segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O repouso para o povo de Deus


Texto: Hb 4.9
“Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.”
O capítulo em questão está avizinhado do capítulo 3, onde Cristo é declaro como tendo maior glória do que Moisés, pois este era servo, aquele todavia, filho amado. Terminando com a declaração sobre o descanso prometido por Deus a seu povo e os motivos que levaram Deus a exercer juízo sobre seu povo no deserto.
O capítulo 5. O autor trata de cristo declarando ser ele o grande sumo sacerdote, homem, porém sem pecados, declarado sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Terminando o versículo trazendo uma advertência contra a apostasia, exortando a igreja para que não tenha um crescimento demorado ou até mesmo falta de experiência para com a palavra da justiça.
O Capítulo 4 então, esta dentro da idéia de que mesmo tendo as promessas de Deus para serem desfrutadas e que as mesas trazem alento, sempre se deve estar alerta e vigilante contra as astucias do próprio coração humano, que é a representação do homem por completo em suas afeições e desejos mais íntimos, caros e ocultos.
Israel é um bom exemplo à igreja do que acontece quando as bênçãos são preferidas sem que se analise primeiro o que implica em perseverar para ganhá-las ou permanecer com elas, e o foco aqui, a benção é descrita como o descanso que Deus dá.
I – As boas novas de um descanso são anunciadas a todos (v1,2)
Aos judeus foi anunciada a palavra de descanso, não se deve ser entendida esta passagem de descanso somente a de que entraria na terra da promessa, terra que manava leite e mel. O escritor de Hebreus lembra que o salmista faz referencia ao tempo de Moisés e Josué, mas vai além, falando de um descanso ainda,. Muito tempo depois de Moisés e de José, o que leva o escritor da carta aos Hebreus a entender o descanso tanto como tendo acontecido em parte, em um lugar no passado, como também joga esta promessa de Descanso, no futuro, não se limitando com isso, a afirmar que o cristão terá um descanso somente no céu, mas que ele já o desfrutará aqui nesta vida, mesmo que não em sua totalidade.
Da mesma forma que a promessa foi feita aos Judeus através da mensagem dos patriarcas, profetas e justos, sendo ilustrados através da entrada na terra da promessa, os judeus receberam testemunho da parte de Deus que há um descanso além daquele físico e semanal da qual todo povo participava, um descanso que é adquirido pela fé. Assim como aos Hebreus, os não judeus receberam a mesma promessa, porém no tempo oportuno ela se manifestou. Desde o Patriarca Abraão Deus já havia declarado que abençoaria todas as da terra, tendo o ápice e o cumprimento desta promessa no descendente de Abraão – Jesus Cristo, que uniu judeus e não judeus a Deus, acabando com toda e qualquer inimizade.
Esta mensagem do Evangelho de que em Cristo as muralhas de separação caíram, a semelhança da queda dos muros de Jericó. hoje os não judeus são participantes da mesma promessa de um descanso presente e futuro, porém, para muitos parece que esta promessa falhou, pois que descanso há para aqueles fiéis que vivem com dificuldades das mais diversas? Em perseguição ou morte? Que descanso há para aqueles que perderam seus amigos ou parentes em acidentes? ou assassinados? ou até mesmo em tragédias naturais?
A questão não esta no repouso ou descanso da inércia de sofrimento, mas o repouso no fato de que agora não estamos mais desgarrados, temos o sumo pastor que nos cuida pois:  “1O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. 2Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; 3refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. 4Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo;o teu bordão e o teu cajado me consolam. 5Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda. 6Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre” Sl 23.
O Salmista define muito bem qual é o descanso afinal, não a folga dos trabalhos, nem a ausência de problemas, mas suprema presença e cuidado de Deus pelo seu povo, que recebe de Deus aquilo de que tanto necessita já em vida e completamente na eternidade.
Porém, mesmo que a mensagem seja uma alegre boa notícia, os judeus não a aproveitaram e esta promessa não teve efeito algum para muitos deles, pois não foi acompanhada pela fé. a mensagem foi ouvida, simplesmente ouvida, nenhuma resposta a ela foi dada por parte de muitos judeus que diziam ser filhos da promessa.
A mensagem foi ouvida, mas não houve nenhuma resposta. Não houve obediência. Há duas maneiras de dizer não, uma é declarando o “não” abertamente, a outra e nada falando e nada fazendo.
Assim, como não ouve resposta o autor de Hebreus verifica que no verso 3 do cap. 4. Sua inércia e falta de obediência era a maneira que os judeus declaram sua incredulidade quanto à promessa de Deus. Israel ouviu a palavra, mas não respondeu. E esta a manifestação de ausência de resposta que demonstra o coração ingrato, desviado e endurecido da nação.
II – Alguns entraram no descanso outros não (v1,2,3)

Visto que o repouso não se refere somente aquele repouso semanal, mas vai além, e que não esta restrita somente aos judeus, mas também aos não judeus, que em todas as épocas esta mensagem de boas novas foi declarada, pergunta-se então. Por que alguns entraram e outros não? O fato é resolvido pelo fato de que a condição para desfrutar do descanso oferecido de Deus é a fé, nunca foi de outra maneira, os crentes do Antigo pacto olhavam com fé para o libertador e messias que viria no futuro, assim deveriam apresentar suas ofertas e sacrifícios. Os crentes do novo pacto da mesma forma olham com fé no fato concretizado e realizado no espaço e no tempo na pessoa de Jesus Cristo, que fez convergir nele todas as formas simbólicas de sacrifício do Antigo Testamento, sendo ele mesmo de fato o sacrifício substitutivo pelo seu povo cumprindo assim a palavra dos profetas “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” Isaías 53.5
O Novo Testamento afirma que só é possível obter descanso através de um encontro com o Messias, que é Jesus. "Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso."
III – O descanso não pode ter sido dado por Moisés nem por Josué, pois o salmista o usa no contexto espiritual de fé e descrença. (v 7,8)
O autor de Hebreus usa o salmo 95, que conclama a adoração a Deus que é a rocha da nossa salvação, porém termina relembrando a promessa de descanso e o juízo os descrentes na promessa de Deus, a carta de Hebreus coloca o salmista ao seu lado ao enfatizar o caráter espiritual da promessa feita por Deus e ilustrada na entrada de Canaã. Portanto, ainda como aquele povo não entrou no repouso espiritual, mas tomou posse da terra, ainda resta um repouso que não físico e uma terra a ser habitada, terra esta, porém não em nosso tempo e espaço, mas ainda a ser manifestada mesmo que já revelada pelo Apóstolo João em Patmos: “A pessoa que conseguir a vitória, eu farei com que ela seja uma coluna no templo do meu Deus, e essa pessoa nunca mais sairá dali. E escreverei nela o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que virá do céu, da parte do meu Deus. E também escreverei nela o meu novo nome[...]E vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e preparada, vestida como uma noiva que vai se encontrar com o noivo” Apocalipse 3.12; 21.2
A promessa é gloriosa, porém requer esforço. Para que não caia no mesmo exemplo de desobediência de Israel Hb 4.11, sendo que o capítulo anterior declara que os pecados de Israel foram: “coração duro; eles provocaram e tentaram a Deus, andam vagando em seu coração, isto é não são firmes, e que não conhecem os caminhos de Deus. Hb 3.7-11. O versículo onze é uma boa dica aos desavisados, de que não devem ser sem piedade em suas vidas, porém a firmeza de propósito em seguir a Deus deve ser perseguida pelos fiéis, com toda a força que há, e de todo o coração.
Assim como Israel não se esforçou no deserto e não entrou este pode ser o perigo da igreja peregrina hoje, Israel é um exemplo a ser visto e não imitado.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A corrupção é falta de cristianismo verdadeiro


“Sem Jesus Cristo o homem permanece no vício de si mesmo e na conseqüente miséria” Blaise Pascal
Blaise Pascal foi um dos grandes pensadores que o mundo conheceu, porém, a maior contribuição de pascal a humanidade foi sua fé. Pascal era um cristão convicto
O Cristianismo foi o modelador da cultura ocidental. E que possibilitou a educação de qualidade em todos os níveis até o avanço científico e tecnológico, o cristianismo é com certeza a alma da ciência como afirma a escritora e pesquisadora Nancy Pearcey.
Algumas falácias são escritas e ditas sobre o cristianismo ser uma religião intolerante e que trás atraso cultural. Todavia quando se analisa a história sem pressupostos errados, percebe-se a falácia dos irreligiosos ou não cristãos.
Na educação o cristianismo e principalmente o protestantismo levaram a Europa a patamares nunca antes imaginados. Os grandes nomes da pedagogia européia são Martinho Lutero; Jan Amos Komenský (em latim, Comenius; em português, Comênio), bem como o humanismo cristão João Calvino, que também investiu grandemente na educação. O legado protestante na América do Norte se faz sentir em Yale College; Universidade de Princeton e a famosa Universidade de Harvard, citando apenas algumas.
Nos países como Dinamarca, Finlândia e Holanda, há forte traço cristão de cunho protestante e de longa data, assim como até mesmo na frança esta marca cristão se faz sentir, porém entre os franceses é o catolicismo o de mais influencia, ao passo que apenas 18% dos suecos são classificados como religiosos.
A falácia de que quanto maior a educação formal menos religiosa é a pessoa ou a cultura, não tem fundamento, veja-se, por exemplo, as grandes potenciam ocidentais. E nisso o protestantismo leva vantagem no desenvolvimento e na educação social bem como no progresso. Basta ler uma análise do sistema capitalista por Max Weber, em: “o protestantismo e o espírito do capitalismo”.
O fato verdadeiro se concretiza em que a religião e sumamente a cristã protestante eleva o ser humano socialmente, à medida que quando entra em contato com o Evangelho e não sabia ler, para acompanhar a pregação aprende a ler, incentiva os filhos a estudar que por sua vez já colocam os seus filhos na universidade.
Países com origem cristã protestante são mais avessos a corrupção pelo próprio cerne do protestantismo.
Se analisar pormenorizadamente a questão, pode-se afirmar que países não cristãos e ateus, são os mais corruptos. Exatamente pela ausência da ética religiosa do cristianismo, o fato se demonstra em que se elenquem os dois países mais corruptos do mundo como o caso da Somália, que por fontes de Open Doors existem apenas mil cristãos em uma população formada praticamente por Slâmicos.
A Coréia do Norte esta em segundo lugar no ranking dos mais corruptos, e é um país ateísta, uma forma modificada de ateísmo. Naquele país dominado pela ignorância e intolerância, a religião é depreciada e, o estado tenta impor uma doutrina filosófica idiotizante de ateísmo e culto ao ditador.
Na verdade o que leva o avanço ao mundo é o cristianismo, e este plenamente representado pelos protestantes; históricos e pentecostais. Os neo-pentecostais e os televangelistas da prosperidade não fazem parte desta máxima, pois estão mais aparelhados com o catolicismo medieval do que com o protestantismo.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Céu - O lugar para onde todos querem ir


A alegria, que era a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do cristão [...] O homem de cada século é salvo por um grupo de homens que se opõem aos seus gostos.
Invariavelmente todas as pessoas do mundo e de todas as religiões conhecidas esperam um bom viver, ou não existir na eternidade, o que lhes causaria grande prazer terreno. A bem aventurança celeste esta no coração de cada ser humano.
Hodiernamente, há um sem numero de cultos afirmando ser  a verdadeira ponte para a eterna alegria. O Escritor Inglês G. k. Chesterton afirmou que a felicidade que o pagão usava como publicidade de sua religião, é de propriedade exclusiva dos Cristãos.
Quando se fala em Deus, não há ponto de discordância ou de divergências, pois dizer que acredita em Deus não faz alguém ser visto de forma diferente, entretanto, quando afirmamos que cremos que Jesus é o filho de Deus. Deus de Deus, Luz de Luz, Eterno, possuídor da plenitude da divindade e que substituiu-nos na cruz, as coisas mudam, pois Jesus é o divisor de águas. O cristianismo é exclusivista.
Como Cristão, creio firmemente nas verdades contidas no Santo Evangelho, e todos aqueles que de uma ou de outra forma desprezam a revelação escrita de Deus; a Bíblia ou o Cristo de Deus, não são de forma alguma povo de Deus, mas pagãos que vivem em trevas.
Nosso presente século evidencia a deterioração de tudo o que se considerava reto e justo, o bem e o mal se confundem na mente de alguns, a fé tornou-se meio de ganhar dinheiro, com televangelistas prometendo o que não tem para dar, seguido por um povo imediatista e pragmático.
Aqueles mais ecléticos levantam a bandeira da ingenuidade, afirmando que todos os caminhos levam a Deus... Será? Obviamente que não. O caminho que leva a Deus é somente um: “Jesus” o salvador (Atos 4.12), Filho de Maria, concebido pelo poder do Espírito Santo, morto e ressurreto, Senhor de vivos e mortos.
Chesterton reconheceu a grandeza do salvador ao declarar que “Um homem viveu, há séculos, no Oriente. E eu não posso olhar para uma ovelha, uma andorinha, um lírio, um campo de trigo, uma vinha, uma montanha, sem pensar nÊle...
Os ingênuos universalistas, nada sabem sobre o caminho dos céus, somente o cristianismo tem a verdade, e ninguém mais. Isso soa arrogante? Retrogrado? Careta? Antiquado? Pois bem, se sua resposta foi afirmativa a estas questões, então você também vive no paganismo e precisa conhecer a verdade.
Estas declarações “exclusivistas” sustentadas pelos cristãos no decorrer dos séculos e fez do cristianismo a força que moldou o ocidente no decorrer dos séculos. Ao não conseguir combater a fé dos cristãos, os romanos os lançavam aos leões e os torturavam até a morte, facções do judaísmo os condenavam injustamente, o exclusivismo é o que faz do cristianismo ser a religião mais perseguida do mundo ainda hoje, a ponto de estatísticas apontarem que em 2012 um cristão morria por sua fé a cada cinco minutos.
É a verdade contida no Evangelho que faz com que as hordas do diabo usem religiões como o slamismo a perseguir e matar cristãos ao redor do mundo, que faz do hinduísmo um grande perseguidor, quando cristãos proclamam que animais não são deuses, e que Deus enviou seu único filho para tirar-lhes das miseras trevas espirituais em que se encontram.
O comunismo tem sua parcela nesta culpa também. Países dominados pela estúpida teoria de Marx são grandes perseguidores da fé. O marxismo não funciona nem com formigas, quanto mais com pessoas, além de usurpar o poder da democracia e suprimir as liberdades, traz atraso, falência, corrupção, e estupidez total. Marxistas são bons marxistas em países não marxistas, bons marxistas defendem Marx e seus carros de luxo e em suas cátedras universitárias, longe, bem longe da Coréia do Norte ou de Cuba.
Se por um lado a realidade dos pagãos é triste, a de muitos cristãos nominais não é diferente, pois são cristãos apenas de boca, não de coração, estão mais para agnósticos, materialistas e ateus práticos do que cristãos, não tem mais fé do que um morto.
Quando vejo crentes alienados, pensando eu seu conforto e vendo programas televisivos  que produzem a desinteligência, sou acometido de tristeza, pois enquanto muitos fora de nosso pais perdem a vida pelo amor a Cristo, estes crentes tupinikins se divertem com o Caubói mundial e suas esparrelas monetárias pega trouxas. Ou com a estupidez universal do planeta Bob.
No meio do trigo o joio também se cria, e nisto esta a grandeza de Deus, tolerar o joio para o bem do trigo, e este trigo que alimenta o mundo, mesmo moído tem serventia por isso, fiquem senhores Islâmicos sabendo que Não triunfarão sobre a Igreja de Cristo, podem perseguir e matar, porém, se vocês não se converterem de sua fé, ao Senhor Jesus e o declararem como salvador pessoal de suas vidas. Todos, todos de igual modo perecereis no inferno eterno.
Senhores hinduístas, sua fé nos animais de que valerá? Senhores comunistas e simpatizantes esquerdistas, digam que vantagem sua fé marxista trouxe ao mundo? Que benefício concreto e duradouro? Senhores televangelistas, e simpatizantes, informem de que maneira estão levando as boas novas? Através das mídias? Não é o que se percebe.
Acomodados crentes de sofá e refrigerante, no que sua fé tem sido relevante?
Existem crentes que dão tristeza quando são visitados, nada do evangelho sabem nada na igreja lhes agrada, nunca estão dispostos a coisa alguma, nunca são capazes de se disporem a algo, maldita preguiça.
Á um contraste entre cristãos e cristãos. Nominalismo não garante céu, freqüentar culto, como quem bate o ponto na empresa numa segunda feira é pecaminoso. Omitir-se de responsabilidades cristãs também. Os cristãos perseguidos podem dizer ao Senhor Jesus “Nós tudo deixamos para te seguir” muitos crentes brasileiros dirão à Cristo no dia do juízo: “nós te deixamos para seguir a qualquer coisa que surgisse”.
Triste será quando no inferno um aparente crente dirá ao televangelista que costumava ver e patrocinar “nós viemos para este lugar por sua causa!”, porém o televangelistas se encarregará de responder: “a culpa é sua! que não teve fé”.
O crente preguiçoso e murmurador é a mais desgraçada das criaturas humanas, pois passa fome com o pão na mão, vai ao inferno, com a bússola apontando para o céu, vive em desgraça na casa de Deus, da porta dos céus, será jogado no inferno. O que faz e o que deixa de fazer reflete a fé que não tem e quer fazer crer que tem.
Ao passo que o cristão perseguido é o mais abençoado dos seres humanos, pois perdendo tudo ainda é grato, sem comida alguma é alimentado por Deus em sua alma, sofrendo as infernais torturas de homens malignos, quando morrer irá para o céu; E isso não porque o céu será uma recompensa pelos seus sofrimentos, mas uma dádiva do Rei dos Reis àquele a que muito amou, e por amar o chamou e o transformou a ponto de não mais ser cidadão deste mundo, mas da pátria celestial, e que ao morrer, simplesmente volta para casa.
Sei que em meio ao caos do universalismo religioso de muitos brasileiros, Deus tem seus eleitos, que não voltam seu rosto contra Cristo e que o honram. Nestes a igreja de cristo é vista no mundo e o cordeiro de Deus é o seu guia até o fim dos tempos.
O cristianismo não é inviável ou impraticável, mas é uma demonstração de fé viva e bem animada no agradar a Deus, o cristão é odiado por todos e amado por Deus.
“O ideal cristão não foi testado e reprovado. Ele foi considerado difícil e por isso permaneceu sem ser experimentado”.


Por isso, termino enfatizando que o céu é desejado por todos, mas alcançado por alguns.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O SOFRIMENTO DO CRENTE

A) CONFISSÃO POSITIVA, EVANGELHO DA PROSPERIDADE E O FALSO TRIUNFALISMO

1 - Um falso ensino que permeia a Igreja hoje é aquele que afirma que, se formos fiéis a Deus,  obrigatoriamente seremos abençoados, prósperos e felizes, e nenhum mal nos atingirá. Se sofremos, é porque cometemos algum pecado. É o que ensinava Elifaz (Jó 4.7-9).

Refutação Bíblica: Neste mundo que jaz no Maligno (cf. 1Jo 5.19), justamente nós, crentes, somos os que mais chances temos de sofrer (Jo 16.33; 15.19,20; 2Tm 3.12; 1Pe 2.21). Na verdade, todos sofrem, crentes e descrentes. A questão é: de que modo encaramos o sofrimento? Ou melhor, o que fazemos com o sofrimento? (E não o que o sofrimento faz conosco). Veja 1Pe 4.12-19.

Exemplos de homens de Deus que sofreram muito neste mundo: Jó, José, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Paulo (cf. 2Co 6.4,5; 11.23-27). Estava Paulo em pecado? Estavam aqueles homens em pecado?

2 - Muitos ensinam que o crente genuíno jamais terá dificuldades financeiras, por ser "filho de Deus", filho d'Aquele que é o "dono do ouro e da prata". Se alguém tem problemas nessa área, é porque está em pecado. Será?

Na verdade, na Bíblia, na História e na experiência diária, observamos que os ímpios prosperam muito mais do que os justos (cf. Sl 73). Exemplos de homens de Deus que padeceram necessidades financeiras: Elias (1Rs 17.5-7), Amós (Am 7.14), Habacuque (Hc 3.17-19), Paulo (Fp 4.10-13), e até mesmo o Senhor Jesus (Mt 8.20). Aliás, o que Jesus ensinava sobre o amor às riquezas? Veja Mt 6.24; 13.22; Mc 10.23; Lc 18.24...

A atitude de Jesus deve ser a nossa também (2Co 8.9; Fp 2.5). Nem riqueza, nem pobreza, mas o equilíbrio saudável deve ser o nosso alvo na vida (cf. Pv 30.7-9), muito embora Deus, em Sua soberania, é quem realmente decide quem será rico ou pobre, e por quanto tempo. Seja qual for a nossa situação, devemos descansar n'Ele, sabendo que Ele suprirá todas as nossas necessidades em Cristo Jesus (Fp 4.19). Nossa atitude deve ser sempre de gratidão e dependência de Deus, priorizando nossa comunhão com Ele acima de tudo (Mt 6.33; 1Tm 6.7-10,17-19).

B) NEM TRIUNFALISMO, NEM PESSIMISMO - UMA PERSPECTIVA BÍBLICA DO SOFRIMENTO

1 - Existe um triunfalismo barato sendo pregado atualmente, dizendo que sempre seremos "mais que vencedores", nunca experimentaremos derrotas, revezes, fracassos ou aflições nesta vida, se realmente somos filhos de Deus. Essa é uma interpretação bastante equivocada de Rm 8.37, ignorando inteiramente o contexto desse versículo (Rm 8.18-39), no qual o Apóstolo Paulo nos explica que somos mais que vencedores justamente através dos sofrimentos, não escapando deles. O próprio Jesus jamais escondeu de ninguém o significado de ser Seu discípulo: juntamente com as recompensas, virão as tribulações e perseguições (Mc 10.28-31; Lc 9.23; 14.25-33; Jo 16.33).

2 - Outro ponto de vista, no extremo oposto, é o pessimismo sombrio e sem esperanças, do tipo que encara este mundo apenas como um vale de sombra da morte, e que estamos destinados a sofrer irremediavelmente. Mas veja, novamente, o exemplo do Apóstolo Paulo, que expressava alegria mesmo em situações negativas, porque conhecia o Senhor (Fp 1.18; 2Tm 1.12).

Mais uma vez, o crente é chamado para encarar a vida de um modo equilibrado, baseado na Palavra de Deus. Haverá tempos difíceis e tempos bons (Ec 3.1-8), mas  aqueles que confiam no Senhor sempre terão sua alegria preservada, pois sua felicidade depende de Deus, e não das circunstâncias (Sl 34.19; 125.1).

C) PROPÓSITOS DO SOFRIMENTO

1 - O SOFRIMENTO NOS IDENTIFICA COM CRISTO. Jo 15.20,21; 16.33; At 5.40,41; Rm 8.17; Fp 1.29; 1Ts 2.14; 1Pe 4.13,14. Em todos esses textos, e em muitos outros, vemos que, assim como o Senhor sofreu neste mundo, nós, os que seguimos os Seus passos, também experimentaremos, inevitavelmente e em alguma medida, a oposição e o sofrimento (2Tm 3.12; 1Jo 3.13). Nossa comunhão com Ele no sofrimento é a outra face da nossa comunhão com Ele em Sua glória (Fp 3.10,11).

2 - O SOFRIMENTO FORJA O NOSSO CARÁTER. Este é um corolário do anterior: se, mesmo em meio ao sofrimento, buscarmos a vontade de Deus, seremos semelhantes a Cristo,  e nosso caráter começará a ser transformado pelo Espírito Santo à semelhança do caráter de Cristo (Rm 5.3-5; 2Tm 4.5; Tg 1.2-4; 1Pe 4.12-19).

3 - O SOFRIMENTO AUMENTA A NOSSA FÉ. Andar com Cristo nos dá a oportunidade de conhecê-Lo melhor, e mesmo em meio às lutas, podemos prosseguir "por fé, não por vista" (Rm 8.23-25,28,31-39; Fp 4.4-7; Hb 12.1-3; 1Pe 5.6-10).

4 - O PASSAR POR MOMENTOS DE SOFRIMENTO NOS PERMITE AUXILIAR COM EFICÁCIA OUTROS QUE ESTÃO SOFRENDO. 2Co 1.3-11; 12.7-10; Fp 1.12-18; 1Pe 5.10. O poder de Deus opera através de nossa "fraqueza" humana, quando nos sentimos as pessoas menos capacitadas do mundo e mais necessitadas da graça divina. Deus coloca um tesouro em vasos de barro (2Co 4.7-12), opera poderosamente através daqueles que sofrem confiando no Senhor (2Co 6.8-10; 1Pe 4.19).

5 - O SOFRIMENTO, QUANDO VIER, DEVE SER ENFRENTADO E EXPERIMENTADO PARA A GLÓRIA DE DEUS. Tudo em nossas vidas deve ser feito para a glória de Deus (1Co 6.20; 10.31) e o sofrimento não é exceção (Fp 1.20,21). Fomos criados para o louvor da Sua glória, e isso inclui toda a nossa vida, inclusive durante os períodos de tribulação (Ef 1.11,12). O sofrimento não é desculpa para deixar de servir a Deus e de glorificá-Lo, muito pelo contrário: é uma oportunidade excelente de demonstrar o nosso amor a Deus e a nossa alegria em Cristo, servindo ainda mais, para a glória de Deus (1Pe 4.7-19). A Deus toda a glória!


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

SIMPLICIDADE NA PREGAÇÃO

Por J. C. RYLE.


O rei Salomão diz no livro de Eclesiastes: "Não há limite para a produção de livros" (Ec 12.12). Há poucas coisas nas quais isso seja tão certo como na pregação. Os volumes que escrevi para ensinar os ministros a pregar são suficientes para formar uma pequena biblioteca. Ao publicar outro pequeno tratado, somente me proponho a tocar num aspecto dessa questão. Não pretendo considerar a substância e a matéria de um sermão. Deliberadamente deixarei de lado pontos como a solenidade, unção, vivacidade, fervor e outros semelhantes, ou as respectivas virtudes de sermões escritos ou improvisados. Desejo limitar-me a um ponto somente, que recebe bem menos atenção do que merece. Esse ponto é a simplicidade na linguagem e no estilo.

Se a experiência serve para alguma coisa, devo ser capaz de dizer algo a meus leitores a respeito de "simplicidade". Comecei a pregar há quarenta e cinco anos, quando exerci o ministério pela primeira vez numa pobre paróquia rural; e tenho passado uma grande parte de meu ministério espiritual pregando para trabalhadores rurais e granjeiros. Conheço a enorme dificuldade de pregar a ouvintes como esses, de fazer com que entendam o que queremos dizer e manter sua atenção. No que concerne à linguagem e à composição, afirmo deliberadamente que prefiro pregar na Universidade de Oxford ou em Cambridge, no Templo, em Lincoln's Inn ou no Parlamento, do que dirigir-me a uma congregação agrícola numa quente tarde de agosto. Ouvi de um trabalhador rural que apreciava o domingo mais do que qualquer outro dia da semana porque - dizia - "sento-me confortavelmente na igreja, coloco minhas pernas para o alto, não preciso pensar em nada e simplesmente adormeço". Talvez alguns de meus jovens amigos no ministério sejam chamados para pregar numa congregação assim, como aconteceu comigo, e me alegrarei se forem beneficiados pela minha experiência.

Antes de entrar no assunto, gostaria de iluminar o caminho fazendo quatro comentários preliminares.

a) Por um lado, peço a meus leitores que lembrem-se que alcançar a simplicidade na pregação é de suma importância para todo ministro que aspire ser útil para as almas. Jamais o entenderão, a não ser que você seja simples em seus sermões; e a menos que o entendam, você não poderá fazer o bem a seus ouvintes. Como dizia Quintiliano: "Se você não quer que o entendam, não merece ser ouvido". Outra coisa que deveríamos buscar é que nossos sermões sejam inteligíveis; e a maioria de nossos ouvintes não os entenderão se não forem simples.

b) O que direi a seguir, à guisa de comentário preliminar, é que alcançar a simplicidade não é fácil, absolutamente. Não podemos cometer maior equívoco do que acreditar que é. "Fazer com que as coisas difíceis pareçam difíceis está ao alcance de todos, mas fazer com que as coisas difíceis pareçam fáceis e inteligíveis é algo que mui poucos pregadores conseguem", dizia o arcebispo Usher. Um dos mais sábios e valorosos puritanos disse há 200 anos: "A maior parte dos pregadores dispara suas armas muito acima da cabeça de suas congregações". Isso também acontece em nossa época! Receio que nossos ouvintes não entendam uma grande porção do que pregamos mais do que entendem grego. Quando as pessoas escutam um sermão claro e direto, ou leem uma obra do mesmo gênero, podem dizer: "Que clareza! Que fácil é de entender!"; e pensar que qualquer um pode pregar ou escrever nesse estilo. Permitam-me dizer aos meus leitores que é extremamente difícil escrever de modo simples, claro, direto e vigoroso. Considerem os sermões de Charles Bradley, de Clapham. Podem ser lidos tranquilamente. São simples e naturais. Qualquer um sente de imediato que seu significado está tão claro como o Sol ao meio-dia. Cada palavra é a correta e se encontra no lugar adequado. No entanto, a confecção desses sermões demandou um enorme esforço do Sr. Bradley. Aqueles que leram O Vigário de Wakefield, de Goldsmith, dificilmente deixaram de perceber a maravilhosa naturalidade, fluidez e simplicidade de sua linguagem. E, no entanto, é de domínio público que os esforços, dificuldades e o tempo que levou para essa obra ser terminada foram imensos. Comparemos O Vigário de Wakefield com Rasselas de Johnson - que foi escrita em poucos dias e sob pressão - e imediatamente perceberemos a diferença entre ambas. De fato, utilizar palavras difíceis para parecer culto e fazer com que as pessoas saiam do sermão exclamando "que inteligente! Que erudito!", é tarefa fácil. Mas escrever algo que impacte e fique marcado na memória, falar ou escrever algo agradável e de fácil compreensão, que seja assimilado pela mente do ouvinte e jamais esquecido, isso, podemos estar certos, é algo muito difícil e uma conquista não muito frequente.

c) Permita-me observar, além disso, que quando falo de simplicidade na pregação não estou me referindo a pregação infantil. Se pensarmos que as pessoas humildes apreciam esse tipo de pregação, estamos redondamente enganados. Se nossos ouvintes pensam que os consideramos um bando de ignorantes para os quais qualquer tipo de papinha para bebê é válida, perdemos qualquer possibilidade de fazer-lhes o bem. Normalmente não estarão dispostos a ouvir uma pregação condescendente. Sentirão que não os estamos tratando como iguais, mas como inferiores, e isso sempre desgosta a natureza humana. Imediatamente nos darão as costas, taparão os ouvidos, ficarão ofendidos, e então melhor seria pregar para uma muralha.

d) Finalmente, permita-me observar que não precisamos de uma pregação rude ou vulgar. É perfeitamente possível ser simples e falar como um cavalheiro, com o estilo de uma pessoa gentil e refinada. É um tremendo erro pensar que os homens e mulheres iletrados e analfabetos preferem que lhes falem de modo iletrado e como um analfabeto. É um grande erro supor que um evangelista leigo ou qualquer um que lê as Escrituras, que desconhece o latim e o grego e somente está familiarizado com a Bíblia, é mais aceitável do que um homem de Oxford ou um polemista de Cambridge. Normalmente as pessoas somente toleram a vulgaridade e a rudeza quando não podem ter qualquer outra coisa.

Depois desses comentários preliminares, passarei a oferecer cinco breves indicações do que me parece ser o melhor método para alcançar a simplicidade na pregação.

I. Minha primeira indicação é a seguinte: Se você quer obter a simplicidade na sua pregação, assegure-se de que tem uma ideia clara do assunto sobre o qual irá pregar. Peço uma atenção especial sobre isso. Das cinco indicações que irei dar, esta é a mais importante de todas. Tenha cuidado, pois, de entender e chegar ao fundo do texto que você escolheu; de saber exatamente o que você deseja mostrar, o que quer ensinar, o que pretende estabelecer e o que anela que penetre nas mentes de seus ouvintes. Se você mesmo começar de modo nebuloso, pode ter certeza de que deixará a sua congregação em trevas. Cícero, um dos maiores oradores da Antiguidade, disse: "É impossível que alguém fale de modo claro e eloquente a respeito de um assunto que desconhece"; e creio que ele falou a verdade. O arcebispo Whately era um observador sagaz da natureza humana e falou com razão de um grande número de pregadores "que não apontavam para nada e não acertavam nada. Como homens que chegam a uma ilha desconhecida e começam uma viagem de exploração, partiam da ignorância e viajavam em ignorância durante todo o dia".

Peço especialmente a todos os jovens ministros que lembrem-se desta primeira indicação. Repito categoricamente: "Assegure-se de compreender profundamente seu tema. Jamais escolha um texto cujo significado você não entenda completamente". Cuide-se para não tomar passagens obscuras como aquelas de profecias simbólicas que ainda não se cumpriram. Se um homem prega constantemente a uma congregação normal sobre os selos, as taças e as trombetas do Apocalipse, ou sobre o templo de Ezequiel ou sobre a predestinação, o livre arbítrio e os propósitos eternos de Deus, não será surpreendente se não conseguir pregar com simplicidade. Não estou dizendo que tais questões não devam ser tratadas em ocasiões especiais, em momentos adequados e diante de uma audiência apropriada. O que estou dizendo é que são temas de grande profundidade sobre os quais, geralmente, cristãos sábios estão em desacordo e é quase impossível fazer com que pareçam assuntos simples e corriqueiros. Devemos compreender claramente os temas de nossas pregações, se desejamos torná-los simples. E podemos encontrar centenas de temas claros e simples na Palavra de Deus.

Evite, pelo mesmo motivo, escolher o que denomino temas fantasiosos e "textos forçados" para extrair deles significados que o Espírito Santo jamais teve a intenção de dotá-los. Não há questão necessária para a saúde da alma que não esteja claramente ensinada e exposta na Escritura. Sendo esse o caso, creio que o pregador não deveria nunca tomar um texto e extrair dele, como um dentista faria com um dente, algo que, por mais verdadeiro que seja por si mesmo, não é o significado claro e literal das palavras inspiradas. O sermão pode parecer brilhante e engenhoso, e talvez sua congregação saia dizendo: "Que pastor inteligente nós temos!", mas se após uma análise não puderem encontrar o sermão no texto ou o texto no sermão, ficarão perplexos e começarão a pensar que a Bíblia é um livro cujo significado é profundo demais para ser entendido. Se você quer alcançar a simplicidade, evite os textos forçados.

Permita-me explicar o que quero dizer com textos forçados. Lembro de ouvir um ministro numa cidade do norte que era famoso por pregar com esse estilo. Uma vez escolheu como texto: "Ou com o ídolo do pobre, que pode apenas escolher um bom pedaço de madeira e procurar um marceneiro para fazer uma imagem que não caia?" (Isaías 40.20). Disse aquele pregador: "Aqui temos um homem arruinado e perdido. Não tem nada para oferecer como pagamento pela sua alma. E o que deve fazer? Escolher um bom pedaço de madeira, isto é, a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo". Em outra ocasião, querendo pregar sobre a doutrina do pecado que habita em nós, escolheu seu texto a partir da história de José e seus irmãos: "Como vai o pai de vocês, o homem idoso de quem me falaram? Ainda está vivo?" (Gênesis 43.27). Utilizando essa pergunta, articulou engenhosamente um discurso sobre a infecção produzida pela natureza pecaminosa que permanece no crente: uma grande verdade, sem dúvida, mas com certeza não a verdade daquela passagem. Creio que esses exemplos servirão de advertência a meus irmãos mais jovens. Se você quer pregar sobre a corrupção que permanece na natureza humana ou sobre o Cristo crucificado, não precisa utilizar textos tão "rebuscados" como os que mencionei. Assegure-se de escolher textos claros e diretos.

Além disso, se você deseja analisar a fundo seus temas, ainda que de modo simples e direto, não se envergonhe de dividir seus sermões e de mencionar suas divisões. Quase não preciso dizer que essa é uma questão bem problemática. Em muitos lugares há um receio temeroso a respeito de "em primeiro lugar, em segundo lugar e em terceiro lugar". A tendência atual é fortemente contrária à divisões no sermão, e devo confessar com franqueza que um sermão vivo e não dividido é muito melhor do que um dividido de forma pesada, néscia e ilógica. Que cada homem esteja completamente convencido em seu foro íntimo. Que perseverem aqueles capazes de pregar sermões sem divisões que causem impacto e que sejam facilmente lembrados. Mas que não sejam desprezados aqueles que dividem seus sermões. O que desejo frisar é que, se quisermos usar de simplicidade e clareza, o sermão deve ter uma ordem, como um exército. Que tipo de general misturaria a artilharia, a infantaria e a cavalaria numa massa confusa, no dia da batalha? Que anfitrião, ao preparar um banquete, imaginaria pôr à mesa todos os manjares ao mesmo tempo: sopa, peixe, entradas e saladas, carne e a sobremesa num único grande prato? Podemos dizer o mesmo de sermões: deve haver uma ordem, seja utilizando palavras como "em primeiro lugar, em segundo lugar, em terceiro lugar" ou não. Deve haver ordem, independentemente se suas divisões são expressas ou ocultas; uma ordem tão cuidadosamente disposta que os pontos de seu sermão e suas ideias sucedam uns aos outros com maravilhosa regularidade, assim como os regimentos que desfilam diante da Rainha num dia de revista no parque de Windsor.

Particularmente, confesso que não creio ter pregado dois sermões sem divisões em toda a minha vida. Creio que é da maior importância que as pessoas entendam, lembrem e retornem a suas casas com meu sermão, e estou certo de que as divisões ajudam sobremaneira em tudo isso. De fato, são como ganchos, pinças e estantes na mente. Se estudarmos os sermões de homens que tenham sido ou são grandes pregadores, sempre encontraremos ordem e lógica em seus sermões, e frequentemente, divisões. Não me envergonho nem um pouco de dizer que leio frequentemente os sermões do Sr. Spurgeon. Gosto de colecionar ideias para pregações em vários lugares. Davi não perguntou a respeito da espada de Golias: "Quem a fez? Quem a poliu? Que ferreiro a forjou?". Não; apenas disse: "Não há outra semelhante", porque certa feita a utilizou para cortar a cabeça de seu dono. O Sr. Spurgeon prega de maneira extraordinariamente eficaz e o demonstra mantendo uma enorme congregação reunida. Deveríamos analisar sempre os sermões que unem as pessoas. Ao ler os sermões do Sr. Spurgeon, observe quão clara e inteligivelmente divide um sermão e preenche cada divisão com ideias simples e belas. Facilmente pode-se compreender seu significado! Deliberadamente ele oferece grandes verdades que fisgam seus ouvintes como ganchos de aço e que, uma vez marcadas na memória, jamais são esquecidas!

Meu primeiro ponto é, pois, que se você quer pregar com simplicidade, deve compreender profundamente o tema ou assunto de seu sermão; e se quer saber se o entende, tente dividi-lo e ordená-lo. Só posso dizer que, em minha própria experiência, tenho feito exatamente dessa forma em todo o meu ministério. Durante quarenta e cinco anos tenho guardado cadernos nos quais anotava os textos e títulos dos sermões para quando os necessitasse. Assim que compreendo um texto e o vejo até o fundo, eu o anoto. Se não consigo ver até o fundo, não posso pregar sobre ele, porque sei que não poderei ser simples; e se não posso ser simples, sei que é melhor não pregar em absoluto.

II. A segunda indicação que desejo fazer é a seguinte: Tente utilizar em todos os seus sermões, na medida do possível, palavras e termos simples. Em todo caso, devo explicar o que quero dizer com isso. Quando falo de palavras simples, não estou me referindo a palavras monossilábicas ou puramente saxãs. Nesta questão não posso estar de acordo com o arcebispo Whately. Creio que ele vai longe demais em sua recomendação do uso da linguagem saxã, ainda que exista uma grande verdade no que diz a respeito. Mas sou da opinião daquele velho sábio pagão, Cícero, quando diz que os oradores devem utilizar palavras "de uso diário e comum" entre o povo simples. Sejam palavras de origem saxã ou não, de duas ou três sílabas, não importa - desde que sejam palavras utilizadas comumente e compreensíveis para a maioria das pessoas. Faça o que fizer, evite o que os humildes denominam sagazmente como "palavras de dicionário", isto é, palavras abstratas, científicas, técnicas, pedantes, complicadas, indefinidas ou muito longas. Podem parecer muito elegantes e pomposas, mas em raras ocasiões terão alguma utilidade. Por regra geral, as palavras mais poderosas e enérgicas costumam ser as mais simples. [* Ver Nota no final do artigo.]

Todos precisamos de alguém para chamar-nos a atenção sobre esses pontos. É ótimo utilizar palavras elegantes em Oxford ou Cambridge, diante de ouvintes eruditos e pregando para plateias cultas. Mas tenha certeza, ao pregar para congregações normais, de jogar fora esse tipo de linguagem o mais rápido possível e de utilizar palavras claras e simples. Em qualquer caso, uma coisa é certa: sem palavras simples é impossível alcançar a simplicidade na pregação.

III. A terceira indicação que desejo oferecer a fim de pregar de modo claro e simples é a seguinte: Faça com que a sua composição seja simples. Tentarei ilustrar o que quero dizer. Se considerarmos os sermões que pregou aquele grande e maravilhoso homem que foi o Dr. Chalmers, é quase impossível deixar de perceber o grande número de linhas que transcorrem sem que haja um só ponto. Não posso evitar de considerar isso um erro. Talvez esse tipo de linguagem seja adequado na Escócia, mas nunca na Inglaterra. Se você quer alcançar um estilo simples de pregação, cuide-se para não escrever muitas linhas sem uma pausa para permitir que as mentes de seus ouvintes possam respirar. Tenha cuidado com ponto e vírgula e com os dois pontos. Coloque vírgulas e pontos, assegure-se de escrever como se fosse asmático ou estivesse com falta de ar. Jamais escreva frases ou parágrafos muito longos. Utilize os pontos com frequência e comece novas frases; quanto mais fizer desse modo, mais (provavelmente) você alcançará um estilo simples em sua composição. Sentenças enormes, cheias de dois pontos ou ponto e vírgula, ou de parênteses, com parágrafos de duas ou três páginas, são letais para a simplicidade. Deveríamos ter em mente que os pregadores lidam com ouvintes, não com leitores, e que aquilo que pode ser lido com facilidade nem sempre pode ser ouvido com facilidade. O leitor sempre pode voltar atrás algumas linhas para refrescar sua memória. O ouvinte escuta tudo de uma vez só, e se perder o fio da meada devido a uma longa e complexa sentença de seu sermão, é bem provável que não entenda mais nada a partir dali.

Por outro lado, a simplicidade no estilo de composição de um sermão depende muito da utilização adequada de frases proverbiais e ilustrações. Isto é de grande importância. Esse, creio, é o valor de grande parte do que encontramos nos comentários de Matthew Henry e nas Contemplações do bispo Hall. Há alguns bons ditados desse tipo num livro pouco conhecido, chamado Papers on Preaching by a Wykehamist. Estes são alguns exemplos: "Vestimos na eternidade aquilo que tecemos no tempo"; "O caminho para o inferno está asfaltado de boas intenções"; "O pecado abandonado é uma das melhores provas do pecado perdoado"; "Não importa muito como morremos, mas sim como vivemos"; "Não se meta na vida de ninguém, mas também não ignore os pecados de ninguém"; "Quando cada um varre a calçada de sua casa, toda a cidade fica limpa"; "A mentira aumenta a dívida: é difícil que uma bolsa vazia pare em pé"; "Quem começa orando termina louvando"; "Nem tudo o que reluz é ouro"; "Na religião, como nos negócios, não há lucro sem esforço"; "Na Bíblia há aguas rasas que podem ser atravessadas por um cordeiro e águas profundas nas quais um elefante deve passar a nado"; "Na cruz um ladrão foi salvo para que ninguém se desespere; mas apenas um, para que ninguém se iluda".

Os ditos proverbiais e as ilustrações dão uma maravilhosa clareza e força a um sermão. Esforce-se para lembrar o maior número deles. Utilize-os judiciosamente, especialmente no final dos parágrafos, e você descobrirá uma imensa ajuda para alcançar um estilo simples de pregação. Mas tenha cuidado com frases longas e complicadas.

IV. A quarta indicação que desejo fazer é a seguinte: Se você deseja pregar com simplicidade, empregue um estilo direto. O que quero dizer? Refiro-me à prática e ao costume de falar "você" e "eu". Quando um homem adota esse estilo de pregação, às vezes é chamado de orgulhoso e egoísta. O resultado é que muitos pregadores jamais são diretos e pensam sempre que é mais humilde, modesto e conveniente empregar o pronome "nós". Mas lembro-me do bom bispo Villiers que dizia que "nós" é uma palavra que deve ser utilizada pelos reis, e somente por eles, e que os ministros religiosos deveriam utilizar sempre "eu" e "você". Aprovo sem reservas essa afirmação. Declaro que jamais entendi o que significa o famoso "nós" pronunciado no púlpito. O pregador refere-se a ele mesmo e ao bispo? A ele mesmo e à igreja? A ele mesmo e aos Pais da Igreja? A ele mesmo e aos reformadores? A ele mesmo e a todos os sábios do mundo? Ou, afinal de contas, refere-se a mim, que ouço o sermão? Se refere-se somente a si mesmo, que razão humana pode dar para utilizar o plural e não dizer simples e claramente "eu"? Quando visita seus paroquianos, ou senta-se junto a um enfermo, ou ensina na escola bíblica, ou pede pão ao padeiro ou carne ao açougueiro, não diz "nós", mas "eu". Gostaria de saber, então, por que não pode dizer "eu" no púlpito. Que direito tem, como homem modesto, de falar por mais alguém além de si mesmo? Por quê não apresentar-se no domingo e dizer: "Ao ler a Palavra de Deus, eu encontrei este texto..."?

Estou convencido de que muitas pessoas não entendem o "nós" do pregador. A expressão as deixa no escuro. Se você disser "eu, o pastor" vim aqui para falar de algo que concerne à sua alma, algo que você deve crer, algo que deve fazer; as pessoas o entenderão sempre. Mas se começar a falar empregando a vaga pessoa do plural "nós viemos aqui para lhes falar", muitos de seus ouvintes não saberão aonde você deseja ir nem se está falando para eles ou para si mesmo. Peço e rogo aos meus irmãos mais jovens no ministério que não esqueçam este ponto. Procure ser tão direto quanto puder. Jamais dê importância ao que o povo diz de você. Não imite nessa questão a homens como Chalmers, Melville ou a outras celebridades dos púlpitos atuais. Jamais diga "nós" quando quer dizer "eu". Quanto mais se acostumar a falar claramente às pessoas - na primeira pessoa do singular, como fazia o velho bispo Latimer - mais simples será o seu sermão e mais facilmente será entendido. A glória dos sermões de Whitefield é a sua franqueza. Mas, por desgraça, foram transcritos de modo tão ruim que agora não conseguimos sentir prazer ao ler os mesmos.

V. A quinta e última indicação que desejo fazer é a seguinte: Se quiser alcançar um estilo simples de pregação, você deve utilizar muitas anedotas e ilustrações. Deve considerar as ilustrações como janelas pelas quais a luz entra em seu sermão. Pode-se falar muito sobre isso, mas os limites de um pequeno opúsculo como este obrigam-me a tratar brevemente desse assunto. É quase desnecessário lembrar do exemplo d'Aquele que falou "como nenhum outro homem jamais falou", nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Estude os quatro evangelhos atentamente e observe a riqueza de ilustrações contida em seus discursos. Com que frequência encontramos figura após figura, parábola após parábola, em seus sermões! Parece que não havia nada de que seus olhos não extraíssem grandes lições. Os pássaros no ar, os peixes no mar, as ovelhas, as cabras, o trigo, o joio, a videira, o semeador, o agricultor, o pescador, o pastor, o jardineiro, a mulher preparando a comida, as flores, a relva, o pagamento de tributos, o banquete de casamento, o sepulcro: tudo era veículo para transmitir pensamentos às mentes de seus ouvintes. O que dizer das parábolas do filho pródigo, do bom samaritano, das dez virgens, do rei e das bodas de seu filho, do rico e Lázaro, dos trabalhadores da vinha e de tantas outras histórias que nosso Senhor relata a fim de transmitir uma grande verdade às almas de seus ouvintes? Tente seguir seus passos e seu exemplo.

 Se você se deter em seu sermão e dizer: "Agora vou contar uma história", garanto que todos os que não estejam completamente adormecidos abrirão bem os ouvidos e ouvirão atentamente. As pessoas gostam das comparações, das ilustrações e das histórias bem contadas, e as ouvirão mesmo quando não quiserem ouvir mais nada. E quão inesgotável é o número de fontes para nossas ilustrações! Tomemos o livro da natureza que nos rodeia. Observe o céu sobre a sua cabeça e o mundo ao seu redor. Observe a História. Observe as ramificações da ciência: geologia, botânica, química, astronomia. Porventura, há alguma coisa nos céus e na terra da qual seja impossível extrair uma ilustração que jogue mais luz sobre a mensagem do Evangelho? Leia os sermões do bispo Latimer, talvez sejam os mais populares já publicados. Leia os livros de Brooks, Watson e Swinncock, os puritanos. Como estão cheios de ilustrações, metáforas e histórias! Observe os sermões do Sr. Moody. Quer saber um dos segredos de sua popularidade? Ele enche seus sermões de histórias agradáveis. O melhor orador - diz um provérbio árabe - é aquele capaz de transformar o ouvido em olho.

No que me diz respeito, não somente trato de contar histórias, mas também, especialmente em paróquias rurais, costumo apresentar às pessoas ilustrações familiares, que elas podem ver com seus próprios olhos em seu dia a dia. Por exemplo: "Quero mostrar-lhes que certamente houve uma grande causa primeira ou um Ser que fez este mundo", então tiro meu relógio do bolso e prossigo: "Olhem este relógio. Muito bem feito. Pode alguém pensar que todos os parafusos, rodas e engrenagens deste relógio se uniram por acidente? Não diria que existe um relojoeiro? Igualmente, podemos deduzir com total certeza que houve um Criador do mundo, cuja autoria vemos gravada na face de cada um desses gloriosos planetas girando anualmente e com uma precisão de segundos. Observem o mundo e as coisas maravilhosas que ele contém. Poderão afirmar que não há Deus e que a Criação é resultado do azar?". Às vezes mostro um molho de chaves e as agito. Ao ouvir o ruído, todos olham com atenção. "Estas chaves seriam necessárias se todos os homens fossem perfeitos e honrados? O que estas chaves comprovam? Ora, que o coração do homem é enganoso, mais do que todas as coisas, e perverso". A ilustração, assevero com certeza, é uma das melhores receitas para fazer com que o sermão seja simples, claro, direto e fácil de entender. Busque as ilustrações. Recolha ilustrações onde quer que as encontre. Mantenha seus olhos abertos e use-as bem. Feliz o pregador que tem bom olho para comparações e boa memória para armazenar histórias e ilustrações adequadas. Se você é um verdadeiro homem de Deus e sabe como compartilhar um sermão, jamais pregará para as paredes e para os bancos vazios.

Mas devo fazer-lhe uma advertência. Há um modo adequado de contar histórias. Se alguém não é capaz de contar histórias com naturalidade, é melhor não contá-las. Lembro-me de um notável exemplo disso no caso do grande pregador galês Christmas Evans. Existe um sermão impresso dele, sobre o maravilhoso milagre em Gadara, quando os demônios possuíram os porcos e os animais se precipitaram violentamente no mar. Ele descreve a cena de modo tão detalhado que chega a ser verdadeiramente ridículo, em parte devido às palavras que põe na boca dos trabalhadores que dão a notícia da perda dos porcos ao proprietário:

- Oh, senhor - diz um deles. - Todos os porcos desapareceram!
- Mas aonde eles foram? - pergunta o proprietário.
- Correram para o mar.
- E quem os levou até lá?
- Oh, senhor, aquele homem maravilhoso.
- Bem, que tipo de homem é esse? O que ele fez?
- Bem, senhor, ele disse umas coisas estranhas e todos os porcos precipitaram-se no mar.
- O quê?! Inclusive o velho porco preto?
- Sim, senhor, também ele, pois vimos a ponta de seu rabo desaparecendo pela borda do penhasco.

Isso é ir a um extremo. Por outro lado, os admiráveis sermões do Dr. Guthrie às vezes estão tão carregados de ilustrações que fazem lembrar uma torta feita quase toda de ameixas e com uma quantidade insignificante de farinha de trigo. Não deixe de adornar seu sermão com cores e imagens. Extraia doçura e luz de todas as fontes e de todas as criaturas, dos céus e da Terra, da História e da ciência. Mas, convenhamos, existe um limite. Tenha cuidado ao colorir, para não exagerar. Utilize um pincel de ponta fina para colorir. Lembre-se disso e verá que o colorido de uma ilustração é de imensa ajuda para alcançar a simplicidade e a clareza na pregação.

E agora tenha em mente estes cinco pontos:

Primeiro: Se quiser alcançar a simplicidade na pregação, tenha uma ideia clara do que vai pregar.

Segundo: Se quiser alcançar a simplicidade na pregação, utilize palavras simples.

Terceiro: Se quiser alcançar a simplicidade na pregação, procure adquirir um estilo de composição simples, com frases curtas, breves e objetivas.

Quarto: Se quiser alcançar a simplicidade na pregação, seja direto. Vá direto ao ponto.

Quinto: Se quiser alcançar a simplicidade na pregação, utilize abundantemente ilustrações e histórias.

Permita-me acrescentar a isto algo puramente prático. Jamais alcançaremos a simplicidade na pregação sem muitas dificuldades. Esforços e dificuldades, esforços e dificuldades. Alguém perguntou a Turner, o célebre pintor, como misturava tão bem as cores, e como elas ficavam tão diferentes das cores das telas de outros artistas. Ele respondeu: "Misturar cores? Misturar cores? Misturar cores? Bem, com inteligência, senhor". Estou convencido de que, na pregação, poucas coisas podem ser feitas sem dificuldades e esforços.

Ouvi que um jovem e descuidado ministro religioso disse a Richard Cecil: "Creio que preciso de mais fé". O sábio ancião respondeu: "Não; você precisa de mais obras, de mais esforço. Não deve pensar que Deus fará a obra por você, mas sim por intermédio de você". Peço a meus jovens irmãos que lembrem-se disso. Rogo-lhes que invistam seu tempo na preparação de seus sermões, que se esforcem e exercitem sua inteligência na leitura. Mas cuidem-se para ler somente aquilo que é útil.

Não gostaria que gastassem seu tempo lendo os Pais da Igreja a fim de ajudá-los em sua pregação. Eles são muito úteis à sua maneira, mas existem coisas bem mais úteis nos escritores modernos, se tiverem discernimento para escolher os melhores.

Leia bons exemplos e familiarize-se com o bom senso na pregação. Como melhor modelo, tome a Bíblia Inglesa. Se falar com a linguagem dela, falará bem. Leia a obra imortal de John Bunyan, O Peregrino. Leia a mesma várias vezes se deseja alcançar a simplicidade na pregação. Não deixe de ler os puritanos. Alguns deles, sem dúvida, são pesados. Goodwin e Owen são bem árduos, mas excelente artilharia no lugar certo. Leia muitos livros como os de Richard Baxter, Watson, Traill, Flavel, Charnock, Hall e Henry. São, em minha opinião, modelos do melhor inglês comum que se falava antigamente. Lembre-se, em todo caso, que o idioma muda ao longo dos anos. Falavam inglês como nós, mas seu estilo era diferente do nosso. Além de ler suas obras, leia os melhores modelos de inglês moderno que encontrar. Penso que o melhor escritor inglês dos últimos cem anos tenha sido William Cobbett, o político radical. Penso que escreveu no inglês saxão mais elegante que o mundo já tenha visto. Na atualidade não conheço melhor mestre do inglês saxão falado com pulcritude do que John Bright. Entre os velhos oradores políticos, os discursos de Lorde Chatham e de Patrick Henry, o americano, são modelos de bom inglês. Em último lugar, mas não menos importante, jamais esqueça que, depois da Bíblia, não há nada no idioma inglês que, por força de sua simplicidade, clareza, eloquência e força, possa ser comparado com alguns dos grandes discursos de William Shakespeare. Modelos assim devem ser estudados com consciência e inteligência, se quiser obter um bom estilo de composição em sua pregação. Por outro lado, não deixe de falar com os pobres e de visitar sua congregação de casa em casa. Sente-se com eles junto à lareira e troque pensamentos com eles sobre todos os assuntos. Ao fazê-lo, aprenderá muito sem perceber. Estará recolhendo constantemente formas de pensar e ideias  a respeito do que deverá dizer no púlpito.

Uma vez perguntaram a um humilde ministro rural se estudava os Pais. Aquele homem digno respondeu que tinha poucas oportunidades de estudar os pais, porque geralmente estavam trabalhando nos campos. Mas estudava as mães, porque sempre as encontrava em casa e podia conversar com elas. Conscientemente ou não, aquele homem acertou bem no alvo. Devemos falar com nossa congregação quando estamos fora da igreja, se quisermos saber como pregar a ela.

a) Somente direi como conclusão que, independentemente do que pregamos ou do púlpito que ocupamos, se pregamos com simplicidade ou não, de que o façamos de forma escrita ou sem anotações, não devemos buscar meramente ser como os fogos de artifício que logo desaparecem, mas pregadores que façam um bem duradouro às almas. Rejeitemos os fogos de artifício da pregação. Os sermões "bonitos", os sermões "brilhantes", os sermões "inteligentes", os sermões "populares", são, geralmente, sermões que não produzem efeito algum nas congregações e não levam as pessoas a Jesus Cristo. Busquemos pregar de tal modo que aquilo que dizemos realmente alcance as mentes, as consciências e os corações dos homens e os faça pensar e refletir.

b) Toda a simplicidade do mundo não pode fazer bem algum a menos que você pregue o puro e simples Evangelho de Jesus Cristo, tão completa e claramente que todos possam entendê-lo. Se Cristo crucificado não tem o lugar que merece em seus sermões, o pecado não é exposto como devido e você não diz à sua congregação o que ela deve crer, ser e fazer, a sua pregação carece de utilidade.

c) Toda a simplicidade do mundo é, novamente, inútil sem um bom modo de se expressar. Se você afunda o queixo no peito e murmura seu manuscrito de forma insípida, monótona e repetitiva, como uma mosca presa numa garrafa, de maneira tal que as pessoas não entendem o que você diz, a sua pregação será inútil. Tenha certeza disso, em nossa igreja não se cuida o suficiente a maneira de expor a Palavra. Nisto, como em todas as coisas relacionadas à ciência da pregação, considero que a Igreja da Inglaterra é sumamente deficiente. Eu comecei pregando sozinho em New Forest e ninguém nunca me disse se estava certo ou errado em meus sermões. O resultado foi que o primeiro ano de minha pregação foi uma sucessão de experimentos. Em Oxford e Cambridge não nos ajudam nessas questões. A carência absoluta de qualquer instrução adequada para o púlpito é uma das manchas e nódoas no sistema da Igreja da Inglaterra.

d) Acima de tudo, não esqueçamos jamais que toda a simplicidade do mundo é inútil sem a oração pelo derramamento do Espírito Santo, a concessão da bênção de Deus e uma vida que corresponda em certa medida com o que pregamos. Sintamos um fervoroso desejo de alcançar as almas dos homens enquanto buscamos a simplicidade na pregação do Evangelho de Jesus Cristo, e não esqueçamos jamais de acompanhar nossos sermões com uma vida santa e de fervente oração.

NOTAS

[1] A parte essencial deste texto foi pregada originalmente, a modo de palestra, a uma audiência clerical na catedral de São Paulo, para a Sociedade Homilética. Devo pedir desculpas por certa aspereza e torpeza no estilo. Mas meus leitores lembrarão amavelmente de que foi uma palestra oral e não escrita, preparada para a impressão a partir das notas de um taquígrafo.

[*] Neste ponto o autor faz uma digressão sobre o emprego de termos próprios do idioma anglo-saxão, que, além de intraduzível, pouco ou nada pode dizer ao leitor contemporâneo (Nota dos tradutores da versão em espanhol).

John Charles Ryle (1816-1900) serviu como reitor de St. Thomas, Winchester, e como pastor de Helmingham e Stradbroke (Inglaterra). Em 1880 foi convidado a assumir a nova diocese de Liverpool, da qual foi o primeiro bispo. O impacto de sua organização como estadista, os princípios evangélicos verdadeiros, e o ministério profundamente espiritual deixaram um legado até hoje perceptível naquela grande diocese. Seu sucessor como bispo de Liverpool, F. Chavasse, descreveu Ryle como "um homem de granito, com o coração de uma criança". Sua produção literária foi imensa, alcançando uma tiragem de cerca de 20 milhões de folhetos e contribuindo com seus livros de um modo incalculável à literatura teológica e reformada.

Fonte: RYLE, J. C. El Aposento Alto. Moral de Calatrava: Peregrino, 2005, pp. 32-49. Traduzido do espanhol por F.V.