrega, é misericordioso, compassivo, compreensivo, amável, generoso e paciente. Estas e muitas outras qualidades positivas e benévolas são as que as Escrituras associam com o amor divino (1Co 13.4-8).
Agora veremos o aspecto negativo, também demonstrado em Efésios 5. A pessoa que verdadeiramente ama o seu próximo assim como Cristo nos ama, deve rechaçar todo tipo de falso amor. O Apóstolo Paulo cita algumas dessas falsificações satãnicas. Estas incluem a imoralidade sexual, a impureza e a cobiça. A passagem continua: "Não haja obscenidade, nem conversas tolas, nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ações de graças. Porque vocês podem estar certos disto: nenhum imoral, ou impuro, ou ganancioso, que é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência. Portanto, não participem com eles dessas coisas" (vv. 4-7).
Em nossa geração a imoralidade sexual é o substituto preferido para o amor. O Apóstolo Paulo utiliza o termo grego porneia, que inclui todo tipo de pecado sexual. A cultura popular tenta desesperadamente apagar a linha que divide o amor verdadeiro da paixão imoral. Tal imoralidade é uma perversão total do amor verdadeiro, pois busca a auto-gratificação, no lugar do bem dos outros. A impureza é outra perversão diabólica do amor. Aqui Paulo emprega o termo grego akatharsia, o qual se refere a todo tipo de coisas imundas e impuras. Especificamente, Paulo tem em mente a "obscenidade", as "conversas tolas" e os "gracejos imorais" que são as características peculiares das más companhias. Esse tipo de companhia nada tem a ver com o amor verdadeiro, e o Apóstolo afirma claramente que não há lugar para essas coisas na vida cristã.
A cobiça é outra corrupção do amor que se origina no desejo narcisista de auto-gratificação. É exatamente o contrário do exemplo de Cristo quando Ele "se entregou por nós" (Ef 5.2). No versículo 5 Paulo iguala a condição de cobiça ("ganância", NVI) com a idolatria. Novamente não há lugar para essas coisas na vida cristã, e de acordo com o versículo 5, a pessoa que vive na prática desses pecados não terá "herança no Reino de Cristo e de Deus".
Tais pecados, afirma Paulo, nem mesmo devem ser mencionados entre nós, pois "essas coisas não são próprias para os santos" (Ef 5.3). Não devemos participar com eles dessas coisas (v. 7).
Ou seja, não demonstraremos o amor verdadeiro a menos que sejamos intolerantes com todas as perversões populares do amor. Em nossos dias a maioria dos ensinamentos sobre o amor ignoram esse princípio. O "amor" é definido como uma ampla tolerância a respeito do pecado, abraçando tanto o bem quanto o mal. Isso não é amor, é apatia. O amor de Deus não é assim. A manifestação suprema do amor de Deus é a cruz, na qual "Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus" (Ef 5.2). As Escrituras explicam o amor de Deus em termos de sacrifício, expiação dos pecados e propiciação: "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1Jo 4.10). Cristo ofereceu a si próprio em sacrifício para desviar a ira de um Deus ofendido. Longe de perdoar nossos pecados com uma tolerância complacente, Deus entregou seu Filho como oferta pelo pecado, para satisfazer sua própria justiça na salvação dos pecadores. Esse é o coração do evangelho. Deus manifesta seu amor de um modo coerente com a sua santidade, justiça e misericórdia graciosa. O amor verdadeiro "não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade" (1Co 13.6). Este é o tipo de amor no qual devemos viver. É um amor que é primeiramente puro, e depois pacífico.

Traduzido do Espanhol por F.V.S.
Gentileza da Igreja Presbiteriana Ortodoxa dos Estados Unidos - Site:

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

AOS PREGADORES DA PROSPERIDADE (E AOS SEUS SEGUIDORES)

O que está acontecendo com a igreja evangélica contemporânea? De onde vêm tantos escândalos, tantos episódios lamentáveis, tanta hipocrisia, tanta ganância e iniquidade? Estamos testemunhando a falência da igreja?

Para alguns – e com toda a razão - tais perguntas podem soar exageradas, até mesmo absurdas. Ora, a igreja vai muito bem, obrigado. Não há motivo para alarme. O evangelho está sendo pregado, muitas vidas estão se prostrando aos pés do Salvador, dia a dia.

No entanto, é inegável que boa parte da igreja evangélica – e aqui tratarei especificamente da igreja brasileira – está nas mãos de enganadores, mercenários, falsos pastores, que muitas vezes assumem títulos pomposos como “apóstolos” e “bispos”, entre outros, sempre com o mesmo objetivo: enriquecer à custa da religiosidade e da ingenuidade do povo. Mas não apenas isso. Muitas vezes, igualmente, o povo que lota as “igrejas” fundadas por esses falsos mestres não é nem um pouco ingênuo. O fato é que as pessoas buscam a prosperidade material, a vida boa, as posses e as bênçãos terrenas, e certos tipos de líderes e de “igrejas” são especialmente apropriados para esse tipo de gente. Junta-se a fome com a vontade de comer: os que enganam por amor ao dinheiro e os que gostosamente se deixam enganar – por amor ao dinheiro. Estou me referindo a uma grande parcela da igreja evangélica brasileira, que já nasceu torta, que nunca foi séria, e que leva o nome “evangélica” por uma aberração cultural, não por merecimento. Esse tipo de “igreja” não é igreja, e muito menos evangélica.

Há dois mil anos atrás o Apóstolo Paulo já advertia Timóteo a respeito de falsos líderes religiosos que “têm a mente corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5). É inegável que muitos deles estão atuando hoje no Brasil! Pensam, de fato, que a vida cristã é fonte de lucro, e descaradamente apregoam suas mentiras a respeito de Deus, a respeito da Bíblia, blasfemando, corrompendo e poluindo tudo o que tocam e todos aqueles que caem em suas teias de aranha – todos os que, cativados pelas falsas promessas de saúde e prosperidade, ajudam a encher cada vez mais os seus cofres e contas bancárias. Judas, meio-irmão do Senhor, também já advertia a verdadeira Igreja a respeito desses mercenários: “Esses homens são rochas submersas (...) pastores que só cuidam de si mesmos. Nuvens sem água (...) árvores de outono, sem frutos, duas vezes mortas (...) ondas bravias do mar, espumando seus próprios atos vergonhosos; estrelas errantes, para as quais estão reservadas para sempre as mais densas trevas” (Jd 12, 13). Sim, rochas submersas, que fazem naufragar os incautos. Sim, pastores que só cuidam de si mesmos, para os quais o rebanho não passa de fonte de comida e vestimenta. Sim, estrelas errantes, que induzem os outros ao erro, a uma vida completamente errada diante de Deus e diante dos homens. O Apóstolo Pedro também advertiu a Igreja a respeito deles: “Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade” (2Pe 2.2). Sim, por causa deles, a verdadeira Igreja é difamada dia a dia, o evangelho e o próprio Nome do Senhor são blasfemados pelos homens. Pedro prossegue: “Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda”. Sempre a cobiça! “Tendo os olhos cheios de adultério, nunca param de pecar, iludem os instáveis e têm o coração exercitado na ganância. Malditos!” (2Pe 2.14). Judas concorda quanto ao destino desses falsos mestres: “Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim, buscando o lucro caíram no erro de Balaão, e foram destruídos na rebelião de Corá” (Jd 11). Afirmando ser ministros de Cristo, não passam de ministros de Mamom. Se conhecessem um pouco a Bíblia que tanto utilizam como pretexto para suas asseverações loucas e seus desvarios, saberiam que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.10) e que “Ninguém pode servir a dois senhores (...) vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6.24). Se conhecessem a Palavra de Deus, que arrogantemente ostentam em seus púlpitos mentirosos, não ensinariam seus seguidores a amar o mundo (1Jo 2.15-17). A esses falsos mestres, preletores da prosperidade, enganadores do povo, lobos vorazes, que tomem vergonha na cara enquanto ainda é tempo, e que se convertam ao verdadeiro evangelho, ao verdadeiro Cristianismo. Às pessoas que os seguem, que também criem vergonha, que também se arrependam, e que parem de correr atrás de ilusões, de promessas vazias, e que busquem ao Senhor, o Deus vivo e verdadeiro, o Deus da Bíblia, enquanto ainda é possível achá-lO.

Povo brasileiro, leia a Bíblia! Povo brasileiro, pare de buscar na religião a solução para seus problemas financeiros, e comece a buscar, incansavelmente, em Jesus Cristo a solução para o maior de todos os seus problemas – a condenação eterna devido ao pecado. Somente em Jesus Cristo estamos livres dessa condenação! (Rm 8.1). Povo brasileiro, abandone esses falsos mestres, essas falsas “igrejas”, e procure por pastores sérios, busque igrejas sérias, verdadeiras! Povo brasileiro, abandone a falsa religião, a superstição “evangélica”, e busque o verdadeiro Cristianismo, conheça a verdadeira Igreja! Povo brasileiro, pare de acreditar nos charlatães da religião e comece a ler a Bíblia!

“Busquem o SENHOR enquanto é possível achá-lo” (Is 55.6).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A PALAVRA DE DEUS: O HÁLITO DE VIDA DO TODO-PODEROSO

Jesus Cristo é a revelação maior de Deus para a humanidade. Ele é chamado, com toda a propriedade, de “Palavra de Deus”, em passagens como João 1.1,14 e Apocalipse 19.13. O autor de Hebreus chama a atenção para o fato de que Deus, “nestes últimos dias, falou-nos por meio do Filho” (1.2). Jesus é o Logos, o Verbo, a Palavra viva do Deus vivo, a revelação última e definitiva de Deus para os homens (João 14.8-10). Por isso, conhecer a Cristo é fundamental, é a vida eterna (João 17.3). Durante o tempo em que Ele andou com os Apóstolos, transmitiu a eles as grandes verdades de Deus, e Sua mensagem transformou suas vidas para sempre.

Atualmente não podemos andar com Jesus do mesmo modo que seus discípulos originais. No entanto, temos os escritos desses discípulos, que juntamente com os escritos dos Profetas do Antigo Testamento, constituem a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus para nós. Deus operou nesses homens, dirigindo-os por meio do Espírito Santo, para que registrassem as palavras de Deus para as gerações seguintes – para nós.

Paulo escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2 Timóteo 3.16). A palavra inspirada, aqui, é a tradução da expressão grega theopneustos, que significa, literalmente, “soprada por Deus”. A Bíblia é o sopro de Deus! É o fôlego de vida do Todo-Poderoso, que gera vida espiritual naqueles que a recebem. Assim como Adão tornou-se “um ser vivente” ao receber o sopro divino, assim também nós recebemos o “fôlego de vida” proveniente das Sagradas Escrituras.

Nossa tremenda responsabilidade, como Igreja, é estudar diligentemente essa Palavra, pôr em prática seus preceitos em nossas vidas e transmiti-la aos nossos semelhantes. Nas palavras de Hermann Bavinck, o grande teólogo reformado holandês do século XIX: “A Igreja não recebeu essa Escritura de Deus para simplesmente repousar sobre ela, muito menos para enterrar esse tesouro na terra. Pelo contrário, a Igreja é chamada para preservar essa Palavra de Deus, explaná-la, pregá-la, aplicá-la, traduzi-la, difundi-la no estrangeiro, recomendá-la e defendê-la – em uma palavra, fazer com que os pensamentos de Deus, revelados na Escritura, triunfem em todos os lugares e em todas as épocas sobre os pensamentos do homem. Toda a obra que a Igreja é chamada a fazer é a de ministrar a Palavra de Deus” (1). E na sua vida... a Palavra de Deus também triunfou?

NOTA

(1). BAVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2001, p. 129.