sábado, 1 de maio de 2010

A HERESIA DA PREDESTINAÇÃO (Parte 2)

Confissão de Westminster
CAPÍTULO 9: DO LIVRE-ARBÍTRIO
1. Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza.
2. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus; mas era passível de mudança, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder.
3. O homem, ao cair no estado de pecado, perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; de sorte que um homem natural, inteiramente contrário a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso.
4. Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado e, somente por sua graça, o habilita a querer e a fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção ainda existente nele, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau.
5. É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só. (1)

Quando escrevi a primeira parte deste artigo, achei que receberia muitos protestos, principalmente pela forma com que escrevi, mas não foi o caso. No entanto, creio piamente que a verdade de Deus é intocável, enquanto a Bíblia existir, ninguém em sã consciência poderá colocar a predestinação em dúvida, do mesmo modo, somente um bruto irracional poderia negar aquilo que é evidente na criação, razão e na própria Bíblia – isto é, que Deus é o Senhor da História e controla tudo quanto existe e exerce domínio sobre tudo que há, seja visível ou invisível, racionais e irracionais etc...

O ensino do pasmado livre arbítrio ecoa como uma blasfêmia velada e sutil, pois quando se diz que Deus não força ninguém e que este faz o que quer Deus não interfere no livre arbítrio, somente quem Não crê na Bíblia para aceitar isso, aliás, não conhece nada nem mesmo sobre o pensamento judaico-cristão.

Um escritor chamado Clark Pinnock rompeu com o pensamento cristão indo pelo caminho “lógico” chamado livre arbítrio e então acabou negando os pressupostos peculiares à Divindade, como onisciência e onipotência. Pois se Deus sabe tudo, logicamente que isto já está firme e não mudará; como então conciliar isso com o livre arbítrio? Pinnock então resolveu anular a onisciência de Deus, passando a ensinar que Deus não sabe todas as coisas. Concernente ao homem, Deus não sabe o que o homem fará, pois se Deus soubesse, nossas ações não seriam livres.
Aqui temos também a versão tupiniquim do Teísmo Aberto ou “teologia relacional”. O seu maior proponente é o Pr. Ricardo Gondim, que chegou ao absurdo de afirmar que Deus não conhece o futuro. Essas heresias, que são férteis em solo arminiano, pois daí surgiram como conseqüência lógica do postulado arminiano, são ensinadas de forma clara, pois é dito que os eventos estão em aberto diante de Deus e dos homens, e que Deus quer ser parceiro, não é um Déspota dominador, quer que sejamos livres, como ele é livre. Tão monstruosa é esta imbecilidade que vai frontalmente contra os atributos divinos, apenas para tentar defender uma teoria estúpida como a do livre arbítrio.

Alguns católicos chamam a doutrina da predestinação de heresia, muito bem, para estes, não é a Bíblia o Juiz nos embates teológicos, mas o magistrado eclesiástico, isto é, a Igreja clériga; os menos instruídos dizem que isso (a doutrina da predestinação) é heresia de Lutero e Calvino. Falam isso, porque desconhecem o texto e o contexto bíblico, desconhecem até mesmo a história da Teologia, que teve grandes luminares como defensores da doutrina da predestinação, entre eles, o escolástico Tomás de Aquino, (Roccasecca, 1225 — Fossanova, 7 de março 1274). Tomás de Aquino foi um padre dominicano, teólogo, distinto expoente da escolástica, proclamado santo e cognominado Doctor Communis ou Doctor Angelicus pela Igreja Católica. Seu maior mérito foi a síntese do Cristianismo com a visão aristotélica do mundo, introduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto na Idade Média, na Escolástica anterior, compaginou um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas Summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: são elas a Summa Theologiae, e a Summa Contra Gentiles.

A partir dele, a Igreja medieval teve uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundiam numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão. Sobre a predestinação diz ele:

A predestinação não é uma realidade nos predestinados, mas somente no predestinador. Pois, como dissemos, faz parte da providência, ora, a providência não está nas coisas que constituem o seu objetivo, mas é uma razão existente no intelecto do provisor, segundo ficou estabelecido. Mas a execução da providência, a que se chama Governo, passivamente está nos governados e ativamente, no governador. Por isso, é manifesto que a predestinação é uma certa razão da ordem de determinados seres para a salvação eterna, existente na Mente Divina. Porém, a execução dessa ordem incumbe aos predestinados passivamente, e a Deus ativamente. Pois a execução da predestinação chama-se vocação e glorificação, conforme a Escritura (Rm 8.30): E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também glorificou. (3)
S. Tomás de Áquino.

Tomás de Aquino está absolutamente correto ao colocar a realidade da predestinação em Deus, pois toda a boa dádiva desce dos céus, Tg 1.17, do Senhor vem a nossa salvação, Jn 2.8. Não está a realidade da predestinação no homem, pois a salvação não vem de nós, se Deus esperasse para ver se creríamos nele, para então aí predestinar, a graça seria uma falácia e a salvação seria por obras, pois partiria do homem, que seria o agente ativo e Deus que espera para ver e depois reagir seria o agente passivo na salvação. Na realidade acontece o contrário, pois a salvação não vem de nós, é dom (presente) de Deus, não é por obras para que ninguém se glorie. (Ef 2.8,9).

O Apóstolo João (Jo 15.16) declara que não fomos nós que escolhemos o Senhor, mas Ele nos escolheu para darmos frutos. Se Ele nos escolheu, onde está o meu livre arbítrio aí, onde está a minha resistência diante do Todo-Poderoso que vence a minha maldade e me cativa com Sua graça irresistível?

Graça irresistível dada aos escolhidos, que dá por certa a sua salvação diante da pregação do evangelho: “Creram todos os que estavam ordenados para a vida eterna (At 13.48). A palavra grega traduzida por "ordenados", aqui, realmente significa ordenar ou destinar. Se perguntássemos a Pedro ou a algum outro cristão daqueles dias, quantos creram na pregação de hoje? A resposta seria tácita: “todos os que haviam sido destinados creram”, se fomos escolhidos para crer, e não cremos para ser escolhidos, logo, por onde está passeando o livre arbítrio?

Romanos 3.9 – 18 – Todos estão debaixo do pecado. “9Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; 10como está escrito: Não há justo, nem um sequer, 11não há quem entenda, não há quem busque a Deus; 12todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. 13A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, 14a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; 15são os seus pés velozes para derramar sangue, 16nos seus caminhos, há destruição e miséria; 17desconheceram o caminho da paz. 18Não há temor de Deus diante de seus olhos”
Paulo, com muita convicção diz-nos que todos, sem qualquer exceção estão debaixo do domínio do Pecado, visto que todos nascem pecadores, posto que o castigo pelo pecado é a morte, todos nascem mortos, no sentido bíblico mortos para tudo o que é de Deus (Rm 6.23), mas de que maneira, alguém pode ser pecador se ainda nada fez e nada compreende? Em primeiro lugar tem que ficar entendido que o pecado é por encabeçamento de Adão como o representante de toda a raça humana, e de forma mediata (2), isto é: 1. Que está em relação com outra(s) pessoa(s) ou coisa(s) por meio de uma terceira; indireto: 2 [Opõe-se a imediato (4).] 3. Filosoficamente diz-se do que é condicionado, dependente de outro (1).

Posto que Paulo diz não haver nenhum justo, nenhum sequer, onde está o nosso livre arbítrio, pois a vontade de homens injustos está acorrentada à sua própria injustiça e somente lhe satisfaz? A isso dá-se o nome de “velho homem”, ou “carne”. Então, quem sendo injusto pode amar a justiça e tornar-se justo? Há alguns que dizem que nunca mataram, nem roubaram e nem fizeram mal a ninguém, por isso se acham justos, outros ainda dizem que guardam o sábado como selo de Deus e nisso colocam suas forças como se fosse um complemento, mas deixe-me questionar tais pontos de vista agora.

Se alguém se acha justo por sua moralidade exterior ser razoável e aplica a bondade inata do homem em somente no “não fiz” então logo, as obras salvam? Já foi demonstrado que não podem ser salvos por obras e que sua “justiça” apartada de Cristo, na verdade é um trapo de imundícia (Isaías 64.6). Aqueles que pensam em ser salvos pela balança das boas obras, sem Jesus Cristo, estão irremediavelmente perdidos.

Quanto aos que colocam as suas esperanças na guarda da lei, estes nunca leram Paulo, e se o leram, foi com lentes defeituosas e míopes, pois Paulo diz que se alguém quer ser salvo pela lei, da graça caiu e está divorciado de Cristo (Gl 5.4). No pensamento de Paulo, todos estes “escapes”, isto é: a bondade inata ao homem e seu livre arbítrio, tanto quanto a sua “bondade”, são inúteis, pois o caminho da graça é para aqueles que o Pai destinou (Ef 1.5-8), posto que todos sejam pecadores e estão destituídos da graça (Rm 3.23) e que seu pagamento pelo pecado é a morte (Rm 6.23). O Evangelho afirma que por Adão entrou o pecado no mundo, e nós estávamos nele, isto é, somos seus descendentes, e ele era o nosso representante legal, logo o pecado passou a todos os seus descendentes juntamente com a morte (Rm 5.12). Onde está o livre arbítrio, pelo que foi estabelecido na Escritura?

Alguns talvez por entender errado a Bíblia, dizem que não podem crer em um Deus que destina um filho ao céu e o outro ao inferno. O erro é evidente pelos textos que estão acima, e foi exposta uma mínima fração daquilo que é dito sobre a pecaminosidade do homem. Podemos entender que Deus escolhe alguns daqueles que são contrários a Ele, estes homens como os outros são maus e seus pensamentos são maus (Gn 6), seu coração é enganoso (Jr 17.9). E não podemos mudar a nossa própria natureza, assim como o animal não pode mudar a sua (Jr 13.23).

A inclinação da carne é inimizade contra Deus (Rm 8.7,8), e o que comete pecado é servo do pecado, todos já nascem em iniquidade (Sl 51), e este nascer em iniquidade significa que o homem nasce morto espiritualmente (Ef 2.1). Somos mortos por natureza e por prática, o homem peca por que é um pecador. Então de todos estes pecadores, maus; perversos; iníquos; ímpios; imundos; é dentre estes que Deus escolhe alguns, e vence sua maldade, muda a disposição de seu coração, chamando-o com vocação eficaz. Portanto, o Senhor não escolhe dentre homens bons, mas dentre os mortos, dentre os perversos, dentre os inimigos; e os ama, e com Graça os salva, pois assim já havia determinado segundo o conselho da Sua vontade (Ef, 1.4,9,11; Cl 3.12; 2Ts 2.13).
Se estes que crêem no livre arbítrio levam seu conceito a sério, não deveriam orar a Deus implorando a Ele que salve alguém, pois segundo eles, o Senhor não viola o livre arbítrio de ninguém. Então, deveriam ajoelhar-se diante dos homens e implorar aos homens que usem seu “livre arbítrio” para crer em Deus.

O Pai deu algumas pessoas ao Filho: “todo aquele que o Pai me dá virá a mim” (Jo 6.37). Quem irá ao Senhor? Aqueles que exercem seu superpoderoso livre arbítrio? Não, irão aqueles que foram dados por Deus – então, quem é que escolhe? Até mesmo a oração de Jesus não foi por todos, mas pelos escolhidos apenas “Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste”, Jo 17.9.
Então dizem os sem posicionamento, obviamente, que o “espírito” anti-dogmático deste século contaminou alguns com incertezas até sobre aquilo que está escrito na Bíblia.

Mas a culpa é dos pastores que não instruíram suas ovelhas no reto caminho da doutrina da eleição. Alguns por medo de serem mal entendidos, outros por não verem necessidade nisso, há ainda àqueles que acham errado o conceito da predestinação. Não duvido que este seja um assunto novo para muitos, por isso insisto, deve-se ensinar todo o conselho de Deus, e em nossos dias de “evangelho” barato, de pregadores show, de mega eventos gospel, de muita música e nenhuma Palavra de Deus, é mister voltar ao Antigo Evangelho, como ele é descrito no livreto de mesmo nome de John Piper, prefaciando ele uma obra de Owen.

Não tenho a petulância de estar esgotando o assunto, nem mesmo dando uma introdução à Doutrina, deixo isso para os mais instruídos, consultem Charles Hodge e deleitem-se no que ele ensina, apaixonem-se por Dagg em sua simplicidade humilde e reverente, alegrem-se com Wayne Grudem e seus argumentos, agarrem-se a Teologia sadia com Franklin Ferreira e Allan Myatt, não desprezem a erudição de Augustos Hopkins Strong e Louis Berkhof.

Poderia ainda citar um número ainda mais ampliado, mas detenho-me neste por ora. Acima de tudo, amem a Bíblia, sejam guiados por ela, creiam nela, pois ela indica o caminho certo. Sejam bereanos: quando lhes disserem algo, vão à Bíblia para conferir se é verdade e procurem entender o texto em seu devido contexto.

Louvem a Deus por Ele ter escolhido alguns e mostrar seu amor neles, adorem-no por Ele castigar a impiedade devido ao Seu caráter santo e puro em Seu justo julgamento. Agradeçam a Ele pela salvação ser pela graça, pois de outra maneira estaríamos todos irremediavelmente perdidos, posto que todos sejam pecadores. Unamos-nos, portanto, ao coro celestial que declara glórias inefáveis ao Cordeiro (Ap 19.1-6): “1Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, 2porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. 3Segunda vez disseram: Aleluia! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos. 4Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que se acha sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia! 5Saiu uma voz do trono, exclamando: Dai louvores ao nosso Deus, todos os seus servos, os que o temeis, os pequenos e os grandes. 6Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso.”

Soli Deo Gloria

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NOTAS:
(1) Confissão de Westminster Cap.9 – Do Livre arbítrio
(2) AQUINO, Tomas de. Suma Teológica - Predestinação
(3) Dicionário Eletrônico Aurélio – verbete “mediato”.
(4) Novo Testamento Trilíngue – Grego, Português, Inglês, Ed Vida Nova

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A HERESIA DA PREDESTINAÇÃO (Parte 1)


Calvinista extremado é alguém que é mais calvinista do que João Calvino (1509 -1564), de cujos ensinos vem o termo. Visto ser possível argumentar que João Calvino não cria na expiação limitada (que cristo morreu somente pelos eleitos), segue-se que os que o fazem são calvinistas extremados [...] Os calvinistas extremados são identificados com os seguintes ensinos: Depravação total; Eleição incondicional; expiação Limitada; Graça Irresistível e Perseverança dos Santos.(1)
Norman Geisler

Deus nos escolhe para o serviço na base do caráter e não em bases pessoais. Nós nos elegemos, quando pelo poder de Cristo atingimos o padrão que ele estabeleceu.

www.adventistas.com/biz/povo.../predestinacao.htm
"Que o homem é livre para escolher ou rejeitar o oferecimento da salvação por meio de Cristo; não cremos que Deus tenha predestinado que alguns homens sejam salvos e outros perdidos" – Questions on Doctrine, pág. 23.
Adventistas do Sétimo dia
Se Beza - outro herege - ou se os puritanos tiraram as conseqüências lógicas dessa doutrina de Calvino, não há como inocentar o tirano de Genebra. Ele plantou a árvore má. Ela só podia dar os frutos que deu [...]Repito, se os desdobramentos do calvinismo foram errados, é porque a semente do erro já estava em sua heresia inicial. Na verdade, estavam já nos princípios da própria Reforma de Lutero.(2)
Orlando Fedeli.
Montfort associação cultural (Católica)

Poderia ser acrescentado um número muito elevado de citações contrárias à Doutrina da Predestinação, tanto do lado evangélico como de outras posições, a ponto desta doutrina da Reforma ser considerada como uma verdadeira heresia.
Outro dia, uma pessoa me falou que um pastor Batista havia-lhe dito que a doutrina da predestinação não é certa, o que o mesmo foi para a internet conferir, e ali achou inúmeros posts afirmando ser a predestinação uma heresia.

Os absurdos oriundos de um preparo desqualificado ficam evidentes em inúmeras citações, já em outras, nas quais as pessoas são bem instruídas, como o caso de Norman Geisler e os outros citados acima. Trata-se tão somente de uma cegueira espiritual e rebeldia declarada contra a Escritura. Até é plausível aceitar ataques de um romanista contra a doutrina da predestinação, pois para eles, a Bíblia é mais um “contrapeso” que deve ser analisado à luz da Igreja. No entanto, aqueles que dizem crer somente na Bíblia como padrão de fé e mesmo assim aceitam uma doutrina herética como a pelagiana, levada a cabo pelo americano Charles Finney e outros, é uma verdadeira boçalidade, ou ainda pelos semipelagianos que crêem no livre arbítrio, diga-se de passagem ainda, é um monstro igual ao lobisomem, famoso, no entanto ninguém nunca o viu de perto. Claro, excetuando o Pantaleão e suas estórias mirabolantes, não é verdade, Térta?

O Pantaleão se assemelha muito ao semipelagianisno: com um olho só, mentiroso e ainda por cima quer passar por herói, enquanto Terta se representa pelo pelagianismo de onde surgiu o tal livre arbítrio, como um filho da perdição.

A rebelião humana é indescritível, a ponto de negar os ensinos que são claramente encontrados na Escritura. Outros ainda preferem a “teologia do em cima do muro”, o que certamente consiste num erro crasso.

Os adventistas bebem da mesma fonte dos místicos neopentecostais ao atribuir outras coisas reveladas depois da Bíblia como sendo autoritativas, enquanto as Testemunhas de Jeová precisaram preparar um bíblia própria – viciada, defeituosa e violentada pelo “alto clero”, o corpo governante – que de tanto prever datas, mostrou-se um falso profeta, entre outras, como suas doutrinas errantes de um universo descompassado cheio de anedotas trágicas de seus ilustres eruditos da ignorância.

Antes que se levantasse Jacó Armínio, já havia ensinado o hereje Pelágio e o humanista Erasmo de Roterdã, que, aliás, admira-me muito que os defensores do livre arbítrio não usem seu tratado para defender essa abominação. A crença do livre arbítrio é um ranço de demonismo oriundo da serpente do Éden, onde foi dito ao primeiro casal que se tornariam deuses, pois é isso mesmo que a doutrina humanista do livre arbítrio advoga: um humanismo ingênuo, porém destruidor, trazendo o embuste da divindade humana, pois o homem pode decidir o seu destino e o Criador deve pacientemente esperar por ele, resignado a aceitar a vontade humana e seu pretenso livre arbítrio.

Lutero entendeu que a doutrina do livre arbítrio é totalmente oposta ao Sola Gratia, pois para que serve a graça, se através da minha própria vontade eu posso aceitar a obra de Cristo e seu benefício em meu favor? Graça é favor não merecido, mas se eu posso através do meu livre arbítrio alcançar a salvação já não há necessidade de um favor, pois pelo meu esforço consegui chegar ao céu – desta maneira Paulo mentiu dizendo que a salvação é pela graça e não por meio de obras (Ef 2.8,9) e se eu exerço o livre arbítrio para crer, isso já é obra, e o Apóstolo é taxativo e enfático ao dizer que não é pelas obras.

Assim podes ver que todas as palavras da lei estão contra o livre arbítrio, mas que também todas as palavras da promessa refutam completamente, isto é, que toda a Escritura está em desacordo com ele. Por isso vês que com essa palavra: “não quero a morte do pecador” não se visa outra coisa do que pregar e oferecer a misericórdia divina ao mundo. Essa misericórdia só é aceita com gratidão e alegria pelos aflitos e vexados pela morte, porque neles a lei já conclui seu ofício, isto é, conhecimento de pecado, aqueles porém, que ainda não experimentaram o ofício da lei, nem reconhecem o pecado, nem sentem a morte, desprezam a misericórdia prometida por essa palavra. De resto, por que alguns são tocados pela lei e outros não de modo que aqueles acolhem e estes desprezam a graça oferecida, é outra coisa, da qual Ezequiel não trata nesta passagem, em que fala da misericórdia de Deus pregada e oferecida, não daquela vontade oculta de Deus que, de acordo com Seu conselho, ordena que pessoas Ele deseja que sejam capazes e partícipes da misericórdia pregada e oferecida. Essa vontade não se deve ser investigada, mas adorada com reverência como segredo da Majestade Divina que mais se deve reverenciar, reservado unicamente a Ele e proibido a nós [...]

Certa vez quando estava cursando o primeiro semestre de Direito no RGS, na cidade de Erechim, o professor estava a falar da capacidade de cumprir a lei, e em três aulas seguidas falou do conceito do livre arbítrio. Que o ser humano cumpre ou não a lei simplesmente usando o seu livre arbítrio, no entanto, quando ele disse que levantamos predispostos e coagidos a cumprir a lei, entrou no pior pecado do Direito, a contradição, e indaguei a ele: “como pode alguém ter o livre arbítrio para decidir e ao mesmo tempo ser coagido?” Visto que para eu tomar uma decisão “de” livre arbítrio, não posso ser coagido, nem inclinado e muito menos estar pré-disposto, ou seja, nada deve me influenciar a decisão. Como reza o Aurélio quando define o termo livre arbítrio nestes termos:
Possibilidade de exercer um poder sem outro motivo que não a existência mesma desse poder; liberdade de indiferença. [Refere-se o livre-arbítrio principalmente às ações e à vontade humana, e pretende significar que o homem é dotado do poder de, em determinadas circunstâncias, agir sem motivos ou finalidades diferentes da própria ação. ] (5).

E assim está colocado também na clássica obra de Erasmo, ainda com o acréscimo que: por livre arbítrio entendemos aqui a força da vontade humana pela qual o ser humano pode aplicar-se as coisas que levam a salvação ou afastar-se delas (6). No entanto o próprio Erasmo entende que o ser humano não pode querer o bem sem uma graça peculiar (7).

Nisto erraram Erasmo, Armínio e o meu caro professor de Direito, ao atribuir ao homem uma liberdade que ele não tem. E quando questionados fogem para um canto qualquer, gaguejando sem saber o que responder, dizendo que o assunto é de pouca importância e que precisariam de mais tempo.

Fico a gargalhar quando ouço certas imbecilidades sobre a questão, principalmente dos ignorantes pseudo-inteligentes, que à semelhança de Erasmo, não entendem o que afirmam (8). Certo falador disse que sabia sair dessa questão, afirmando que diante da banca de sua infeliz ordenação foi questionado pelos examinadores sobre sua posição em relação ao livre arbítrio e a predestinação, disse ele que era da denominação tal e que isso não importava. Mas importa sim. Tal indivíduo odeia a predestinação e por política correta se escusou da questão.

Vamos considerar alguns textos bíblicos para saber o que a Bíblia diz sobre o assunto. Estou ciente de que alguns não se dobraram nem mesmo diante do texto bíblico e tentarão torcer e esbravejar contra o próprio Deus em sinal aberto de desconformidade, rangendo os dentes de ódio como as desgraçadas almas do inferno.
Romanos 1.18: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”.
Paulo está dizendo aqui que todos os homens são ímpios e perversos, conseqüentemente merecem castigo. Alguns tentam amenizar argumentando que certas pessoas não detêm a verdade pela injustiça, no entanto o texto fala dos homens e que eles detém a verdade pela injustiça, posto que imaginemos por um instante que o homem tivesse livre arbítrio, vemos por este texto que os homens são ímpios e perversos, logo o livre arbítrio somente afunda o homem na impiedade e iniquidade, é uma conseqüência lógica.
Anteriormente, Paulo ensina em Romanos 1.16: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê primeiro do judeu e também do grego”. O Apóstolo diz que o evangelho é a salvação de todo aquele que crê, mas quem pode crer por suas próprias forças? Obviamente que ninguém, pois inclusive a fé é um dom de Deus (Ef 2.8,9), ainda diz o grande Paulo: “não há nenhum justo, não há sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus... não há quem faça o bem” (Romanos 3.10-12).

Visto que não há nenhum justo, as próprias afeições estão contaminadas e a essência do ser está corrompida, acorrentada ao pecado está a vontade, como então pode haver livre arbítrio, se este só leva em direção ao pecado, pois afeições ímpias e pecaminosas é que dominam o homem?

Não há quem entenda, segue o texto, então quem poderia ter se achegado a Deus se Ele não tivesse se revelado? Nosso entendimento foi destruído quanto às coisas espirituais. Nesta falta de entendimento, os homens andavam à procura de algo como que tateando no escuro, pois seu entendimento estava corrompido, se por seu livre arbítrio pudessem chegar a entender as coisas espirituais, este texto estaria mentindo, pois não há quem entenda, assim como os israelitas, todos que não nasceram de novo, estão com vendas nos olhos e como Paulo antes do encontro com Jesus, havia como que escamas em seus olhos.

Se nosso entendimento é capaz de chegar a Deus sem a Sua graça especial, tirando a venda de nosso entendimento, segue-se que Paulo nos enganou, pois ele diz: “não há quem entenda”. Mas como Paulo está correto, o homem que ensina o livre arbítrio é quem mente, pois ele próprio não labuta no entendimento correto da verdade, e nesses termos o livre arbítrio é como um cego guiando outros cegos.

Não há quem entenda. Se podemos entender à parte da iluminação de Deus, por que os filósofos gregos não entenderam antes, posto que eram muito mais inteligentes do que Armínio e menos perniciosos do que Pelágio e bem mais corajosos do que Erasmo?
Se alguém pode entender à parte da graça de Deus, para que o Espírito Santo? Posto que o homem a si mesmo se conduz em todo o caminho da verdade, não há necessidade da obra do Espírito na vida das pessoas, isso na verdade cheira a bafo de paganismo. Pois o Apóstolo João enfatiza que Deus nos conduz a Cristo, e que ninguém irá a Cristo se o Pai não o levar (Jo 6.44), fica evidenciado que nada se pode fazer esperando pelo tal livre arbítrio. Pois a incapacidade é completa, a depravação do homem é total. Paulo declara que é Deus quem produz em vós tanto o querer como o realizar, de acordo com sua boa vontade (Filipensses 2.13 King James Version - Português). Paulo e João concordam nisso, como dois grandes generais da verdade contra o maligno e depravado livre arbítrio, que na sua ânsia de rebeldia e emancipação, tenta convencer os ineptos de sua veracidade e poder.

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NOTAS:
1. GEISLER, Norman. Eleitos, mas livres, vida 2005, p.63.
2. www.adventistas.com/biz/povo.../predestinacao.htm
3. www.montfort.org.br/index.php?secao=cartas...
4. LUTERO, Martinho. Obras selecionadas vol.4. Ed. Sinodal, p100.
5. Dicionário Eletrônico Aurélio século XXI – verbete “livre arbítrio”
6. Lutero (Op. cit.).
7. Ibidem.
8. Ibidem.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

LUTERO ESTÁ FAZENDO FALTA HOJE!


“Vede meus caríssimos irmãos e senhores, que Satanás não cessa de perseguir a nosso Salvador e Mediador Jesus Cristo e que, no que lhe for possível, impede pela doutrina ímpia dos heréticos, por meio de escândalos e perseguições dos tiranos, que a salutar doutrina na justificação permaneça pura na igreja, como, porém nos foi dado, pela inefável misericórdia de Deus, que essa nossa igreja e todo aquele que concorda com essa doutrina tenha razão pura e certa de tratar e transmitir a doutrina cristã, devemos agir com a máxima diligência para que ela se conserve pura e que, quanto depende de nós, seja transmitida pura a posteridade, e que de modo algum admitamos que o artigo da justificação seja por uma maneira diferente ou nova de ensinar, especialmente enquanto nós vivemos, nem demos ocasião a nossa negligência para que Satanás irrompa de novo na igreja, incitando inúmeras seitas e escândalos. Não devemos preocupar-nos somente como salvar-nos, mas temos que ter o máximo cuidado para que a posteridade não receba mentiras e erros sob a aparência da piedade ou da verdade. Malditos, no entanto, os que são ou foram os autores desse horrendo mal”(1)
Rev. Dr. Martinho Lutero,
Disputatio prima contra Antinomianos
18 de Dezembro de 1537.

Martinho Lutero já há muitos séculos espera a ressurreição, homem notável em muitos aspectos, é impossível lê-lo e permanecer impassível, ou se apaixona ou odeia-se o que escrevia e como pensava. De tudo o que escreveu li alguma coisa apenas, sempre que sinto falta de uma mente vigorosa vou a Lutero, não endeusando, pois ele era homem como qualquer um, mas por que, era homem de Deus, apaixonado pelo Cristo Salvador e sua Escritura Sagrada.
Lutero Faz falta hoje, pois o que mais dói, não é a violência dos maus, mas a omissão dos bons (2). Não que estejam todos calados, mas digo isso pela “força” com que defendem o evangelho, ínfima pelo que se poderia fazer, mas a isto se explica, ou tenta-se, usando a palavra “ética”. Mas será que não daremos conta pela nossa negligência por temor de sermos classificados de anti-éticos, reacionários, arrogantes? Afinal de contas, mesmo calados já somos assim taxados.
Lutero faz falta hoje. Cada vez que ouço o que se diz ser “evangelho” o que na melhor das hipóteses é uma doutrina diabólica de escambo e maracutaias financeiras, onde se prega: “contribua para ser abençoado” e “exija isso e aquilo de Deus”. Neste caso, Tetzel era melhor, ou deveria dizer, “menos pior” do que estes cafajestes da religião. Lutero alçou a voz contra essas infâmias e as expôs como elas realmente são, lixo e da pior espécie, ensinam a depositar em contas bancárias para beneficiar homens “ministries”, e que ao tilintar da moeda no cofre bancário a benção chegará voando ao ofertante. A isso, Martinho retruca: “é certo que ao tilintar da moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça...”(3).
Hoje alguns querem viver para a glória de deus, não me enganei ao escrever deus com letra minúscula, pois não se trata do Deus cristão, mas da divindade pagã que necessita ser manipulada pelo homem-todo-poderoso, que pode determinar bênçãos financeiras, curas, unções, que recebe “e-mails” desse deus, um deus que não conhece nada do futuro, pois se engana, volta atrás, muda e fica a roer unhas esperando o próximo passo do todo-poderoso-homem.
E para a glória desse deus, que está ainda meio indefinido de nome, não se sabe ao certo se chama-se Mamon ou Baal, certo é no entanto, que desde a antiguidade seus súditos têm tentado influenciar a Igreja, desde Datã e Abirão indo a Ananias e Safira, chegando até os dias atuais com todos os líderes da religião financeira, que não têm nem vergonha de colocar suas próprias fotografias na frente de seus templos. Quanto a seu predecessor – sim, eles não começaram sua vida de lucros agora - é bom lembrar também de Simão o mágico. Que, diga-se de passagem, é o que logrou mais seguidores a esse deus financeiro e obsceno que estão ensinando por aí.
Para a glória desse deus, tudo que é cristão, deve ser mais caro, desde bugigangas até livros de auto-ajuda que, aliás, devem ser caros mesmo, para que pouca gente leia essas imundícies. Quando penso que nada mais pode ser dito de estúpido na área da religião, aparece sempre outro superando, e o que é pior, sempre tem gente para imitar, aplaudir e financiar essas besteiras.
Lutero faz falta hoje. O misticismo tem caracterizado a grande massa dita evangélica, de tão heterogênea, fica difícil classificar quem é quem, o que é o que. Quando os “profetas” que falavam com Deus face a face intentaram entrar na universidade para ensinar nas cátedras, Lutero disse não. Deus já falou através da Escritura, e vivemos em tempos piores do que o do velho reformador, o Misticismo está por todo o lado que se olha, de um lado o G12, do outro o genérico M12, do outro estão os “apóstolos”. Ordenados por quem? São apóstolos para todos os gostos, é só comprar, sim, tem que pagar, de graça nem a salvação mais. Do outro lado estão os “profetas” desta geração, profetas que não seguem a Deus, que tem visões de barriga cheia, que pedem fogo, anjos, revelações estranhas, carros, mansões, prosperidade, só não falam a verdade.
Lutero faz falta hoje. Quando a falsa erudição quis intimidar a doutrina bíblica da eleição por meio da graça soberana, o reformador elevou a voz e não se calou, escrevendo um dos maiores tratados sobre a livre graça da salvação intitulado “Da Vontade Cativa”. No entanto quando olho para seminários confessionais cheios de professores de “teologia” que não crêem nas Escrituras, fico escandalizado.
Fico a ouvir alguns amigos que ainda estão a estudar, falarem sobre seus Mestres e reitores que comparam inspiração bíblica a psicografia. Que Jesus não ressuscitou fisicamente. Estes imbecís deveriam esvaziar fossas, como se fazia há 80 anos, pois este seria o trabalho que melhor lhes caberia, e isso gratuitamente para não desprezar as pessoas nobres que fizeram este trabalho no passado para levar o justo sustento às suas famílias.
Quem despertará estes professores de seu sonho de erudição, negando a divindade de Cristo, refazendo o Evangelho retirando seus “mitos”, filosofando inutilmente sobre suas intenções de cientificar e contemporizar a igreja, querendo dar uma resposta cristã à ciência que já mudou mais de 5.000 de seus preceitos até agora. Os milagres bíblicos não existem, insistem eles, isso é mito, o Cristo é ressuscitado somente na proclamação (“querigma”, palavra que adoram usar para parecerem mais eruditos) de seus seguidores, dizem tais falastrões idolatrados por “cultíssimos” cavalheiros cristãos. Dizem crer em Deus, mas descrêem do que Ele diz, e tentam refazer Sua mensagem. A esses, representados por Bultmann, Tillich e outros, Lutero replica: “Também aqui mais uma vez, confundes e misturas tudo, como é teu costume, igualando as coisas sacras às profanas, inteiramente sem qualquer distinção, e mais uma vez incorreste em desprezo contra a Escritura e contra Deus”(4)
Esses estúpidos mestres que nunca conseguem descer do pedestal de excremento que fizeram para si, de lá, do alto de seus pedestais não contemplam a verdade que trouxe esperança aos mártires, confessores e cristãos em todas as épocas e em todas as situações.
No seu afã de intelectualidade, não fazem o teste bibliográfico com a Bíblia, assim como se faz com outros livros históricos, não aceitam a evidência interna das Escrituras nem a evidência externa. Afinal de contas, para que serve um Messias morto?
Os “críticos da forma” passam tantos anos se detendo em alguns detalhes que se acham grandes conhecedores e inquestionáveis sobre o que falam, no entanto não há unanimidade em seu julgamento preconceituoso da Escritura e de seus escritores.
Não é feita justiça no sentido histórico, não há respeito nem é feita justiça à inteligência e integridade dos primeiros cristãos. Embora reconheçam corretamente o agrupamento tópico extenso do material nos evangelhos, eles vão longe demais ao desacreditar o esboço básico do ministério de Jesus. Embora aprecie a importância do primeiro período oral, ele praticamente não dá peso adequado ao fato de que num espaço de cerca de vinte anos foram iniciadas as fontes escritas e, portanto, o processo da tradição oral não foi tão longo quanto nas narrativas populares e nas primeiras histórias do Antigo Testamento. A tendência liberal para supor distorção radical da tradição na igreja helenista é refutada pelo caráter semítico predominante da tradição sinóptica comum. Os resultados do ensino liberal são deformados por suposições não examinadas, tais como as de que as histórias de milagres não passam de criações tardias e que a Cristologia explícita surgiu primeiro na igreja em vez de na mente de Jesus. (5)
Sabe-se que Jesus é um homem da história, mas não só isso: ele é também Deus, e isso foi reconhecido logo cedo pela Igreja, já seus discípulos entenderam, até mesmo os seus adversários entenderam que suas declarações de ser o Filho de Deus o colocavam como “Deus de Deus”, tal como afirma a Definição de Calcedônia.
Lutero faz falta hoje. Quando os maus governam, a tendência é de os bons se esconderem, e são poucos os que ousam desafiar um sistema endemonizado, guiado por toda e qualquer espécie de trambiques e injustiças, evidenciado pelo cenário político. Não há como não se sentir repugnado, ao ver um degenerado irascível como o presidente do Irã se aproximando para negócios com o Brasil que insiste em não o apoiar. Fico enojado vendo fotos de jornal do encontro amistoso entre Lula e os irmãos Castro na ilha de Cuba, um dos maiores homicidas senão o maior da América Latina, refiro-me ao Fidel e recentemente a seu querido maninho.
Que o Brasil não sabe se comportar como democracia logo se vê, pois o povo engole calado todo tipo de abuso, se resigna a aceitar e murmurar, ao invés de colocar a boca no trombone e fazer estardalhaço. Como brasileiro, incentivo meus compatriotas a aprenderem com os europeus, mas principalmente com os franceses o que é usar a democracia nas ruas fazendo pressão. Não sou radical, mesmo que o seja rotulado, estou indignado diante do que vejo e ouço. O Brasil não tem nem mesmo tradição constitucional, pois teve até mesmo constituição outorgada e uma que foi tomada de empréstimo da Polônia, o que lhe rendeu o apelido de “polaquinha”. Estamos engatinhando na democracia, e isso é perigoso, principalmente quando neste tempo, nossos preceptores constituídos legitimamente brincam com nossa paciência e inteligência, desdenhando da racionalidade humana, políticos nefandos que sabem tudo dos governos passados, mas nada sabem do que assinam e das falcatruas de seu próprio governo; tudo vale para permanecer no poder, disso Maquiavel discorreu fartamente, e parece que conhecia a política brasileira. Toda a semelhança não é mera casualidade.
Termino este pequeno artigo de indignação me dirigindo a todos os fiéis irmãos, que não se corromperam pelo sistema, mas que militam pela causa do evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Enquanto estamos vivos temos o dever de preservar a doutrina, e nossa união deve estar em torno dela, pois ela é a verdade dada por Deus, as gerações futuras dependem de nosso trabalho hoje, nosso erro os levará ao erro.
E visto que os evangelistas da mídia têm vacinado o povo contra o verdadeiro evangelho, fazendo pior do que vender indulgências, pois vendem toalhas, rosas, sal e toda a espécie de quinquilharias possíveis e inimagináveis, alcemos a voz e vamos dispor do que Deus nos tem dado e não nos acovardar diante de tudo isso que posto está a nossa frente. Este é o desafio de nossa geração, se nada fizermos passaremos a posteridade como aqueles que viveram e não foram dignos de ter estado aqui na terra, e pior ainda, representantes do Reino dos Céus, não podemos e não iremos dormir roncando sendo levados para a morte.
Que Deus nos ampare!
Soli Deo Gloria



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(1). Martinho Lutero, obras Selecionadas – controvérsias. Ano1993: Ed. Sinodal: p. 394
(2). Martin Luther King
(3) Tese 28 de Lutero
(4). Martinho Lutero, obras Selecionadas – op-cit.
(5). Filson apud Josh McDowell – ele andou entre nós. Candeia, 1998, p.166.

sábado, 3 de abril de 2010

VERDADEIRAMENTE ELE RESSUSCITOU!



1 - JESUS TINHA PLENA CONSCIÊNCIA DE QUE DEVERIA MORRER E RESSUSCITAR

Jesus não foi "pego de surpresa" por uma morte abrupta e precoce. Ele sabia que era o "Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo" (Ap 13.8). Sabia que seria "tirado" da terra (Mc 2.18-20; aqui, a expressão "tirado" é a mesma utilizada pela Septuaginta em Is 53.8, duas vezes, que a NVI interpreta como "levado" e "eliminado"). Sabia que passaria por um "batismo" que nada menos significava do que a própria morte (Mc 10.35-38; cf. Lc 12.50). Sabia que o propósito de sua vida era dá-la "em resgate por muitos" (Mc 10.45). Ao instituir a Ceia, "Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos discípulos, dizendo: 'Tomem, isto é o meu corpo'. Em seguida tomou o cálice, deu graças, ofereceu-o aos discípulos, e todos beberam. E lhes disse: 'Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. Eu lhes afirmo que não beberei outra vez do fruto da videira, até aquele dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus'" (Mc 14.22-25). Antes, ao subir para Jerusalém, Ele já havia deixado bem claro aos discípulos que "o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios, que zombarão dele, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão. Três dias depois ele ressuscitará" (Mc 10.33,34; cf. Mt 16.21; Lc 9.22). Sua morte e ressurreição eram tema constante de seu ensino aos discípulos, nas últimas etapas de seu ministério (Mc 9.9, 31; 14.27,28; cf. Mt 26.31,32). E a quem quisesse ouvir, Ele declarava ousadamente: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 10.11). "Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la" (Jo 10.18). Sabia claramente o motivo pelo qual haveria de padecer: "Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim" (Jo 12.32). E sabia que além da cruz haveria a glória da ressurreição: "E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse" (Jo 17.5). Sua morte não foi acidental. Não foi um "plano B" divino, como querem alguns. Ele veio para morrer. E para ressuscitar. E Ele sabia disso desde o início.

2 - A RESSURREIÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

Para ser um verdadeiro Apóstolo era necessário ser "testemunha da sua ressurreição" (At 1.22, o que denuncia a falsidade, o mau-caratismo e a ignorância de todos aqueles que arrogantemente se dizem "apóstolos" na atualidade). Os Apóstolos eram testemunhas oculares da ressurreição de Jesus e a anunciavam com ousadia. A ressurreição era o ponto central de sua pregação (At 10.39-43). No início de sua maior epístola o Apóstolo Paulo já menciona a ressurreição (Rm 1.4). No centro de sua teologia estava a morte e a ressurreição de Cristo (Rm 14.9; 1Co 2.2; 15.3,4). Uma das mais sublimes passagens cristológicas do Novo Testamento tem como pano de fundo a morte e a ressurreição de Jesus (Fp 2.5-11). Toda a argumentação do autor de Hebreus, no sentido de que Jesus é o nosso grande Sumo Sacerdote, é baseada no fato de sua morte e ressurreição, que possibilitaram sua exaltação ao "trono da graça" (Hb 4.14-16). Ao boquiaberto João, na ilha de Patmos, Jesus se apresenta como "Aquele que vive. Estive morto mas agora estou vivo..." (Ap 1.18).

3 - A RESSURREIÇÃO E NÓS

A grande passagem neotestamentária a respeito da ressurreição encontra-se em 1Co 15. Ali Paulo argumenta vigorosamente sobre a ressurreição de Cristo e a nossa. O evangelho de Paulo - as boas novas que ele anunciava - consistia na proclamação da morte e da ressurreição de Cristo (vv. 1-4). Ele não encarava a ressurreição simplesmente como "querigmática" (i.e., como um mito embutido na proclamação apostólica), como ensinam os teólogos liberais e seus imitadores tupiniquins (os ateus deveriam deixar a teologia para os crentes). Ao contrário, a ressurreição foi um evento real, histórico, inclusive com centenas de testemunhas oculares (vv. 5,6). Mesmo o incrédulo Tiago, meio-irmão de Jesus, somente havia crido depois de um encontro pessoal com o ressuscitado (v. 7). O próprio Paulo somente era Apóstolo porque havia tido um encontro real com Jesus após a ressurreição, na estrada para Damasco (v. 8; cf. At 9.1-19). Ele havia sido perseguidor da igreja (v. 9), mas após aquele encontro Paulo nunca mais foi o mesmo. Agora ele era um servo de Jesus Cristo (v. 10). A ressurreição é o centro do Cristianismo, sem a qual a fé cristã não tem valor nenhum. Não se trata de uma mera proclamação, ou mito, ou folclore. A ressurreição é real, trata-se de um evento histórico. Aconteceu mesmo. Sem ela, o Cristianismo não passaria de uma piada cruel (cf. vv. 12-19). E é justamente a ressurreição de Cristo que garante a ressurreição daqueles que pertencem a Ele (vv. 20-34). Não somente seremos ressuscitados, mas ganharemos corpos glorificados, semelhantes ao d'Ele (vv. 35-49). A ressurreição de Cristo é a nossa garantia de vitória sobre o último inimigo, a morte (vv. 50-57). É nossa garantia de vida eterna! É nossa garantia de que tudo o que fizermos neste mundo, se for para a glória de Deus, não será inútil ou em vão. Podemos dedicar tudo o que somos e tudo o que temos a Ele - não temos nada a perder, temos somente a ganhar (v. 58; cf. Mc 10.29,30; Rm 12.1,2; 1Co 10.31; 2Co 5.14,15).
Verdadeiramente Ele ressuscitou!


Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI), publicada no Brasil pela Sociedade Bíblica Internacional e pela Editora Vida.

Artigo baseado em LADD, George. Creo en la resurrección de Jesús. Miami: Editorial Caribe, 1977.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

CRISTO, NOSSA RECOMPENSA (MARCOS 10.17-31)




"Nós deixamos tudo para seguir-Te" (Mc 10.28).


1) Mc 10.17-22: O Jovem Rico e o apego às coisas desta vida

O rapaz corre até Cristo e ajoelha-se diante dele, chamando-o de "Bom Mestre". Jesus responde dizendo que somente Deus é bom (indicando a divindade de Cristo: se somente Deus é bom, e Cristo é bom, logo Cristo é Deus). À pergunta do jovem, Cristo responde mencionando alguns dos principais preceitos da Lei. O jovem afirma tê-los guardado desde cedo. Ele realmente interessava-se em agradar a Deus. Era sincero nesse desejo. Muitas vezes também queremos agradar a Deus, mas do nosso jeito, à nossa maneira, enquanto vamos levando a nossa vida. A seguir, Jesus vai aprofundar o teste, indicando claramente ao jovem rico (e a nós) que tipo de espiritualidade o mesmo estava vivendo.
"Falta-lhe uma coisa. Vá, venda tudo... dê... e siga-me" (vv. 21,22). A proposta de Jesus é chocante. O jovem tinha "muitas riquezas", certamente estava habituado a uma vida de luxo e conforto. Provavelmente jamais passara por dificuldades financeiras, jamais sentira falta de qualquer bem material. Nunca precisara confiar somente em Deus para a sua subsistência. Nunca precisara depender de Deus para a sua sobrevivência. Vender tudo o que possuía e dar o dinheiro aos pobres?! Era mais do que ele poderia suportar. Não conseguia sequer imaginar o que faria sem seus bens. Como seria sua vida sem seu dinheiro? De que viveria? Como faria para vestir-se, para alimentar-se? Não, o "Bom Mestre" estava pedindo demais! Infelizmente ele não percebeu, ou ao menos nem levou em consideração, as palavras de Jesus: "e você terá um tesouro no Céu". Palavras enigmáticas. Um tesouro no Céu? O que vem a ser isso? Seriam riquezas a serem recebidas após a morte? Mas, e aqui e agora? Nesta vida, quais as vantagens de se possuir um "tesouro no Céu"? Pode-se comprar comida e roupas com um tesouro no Céu? Durante toda a sua vida o rapaz estivera submerso no conforto material. Agora não conseguia nem mesmo imaginar o conforto celestial. Os bens materiais cegaram-no para os bens espirituais.
2) Mc 10.23-27: Tudo é possível para Deus.

Jesus exclama: "Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!". Na cultura de então, a riqueza era um sinal da bênção divina. Certamente as pessoas mais aptas para o Céu seriam as mais ricas! Por causa disso, as palavras de Jesus deixaram os discípulos "admirados". Se para os ricos era difícil - e segundo a figura de linguagem da agulha e do camelo utilizada por Cristo, verdadeiramente impossível - entrar no Reino dos Céus, o que dizer das demais pessoas, os não-ricos - ou seja, a maioria absoluta da população, da qual os discípulos faziam parte integrante? Daí a pergunta inevitável, cheia de ansiedade: "Neste caso, quem pode ser salvo?".
"Para o homem é impossível". A salvação não pode ser alcançada pelo mérito humano. "Não há nenhum justo", Rm 3.10. "Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus", Rm 3.23. "O salário do pecado é a morte", Rm 6.23. Nenhum ser humano pode salvar-se a si mesmo, porque todos estão debaixo de condenação ("uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens", Rm 5.18). Mas graças a Deus por Jesus Cristo (Rm 7.25)! Como "todas as coisas são possíveis para Deus", Ele "deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões - pela graça vocês são salvos", Ef 2.5. "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus", Ef 2.8. Somos salvos única e exclusivamente pela graça de Deus em Cristo Jesus. O que é impossível para os homens (a obtenção da salvação), foi realizado por Deus.

3) Mc 10.28-31: A verdadeira riqueza.

"Nós deixamos tudo para seguir-Te!" (v.28). Pedro lembra seu Mestre das renúncias que os discípulos fizeram para segui-lO. É evidente que houve aqui um certo tom de autocomiseração. Pedro está com pena de si mesmo e de seus companheiros. Se para os ricos é impossível salvar-se, o que será deles, que deixaram tudo o que tinham para seguir Jesus? A resposta de Cristo é um sopro de ar puro, um refrigério, um impulso e uma motivação para miríades de cristãos em todos os tempos, que deixaram tudo para seguir a Cristo, e um incentivo para todos os crentes da atualidade.
Jesus nunca enganou ninguém. Ele foi muito claro quando afirmou a seus discípulos e a uma multidão que queria segui-lO: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará" (Mc 8.34,35). Se alguém crê que se tornará rico ao decidir servir a Deus, não prestou atenção às palavras de Cristo: "As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça", Lc 9.58. O que Ele está dizendo em Mc 10.30 tem a ver não com riquezas terrenas (como as do jovem rico), mas com riquezas celestiais, o "tesouro no Céu" (Mc 10.21). Quem renuncia a tudo o que tem, a tudo o que é, por amor a Cristo e ao evangelho, receberá uma recompensa em troca. Essa recompensa manifesta-se já nesta vida através do cuidado especial de Deus na vida de Seus servos. Quem deixa o seu lar paterno por amor a Cristo, receberá cem vezes mais na família de Cristo, a Igreja. E se Ele nos enviar a um lugar onde nem ao menos tenhamos a companhia de outros crentes, Ele mesmo será a nossa companhia, o nosso pai, a nossa mãe, o nosso irmão, o nosso tesouro, o nosso recurso. Receberemos cem vezes mais na forma de Sua presença conosco, de Seu amor, de Seu cuidado, de Seu carinho. Quando abandonamos nosso conforto, nossas posses, nossos planos, nossos sonhos - nossa vida inteira - por causa de Cristo e do evangelho, recebemos em troca nada menos do que o próprio Cristo, a promessa do evangelho! Efetivamente, Ele será para nós Emanuel, "Deus conosco". Haverá sofrimento, haverá dor, porque renúncia implica tudo isso. Haverá dificuldades. Mas assim como Moisés, que "preferiu ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado", porque "contemplava a sua recompensa" (Hb 11.25,26), também nós devemos erguer nosso olhar além das coisas materiais deste mundo e contemplar a Cristo, nossa riqueza, nosso tesouro, nossa recompensa. "Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento", Cl 2.3.
A beleza de nosso Deus é nosso tesouro maior, nossa recompensa definitiva, e vale infinitamente mais do que qualquer coisa que este mundo decadente e perverso possa oferecer.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI), publicada no Brasil pela Sociedade Bíblica Internacional e pela Editora Vida.

sábado, 19 de dezembro de 2009

NOITE MARAVILHOSA


Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano (Lc 2.1).

Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei (Gl 4.4).

Aconteceu no devido tempo. No dia certo, na hora certa, no ano certo, na estação certa. No tempo determinado por Deus antes dos tempos. Numa vilazinha de uma província romana bem distante da Capital do império. Bem longe dos palácios, do luxo, da ostentação. Num povoado de uma nação conquistada, subjugada, capturada. Naquela noite maravilhosa, mais uma criança veio ao mundo, mais um filho de Abraão, mais um judeu – herdeiro de uma tradição riquíssima, pertencente ao povo de Deus, mas um povo alquebrado sob o jugo romano. Não era uma criança qualquer. Era a Esperança de Israel que chegava ao mundo. Era o Messias prometido aos judeus. Era o Salvador do mundo, o Salvador de toda a humanidade. O Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, nascera numa pequena cidade chamada Belém, num estábulo, em meio à pobreza, à falta de recursos. Já nasceu abandonado pelos homens, já nasceu rejeitado pelo mundo em trevas.

A Estrela da Manhã resplandeceu na noite de Belém. Aquele bebê nascido entre a dor – a dor do parto, a dor da rejeição (“Não havia lugar para eles na hospedaria”, Lc 2.7), que veio a um mundo de dor, para enfrentar e vencer a dor, para resgatar as pessoas de uma eternidade de dor. A angustiante busca de um lugar para o parto havia acabado naquele estábulo, e naquela manjedoura descansava a Luz do mundo.

A promessa de redenção estava cumprida. Quem poderia imaginar que aquele pequenino, nascido naquele lugar paupérrimo, era o próprio Deus, o Criador e Senhor de todas as coisas? Quem poderia imaginar que suas mãos pequeninas, tão formosas, um dia seriam cravadas numa vil cruz romana? Quem poderia imaginar que aquela criancinha tão indefesa era o próprio Deus? Que milagre assombroso, espantoso, o maior de todos os milagres!

Obrigado por ter vindo, Senhor Jesus! Obrigado por ter vindo a este mundo de dor, por ter suportado tanta aflição, tanto sofrimento, somente para nos salvar! Não há palavras suficientes, em toda a eternidade, para agradecer-te e render-te louvores!

Menino extraordinário, criança maravilhosa, tão comum e ao mesmo tempo tão sublime! Que sentimentos agitavam-se em Maria ao amamentá-lo pela primeira vez? O que sentia José ao vê-lo ali, tal como o anjo lhe havia anunciado em sonhos, nove meses atrás? Que menino maravilhoso!

O nascimento do Rei dos Reis precisava ser anunciado apropriadamente. Mas não foi anunciado ao imperador romano, nem aos seus títeres na Judéia. Foi aos pastores, nos campos, ao relento, cuidando dos rebanhos, que o Exército do Céu anunciou o nascimento do Redentor.

O resplendor da glória divina irrompeu em fulgor na escuridão da noite, iluminando os campos e os montes ao redor e certamente apavorando aqueles pobres homens! A milícia celestial, o exército de Yahweh, surgiu anunciando a paz! Não a paz romana, estabelecida pelas armas e pelo morticínio, mas a paz verdadeira, a paz com Deus, a única paz que realmente importa.

“Vamos a Belém”, disseram os pastores uns aos outros, “vamos ver esse menino!” (cf. Lc 2.15).

Sim, vamos a Belém adorar o nosso Rei! Ele é digno! Glória a Deus nas alturas e paz aos homens aos quais Ele concede a Sua graça! Ao mundo, paz! Nasceu Jesus! A luz divina já pode irromper em nossos corações, já pode iluminar nossas vidas! Que Ele reine em nossas vidas com todo o Seu poder, com todo o Seu amor, com toda a Sua autoridade! Assim como Ele reinará um dia, quando regressar.

Já podemos experimentar a alegria da salvação – sim, Jesus nos dá alegria para viver! Nasceu o nosso Senhor! Que Ele nasça nos corações humanos, cada vez mais, nos corações daqueles que entregam suas vidas a Ele!

Que noite maravilhosa, aquela em Belém! Quem poderia imaginar que aquela criancinha era o Salvador do mundo? Quem poderia imaginar que a Estrela da Manhã havia nascido em Belém? Quem poderia imaginar que o Céu havia tocado a Terra? Quem poderia imaginar que a vida daquele menino era a vida de toda a Criação? Glória a Deus nas alturas! Nosso Bom Redentor nasceu! Senhor, que a tua luz resplandeça em nossas vidas, e que possa brilhar através de nossos atos, para o louvor da tua glória!

Naquela manjedoura estava a Luz do mundo, o Astro de fulgor eterno – que o brilho de Jesus Cristo resplandeça cada vez mais em nossas vidas.

Que noite maravilhosa, aquela em Belém!

sábado, 14 de novembro de 2009

REFORMA PROTESTANTE - O LEGADO DE AUGSBURGO


O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os primeiros sejam os últimos.

Martinho Lutero - Teses 62,63

A Reforma Protestante foi um movimento religioso reformador, na Europa. Pode-se dizer que a Reforma teve seu início no desejo de retorno às Escrituras Sagradas, tendo como precursores grandes vultos da história, como Wycliffe (1330-1384). No século XIV, foi John Huss, outro gigante, mártir da fé, que lançou os alicerces sobre os quais a Reforma veio a ser edificada.

Mais exatamente, porém, a Reforma começou quando Lutero postou suas 95 Teses à entrada da Catedral de Wittenberg, as quais tornaram-se a base de uma acalorada controvérsia que girou basicamente em torno das indulgências. Quanto a isso, Lutero diz na sua tese de número 21: “Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa”. Nas teses 27 e 28, Lutero ataca os que ofereciam perdão por dinheiro, neste caso especialmente a João Tetzel, grande vendedor de indulgências. Afirma o Reformador: “Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu]... Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.”

Há quem diga que a Igreja não precisa de reformadores, mas de santos. No entanto percebe-se pelo próprio evangelho, nas cartas de Paulo, onde todos na igreja são chamados "santos" e amados em Deus (Cf. 1Coríntios 1.2), ainda que os santos tem por incumbência reformar o meio em que vivem, não tomando o molde de um sistema dominado por pessoas sem Deus (Rm 12.1,2).

A Reforma Protestante não foi um erro, teve e tem seus propósitos bons e necessários. Foi uma convocação à liberdade e um retorno a Bíblia. Ninguém despreze este dia, pois como aurora precursora de nossa livre expressão e opção religiosa, está o grande vulto chamado Lutero, e seu protesto contra o abuso e a indignidade.

Todos os verdadeiros evangélicos lembram neste dia de Lutero, Calvino e dos pré-reformadores, que deram a Bíblia ao povo, trazendo à Igreja novamente a centralidade de Cristo, e afirmando ao mundo todo que “o verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus”.

Se, hoje, temos clareza na doutrina e liberdade na religião é porque Deus nos agraciou com os reformadores.

Se hasteamos a bandeira da graça nos seus ditos áureos de somente a Escritura, somente a Fé, somente a Graça, somente Cristo e glória somente a Deus, é porque heróis se ergueram. Se alguma coisa produzimos é porque estamos sobre ombros de gigantes.