sábado, 31 de outubro de 2009

31 DE OUTUBRO: DIA DA REFORMA


"No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, Alemanha. Nelas, condenava os abusos do sistema das indulgências e desafiava a todos para um debate sobre o assunto. Uma leitura das 95 Teses revela que Lutero estava apenas criticando os abusos do sistema de indulgências, na intenção de reformá-lo. Entretanto, entre 1518 e 1521, ele foi forçado a admitir a separação do romanismo como a única alternativa para se chegar a uma reforma que significasse uma volta ao ideal da Igreja revelado nas Escrituras. A tradução para o alemão e a impressão das Teses divulgaram rapidamente as ideias de Lutero"(1).
Essa foi a culminância de um processo longo e doloroso, de muitos séculos, até Deus levantar um monge agostiniano, chamado Martinho Lutero, para a obra do que mais tarde seria chamado de Reforma Protestante.
Lutero, nascido no dia 10 de novembro de 1483, numa aldeia alemã chamada Eisleben, foi preparado por seu pai para estudar Direito. Porém, em julho de 1505, apanhado na estrada por uma pavorosa tempestade, quando viajava para a cidade de Erfurt, Lutero prometeu a Santa Ana que, caso sobrevivesse à fúria dos elementos, tornar-se-ia monge. Três semanas depois, entrava para o mosteiro da Ordem de Santo Agostinho, em Erfurt. Em 1507 foi ordenado e celebrou sua primeira missa - completamente atônito e perplexo diante da presença terrível do Deus Altíssimo. Aquela missa foi uma experiência excruciante para Lutero, atormentado diante da ideia de ele, um pecador, estar diante do Santo.
Em 1508 ensinou teologia na universidade de Wittenberg, recém fundada pelo Eleitor da Saxônia, o Príncipe Frederico. Nos anos 1510-11, foi enviado a Roma tratar de assuntos pertinentes à sua ordem. Lá, ficou estarrecido diante da devassidão da Igreja Romana. De volta a Wittenberg, tornou-se professor de Bíblia e recebeu o título de Doutor em Teologia. Estudando a Bíblia para preparar suas aulas, encontrou a doutrina da justificação pela fé. Estudando as línguas originais das Escrituras, percebeu a discrepância entre os ensinos católico-romanos e aquilo que a Bíblia realmente afirmava. Entendeu que somente na Palavra de Deus havia a verdadeira autoridade espiritual. A justificação pela fé e a sola Scriptura (o conceito segundo o qual a Bíblia é a única fonte de autoridade para o crente) tornaram-se os pilares de seu sistema teológico.
Quando em 1517 o padre Tetzel, representante do arcebispo Alberto, chegou em Jüterborg, cidade próxima a Wittenberg, vendendo indulgências, Lutero e seus companheiros resolveram protestar contra tal prática. Tetzel ensinava que o arrependimento dos pecados não era necessário para se obter o perdão de Deus, para quem comprasse uma indulgência. Isso levou Lutero a desafiar Tetzel e os defensores das indulgências a um debate acadêmico, afixando, como de costume, suas Teses na porta da igreja do Castelo. Mas então a providência soberana de Deus entrou em ação e os acontecimentos se precipitaram.
Apoiado por Frederico e mais tarde por outros príncipes alemães, Lutero escapou da fogueira e começou a publicar suas obras teológicas, enquanto enfrentava os ataques do catolicismo romano de sua época. Participou de debates, foi convocado para concílios, sempre escapando da morte graças a seus partidários influentes. Até que em 1520 o papa Leão X publicou sua bula Exsurge Domini ("Levanta-te, Senhor"), que veio a deflagrar a excomunhão de Lutero e a sua condenação como herege. Levado por seus amigos, contra a sua vontade, para o Castelo de Wartburg, onde permaneceu escondido até 1522, Lutero escapou da fúria assassina da Igreja Romana.
Enquanto Lutero, em seu "exílio" em Wartburg, aproveitava para traduzir a Bíblia para o idioma alemão, a fim de que o povo tivesse acesso às Escrituras - uma verdadeira revolução - seus companheiros reformadores não perdiam tempo. Em 1521 saiu a publicação da obra Loci Communes, de Filipe Melanchton, o primeiro tratado teológico da Reforma. Melanchton rejeitou a autoridade da Igreja Romana, dos "Pais" da Igreja, assim chamados, da lei canônica e do escolasticismo, e estabeleceu acima de todos a Bíblia como a autoridade final para os cristãos.
A Bíblia alemã de Lutero foi finalmente publicada em 1534. Foi a primeira Bíblia no vernáculo do povo da Alemanha, e serviu de marco para a padronização da língua.
Depois de Lutero viriam outros reformadores, dos quais os mais proeminentes foram Ulrich Zwinglio, João Calvino (ambos na Suíça) e John Knox (na Escócia).
Depois viriam os anabatistas e sua Reforma Radical, com Menno Simmons entre os líderes (os Irmãos Menonitas têm esse nome em sua homenagem), a Reforma Anglicana na Inglaterra (que começou pelo desejo do rei Henrique VIII de ter um filho homem: para isso, acreditava que precisava divorciar-se de sua esposa e desposar outra mulher, e para atingir seu objetivo deveria controlar a igreja da Inglaterra), os puritanos na Europa e depois rumando para a América do Norte, etc...
Muitas histórias, muitos nomes, muitos dramas humanos - todos eles convergindo para a libertação do povo da tirania religiosa e da ignorância bíblica. Foi um começo. Muitos protestantes foram também tirânicos e ignorantes. Mas a Bíblia estava, finalmente, à disposição de qualquer um que a desejasse conhecer. E o conhecimento liberta.
Hoje, quase 500 anos depois, precisamos refletir sobre o nosso papel no cenário religioso contemporâneo - precisamos de uma nova Reforma, que nos liberte da tirania dos mercenários religiosos e da ignorância de seus seguidores. Uma parcela significativa da igreja evangélica, neste alvorecer do século XXI, aparenta estar tão corrompida quanto o catolicismo romano do século XVI. Precisamos de novos Luteros, novos Calvinos, novos reformadores que tenham a coragem de se posicionar e de mostrar ao mundo, mais uma vez, o poder e a autoridade da Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.
NOTA:
(1). CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pg. 235.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A RELIGIÃO DE CHARLES DARWIN

Este é um breve ensaio crítico sobre o darwinismo, e como base, uso a excelente obra de Adauto Lourenço, “Como tudo começou”, livro fascinante em todos os aspectos, principalmente por se tratar de uma obra séria, científica e honesta, que trata das origens do universo, percebendo no mesmo as digitais de um Deus criador e inteligente.

Quando se comemoram os duzentos anos de nascimento desse homem singular conhecido simplesmente como Darwin, e os cento e cinquenta anos de sua obra magna – "A origem das espécies", dou os parabéns aos crentes dessa influente religião que intitulo de fé darwinista.

Ao contrário do que se alardeia, o darwinismo não é a resposta correta sobre a origem de tudo, mas advoga ser, e, como toda religião, tem seu corpo doutrinário que é aceito por fé e não precisa ser submetido à observação científica. Dos oito pressupostos darwinistas (que são: 1. Uniformitarismo; 2. Longas datas evolutivas; 3. Evolução cósmica – Big Bang produz hidrogênio; 4. Evolução química – elementos superiores evoluem; 5. Evolução das estrelas e planetas a partir do gás; 6. Evolução orgânica – a vida a partir das rochas; 7. Macro-evolução, mudanças entre espécies de plantas e animais; 8. Micro-evolução, mudanças dentro das próprias espécies), sete são aceitos por fé, o único observável é o 8º, que deve ter o nome de Micro-variação, pois não se trata de evolução, mas simplesmente variação nas espécies.

Quando leio artigos de revistas e jornais que tratam da evolução, tenho a impressão de estar lendo um artigo religioso, no qual o livro "A origem das espécies" passa a ser a bíblia desses crentes de Darwin, que rotulam a criação como mito não verificável - aliás, pergunto, a evolução é verificável? A evolução tem sido comprovada pelo registro fóssil? Pela embriologia? Pela Astronomia? Cosmologia? Biologia? Genética e etc...???

Onde estão as provas a favor do evolucionismo? A Lucy? Não, é um chimpanzé. Ramapitecus? É fraude; talvez o homem de Nebrasca? Aquele reconstruído a partir de um dente? Desculpe, também é fraude, agora sim, o incontestável Homem de Neandertal, esse sim, ou não? Não, o Dr. Reiner Protsch Von Zieten fabricou dados. Ele acabou sendo descoberto pelos pesquisadores da Universidade de Oxford, que ao analisar o crânio descoberto por Zieten ainda cheirava mal, e um crânio de 27.400 anos não pode cheirar mal. O crânio de Paderborn era considerado o mais antigo fóssil humano encontrado na Alemanha (existência dos Neandertais). Zieten Confessou que pegou o crânio da tumba de um homem que havia morrido em 1750 AD (1). Há 259 anos então, os Neandertais ainda andavam entre nós!

“O que foi considerado a maior peça de evidência demonstrando que Neandertais viveram no passado no Norte europeu acabou de desabar. Nós teremos que reescrever a pré história”. Dr. Chris Stringer, especialista em idade da pedra e diretor do centro de origens humanas do museu de História natural de Londres (2).

A evolução de baleias para antílopes, proposta por um cientista evolucionista, deve ser aceita por fé, de outra forma qual foi o critério de análise, talvez comparando o branco dos olhos, quando se lê coisas como estas da evolução de baleias a antílopes, posso entender a expressão: “tudo é possível àquele que crê”. Quanto ao caso do Celacanto, aquele peixe que evoluiu e virou anfíbio, teria sido extinto há 65 milhões de anos, pois na década de 30 do século passado foi tirada uma foto do celacanto vivo, hoje já é possível acompanhar um cardume de celacantos, e o celacanto continua tão celacanto quanto sempre foi.

Se houve evolução dos peixes para anfíbios, por que os peixes no Kalahari (África do Sul), não fazem o mesmo, pois no período de escassez de chuvas o leito seca e fica até rachado então o peixe entra até dois metros dentro do barro e hiberna por até seis meses, por que ele não criou pernas e saiu de lá? Isso acontece há muitos séculos(3). É adaptação, sim, mas adaptação não é evolução. O peixe continua sendo um peixe!

Júlio Verne invejaria a imaginação e a forma como os mitos evolucionistas tomam forma e credibilidade travestidos de ciência, toma-se como exemplo o caso de Ernest Haeckel(4), ao afirmar que usou a imaginação para desenhar o desenvolvimento embrionário, e mesmo assim seu desenho de comparação embrionária entre peixe, galinha e ser humano ainda consta em alguns manuais. Por quê usar um desenho de 1909, o qual o mesmo desenhista já se arrependeu de tê-lo projetado? A resposta é simples: fé.

Os cristãos têm seu livro base, regulador de fé, que é a Bíblia, a qual não é um manual de ciência, no entanto é correta no que afirma. Uma sustentação como esta deve causar risos em alguns, muito bem, que se use o senso crítico para análise, pois eu também dou muitas risadas das patacoadas evolucionistas, logo todos estarão contentes!

Justiça seja feita, o crente em Darwin deve ser louvado, pois para crer na evolução deve-se ter mais fé do que a exercida pelo fiel de qualquer outra religião. Fé esta capaz de transportar montanhas, a Salmonela que o diga, simples como é, foi o motivo de muitos cientistas “apostatarem” do evolucionismo, tem um “motor” bacteriano formado por 40 proteínas, e gira a 100.000 RPM com uma reversibilidade de ¼ de volta, todo o motor é feito numa seqüência específica, se uma das partes faltar, tudo perde a sua função e deixa de existir, “as engrenagens” devem estar presentes caso contrário nada acontece(5). Se a evolução previu tudo isso, então deve prever o futuro com uma bola de cristal!

Opiniões divergentes devem ser analisadas e, num país democrático e de direito, todos podem externar suas opiniões, pontos de vista, e serem contestados, assim é o mundo livre, pensante, e se uma teoria não puder ser analisada e criticada, não é científica, mas dogmática, e o dogma pertence à área da religião.

“A Antropologia terá que revisar a sua posição quanto ao homem moderno entre 40 mil a 10 mil anos a.C.” Dr. Thomas Terberger, arqueólogo da Universidade de Greifswlt.

NOTAS

1 . LOURENÇO, Adauto. Criação ou Evolução: como tudo começou? Palestra 4 – a origem da vida – paleontologia e datação.

2 . Ibidem.

3 . Ibidem.

4. Adauto apud Jornal Berliner, 29/12/1909.

5 . Adauto. palestra: Origem da vida – biologia.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A SOBERANIA ABSOLUTA DE DEUS: DE QUE TRATA ROMANOS 9?

Hoje temos um convidado muito especial em nosso blog: o Pr. John Piper. Este é um dos artigos em português disponíveis em seu site (aqui). John Piper é autor de vários livros, entre eles Em Busca de Deus (Desiring God), publicado no Brasil pela Shedd Publicações.

POR JOHN PIPER.

Romanos 9:1-5

Digo a verdade em Cristo, não minto; minha consciência o confirma no Espírito Santo: 2 tenho grande tristeza e constante angústia em meu coração. 3 Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça, 4 o povo de Israel. Deles é a adoção de filhos; deles é a glória divina, as alianças, e a concessão da Lei, a adoração no templo e as promessas. 5 Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre! Amém.

Há duas experiências em minha vida que fazem de Romanos 9 um dos capítulos mais importantes no processo de formação da forma como penso e vejo todas as coisas, e também da forma como fui levado ao ministério. A primeira delas aconteceu quando eu estava no seminário e virou minha mente de cabeça para baixo. A outra aconteceu no outono de 1979 e me levou a servir nesta igreja.

Eu acreditava no meu livre arbítrio quando entrei no seminário, no sentido de que eu tinha o controle supremo sob minhas decisões. Não aprendi isso na Bíblia; absolvi essa idéia do ar independente, auto-suficiente, que se auto-estima, se auto-exalta que respiramos todos os dias. A soberania de Deus significava que Ele podia fazer qualquer coisa comigo desde que eu O desse permissão para tal. Com esse tipo de mentalidade me matriculei na classe sobre o livro de Filipenses com Daniel Fuller e na classe sobre Doutrina da Salvação com James Morgan.

Em Filipenses fui confrontado com a intratável cláusula do capítulo 2 verso 13: “ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, 13 pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” Isso faz de Deus a vontade por detrás de minha vontade; aquele que realiza por detrás do meu realizar. A pergunta não era se tenho ou não vontade própria; a pergunta era por que escolho o que escolho. E a resposta, não a única, porém a definitiva é Deus.

Na classe sobre salvação lidamos logo de cara com doutrinas de eleição incondicional e graça irresistível. Romanos 9 foi o texto chave e aquele que mudou minha vida para sempre. Romanos 9:11-12 diz, “Todavia, antes que os gêmeos (Jacó e Esaú) nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má – a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, 12 não por obras, mas por aquele que chama – foi dito a ela: ‘O mais velho servirá ao mais novo.’” Quando Paulo levanta a pergunta no verso 14, “Acaso Deus é injusto?” Ele responde que não e cita Moisés (no verso 15) : “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão.” E quando ele levanta a questão no verso 19, “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” Ele responde no verso 21, “O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?”

Emoções afloram quando você sente que seu mundo auto-suficiente começa a se desmoronar ao seu redor. Encontrei o Dr. Morgan no corredor um dia. Depois de alguns minutos de uma discussão acalorada a respeito do livre arbítrio, segurei uma caneta bem na frente do rosto dele e a deixei cair no chão. Então eu disse, meio que faltando com o respeito que como aluno eu deveria ter: “EU [!] a deixei cair no chão!” De alguma forma aquilo era para se provar que foi minha escolha deixar a caneta cair e isso não tinha sido controlado por nada, apenas por minha própria soberania.

Mas graças à misericórdia e paciência de Deus, ao final do semestre escrevi no meu livro de meditações para o exame final, “Romanos 9 é como um tigre que sai por aí devorando defensores do livre arbítrio como eu.” Aquele foi o fim do meu caso de amor com a autonomia humana e a absoluta auto-determinação da minha vontade. Minha visão de mundo simplesmente não podia mais se levantar contra as escrituras, especialmente Romanos 9. Foi o começo de uma paixão para vida inteira em ver e experimentar a supremacia de Deus em absolutamente todas as coisas.

O Outono de 1979

Então, dez anos mais tarde, veio o outono de 1979. Eu tinha tirado uma licença do meu cargo de professor na Faculdade Betel. Meu único propósito para essa licença era para estudar Romanos 9 e escrever um livro que definiria, em minha própria mente, o significado desses versos. Depois de seis anos lecionando e me deparando com alunos prontos a disputar por uma razão ou por outra minha interpretação desse capítulo, decidi que precisava dedicar oito meses para isso. O resultado da minha licença foi o livro, A Justificação de Deus. Tentei responder a cada objeção em relação à interpretação bíblica da soberania absoluta de Deus em Romanos 9.

Mas o resultado final daquela licença foi completamente inesperado – ao menos por mim. Meu propósito era de analisar a palavra de Deus tão de perto e interpretá-la com tanto cuidado que eu poderia escrever um livro que seria convincente e duraria o teste do tempo. O que eu não esperava era que seis meses dentro dessa análise de Romanos 9 o próprio Deus falaria comigo tão poderosamente que eu renunciaria meu cargo na Faculdade Betel e me poria à disposição da Conferência Batista de Minnesota se caso houvesse uma igreja que me aceitasse como pastor.

Em suma tudo aconteceu assim: eu tinha 34 anos de idade. Pai dois filhos e um terceiro a caminho. À medida que fui estudando Romanos 9 dia após dia, comecei a ver um Deus tão majestoso e tão livre e tão absolutamente soberano que minha análise resultou em adoração e o Senhor me disse, "Não serei apenas analisado mas serei adorado. Não serei apenas estudado, serei proclamado. Minha soberania não é simplesmente para ser escrutinizada, mas sim para ser um sinal do que há por vir. Ela não é para ser usada para espalhar controvérsias, ela é o Evangelho para os pecadores cuja única esperança é o triunfo soberano da graça de Deus sobre a vontade rebelde deles." Foi quando a Igreja Batista de Belém entrou em contato comigo no fim de 1979. Não hesito em dizer que por causa de Romanos 9 deixei de ser professor de seminário para ser pastor. O Deus de Romanos 9 tem sido a fundação sólida de tudo que tenho dito e feito nos últimos 22 anos.

O Testemunho de Jonathan Edwards a Respeito da Soberania Absoluta de Deus

Sinto-me assim como Jonathan Edwards sentia a respeito da verdade da soberania absoluta de Deus sobre minha vontade, sobre essa igreja, sobre as nações – mesmo não tendo a capacidade dele de ver e experimentar a verdade de Deus. Lerei a seguinte história porque ela deve ser a história de muitos nessa igreja, e talvez ainda seja, eu oro, a história de muitos outros:

Desde minha infância, minha mente era cheia de objeções contra a doutrina da Soberania de Deus, que escolhe quem teria vida eterna e rejeita quem Ele bem quisesse; deixando-os perecer eternamente e para sempre atormentados no inferno. Isso parecia para mim uma doutrina horrível. Mas me lembro muito bem do tempo quando comecei a me sentir convencido e totalmente satisfeito com essa soberania de Deus, e Sua justiça em assim se desfazer (ou lidar) eternamente com o homem, de acordo com Sua vontade soberana. Mas nunca pude determinar como, ou por quais meios, eu fui assim convencido, nem sequer podia imaginar então, nem muito tempo depois, que houve uma influencia extraordinária do Espírito de Deus em mim que me permitiu ver mais além, e minha razão compreendeu a justiça e quão razoável isso era. Então, minha mente descansou nisso, pondo um ponto final em todas minhas objeções e picuinhas. Houve também uma maravilhosa alteração em minha mente, a respeito da doutrina da soberania de Deus, desde aquele dia até hoje; que quase nunca tenho encontrado algo que se levante como uma objeção contra ela, em Deus mostrando misericórdia a quem Ele quer mostrar misericórdia, e endurecendo aqueles que Ele quiser. A soberania absoluta e a justiça de Deus, com respeito à salvação e condenação, é no que minha mente parece descansar, assim como algo que se possa ver com meu próprios olhos, pelo menos assim o é em ocasiões. A doutrina, frequentemente, tem se apresentado prazerosa, clara e doce. Soberania absoluta é o atributo de Deus que mais amo. (Jonathan Edwards, Selections [New York: Hill and Wang, 1962], pp. 58-59).

Um Breve Resumo de Romanos 9

Tudo isso parece ser uma ilusória introdução a Romanos 9. Mas é somente o começo. Pode ter dado a impressão de que Romanos 9 é uma dissertação a respeito da soberania de Deus. Mas não é. Romanos 9 é uma explicação por quê a Palavra de Deus não falhou apesar do fato de que o povo escolhido de Deus, Israel, como um todo, não ter se voltado para Cristo para serem salvos. A soberania da graça de Deus é apresentada como a peça chave da fidelidade de Deus apesar do fracasso de Israel, e, por conseguinte, como o mais profundo alicerce para as preciosas promessas de Romanos 8. Porque se Deus não é fiel à sua Palavra, não podemos contar com Romanos 8 também.

Considere esse breve resumo. Verso 3 nos mostra que Israel, como um todo, é amaldiçoado e separado de Cristo: “Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça.” Iremos lidar com esse raciocínio de Paulo na próxima semana. Apenas perceba agora que este é o grande dilema de Israel: “amaldiçoado e separado de Cristo.” Isso levanta um grande problema! O que dizer então da Palavra de Deus – a palavra da promessa a Israel e da aliança: “Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo!” (Jeremias 31:33)

Então Paulo responde a essa pergunta no versículo 6: “Não pensemos que a palavra de Deus falhou.” Você pode ver o que estava em jogo aqui. Parece que a Palavra de Deus tinha falhado! Mas Paulo diz que não. Então ele dá uma explicação que o leva para dentro das doutrinas de eleição incondicional e soberania divina sobre a vontade humana. A explicação dele no verso 6b é: “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel.” Nem todo descendente físico de Israel é Israel. Em outras palavras, a Palavra de Deus não falhou porque as promessas não foram feitas a todos da descendência étnica de Israel de tal forma que garantiria a salvação de todo e qualquer indivíduo israelita.

O verso 8 diz isso novamente: “não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão.” Em outras palavras, nem todo o descendente físico de Abraão é beneficiário das promessas da Aliança. Então, quem é? Aqui Paulo vai ao fundo da explicação. Ele diz que os beneficiários da promessa são os filhos da promessa. Mas, perguntamos, quem são eles? Quais são as condições que eles têm que cumprir para serem “filhos da promessa”?

Paulo responde a essa pergunta no verso 11, com a ilustração de Jacó e Esaú, nos confrontando com a suprema soberania de Deus em escolher quem seria o beneficiário da promessa. Em se referindo a Jacó (quem se tornaria o herdeiro) e Esaú (quem não foi) Paulo diz: “Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má [aí está a incondicionalidade, e aqui a razão para tal] — a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, [eis aqui a explicação mais profunda que as condições humanas – o propósito soberano de Deus], não por obras, mas por aquele que chama [perceba: ele não contrasta obras com fé, mas com ‘Aquele que chama’ – nem sequer a fé está em questão aqui como uma condição] — foi dito a ela: “O mais velho servirá ao mais novo.”

Tudo isso levanta a questão a respeito da justiça de Deus. Paulo não está escondendo nada aqui. Ele está abrindo o jogo, trazendo tudo à luz. No verso 14 ele diz, “E então, que diremos? Acaso Deus é injusto?” A resposta de Paulo é não. Depois de citar Moisés a respeito da liberdade de Deus em ter misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia (vers. 15) ele repete a respeito da absoluta incondicionalidade de ser escolhido por Deus para ser um filho da promessa. Verso 16: “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus.”

O que nos leva então, à questão no versículo 19, “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” Essas são as questões que nos confrontam neste capítulo. Todo o Israel são “filhos da promessa” ou apenas alguns o são? Se somente alguns são, o que faz de uma pessoa um filho da promessa e outra não? Se é acima de tudo a misericordiosa eleição incondicional, livre e soberana de Deus, então Ele é injusto? Se Ele que é livre para ter misericórdia de quem Ele quiser e endurecer a quem Ele quiser (vers. 18), e se isso não depende do homem desejar ou efetuar (vers. 16) então, por que Ele ainda acha culpa em nós?

O Ponto-Chave de Romanos 9: Uma Explicação e Defesa Que a Palavra de Deus Não Falhou

Então você pode ver que o assunto da eleição divina, da vontade humana, da justiça de Deus, da culpa do homem e da soberania de Deus estão todos contidos nesse capítulo. Mas não estão aí só por estar. Eles estão aqui para explicar essa questão que não quer calar: Como pode o povo eleito de Deus, Israel, ser amaldiçoado e separado de Cristo se a Palavra de Deus é confiável? Como pode o versículo 6a ser verdadeiro: “Não pensemos que a palavra de Deus falhou.” Essa é a questão desse capítulo.

As Promessas de Romanos 8 Prevalecerão?

E isso é absolutamente crucial para nós à medida que nos aproximamos da mesa do Senhor. As promessas de Romanos 8 prevalecerão? As promessas compradas pelo sangue que nós, gentios e judeus, confiamos nossas vidas irão prevalecer? Deus irá honrar seus compromissos, selados com o sangue de seu Filho? Ele irá fazer com que todas as coisas cooperem para o nosso bem? Os predestinados serão chamados e os chamados serão justificados e os justificados serão glorificados? Ele nos dará todas as coisas juntamente com Ele? Nada nos separará do amor de Deus que está em Cristo? Será que hoje realmente não há nenhuma condenação? E assim será amanhã e depois também?

Romanos 9 vem depois de Romanos 8 exatamente por essa razão crucial: nos mostrar que a palavra da aliança de Deus com Israel não falhou, porque ela está fundamentada na soberania de Deus e em sua eleição misericordiosa. Portanto, as promessas para o verdadeiro Israel e as promessas de Romanos 8 prevalecerão! Esse é o evangelho, as boas-novas, de Romanos 9. As promessas compradas pelo sangue de Cristo serão realizadas pelo poder soberano de Deus.

Oh! Quão gratos, quão humildes e quão confiantes devemos ser quando adoramos ao Senhor em Sua mesa!


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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A PREGAÇÃO COM BASE NO ANTIGO TESTAMENTO: É MESMO NECESSÁRIA?



Introdução

Certo autor, ao descrever a importância do Antigo Testamento, intitulou sua obra de “o livro que Jesus lia”, não há dúvida em que todo o cristão já se deparou com a pergunta ao ler o livro de Número, por exemplo: “por que estou lendo isso” ou “no que isso será relevante para minha vida”. O antigo Testamento tem sido negligenciado nos púlpitos, isso porque alguns têm usado suas figuras para vender rosa, água e etc...

Levando alguns, a outro extremo, o de não pregar nele e sobre ele.

Cristo é descrito em cada livro da Antiga Aliança, exposto em cada cena graciosa, em cada geração que passa a esperança do messias que viria aumentava como a luz que surge na manhã.

A pregação no Antigo Testamento

Como vimos, o Antigo Testamento exerce primordial importância para a nossa compreensão de como se desenvolveu o Teísmo judaico-cristão. Como se desenrolou gradativamente a revelação do plano de redenção e como foram surgindo às doutrinas centrais encontradas no Antigo Testamento.

A pregação no Antigo Testamento ontem. Uma prática quase esquecida.

Quando leio obras como: Justino de Roma, mais conhecido por Justino o mártir, que de forma magistral, usa o Antigo Testamento não somente para defender a cristã, mas também para apresentar a Jesus o Messias a um grande mestre judeu de seu tempo chamado Trifão. Justino lembra a Trifão que não existe sabedoria maior que entre os profetas de Israel, pois esses mesmos profetas, e até mesmo o próprio Moisés falavam de um maior profeta futuro, de uma nova aliança que seria estabelecida, não como a aliança do Sinai, mas uma aliança em que Deus imprimiria a sua lei nos corações. E estamos falando de um homem que escreveu em torno de 150 d.C. e que usava amplamente o Antigo Testamento.

Mesmo estando no Século XVI, Calvino demonstra o Antigo Testamento de maneira encantadora, veja-se, por exemplo ‘As institutas’. Lutero olhando para Romanos 1.17. Descobriu que: “o Justo viverá pela , não esqueceu ele por certo, que o profeta Habacuque 2.4 havia dito isso, e que o próprio Abraão foi justificado pela sua . De forma arrebatadora leio o “velho Hodge”, “o antigo Strong”, o “esquecido Bavinck”. Todos eles através de sua erudição conquistaram prestigio, e através de sua o Reino eterno, deixando-nos a responsabilidade de sermos Cristãos de uma Bíblia completa, e de uma tarefa inacabada, apresentar Cristo a todos, ao gentio que não sabe nada do Deus único e ao judeu estudioso da Torah. todos precisam compreender o evangelho, o evangelho da salvação pela no Ungido de Deus, descrito em todo o Antigo Testamento, e revelado no Novo Testamento.

A pregação no Antigo Testamento hoje. Uma necessidade que precisa ser redescoberta.

Por mais incrível que pareça atualmente o Antigo Testamento está sendo Deixado de lado. Raramente ouço mensagens com base no Antigo Testamento, e quando as ouço, são na grande maioria das vezes mensagens sem sentido, quando não ‘erradas’. E isso, falo a nível nacional.

Não deveria ser assim, mas o que pude constatar é que; com o passar do tempo, com o avanço da tecnologia e do conhecimento e comodidade, na facilidade que se tem de adquirir conhecimento, o povo e não somente o povo, mas o que é mais trágico, os “ministros” têm se esquivado do estudo sério das Escrituras, em especial o Antigo Testamento, daí ouvirmos absurdos, tais como os que dizem que Deus não saberia qual seria a atitude de Abraão, por isso Ele provou a Abraão pedindo Isaque em holocausto, há ainda aqueles que logo após as Tsunamis em 2004 na Indonésia, taxaram Deus de impotente por não impedir desastres, mas o desastre é que essas declarações não são de ateus ou críticos do cristianismo, mas de cristãos, e pior, de líderes, poderia ainda falar de muitos outros casos, mas creio que me estenderia demasiadamente tratando desse aspecto da soberania e onipotência de Deus, tão amplamente ensinados no Antigo Testamento. Poderia fazer menção daqueles que trazem elementos ritualísticos do judaísmo para dentro do cristianismo

Tudo isso é um reflexo da tendência mundial, que está muito em voga hoje, que é: ‘desprezar a teologia tradicional’, com todos os seus elementos bíblico-históricos, com isso vemos a crescente onda de relativismo teológico e moral a que passa a igreja mundial hoje.

No presente a ‘Teologianão é mais uma teologia, mas transformou-se numa ‘antropologia’, pois o foco de tudo não é mais a Deus e sua soberania. Mas o homem e “seus direitos”, e essa antropologia que tem sido ensinada e pregada trouxe do túmulo velhas heresias a muito esquecidas na outra América, como a teologia do processo ou teologia relacional, abraçada por pessoas que tem muito destaque na mídia evangélica, sem falar na crescente no universalismo.

Não é somente o Antigo Testamento que tem sido banido de nossas cátedras e de nossos púlpitos, mas a Bíblia como um todo, tem sido desprezada, a doutrina está sendo trocada pelarevelação”, nunca antes se viu uma geração tão ignorante com referencia a Bíblia como a nossa atual geração. Desde que Gutenberg deu a Bíblia ao povo, nunca se viu tanto o povo sem Bíblia.

Entre os fatores primordiais para a exclusão do Antigo Testamento dos púlpitos, eu poderia citar, a falta de conhecimento do mundo antigo, costumes e das épocas em que os livros foram escritos, levando em consideração que estamos separados por milênios dos acontecimentos registrados, há também o abismo dos costumes por se tratarem de um povo oriental, muitas vezesincompreensões de fatos históricos e, ainda imprecisão do idioma hebraico que tem contribuído para diferenças nas traduções, no entanto a falta de preparo teológico por parte dos “ministros” tem sido de longe, o maior motivo para o banimento do Antigo Testamento.

A pregação no Antigo Testamento amanhã. Uma tarefa monumental.

A pregação tendo como base o Antigo Testamento é muito importante, e necessária; como falei, o Antigo Testamento nos apresenta o pecado do homem, e a impossibilidade de haver alguém sem pecado. Quando nos deparamos com o sacrifício levítico, nos aparatos do tabernáculo e posteriormente do templo. Impossível é não pensarmos em Jesus, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, que como cordeiro mudo foi levado pelos seus tosquiadores, aquele Messias, rei pobre, que o profeta Zacarias descreve entrando em Jerusalém, que na cruz nós o reputávamos por aflito e ferido de Deus, aquele de quem os homens virariam o rosto e zombando diriam nas palavras descritas por Davi no Salmo 22: “confiou em Deus, que o livre”.

Daniel disse que Ele seria retirado da terra, realmente importava que o Messias devesse morrer, mas o túmulo não teve poder para segurá-lo, nem mesmo os melhores soldados de elite do mundo puderam o fazer continuar na sepultura e, o Salmo 24 irrompe em alegria em descrever suas exaltações nas maiores alturas celestiais: “Levantai, ó portas, os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o rei da glória! Quem é esse rei da glória? É Iahweh, o forte e valente, Iahweh o valente das guerras. Levantai, ó portas os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o rei da glória! Quem é esse rei da glória? É Iahweh dos Exércitos: ele é o rei da glória!”.

Por isso Devemos nos voltar mais para o Antigo Testamento para melhor entender o plano de redenção, a nossa situação, nossa salvação e nosso futuro. É mister que voltemos a usar o Antigo Testamento com a seriedade e sobriedade que ele merece, para ensinar a essa geração que não de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

Conclusão

A pregação tendo como base o Antigo Testamento é de particular importância para o cristianismo, pois é a preparação para o Novo, e traz as mesmas verdades, de forma mais velada. Quando Spurgeon preparou uma série de sermões sobre os salmos, ele intitulou-os de “os tesouros de Davi”, o Antigo Testamento é um Tesouro disponível a nós e nosso povo, que se abra então o livro sagrado do antigo pacto e ensinado sobre a graça que pairava sobre a igreja do Antigo Testamento.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

CRISTIANISMO E PANDEMIA



Relendo as notas de uma resenha que fiz do livro O Crescimento do Cristianismo: um sociólogo reconsidera a história(1), de Rodney Stark, à luz dos acontecimentos recentes, especialmente da “gripe suína” ou “gripe A”, causada pelo vírus H1N1, que tanta preocupação tem causado a todos nós, meu interesse renovou-se pelo trecho da referida obra que trata do comportamento da Igreja durante algumas das maiores catástrofes que já se abateram sobre a raça humana. Stark deixa claro, por meio de sua pesquisa histórica e sua análise sociológica, que os cristãos desde cedo estabeleceram fortes vínculos com os pagãos do Império Romano, inclusive nos períodos históricos menos favoráveis. Pois alguns desses períodos foram marcados por verdadeiras calamidades, as epidemias, que dizimaram a população do Império, vitimando pagãos e cristãos indistintamente, mas dando a estes últimos oportunidades fantásticas de crescimento e aumento de influência, ao mesmo tempo em que enfraqueceram sobremaneira os primeiros, expondo suas deficiências e fragilidades.

No ano de 165, durante o reinado de Marco Aurélio, uma peste mortal assolou o Império Romano, fazendo perecer cerca de um terço ou um quarto da população! Então no ano 251 outra epidemia abateu-se sobre o Império, castigando as áreas rurais tão duramente quanto as cidades. Varíola pode ter sido a primeira; sarampo, a segunda. O que quer que tenham sido, foram nada menos que letais para populações que jamais haviam sido expostas anteriormente a essas doenças, e que foram pegas sem qualquer defesa, seja biológica seja científica, contra elas. Extensas áreas de terras ficaram desabitadas, cidades inteiras pereceram. Para aquela gente indefesa, deve ter parecido o fim do mundo. Na segunda epidemia, a melhor documentada (especialmente por escritores cristãos), calcula-se que 5 mil pessoas tenham morrido diariamente somente na cidade de Roma! O número de mortos deve ter sido ainda maior nas áreas rurais – os campos ficaram desertos e a fome começou a ameaçar uma população já subjugada pela peste. Os pesquisadores acreditam que na cidade de Alexandria podem ter perecido dois terços da população. Se não era o fim do mundo, era com certeza um cartão de visitas do mesmo.

Tais crises, por incrível que pareça, fortaleceram ainda mais o Cristianismo. De fato, a cosmovisão pagã praticamente colapsou em conseqüência da terrível mortandade. Em primeiro lugar, a religião dominante não conseguia explicar satisfatoriamente o que estava acontecendo. Em segundo lugar, os deuses pagãos mostraram-se impotentes e incompetentes para deter a calamidade. Os sacerdotes professavam a ignorância, sem saber se os deuses haviam enviado a tragédia, ou se estavam mesmo envolvidos, ou se estavam ao menos preocupados. Os filósofos não ofereciam respostas, simplesmente creditavam tudo ao acaso, enquanto incoerentemente censuravam a licenciosidade e caducidade do mundo romano. Além disso, uns e outros, bem como a maioria dos pagãos, fosse qual fosse seu nível de instrução, só tinham uma resposta diante da crise: a fuga e o abandono de seus patrícios enfermos. As cidades enchiam-se de mortos. Quem podia, ia embora – como fez o famoso médico da Antigüidade, Galeno, que fugiu apressadamente de Roma, no início da epidemia, para a segurança relativa de sua propriedade rural. A fuga – essa foi a atitude do maior médico de sua época. Quando tornou-se óbvio o caráter contagioso da peste, as pessoas pararam de visitar-se e de acudir aos seus parentes e amigos doentes, simplesmente abandonando-os à própria sorte. As casas ficavam repletas de cadáveres, famílias inteiras morriam sem receber qualquer auxílio. Os corpos eram jogados nas ruas e estradas, empilhados, sem sepultamento digno. Até mesmo os templos enchiam-se de cadáveres. Numa situação dessas, aquela pobre gente começou a descrer de tudo – não fazia diferença crer ou não crer nos deuses, quando se via tanto infortúnio e desespero. O próprio Imperador Marco Aurélio, o Filósofo, seguidor do estoicismo, morreu vitimado pela doença. Era a ruína do sistema de crenças romano, que tombava diante da amplitude e da brutalidade da tragédia.

Mas a reação cristã foi completamente diferente. Os cristãos lançaram-se numa empreitada que para os gregos e romanos parecia loucura rematada – eles simplesmente prestaram auxílio aos doentes, ficaram junto deles, os alimentaram, cuidaram deles, muitas vezes à custa da própria vida. De fato, incontáveis discípulos de Cristo tombaram justamente por entrar em contato com os enfermos – incluindo não poucos líderes e cristãos de renome.

Ocorre que os cristãos estavam simplesmente colocando em prática a doutrina que professavam. Com efeito, Deus demonstrara seu amor por meio do sacrifício, e os seres humanos deveriam demonstrar seu amor mediante o sacrifício de uns pelos outros, independentemente de laços familiares, sociais, culturais, nacionais ou religiosos.

E por incrível que pareça, a atitude cristã de aproximar-se dos enfermos e moribundos para ajudá-los fez com que a taxa de mortalidade dos cristãos começasse a diminuir consideravelmente, se comparada à taxa de mortes entre os pagãos. É que muitos cristãos, ao ajudar os enfermos no início das epidemias, adoeciam, porém sobreviviam porque eles por sua vez também recebiam apoio de seus irmãos na fé. E esses cristãos sobreviventes acabaram formando uma “força-tarefa” de obreiros imunes à doença, preparados para ajudar outras pessoas. Além disso, como haviam muito mais pagãos do que cristãos, obviamente morriam muito mais pagãos do que cristãos. Tudo isso era visto como simplesmente milagroso pelos pagãos – os cristãos ajudavam os enfermos quando todos os outros fugiam; os cristãos não se importavam de perder a vida, sacrificando-a em prol dos enfermos, enquanto os pagãos abandonavam seus parentes moribundos para que morressem à míngua; e muitos cristãos não somente sobreviviam à peste, como ainda por cima tornavam-se imunes a novos contágios – simplesmente não adoeciam mais. Pagãos e cristãos só tinham uma palavra para explicar tudo isso: milagre!

Mas, que tipo de ajuda aqueles cristãos abnegados poderiam oferecer? Simplesmente oferecendo alimento e água, poderiam fazer com que pessoas enfraquecidas pela enfermidade pudessem recobrar as forças e resistir, em vez de morrer simplesmente de inanição, abandonadas à própria sorte. Especialistas em medicina acreditam que um atendimento consciencioso, sem nenhuma medicação, poderia reduzir a taxa de mortalidade em cerca de dois terços ou até mais. Além disso, os cristãos oravam pelos enfermos.

Isso nos leva a outro nível de oportunidade – o contato direto com os pagãos, estabelecendo novos e poderosos vínculos pessoais. Ora, depois das epidemias, muitos pagãos deviam suas vidas e as vidas de seus familiares e amigos aos cristãos. Além de formar novos vínculos e redes de relacionamentos com os cristãos, os pagãos agora viam-se diante de uma nova situação social, na qual seus antigos vínculos com outros pagãos haviam desaparecido, em sua maioria – porque aqueles outros pagãos simplesmente já não existiam mais. Antes, a maioria absoluta de seus vínculos era com outros pagãos – agora, pelo menos metade desses vínculos estava firmemente estabelecida com cristãos. E quantos pagãos converteram-se durante a enfermidade, em seus leitos, enquanto eram carinhosamente tratados pelos seus vizinhos cristãos?

Se essas terríveis crises não tivessem ocorrido, o Cristianismo teria sido privado de importantes oportunidades de crescimento e fortalecimento. Essas pestes mortíferas envenenaram o paganismo, apressando sua queda, ao revelar duramente sua incapacidade para enfrentar tais crises, social ou espiritualmente – incapacidade tornada ainda mais evidente pelo exemplo de auto-sacrifício de seu ousado adversário. A maioria dos pagãos sobreviventes percebeu claramente tudo isso. E quando a poeira baixou, os pagãos viram seus vínculos com os cristãos significativamente aumentados, de modo pleno e irreversível.

Há muito a aprender com a atitude corajosa e abnegada de nossos irmãos do passado. Eles abriram mão da própria segurança, e muitas vezes da própria vida, para viver a sua fé, para demonstrar seu Cristianismo, seu amor pelas pessoas. Dois mil anos passados, a situação atual de nossa sociedade ocidental é, curiosamente, muito parecida com a daquela época e lugar. Temos um “paganismo” florescente em nosso jardim pós-moderno, pós-cristão, neopagão. As pessoas não crêem em coisa alguma e crêem em tudo. O povo está cansado de depositar suas esperanças e aspirações em antigas crenças (quase como o sentimento dos antigos pagãos em relação a seus deuses) e está desejoso de experimentar coisas novas. Há uma crença sincrética – crê-se um pouco em tudo – e descomprometida – hoje correm atrás de um santo católico, amanhã fazem oferendas a entidades afro – bem ao estilo da antiga concepção pagã de religiosidade. Estamos testemunhando, diante de nossos olhos, a evolução de uma espécie de “mercantilismo religioso”, e o mercado está em alta! Há muita demanda e grande e variada oferta. A espiritualidade é mais um objeto de consumo. Hoje consome-se meditação transcendental, amanhã será consumida uma reunião num centro espírita, e depois de amanhã que tal uma reunião numa igreja católica ou evangélica?

O cristianismo, dentro do contexto atual, terá uma oportunidade semelhante à que teve no antigo Império Romano? Como a Igreja está se portando, por exemplo, nestes tempos de pandemia? Nosso Cristianismo está aparecendo – ou estamos nos escondendo uns dos outros como fizeram os antigos pagãos? Em meio a tantas crenças e ao mesmo tempo descrenças que caracterizam nossa época, teria a fé cristã impacto semelhante ao que teve no paganismo clássico? Nossa atitude diante dessa pandemia, resguardadas as devidas proporções, irá honrar nossos antepassados espirituais? Em meio à desinformação, ao medo, ao desinteresse e falta de compromisso que caracterizam nosso tempo, o que o Cristianismo tem a oferecer?

Antes de responder a essas perguntas, precisamos nos lembrar de que o Cristianismo, hoje, não é mais uma novidade. E há agravantes: precisamos olhar para o que muitos grupos, muitos indivíduos e muitas seitas que se auto-intitulam cristãs fizeram e têm feito para desacreditar a fé cristã. Há grupos cristãos (?) que nada mais têm feito perante a sociedade contemporânea, do que desacreditar e ridicularizar o cristianismo. Hoje a igreja cristã tem um desafio talvez até maior do que a igreja primitiva. Não estamos sendo lançados às feras, mas estamos sendo quase que diariamente expostos a escândalos promovidos por “cristãos” de todos os tipos que envergonham a mensagem do evangelho e a tornam praticamente inócua, ao impermeabilizar o povo contra a igreja e a Palavra de Deus.

Nosso coliseu, nossa arena atual, é o picadeiro de um circo de perversidades, blasfêmias, roubalheiras, arrogâncias e multidões de pecados expostos publicamente sem o menor sinal de arrependimento, tudo patrocinado por “cristãos” que buscam a glória de si mesmos acima de tudo. A grande doença que precisamos enfrentar hoje em dia é a doença do falso evangelho e do falso cristianismo que está se disseminando pelo mundo. A igreja cristã está perdendo rapidamente sua credibilidade perante uma sociedade mundanizada, cansada de assistir a semelhantes espetáculos da mais pura degradação religiosa. “Apóstolos” (apóstolos!!!), bispos, pastores, crentes famosos, todos unidos na demonstração mais falsa, cruel e mentirosa – uma caricatura grotesca do verdadeiro Cristianismo.

Temos uma sociedade cada vez mais pagã que adota uma religiosidade utilitária, pós-moderna e relativista. Temos uma igreja que assumiu o rótulo de “evangélica” cuja reputação está cada vez mais manchada pela ação incessante e implacável de falsos mestres. (Os “verdadeiros” mestres, em sua grande maioria, não denunciam os impostores, porque preferem ser politicamente corretos – pós-modernos, portanto – do que biblicamente corretos).

A aplicação prática de tudo o que li em O Crescimento do Cristianismo foi que nós, como Igreja cristã, não podemos perder nosso testemunho, nossa identidade, nossa missão no mundo. Precisamos continuar cuidando dos enfermos! Precisamos continuar nos arriscando! Precisamos continuar perdendo tudo para ganhar nosso próximo para Cristo! Se o sal perder seu sabor, para que servirá? Se a candeia for deixada sob o alqueire, como iluminará? Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. A Igreja cristã precisa reassumir sua missão – missão integral – de ir por todo o mundo fazendo discípulos de Jesus Cristo, para a glória de Deus, honrando o evangelho e tendo atitudes dignas do corpo de Cristo. Individualmente, como cristãos herdeiros de uma vasta e preciosa tradição, precisamos honrar a nossa fé e viver de acordo com ela. Se não estamos sendo “perseguidos” de algum modo – zombarias, críticas, ataques pessoais, por exemplo – precisamos, quem sabe, reavaliar nosso compromisso com Cristo e o tipo de vida cristã que estamos vivendo... este mundo está apodrecendo e precisamos salgá-lo. Este mundo está doente e precisamos restaurá-lo!

Por outro lado, vemos muitas denominações completamente indiferentes à herança histórica do cristianismo. Desejosos de “reinventar a roda”, simplesmente não tomam conhecimento do verdadeiro tesouro que constitui o legado patrístico, o legado dos mártires, o legado de grandes pensadores como Agostinho, Tomás de Aquino, o legado dos reformadores, como Lutero, Calvino e tantos outros. Nenhuma religião produziu mentes tão brilhantes quanto o Cristianismo. Que tremendo desperdício não usufruir de suas conquistas! Onde a pregação de Cristo surgiu, surgiram as universidades, os hospitais, as melhorias sociais e culturais, os grandes centros do saber. Uma das maiores tragédias de nossos dias é ver o total descaso – e mais, uma verdadeira atitude de franca hostilidade – para com aqueles que amam e respeitam a tradição cristã genuína, histórica, bíblica e teológica. Até parece que para ser “bíblico” é preciso ser ignorante... um povo que esquece seu passado tem muito pouco a esperar de seu futuro. Como cuidaremos dos enfermos, se não sabemos mais como proceder? Precisamos olhar para os nossos irmãos do passado, que não tiveram por preciosas suas vidas, para auxiliar as pessoas colhidas por tão pavorosa praga.

Este mundo está esperando que os cristãos se levantem como no passado, para causar impacto novamente – mas o impacto sadio, maravilhoso e admirável de um Cristianismo sério, vivo e bíblico.

Os enfermos esperam por nós!

NOTA:

(1). STARK, Rodney. O Crescimento do Cristianismo: um sociólogo reconsidera a História. São Paulo: Paulinas, 2006.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

QUEM FORAM OS VERDADEIROS APÓSTOLOS DE TODOS OS TEMPOS SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO

Franklin Ferreira e Alan Myatt, teólogos batistas (o primeiro brasileiro, o segundo norte-americano), assim descrevem o ofício apostólico:

“Os Apóstolos – pessoas comissionadas especialmente por Cristo para formular e propagar o evangelho. Seu comissionamento era feito diretamente por Cristo, e suas prerrogativas apostólicas, comprovadas por sinais miraculosos (Gl 1.1,2; 1Co 9.1; 2Co 12.12). Neste sentido, ‘a função dos apóstolos foi única e irrepetível: eles receberam a Revelação, que é o sentido e a mensagem da igreja’ (Edmund Clowney, “A Igreja”. São Paulo: Cultura Cristã, 2007).” (1)

Louis Berkhof, famoso teólogo norte-americano do século passado, assim escreveu em sua Sistemática:

“Apóstolos. Estritamente falando, este nome só é aplicável aos doze escolhidos por Jesus e a Paulo. (...) Os apóstolos tinham a incumbência especial de lançar os alicerces da igreja de todos os séculos. Somente através das suas palavras é que os crentes de todas as eras subsequentes têm comunhão com Jesus Cristo. Daí, eles são os apóstolos da igreja dos dias atuais, como também o foram da igreja primitiva. Eles tinham certas qualificações especiais: (a) foram comissionados diretamente por Deus ou por Jesus Cristo, Mc 3.14; Lc 6.13; Gl 1.1; b) eram testemunhas da vida de Cristo e, principalmente, de Sua ressurreição, Jo 15.27; At 1.21,22; 1Co 9.1; c) estavam cônscios de serem inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu ensino, oral e escrito, At 15.28; 1Co 2.13; 1Ts 4.8; 1Jo 5.9-12; d) tinham o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para ratificar a mensagem, 2Co 12.12; Hb 2.4; e e) foram ricamente abençoados em sua obra, como sinal de que Deus aprovava seus labores, 1Co 9.1,2; 2Co 3.2,3; Gl 2.8.” (2)
A seguir, apresento um breve resumo da discussão de Wayne Grudem sobre o ofício apostólico, em sua Sistemática.

“Quando o termo ‘apóstolo’ refere-se a um ofício especial, refere-se àqueles homens que receberam um tipo singular de autoridade na igreja primitiva: autoridade para falar e escrever palavras que eram ‘palavras de Deus’ em sentido absoluto. Não acreditar neles ou desobedecer a eles era o mesmo que não acreditar em Deus ou desobedecer a Deus. Atualmente, porém, ninguém pode acrescentar palavras à Bíblia e tê-las na conta de palavras de Deus. Não há mais apóstolos hoje e nem devemos esperar mais nenhum apóstolo. A razão disso baseia-se no ensino do Novo Testamento a respeito das qualificações apostólicas e da identidade dos apóstolos. Para alguém ser apóstolo, era necessário: 1) ter visto Jesus Cristo após a ressurreição (ser testemunha ocular da ressurreição), At 1.2,3,22; 4.33; 9.5,6; 26.15-18; 1Co 15.5-9; 2) ter sido especificamente comissionado por Cristo como seu apóstolo, Mt 10.1-7; At 1.8, 24-26; 26.16,17; Rm 1.1; Gl 1.1; 1Tm 1.12; 2.7; 2Tm 1.11.” (3)

Há um parágrafo de Grudem que transcrevo na íntegra:

“Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado ou proveitoso, porque simplesmente confunde quem lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de “apóstolo”. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes da História da Igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield – assumiu o título de ‘apóstolo’ ou permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título ‘apóstolo’, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter”. (Página 764).

Alguns pontos que gostaria de destacar:

1 – Os apóstolos eram nomeados (comissionados) pelo próprio Jesus Cristo em pessoa, em carne e osso, diretamente e sem intermediários;

2 – Para ser apóstolo, era conditio sine qua non ter visto Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos – era requisito indispensável ser testemunha ocular da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo;

3 – Em dois mil anos de História da Igreja, ninguém jamais ousou assumir para si mesmo o título de apóstolo, nem jamais permitiu que outros assim lhe chamassem (a única exceção, possivelmente, são os papas, e num certo sentido, nem mesmo eles se autoproclamam “apóstolos” no sentido neotestamentário).

Portanto:

1 – Jesus Cristo virá em pessoa, em carne e osso, diretamente, em sua Segunda Vinda. Ninguém em sã consciência e à luz da Bíblia pode querer argumentar ter tido uma “entrevista” com Jesus Cristo em pessoa e ter sido designado diretamente por Ele como apóstolo, profeta, ou seja lá o que for;

2 – Ninguém pode preencher a exigência de ter testemunhado a vida, morte e ressurreição de Cristo, simplesmente porque esses fatos ocorreram há dois mil anos;

3 – Francamente, não creio que aqueles que hoje em dia proclamam a si próprios “apóstolos” com tão descarada audácia, cheguem aos pés de homens como Atanásio, Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, Martinho Lutero, João Calvino, Ulrich Zwinglio, Menno Simmons, Jonathan Edwards, George Withefield, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, John Stott, Billy Graham e tantos outros (homens dos quais o mundo não era digno, como diria o autor de Hebreus), e destes, nenhum ousou sequer cogitar a possibilidade de proclamar-se “apóstolo”. Nem mesmo Timóteo jamais foi chamado apóstolo, e jamais ousou exigir para si semelhante título!

4 – Como foi dito por Berkhof e Ferreira, os apóstolos do Novo Testamento são os apóstolos da igreja de todos os tempos; isto é, a igreja atual ainda tem seus apóstolos, ou melhor, o ensino deles, nas páginas do Novo Testamento. Eles são nossos apóstolos atuais, como o foram da igreja primitiva. Não precisamos de “novos apóstolos”! Veja 1Jo 1.3.

Impossível, portanto, deixar de concluir que aqueles que nos tempos atuais exigem para si mesmos ou para outrem o título de “apóstolo”, o fazem bem de acordo com a afirmação de Wayne Grudem, citada acima.
NOTAS:
(1). FERREIRA, Franklin, e MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.
(2). BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz para o Caminho, 1990, p. 589. (Este livro está sendo publicado atualmente pela Editora Cultura Cristã).
(3). GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática, atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999. (Reimpresso várias vezes, as atuais reimpressões vêm acompanhadas de um CD-ROM).