“A terceira tentativa de abordar o aspecto factual da ressurreição é a psicológica.
É a forma mais fácil e a mais aceita de descrever este elemento factual. A ressurreição é um evento interior que tem lugar na mente dos seguidores de Jesus”. (2)
“Seja Deus verdadeiro e todo o Homem mentiroso”. (3)
Introdução
Quando decidi escrever sobre este tema, me sobreveio a complexidade do assunto e de súbito fui assaltado por minha limitação. No entanto, acredito que aquilo que acreditamos ser verdade, deve ser defendida. Com a própria vida se esse for o caso.
Não acredito que seja a pessoa mais indicada para fazer uma análise da Teologia Liberal, pelo menos é assim que tratarei do assunto. Como pastor, não posso deixar de comunicar a esperança que há em mim. Mesmo que entre em conflito com algumas teologias vigentes e majoritárias no academicismo atual.
Possivelmente, muitos adjetivos impudicos posso agremiar com este artigo. Particularmente, não ligo. Fato é que o liberalismo teológico, com seu canto de sereia, já encantou muitos cristãos.
Este não tem a pretensão de ser um ensaio sobre o assunto, apenas uma avaliação pastoral de um Pastor preocupado com os rumos que alguns “teólogos” têm tomado, obviamente que a igreja sempre é impactada pela teologia vigente em seu século. no século XIX, a Teologia chamada liberal reinou, e seu legado se fez notar na América do Norte e na Europa, todavia, mesmo que tardiamente, chega ao Brasil, e os resultados aqui não deve ser diferente do visto nos outros. Que Deus nos ampare!
Precursores da Teologia Liberal
O pensamento teológico conhecido como "liberal" foi grandemente influenciado pelas seguintes correntes filósoficas principais: o Essencialismo; o Existencialismo; Iluminismo e Humanismo.
Essencialismo
O essencialismo é uma forma de entender o mundo a partir de um fundamento, um dado a priori que orienta tudo o que há, houve e haverá; uma metafísica que impõe uma presença que se manifesta mesmo em sua ausência. O essencialismo assume uma essência universal que estrutura todas as coisas, precede e define a existência. O filósofo Aristóteles chamava essa essência daquilo que move sem se mover e a tradição Judaico-Cristã apropriou-se desse conceito filosófico para nomear um ser transcendental, ou seja, Deus. O essencialismo, ou metafísica, também é conhecido como ontologia ou ontoteologia. A ontoteologia é a forma como a filosofia e a teologia estruturaram o pensamento em geral no Ocidente cristão e determina o comportamento, as formas de racionalidade, pensamento e entendimento, dando conteúdos e limites à noções amplas como lei, democracia, justiça, ética, perdão, sexualidade, etc. (2) Assim, assumir Deus como essência é colocar Deus num lugar que está fora de qualquer dúvida ou questão, anterior a tudo e que determina todas as coisas da vida. A essência – nesse caso Deus – existe por si e produz, age ou reage por seus próprios desejos. No dizer filosófico, é uma entidade autônoma, isto é, independente e auto-referencializada.
Existencialismo
O Existencialismo é sobretudo um movimento filosófico que ressalta o papel determinante da existência, da liberdade e da opção individual. Teve grande influência em diferentes escritores dos séculos XIX e XX, e não só na literatura, como também na teologia.
Sören Kierkegaard, filósofo dinamarquês do século XIX, representou um importante papel no desenvolvimento do pensamento existencialista. Kierkegaard criticou o método sistemático de filosofia racional defendido pelo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Enfatizou o absurdo inerente à vida humana e questionou a possibilidade de aplicar-se à ambígua condição humana qualquer filosofia sistemática. Em suas obras, fragmentárias, Kierkegaard explicou que cada indivíduo deveria tentar realizar um exame profundo da própria existência.
Expoente do existencialismo, Jean Paul Sartre é considerado um dos maiores representantes do movimento existencialista francês. Sua idéia de que a absoluta liberdade de escolha é essencial a uma vida autêntica influenciou muitos pensadores em todo o mundo.
O filósofo que influenciou o existencialismo, Martin Heidegger, é um dos mais importantes filósofos do século XX. Seu pensamento influenciou fortemente o existencialismo e a hermenêutica.
Como movimento filosófico e literário, pertence aos séculos XIX e XX, mas podem-se encontrar elementos de existencialismo no pensamento (e na vida) de Sócrates, na Bíblia e na obra de inúmeros filósofos e escritores pré-modernos. O primeiro a antecipar as principais inquietações do existencialismo moderno foi o filósofo Blaisé Pascal.
Temas Principais
Dada a diversidade de posições comumente associadas ao existencialismo, o termo não pode ser definido com precisão. No entanto, podem ser identificados alguns temas comuns a todos os escritores existencialistas: o principal é a ênfase posta na existência individual concreta e, consequentemente, na subjetividade, na liberdade individual e nos conflitos da opção. Foi o filósofo Sören Kierkegaard o primeiro escritor a usar o termo existencialismo, afirmando que o mais alto bem para o indivíduo consiste em encontrar sua própria e única vocação. Friedrich Nietzsche afirmou que o indivíduo tem que decidir que situações devem ser consideradas morais. Todos os existencialistas seguiram Kierkegaard, insistindo em que a experiência pessoal e o agir segundo as próprias convicções são fatores essenciais para se chegar à verdade. Asseveraram que a clareza racional é desejável onde e quando for possível, mas que os temas mais importantes da vida não são acessíveis à razão e à ciência. Apesar disso, talvez o tema de maior relevo na filosofia existencialista seja o da opção. A mais importante característica do ser humano é a liberdade de escolha. Os seres humanos não têm uma natureza imutável, ou essência, como têm os outros animais ou as plantas; cada ser humano faz opções que configuram sua própria natureza.
Kierkegaard afirmava que é fundamental para o espírito reconhecer que temos medo não só de objetos específicos, mas também de um indefinido sentimento de apreensão, que ele denominou temor. Temor que é, segundo ele, a forma que Deus tem de pedir a cada indivíduo um compromisso, adotando um estilo de vida pessoal válido. A palavra angústia, para Martin Heidegger, surge do confronto do indivíduo com o nada e com a impossibilidade de encontrar uma justificativa última para a opção que cada pessoa tem de fazer. Na filosofia de Sartre, a palavra náusea é usada para escrever o reconhecimento, pelo indivíduo, da contingência do universo.
Iluminismo
Iluminismo é o termo usado para descrever as tendências do pensamento e da literatura na Europa e em toda a América durante o século XVIII, antecedendo a Revolução Francesa. Foram empregados pelos próprios escritores do período, convencidos de que emergiam de séculos de obscurantismo e ignorância para uma nova era, iluminada pela razão, a ciência e o respeito à humanidade. As novas descobertas da ciência, a teoria da gravitação universal de Isaac Newton e o espírito de relativismo cultural fomentado pela exploração do mundo ainda não conhecido foram também importantes para a eclosão do Iluminismo.
Entre os precursores do século XVII, destacam-se os grandes racionalistas, como René Descartes e Baruch Spinoza, e os filósofos políticos Thomas Hobbes e John Locke. Na época, é igualmente marcante a fé no poder da razão humana. Chegou-se a declarar que, mediante o uso judicioso da razão, seria possível um progresso sem limites. Porém, mais que um conjunto de ideias estabelecidas, o Iluminismo representava uma atitude, uma maneira de pensar. De acordo com Immanuel Kant, o lema deveria ser “atrever-se a conhecer”. Surge o desejo de reexaminar e pôr em questão as idéias e os valores recebidos, com enfoques bem diferentes, daí as incoerências e contradições entre os textos de seus pensadores. A doutrina da Igreja foi duramente atacada, embora a maioria dos pensadores não renunciassem totalmente a ela.
A França teve destacado desenvolvimento em tais idéias e, entre seus pensadores mais importantes, figuram Voltaire, Charles de Montesquieu, Denis Diderot e Jean-Jacques Rousseau. Outros expoentes do movimento foram Immanuel Kant, na Alemanha, David Hume, na Escócia, Cesare Beccaria, na Itália, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, nas colônias britânicas. A experiência científica e os escritos filosóficos entraram em moda nos círculos aristocráticos, surgindo, assim, o chamado despotismo ilustrado. Entre seus representantes mais célebres encontram-se os reis Frederico II da Prússia, Catarina II, a Grande, da Rússia, José II da Áustria e Carlos III da Espanha. O Século das Luzes, ou Iluminismo, terminou com a Revolução Francesa de 1789, que incorporou inúmeras idéias iluministas em suas fases mais violentas, desacreditando-as aos olhos da maioria dos europeus contemporâneos. O Iluminismo marcou um momento decisivo para o declínio da Igreja e o crescimento do secularismo atual, assim como serviu de modelo para o liberalismo político e econômico e para a reforma humanista do mundo ocidental no século XIX.
Humanismo
Humanismo, em filosofia, é a atitude que se baseia na dignidade e no valor da pessoa. Um de seus princípios básicos é que os homens são seres racionais que possuem, em si, capacidade para encontrar a verdade e praticar o bem. O termo é utilizado, com frequência, para descrever o movimento literário e cultural que começou na Itália no final da Idade Média e se estendeu à Europa durante os séculos XIV e XV. Este renascimento da cultura greco-romana sublinhava o valor do ideário clássico.
I – Relativismo aplicado a Teologia
A. Nem tudo é verdade LITERAL. Há Mitos.
“Mitológica é a expressão conceptual, em que o transmundano, o divino, aparece como mundano e humano, o transcendente como imanente. Aqui, por exemplo, a transcendência de Deus é concebida como distância no espaço. Nessa expressão conceptual o culto é entendido como uma ação em que, através de meios materiais, são transmitidas forças imateriais. Por conseguinte, não se fala aqui do ‘mito’ naquele sentido moderno, segundo o qual ele nada mais significa do que uma ideologia.” (4)
“A mitologia exprime uma certa compreensão da existência humana. Para ela, o mundo e a vida humana encontram os seus fundamentos e os seus limites num poder situado além daquilo que nós podemos prever e dominar. A mitologia fala desse poder de maneira inadequada e insuficiente, na medida em que fala dele como se tratasse de um poder mundano.” (5)
II – Pressupostos Liberais
A. Os Mitos da Bíblia são resultado de uma era pré-científica.
Para Bultmann tudo isto, toda esta descrição “mitológica” é fruto da compreensão vigente de uma época pré-científica. É justamente isto que atrapalha a compreensão do homem contemporâneo das verdades bíblicas. Bultmann pergunta: “Pode a proclamação cristã esperar do ser humano de hoje que aceite como verídica a concepção mítica do universo?”. Em seguida, responde: “Isso é sem sentido e impossível. Sem sentido, pois a concepção mítica do universo não é, como tal, nada especificamente cristã, mas é simplesmente a concepção do universo de uma época passada, ainda não moldada pelo pensamento científico. Impossível, pois uma concepção do universo não é algo que se possa apropriar mediante uma resolução, mas já está configurada para o ser humano, com sua respectiva situação histórica.” (6) “Só com esforço o homem moderno consegue reportar-se a este modo de pensar...”. (7)
B. Mito e Queda.
“Tanto nos mitos extrabíblicos quanto nos mitos bíblicos o homem é considerado responsável pela Queda...”. (8)
III – Visão Preconceituosa.
A visão Liberal de mundo é a mesma de humanistas sem compromisso com Deus e sua palavra. Na tentativa de ajustar a fé cristã à razão, o liberalismo teológico acabou desistindo do autêntico Cristianismo, criando na verdade um monstro teológico, que se usássemos as palavras de Tiberius César seria: “Monstro de impiedades”.
O Apóstolo João afirmou que se todas as coisas que o Mestre fez e falou fossem escritas, não caberiam em todos os livros do mundo. Nesta forma de linguagem, ele reafirma que não escreveu tudo o que viu e ouviu, dentre essas palavras ditas pelo Senhor e que não constam nos Evangelhos, por isso são chamadas palavras “ágrafas” estaria a seguinte: “Quantas são as árvores! mas nem todas dão frutos, Quantos são os frutos! mas nem todos são bons. Quantas são as ciências, mas nem todas são úteis”. Na verdade além de não serem úteis se contradizem, e ajustar a teologia a que se acomode ao secularismo é um erro, mas por não querer mais se identificar com o carpinteiro de Nazaré, alguns decidiram se identificar com os sábios segundo o mundo, deste modo, tendo vergonha do evangelho negam o que bem entendem. Ou melhor, o que não entendem. Como diria um amigo chamado Fábio: “Teologia é coisa para crente”.
“A teologia liberal acredita que a arqueologia e a paleontologia tornam lúdico o conceito de um primeiro casal literal e de um pecado original. Procura salvar a substância da rebelião do homem, a Queda, ao torná-la simbólica, uma expressão da experiência de cada indivíduo, da auto-realização do homem e da sua alienação de Deus.”(9) “A mente secular do século XX vacila entre dois extremos, sendo que os dois resultam da rejeição do Criador e da negação da criação”.(10)
O canto do galo na teologia liberal já demonstrou o que esse sistema “parasitário” fez na Europa nos séculos XIX e início do XX e o que está para fazer aqui em Terra Brasilis, que em termos de modismos e esquisitices em se plantando tudo dá. Nas palavras de Augustus Nicodemus Lopes, o liberalismo Teológico nunca plantou igrejas, nunca aumentou o número de membros e nem a receita financeira das igrejas; antes, só conseguiu reproduzir outros liberais que por sua vez, precisavam sobreviver, o liberalismo teológico sempre teve necessidade de um hospedeiro que pudesse sugar até que o mesmo morresse drenado... O liberalismo não produz igrejas, não abre campos missionários; ele se apodera de um corpo eclesiástico, drena e depois vai buscar outro hospedeiro, e esse parasita está vindo ao Brasil dessa maneira”. (11)
O liberalismo e o método crítico já devastaram muito o campo acadêmico, e o simples questionar tal posicionamento traz sobre os chamados “confessionais” terríveis raios de críticas nada imparciais.
NOTAS
1. TILLICH, Paul. Teologia Sistemática, Ed. Sinodal, p.441.
2. Ibidem.
3. Bíblia Sagrada, Romanos 3.4.
4. R. Bultmann, Novo Testamento e Mitologia: In: Rudolf Bultmann, Crer e Compreender: Artigos selecionados, p. 20, nota 20.
5. R. Bultmann, Jesus Christ and Mythology, New York, Charles Scribner’s Sons, 1958, p. 19.
6. R. Bultmann, Novo Testamento e Mitologia: In: Rudolf Bultmann, Crer e Compreender: Artigos selecionados, p. 15.
7. R. Bultmann, Novo Testamento e Mitologia: In: Rudolf Bultmann, Crer e Compreender: Artigos selecionados, p. 18-19
8. Paul Tillich, Teologia Sistemática, p. 274.
9. Harold O. J. Brown, A Opção Conservadora: In: Stanley Gundry, ed. Teologia Contemporânea, p. 368.
10. Harold O. J. Brown, A Opção Conservadora: In: Stanley Gundry, ed. Teologia Contemporânea, p. 367.
11. LOPEZ, Augusto Nicodemos. Palestra Fiel 2006
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